Drama

Orange Is The New Black: 7ª Temporada (2019)

• O brilhante sistema norte-americano

É muito difícil uma série sustentar um mesmo nível durante todas as suas temporadas. Até hoje, poucas que eu assisti até o fim conseguiram isso. NarcosBreaking Bad Demolidor são alguns dos exemplos. O normal em uma série boa é que pelo menos uma temporada seja notadamente inferior, um asterisco em meio a tanta qualidade. Orange Is The New Black entrou no seleto grupo de obras extremamente regulares. Tudo bem que a terceira temporada pode não ter sido tão boa quanto a quarta, ou a primeira em relação à segunda. No entanto, não há nenhuma queda exagerada de qualidade. A última temporada fechou tudo com chave de ouro, consolidando OITNB como uma das melhores séries que eu já vi na vida.

 

Sinopse

Depois de seis temporadas, Piper Chapman está fora da prisão. Ela descobre da pior maneira que estar atrás das grades não é a única maneira de ter sua liberdade retirada. No “mundo real”, Piper sofre com a adaptação e as últimas consequências de sua vida criminosa, mas aos poucos busca se adequar à nova realidade. Enquanto isso, o negócio continua intenso na segurança máxima. Alex se vê diante de um esquema de drogas sem ter como escapar. Algumas detentas começam a cozinhar pras prisioneiras da Imigração. Taystee vai perdendo aos poucos a vontade de viver. No topo da cadeia alimentar (trocadilho intencional), Daya mostra cada vez mais as suas garras.

Tadinha da Piper, conseguiu sair da prisão depois de relativamente pouco tempo e agora tá sofrendo 🙁

Crítica

Ao mesmo tempo em que a presença dos personagens confirma se tratar da nossa boa e velha série, a sétima temporada de Orange Is The New Black possui muitas diferenças. A história ainda conta com momentos de humor, uma das marcas registradas da narrativa. Entretanto, a trama é muito mais séria, dramática e pessimista/realista, a depender de como você enxerga o mundo.

São muitos pontos que o roteiro retrata, sem muito espaço para leveza. Desde o início, a obra abordou racismo, discriminação, violência e abuso de autoridade. Contudo, sempre havia espaço pra uma quebra de tom na intenção de não mergulhar o enredo em um poço sem fundo de melancolia. Em sua última incursão, OITNB muda a postura.

Todo mundo estudou no Ensino Médio com um professor piadista, que fazia gracinhas pra ganhar pontos com os alunos, certo? Comigo, era o de Geografia. Era muita palhaçada, brincadeira e irreverência, mas uma hora ele teria de falar sério. Dessa forma, precisava cortar o riso da galera pra todo mundo conseguir focar novamente na matéria. Imagine os roteiristas de Orange Is The New Black como um professor desse naipe. Depois de desenvolver diversos temas com bastante bom humor, precisaram cortar os espectadores pra poder falar sério e transmitir a mensagem da maneira devida.

As coisas aqui estão muito mais sóbrias. No núcleo de Piper, é possível aprender vários ensinamentos. Por um lado, a sua vida é muito mais fácil do que a da maioria das detentas. Ela escapou da prisão e tem uma família bem estruturada, com recursos. Além disso, a Piper cometeu crimes não porque estava envolvida em um sistema construído para vê-la falhar, mas apenas porque ela queria emoção. Isso cria um certo distanciamento. Todavia, é inevitável sentir pena dela quando Piper tenta retomar a sua vida e não consegue, pois será pra sempre lembrada como ex-presidiária. Isso ajuda a colocar muita coisa em perspectiva.

Esse arco é o mais leve, digamos assim. Temos tramas de depressão, suicídio, drogas, xenofobia, racismo, abuso de poder… cada uma sendo desenvolvida de um jeito sóbrio, sem muito espaço para alívios cômicos. Essa mudança de cenário em OITNB cria uma diferenciação notável. O clima da temporada é mais pesado, como se estivéssemos apenas esperando pela próxima tragédia. Existem certos momentos de quebra, mas a intenção do enredo é mostrar como o sistema social vigente é prejudicial pra grande maioria da população. Às vezes, sem a gente perceber.

Pessoalmente, eu gostei muito da abordagem. Eu admiro séries que se arriscam. Eu respeito demais histórias que não têm medo de ousar e provocar destinos terríveis em personagens queridas. É isso que Orange Is The New Black faz. Por mais aterrador que algumas conclusões sejam, elas estão apenas espelhando o que acontece no mundo real. No nosso mundo. Nem sempre as pessoas terão finais felizes, ainda mais se fazem parte de determinados grupos. Essa noção crua de realidade é o que torna a sétima temporada de OITNB tão especial.

É verdade que nem sempre ela acerta. Como era de se esperar em uma série com tantos arcos narrativos diferentes, alguns inevitavelmente ficam mais chatos. Não gostei tanto do núcleo da Alex, por exemplo, embora eu tenha aprendido a gostar dela. Não sou fã de alguns caminhos que o roteiro tomou, como deixar de trabalhar alguns personagens para evidenciar outros que tinham menos potencial. Também não consigo entender o tempo excessivo de tela da Piper, considerando que a sua trajetória tende a ficar desinteressante em algumas partes.

Eu mexendo no celular durante uma palestra e fingindo que tô prestando atenção

Veredito

Analisando séries que possuem pelo menos três temporadas, Orange Is The New Black entra no Top 10 das melhores que eu já vi na vida. O sétimo ano chega pra confirmar de vez o nível de qualidade, abrindo espaço pra um tom diferente, tocando em pontos sensíveis e determinando conclusões agridoces. A trama é capaz de injetar uma dose de esperança, ao mesmo tempo em que não perde o seu realismo ao mostrar pessoas que não conseguem fugir do sistema. Algumas decisões criativas podem não ter sido as melhores, correndo com alguns arcos e esticando desnecessariamente outros. Porém, foi uma última temporada sólida pra uma série sólida. Uma maneira perfeita de finalizar uma sentença de tantos atributos. Nota final: 4,5/5.

POV: uma aluna de universidade cansada de apresentar seminários pra uma professora que não quer dar aula

 

>> Crítica da 1ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 2ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 3ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 4ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 5ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 6ª Temporada de OITNB

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Bora lá que é muita coisa pra comentar nesta temporada. Provavelmente vou esquecer algo, mas beleza. Sobre a morte de Daddy: não foi algo meio esquisito pra vocês? Pra mim ficou parecendo que a atriz não poderia continuar na série e deram uma desculpa pra personagem morrer. Ainda assim, teve relevância na decadência da Daya.
  • Red com demência foi muito cruel de ver. Aquela personagem tão assertiva e poderosa ficando totalmente fragilizada, com sua degradação provocada pela estrutura desumana das solitárias… difícil demais. Só a Nicky mesmo pra ajudá-la de alguma forma, a sua legítima sucessora. Pena que ela não conseguiu ficar com a Shani 🙁
  • Enfim, tivemos a conclusão da história das galinhas! E a Ward que se ferrou nessa história, depois da Linda achar drogas dentro de uma bichinha. Que pena pra Suzanne também.
  • O desfecho da Morello foi um dos mais tristes da série. Perdeu o bebê, entrou em uma fantasia existente apenas em sua própria mente, sem tem ninguém pra ajudá-la. Se ela já tinha distúrbios antes, a tendência é só piorar.
  • A morte da Doggett foi pra lá de dolorosa. Eu já sabia que aconteceria em algum ponto porque peguei spoiler quando estava assistindo à terceira temporada, se não me engano. Contudo, não tinha noção de quais seriam as circustâncias. E saber que, apesar de tudo, Doggett ainda passou na prova que se tornou tão importante pra ela só deixou as coisas piores. Qual seria a reação da Boo caso descobrisse a respeito do destino da amiga?
  • Vou resumir os destinos das mulheres detidas na Imigração neste tópico. Fiquei feliz pela Blanca, que foi capaz de voltar ao seu país e se reunir com o Diablo. Aliás, todos concordamos que Blanca e Diablo formam o melhor casal da série, né? Em compensação, o desfecho da Maritza, voltando forçadamente para a Colômbia, foi horrível. Queria que tivesse sido mais cautelosa ao ajudar as outras mulheres da ICE. Por fim, a Karla teve o pior fechamento. Eu não consigo ser otimista quanto àquela situação. Pra mim, ela definitivamente morreu de desidratação naquele deserto.
  • Eu mencionei Blanca e Diablo como o melhor casal, mas não foram os únicos que terminaram juntos. Caputo e Fig prestes a adotar uma garotinha que parece uma mistura dos dois, Piper se mudando pra Ohio a fim de ficar perto da Alex. É, o romance não tá totalmente morto.
  • Sei que a manutenção da sentença da Taystee foi a coisa mais real possível em Orange Is The New Black, mas não deixou de ser menos difícil de ver. Pelo menos, ela conseguiu encontrar um propósito dentro da prisão, com o auxílio financeiro da Judy King, e tomara que tenha adquirido um mínimo de felicidade. Quanto à Cindy, tenho sentimentos conflitantes em relação a ela. É difícil julgá-la por não ter falado a verdade. Afinal de contas, se ela tivesse falado, teria realmente mudado alguma coisa? Capaz que a própria Cindy teria sofrido as consequências, assim como a Taystee. Ainda assim, condenar uma amiga a uma vida inteira de penalização não é a atitude mais louvável do mundo. Não tem jeito, é uma situação pra lá de complexa.
  • Fico feliz que a Gloria tenha saído da prisão e se reunido com a família, deixado a Flaca como sua sucessora oficial™. Além disso, torço pra que a Maria encontre a redenção, apesar de todas as coisas ruins que fez. Agora, quando falamos de interação familiar, nada supera negativamente Daya e Aleida. Eu nunca gostei muito da Aleida, confesso, e a culpa maior pela Daya ser como é passa bastante pela figura da mãe. Por outro lado, a Daya se tornou muito cruel. O mais irônico disso tudo é que o seu desequilíbrio começou a partir de um assassinato que ela não cometeu, sendo que quem matou o guarda foi a Kukudio. Porém, Daya nunca saberá disso. Em seu pensamento, ela foi a responsável pelo homicídio. De qualquer forma, a Aleida com certeza iniciou uma guerra na prisão, semelhante ao conflito entre Carol e Barb. Pensei que talvez a Daya tivesse morrido após o golpe da mãe, mas aparentemente as criadoras da série disseram que a filha continua viva.
  • Cara, foi legal demais ver aqueles rostos conhecidos no último episódio. Soso, Yoga Jones, Boo, Gina, Norma, Leanne, Angie, Janae… deu até um quentinho na alma. Vou sentir saudades de todas. Também foi estranhamente nostálgico ver o Mendez brincando com os filhos. Só senti raiva do Hellmann sendo promovido a diretor da prisão. Grrr.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Nicky Nichols
Simplesmente amei ver a etapa final de sua transformação. Nicky passou por tantas fases diferentes, e ela finalmente encontrou o seu auge, apoiando-se bastante em sua verdadeira família na prisão e utilizando o seu amor pra ajudar outras pessoas. Um dos melhores desenvolvimentos de toda a série.

A passagem de bastão

+ Melhor episódio: S07E13 (“Here’s Where We Get Off”)
Eu li alguns comentários de pessoas dizendo que acharam alguns acontecimentos um pouco apressados nesta series finale. Não tive a mesma sensação. Pelo contrário, me emocionei muito e fiquei um tempão olhando pra televisão enquanto absorvia o final.

A briga dos carecas

+ Maior evolução: Natalie “Fig” Figueroa
Ela entra no mesmo patamar da Nicky. É difícil olhar pra Fig da primeira temporada e vislumbrá-la na sétima. Foi um conjunto de mudanças extraordinárias. Uma das melhores personagens do último ano, e por pouco não tascou o prêmio principal.

Jamais criticada pelos fãs

+ Mais subestimada: Tamika Ward
Dona de uma dos melhores corações da série, uma das poucas a tentar realmente fazer a diferença no sistema prisional, mostrando que, na maior parte das vezes, o buraco é muito mais embaixo.

A maior hater de galinhas

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).