Drama

Orange Is The New Black: 6ª Temporada (2018)

• Novo lugar, velhos rostos

É preciso ter coragem pra mudar. Em todos os aspectos da vida, a nossa tendência é de querer ficar em zonas de conforto porque, bem, elas são confortáveis. Arriscar-se é um tiro no escuro. Não há como saber onde iremos parar. Não dá pra saber antes da hora se estamos evoluindo ou regredindo. Mas fica a pergunta: é preferível sustentar uma fórmula bem-sucedida pra sempre ou continuar tentando trazer inovações? Sim, hoje eu estou filosófico. Com essa vibe, escreverei sobre a sexta temporada de Orange Is The New Black, um exemplo perfeito de como é importante jamais ficar parado em um lugar por muito tempo.

 

Sinopse

Depois da rebelião que agitou a rotina de Litchfield, os policiais invadiram o local e retomaram o controle, capturando as detentas que lá viviam de forma desordenada. Com tanto caos lá dentro da prisão, não dava pra simplesmente recolocarem a galera de volta, né? Portanto, cada condenada é levada pra um local diferente, e todas elas se mostram bastante desorientadas. Uma grande parte fica junta em um mesmo ambiente, e agora as mulheres precisam se adaptar a um novo complexo prisional, com regras e hierarquias únicas. O sistema é diferente, com divisões por blocos que se assemelham a gangues e propiciam constantes conflitos.

Frieda não tem tempo para as bobagens de Red

Crítica

Eu confesso que estava com medo desta temporada. Tinha tudo pra dar errado. Em séries de televisão, os cenários são tão essenciais quanto a trama. Deixar o espectador investido por tanto tempo requer uma sensação de familiaridade com a obra, pois é difícil se apegar a algo que muda frequentemente. As quatro primeiras temporadas de Orange Is The New Black tiveram histórias bem diferentes umas das outras, e o quinto ano ousou um pouco ao criar uma atmosfera anárquica. Era de se esperar que a série voltasse às suas origens, mas aos poucos ela vai deixando bem claro que encerrou um grande capítulo e está direcionando suas atenções para a reta final.

Com um ar pulsante de novidade, OITNB abdica de algumas personagens antigas e introduz adições. Uma boa parcela consiste em coadjuvantes, mas aparecem também algumas pessoas que movimentam a história. São os casos de Carol e Barb, duas das mandachuvas da prisão, a irritante Madison, e Daddy, que parece ser uma boa pessoa, apesar dos arredores tóxicos. As novas engrenagens da série funcionam muito bem, proporcionando dinâmicas conhecidas, mas singulares. A impressão geral é de que a sexta temporada é um spin-off, e isso tem qualidades e defeitos.

Por um lado, a história se mantém em movimento e se recusa a cair no lugar comum. De certa forma, devido ao contexto em que as personagens estão inseridas, certos arcos narrativos são ligeiramente mais pesados do que antes. Ainda assim, núcleos secundários envolvendo coisas aleatórias e aparentemente sem relevância estão presentes, sustentando o senso de humor sarcástico, uma marca registrada de Orange Is The New Black.

Por outro lado, a temporada é afetada pela sua demora na construção. É como se tivéssemos sido transportados para uma espécie de primeira temporada, no sentido de que é desenvolvida uma dinâmica totalmente nova. Por esse motivo, o enredo demora a se desenrolar e as consequências da temporada anterior seguem pendentes, fazendo com que a série dê dois passos para a frente e um para trás a cada episódio. Apesar de, no começo, ser legal ver uma ambientação diferente, eventualmente não dá pra deixar de torcer para que as coisas voltem ao normal.

E é aí que eu insiro novamente a minha introdução filosófica. Até onde devemos nos arriscar na busca por algo novo? Apesar de ser louvável a atitude de Orange Is The New Black em se recusar a ficar parada, a quinta e sexta temporadas sofreram com uma certa perda de identidade. Repetindo o que eu escrevi lá em cima, uma história longa, tal qual uma série de televisão, necessita de elementos familiares constantes. Pensemos na forma de um triângulo. Em cada ponta, uma característica serve como base. Em uma série, as bases tendem a ser personagens, trama e cenário. Afetar drasticamente uma delas é uma jogada arriscada, que pode dar muito certo ou muito errado.

No caso do sexto ano de OITNB, na maior parte do tempo a estratégia dá certo. Apesar de haver uma alteração brusca na ambientação, a série consegue ter fôlego devido à qualidade de seu roteiro e de todos os méritos trabalhados a fundo durante dezenas de horas. Qualquer outra série teria sofrido com essas mudanças, mas não é o que acontece aqui. Sim, é possível notar alguns sinais de desgaste e instabilidade. Porém, o risco que a obra tomou rendeu bons frutos e manteve a qualidade.

Jamais um pirulito soou tão ameaçador

Veredito

A sexta temporada de Orange Is The New Black poderia ter sido um desastre. Uma trama imprevisível em um cenário completamente desconhecido poderia ter causado estranhamento e estragado uma das melhores séries dos últimos tempos. Contudo, ainda que a história sofra com algumas alterações consideráveis, abrindo mão de personagens queridas e investindo em uma trama que demora a engrenar, o resultado é mais do que satisfatório. Há uma coragem notável e um senso de reconhecimento da proximidade do fim, considerando que esta é a penúltima temporada. O enredo é forte, quando se solidifica, e entrega um conjunto recheado de entretenimento. Nota final: 4,3/5.

Meninas Malvadas (2004)

 

>> Crítica da 1ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 2ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 3ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 4ª Temporada de OITNB

>> Crítica da 5ª Temporada de OITNB

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Analisando só a parte cômica da situação, foi divertido todo aquele arco do “draft” feito pelos guardas. Vê-los ganhando ou perdendo pontos com situações reais foi um bom entretenimento, mas, pensando pelo lado humano de tudo aquilo, que bagulho bizarro. E com certeza deve existir em muitos lugares.
  • Pra aproveitar que tô falando dos guardas, que bagulho inesperado aquele potencial romance entre Luschek e Gloria. E eu ri demais da outra lá falando que ele era tipo um Chris Pratt genérico.
  • Ok, tudo bem eu achar fofinho o Caputo e a Fig? Os dois já demonstraram atitudes não muito louváveis no passado, mas estão evoluindo e um amor nascendo entre ambos é muito interessante de assistir. Não é um conto de fadas, mas é peculiarmente fofinho.
  • Incrível como a Doggett mudou desde a primeira temporada. É uma das personagens por quem a gente mais torce, ainda bem que ela se livrou daquele guarda estuprador. Só queria ter visto mais de outras personagens sumidas também, como a Chang e a Maritza.
  • Da mesma forma que a Doggett só vem mudando pra melhor, a Daya só vai mudando pra pior. Ela tinha um dos melhores corações no começo, mas desde o abandono do Bennett, a garota vem se tornando cada vez mais sombria. E embora eu goste de Daddy, não parece ser uma relação muito saudável a de ambos.
  • Parabéns, Red! Perdeu a chance de falar com a sua família somente pra ter a oportunidade de confrontar a Frieda. Grande jogada!
  • Suzanne salvando todo mundo com o poder do esporte foi maravilhoso de se ver. E a Barb e a Carol se matando me deixou com um sorriso maníaco no rosto. Não, eu não tenho pena de duas malucas que assassinaram a irmã mais nova simplesmente porque elas se mudavam com frequência. Completamente doidas.
  • Ver a Taystee sendo condenada, depois de tudo o que aconteceu, doeu demais. E, cara, isso vai pesar muito pro lado da Cindy. Tomara que tudo dê certo.
  • E, por falar em cenas doloridas, que merda é aquela da Blanca sendo levada pra um campo de imigrantes? Vai se ferrar, Linda!
  • Jurava que a Piper de alguma forma estragaria a sua saída da prisão, pra que assim ficasse com a sua nova esposa Alex. Contudo, ela realmente vazou da cadeia, e tô curioso pra ver como vai ser a sua história na última temporada.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Suzanne Warren
Eu sempre gostei dela, mas foi muitas vezes ofuscada por outras. Nesta sexta temporada, várias personagens brilharam, mas as ações de Suzanne foram pontuais e decisivas. Taystee poderia ter brigado aqui também, mas seu arco ganhou força apenas nos episódios finais.

Suzanne Orange Is The New Black
Estilosa demais essa abertura pro polegar na roupa

+ Melhor episódio: S06E13 (“Be Free”)
Incrível como este capítulo é capaz de administrar dois extremos: alívio e melancolia. O episódio entrega tensão e desnorteamento, deixando um gosto agridoce na boca.

Barb Orange Is The New Black
De fato ela cometeu Barbaridades na vida

+ Maior evolução: Nicky Nichols
Assim como a Suzanne, eu sempre gostei da Nicky, mas ela na maioria das vezes serviu mais ao propósito de alívio cômico. Agora, ganhou mais desenvolvimento e camadas, sendo um dos pontos positivos da temporada.

Cindy, Piper, Gloria e Nicky Orange Is The New Black
Aquela boa e velha fila pra cantina no intervalo da escola

+ Maior surpresa: Daddy
Começou de forma despretensiosa, mas foi melhorando exponencialmente, consolidando-se como uma das grandes adições em Orange Is The New Black.

Daddy Orange Is The New Black
Como a própria Ruby Rose escreveu no Twitter: Daddy provavelmente frequenta a mesma cabelereira da Stella

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).