Ação/Policial

Lucifer: 5ª Temporada (2020)

• Entre asas e beijos

A palavra “fôlego” é descrita como o movimento de aspirar e expelir o ar pelas vias respiratórias. Não sou eu que tá dizendo, é o dicionário do Google. Porém, há uma coisinha maravilhosa na Língua Portuguesa chamada figura de linguagem. Em outro sentido, fôlego pode significar o ânimo para continuar algo que requer esforço. Por isso, quero utilizar essa palavra pra falar sobre a quinta temporada de Lucifer. Boas histórias precisam saber se renovar. Esta é uma série que eu particularmente gosto, e a quarta temporada pra mim foi a melhor. No entanto, eu não pude deixar de sentir um desgaste neste quinto ano. Como assim desgaste, Leleco? É só continuar a leitura que eu te explico.

 

Sinopse

Tio Lu está de volta ao Inferno. Na Terra, mais especificamente em Los Angeles, a vida dos nossos queridos personagens começa a ganhar novos contornos quando Lucifer decide voltar à Cidade dos Anjos. O problema? Aquele não é Lucifer, mas sim o seu irmão gêmeo, Miguel (ou Michael, como preferir). Como todo gêmeo do mal que se preze, Miguel não possui boas intenções. Ele começa a interferir tanto na vida dos outros, enquanto finge ser Lucifer, que obriga o próprio Diabo a deixar o seu reino pra resolver aquela bagunça. Em outras frentes, Chloe segue mergulhada em seu trabalho de detetive e Maze passa a ter conflitos existenciais.

666 Tons de Cinza

Crítica

Lucifer começa o dia se questionando a respeito de alguma coisa. Alguém lhe dá um conselho, que ele desvirtua e interpreta de um jeito totalmente diferente. Uma ou mais pessoas aleatórias morrem e a polícia investiga o caso. Lucifer começa a agir de maneira esquisita durante a investigação do crime com a polícia. Ele e Chloe desconfiam de alguns suspeitos, mas descobrem que os responsáveis são outros. Lucifer aprende finalmente uma lição nova e o caso é solucionado.

Tá aí. Acabei de resumir praticamente todos os episódios da série. O meu ponto é que a fórmula de Lucifer é pra lá de repetitiva. Sempre vai ter um personagem dando algum conselho a outro, e esse outro percebendo que tal conselho serve também pra alguma outra situação específica. Como assim, Leleco? Vamos supor que o Dan está com o intestino preso. Ele pede dicas pra Linda, a qual sugere que ele coma ameixa pra ajudar a relaxar seu interior. Dan percebe que, por dentro, ele anda muito tenso, e portanto utiliza aquele conselho em um outro contexto. Sério, depois que a gente percebe pela primeira vez, fica escancarado o quanto a série se repete em alguns recursos que podem passar batido.

A temporada dá inúmeros sinais de falta de criatividade e inovação. Episódios musicais e/ou em preto de branco são um atestado disso. Eu entendo quem gosta desses tipos de capítulo, mas eu sinceramente acho pura encheção de linguiça. Aqui temos um episódio que acontece alguns anos no passado, contando a história de Lilith, a mãe dos demônios. Ele não serve praticamente a propósito nenhum, e a única coisa de útil dele acontece apenas no final. Precisava de um episódio inteiro pra isso? As justificativas pra essas histórias são explicadas no contexto da série, mas não pude evitar ficar com preguiça.

Os fillers também tendem a encher o saco. Assim como eu descrevi no primeiro parágrafo, toda trama é praticamente a mesma coisa, só mudam os assassinatos. O que me deixa mais frustrado é que, no panorama geral, a quinta temporada de Lucifer tem uma proposta instigante, mas que acaba diluída no meio de histórias dispensáveis. Pra completar, eu não tenho paciência pro quanto os norte-americanos dão um peso exagerado pra frase “eu te amo”. Bicho, você não precisa necessariamente dizer pra alguém que a ama pra provar seu ponto. O Lucifer e a Chloe já sacrificaram tantas coisas um pelo outro e ficam nessa ladainha de um não se sentir digno e a outra ficar chateada com isso. Argh.

Agora que eu bati bastante na série, vamos aos elogios. Tom Ellis está mais confortável do que nunca no papel do protagonista. O seu timing cômico, talento musical e interpretações estão no auge. Isso ficou ainda mais claro depois da inserção de seu irmão gêmeo, Miguel. Pra diferenciar o vilão do herói, o ator fornece um trejeito característico pro Zack-&-Cody-do-Mal, mudando o sotaque e a linguagem corporal. Tom Ellis brilha nas sutilezas e nas partes mais explícitas de sua atuação, agigantando sua performance como o Diabo.

Os demais personagens estão bem. Amenadiel exerce um papel evidente de liderança e disciplina, mas sofre com a pressão. Dan é um dos mais interessantes, sobretudo após um acontecimento específico da temporada, que exige uma transformação em si. Chloe segue uma trajetória sem muitas surpresas, mas cumpre o esperado. Maze ganha um arco emocional, embora previsível, e Linda alterna entre altos e baixos. Eu já falei aqui no blog que eu gosto da Linda em momentos isolados. Quando começa a ganhar espaço demais, sinto que o roteiro não consegue tirar o melhor dela. Por fim, Ella recebe um pouco mais de contorno, mas sofre um pouco com o “lugar comum” de seu núcleo.

O enredo principal tem muita coisa boa em volta. As aparições de novos anjos e entidades acrescentam substância à série, ainda que a trama tenha ganhado tons épicos demais pro meu gosto. É possível enxergar o início do fim se aproximando, até porque esta era pra ter sido a última temporada. Porém, a Netflix resolveu encomendar uma última leva de episódios pra encerrar de vez a jornada de Samael (que ele não me veja escrevendo isso).

Quando você aumenta demais a exposição da foto

Veredito

O fôlego que Lucifer tinha conseguido na quarta temporada se esvai parcialmente aqui. A premissa da vez tem potencial, boas ideias e entrega diversos caminhos acertados, com aqueles tons cômicos e dramáticos bem peculiares da série. A obra é capaz de divertir, mas também não deixa de desenvolver os seus ricos personagens. A primeira metade é excelente, mas a reta final se torna um pouco cansativa, sobretudo porque os episódios são longos demais. A história é afetada pelas constantes repetições, dá voltas desnecessárias e o enredo central perde força em meio a arcos paralelos de pouca importância. Assim, vira uma experiência que quer engatar, mas se esquece de passar a marcha. A falta de ousadia em fugir da fórmula compromete o pacote. A sorte é que a base é sólida, e a nossa relação forte com a mitologia da série faz com que a gente se sinta investido até o fim. Nota final: 3,7/5.

Avisa que é Ella!!

 

>> Crítica da 1ª Temporada de Lucifer

>> Crítica da 2ª Temporada de Lucifer

>> Crítica da 3ª Temporada de Lucifer

>> Crítica da 4ª Temporada de Lucifer

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Putz, ainda bem que não estenderam demais a trama da Chloe ficando com o Miguel e achando que era o Lucifer… quebraram totalmente minha expectativa, e gostei muito disso.
  • Ok, vamos lá. Quem não deduziu rapidamente que aquele namorado da Ella, o Pete, era na verdade o serial killer, não deve ter visto muitas séries de investigação. Gostaria que tivessem deixado menos na cara. E, já que eu tô falando da Ella, desde que eu vi uma teoria de que ela seria o novo Deus, qualquer coisa além disso vai me deixar decepcionado. Se não me engano, eu escrevi nos primeiros pitacos da série que eu achava que a Ella era de fato Deus, mas errei feio.
  • Ah, outra coisa. Tá na hora da Ella descobrir a real identidade do Lucifer, né? Só falta Ella.
  • Eu gostei bastante do episódio em que o Lucifer prega uma peça no Dan e o faz acreditar que toda a situação é desesperadora, quando não passava de uma pegadinha. No fim, quando todo mundo começou a levar tiro, eu já estava girando os olhos e pensando no quanto aquela galera era maluca de ficar metralhando sem se esconder por trás de algo. Quando veio a revelação, sorri que nem pateta.
  • A história da Maze foi legal de ver por conta de seu desenvolvimento, mas desde o início eu consegui perceber que ela conquistaria uma alma, mas sofreria com aquilo posteriormente. Ainda assim, gostei de ver sua reconciliação com a Eva, elas fazem uma boa dupla.
  • Quem não jurou que a filha da Linda a recusaria com todas as forças é maluco. Eu fiquei até com medo quando ela pegou o Charlie no colo. E as duas são muito parecidas, pqp.
  • Eu só não coloquei Deus como Maior Surpresa da temporada porque seria um spoiler pra aqueles que não assistiram, mas gostei muito. Apesar de ser onipotente e blá, blá, blá, ele tem as mesmas falhas de um ser humano comum. É algo que sempre me deixou intrigado com a religião cristã. Se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, então ele não pode ser perfeito. Portanto, vê-lo tendo ciúmes, fraquezas e arrogâncias na série me agradou muito. E ele fugindo pra outro universo com a Deusa foi totalmente condizente com a personalidade “eles que se resolvam” de Deus. Na série, pelo menos. Ou não só nela
  • Certo, eu não esperava que o Dan morreria. Porém, não consigo acreditar que ele realmente se foi. Tudo pareceu meio… abrupto pra mim. Se ele de fato partiu dessa pra melhor e não vai voltar, acredito que a série teria feito uma cerimônia maior e imposto mais drama. E a questão de ele não ter sido mostrado no Inferno ainda abre margem pra uma aparição futura.
  • Não lembro se isso já foi mencionado na série, mas uma coisa me incomoda no conceito de Inferno. E as pessoas que fizeram coisas horríveis enquanto vivas e não se arrependeram de nada? Sei lá, tipo psicopatas absolutos? Pessoas que cometeram massacres e morreram sem um pingo de culpa? A série parte da premissa de que é impossível isso acontecer, pois todos carregam culpa de uma forma ou de outra. Eu não acredito nisso. Então, há alguma punição pós-morte pra esses tipos de monstro?
  • Outra coisa: pra onde foi Remiel depois de morrer? Porque se ela tiver ido pro Paraíso, não fez tanta diferença ter falecido. Se ela simplesmente parou de existir, é um destino muito mais sombrio do que a série foi capaz de transparecer.
  • Sobre a conclusão, achei meio vergonha alheia o momento em que Lucifer, Chloe, Amenadiel e Zadkiel começaram a dançar “U Can’t Touch This”, mas tudo bem. A cena em que a Chloe morreu foi muito forte, e a atuação do Tom Ellis naquela parte foi sensacional. Pelo menos ele conseguiu voltar e agora será Deus. “Oh my me”, aliás, foi um ótimo jeito de encerrar a temporada.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Lucifer Morningstar
Grande parte do motivo pelo qual a série se mantém por tanto tempo em um bom nível é a qualidade de seu protagonista. Tom Ellis está no seu grande momento, extraindo o que há de melhor na sua interpretação.

Lucifer em Preto e Branco, óleo sobre tela

+ Melhor episódio: S05E05 (“Detective Amenadiel”)
A temporada teve vários bons episódios (adorei o 12 e o 15), e este aqui talvez nem tenha sido o mais marcante. Contudo, veio em um momento no qual a temporada estava chegando no ápice.

Dori me, interimo, adapare, dorime, Ameno, Ameno

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).