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DCLelecoEspecial #03 – Coringa: Delírio a Dois (2024)

coringa delírio a dois

• Ideias boas, execução nem tanto

Eu juro que dei todas as chances possíveis pra Coringa: Delírio a Dois. Eu assisti a esse filme meses depois de seu lançamento, que foi cercado de muitas avaliações negativas pela crítica especializada e pelo público geral. Com as expectativas lá embaixo, eu fui conferir sem esperar nada de especial, mas com uma ligeira ponta de esperança após dois amigos meus dizerem que o acharam melhor do que o primeiro Coringa. Até a metade, mais ou menos, eu até estava gostando dessa sequência; mas, quanto mais eu penso nela, menos me agrada.

 

Sinopse

Depois de ser preso por assassinar um apresentador de TV ao vivo, Arthur Fleck é mandado para o Asilo Arkham. Lá dentro, ele apresenta sinais de melhora até que uma mulher chamada Lee desperta o que há de pior dentro dele: a identidade de um infame palhaço homicida.

O amor é uma prisão

Crítica

Eu queria começar dizendo que Coringa: Delírio a Dois não é essencialmente um filme ruim. Ele tem diversas boas ideias e sacadas realmente inteligentes, mas infelizmente não consegue traduzi-las de forma satisfatória. Eu entendi praticamente tudo o que o diretor Todd Phillips queria fazer, mas a execução acabou não saindo como o planejado.

O formato musical é um grande exemplo disso. Quando eu soube que haveria essa pegada, fiquei intrigado – já faz um tempo que eu perdi o preconceito com esse gênero, então isso não me assustou como aconteceu com milhares de outras pessoas. Eu cheguei à conclusão de que a ideia da loucura de Arthur Fleck e Harleen Quinzel ser traduzida pela música tinha muito potencial, e o trailer do filme apenas evidenciou essa sensação.

A questão é que Coringa: Delírio a Dois não desenvolve bem tal ideia. Depois de meia hora sem sequer a pista de uma canção, o filme de repente embarca nessa narrativa. Porém, o faz de maneira artificial e quase protocolar, como se achasse que a mera execução daquele conceito fosse sinônimo automático de qualidade. Eu não fui capaz de acreditar que, de maneira tão abrupta, Arthur Fleck agora era capaz de se comunicar através da música. Isso poderia ter sido trabalhado com mais tato.

Eu normalmente não costumo julgar um filme pelo que ele poderia ter sido estruturalmente, mas acho que, se a história fosse contada através das lentes da personagem interpretada por Lady Gaga, aumentaria consideravelmente a probabilidade da trama funcionar. Em vez disso, Lee acaba sendo uma personagem sem brilho, mesmo com as tentativas exageradas do diretor de transformar cada momento dela com o Arthur em algo artístico e memorável. A parte visual é bonita, sem dúvidas, mas me pareceu meio vazia.

Além disso, sinto que Coringa: Delírio a Dois tem um enredo que não chega a lugar algum. Eu vou abordar isso com mais detalhes lá embaixo no texto, na parte das Observações Spoilentas, mas posso adiantar que as curvas dramáticas dessa sequência são muito semelhantes às do longa antecessor, só que sem o senso de novidade de outrora.

Como diria Otávio Ugá, essa é a minha reação enquanto eu assistia ao filme

Veredito

Coringa: Delírio a Dois é definitivamente um filme corajoso. Ele sabe muito bem o que deseja colocar em prática e admito que o roteiro é cheio de ideias que poderiam ter feito a sequência superar o original. O longa possui bons momentos, principalmente na primeira metade, mas escorrega feio ao tentar seguir por um caminho diferente do que era esperado dele. Em resumo, há aqui um bom conceito executado de maneira decepcionante, e o resultado final não passa do mediano.

Margot Robbie tá diferente

 

+ Melhor personagem: Arthur Fleck
Longe de apresentar o mesmo brilho que teve em Coringa, o protagonista de Coringa: Delírio a Dois é bem interpretado por Joaquin Phoenix e traz boas reflexões filosóficas e sociológicas. Poderia ter deslanchado mais, é verdade, mas é o melhor personagem do filme.

Cuidado, cão bravo

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO

 

  • Na seção da crítica, eu mencionei que o filme não parece chegar a lugar algum. Vou explicar melhor o meu ponto de vista. No primeiro filme, Arthur Fleck passa o tempo todo lutando contra os próprios fantasmas, abraça a loucura e termina a história abdicando de sua identidade e abraçando o alter ego do Coringa. No segundo filme, Arthur Fleck passa o tempo todo lutando contra os próprios fantasmas, abraça a loucura e abraça a identidade do Coringa, e no final… ele parece retornar ao princípio. Eu sei que as circunstâncias são um pouco diferentes, mas é uma curva dramática familiar demais pro meu gosto.
  • Esperava muito mais da Arlequina. Achei interessante a releitura que fizeram da personagem, fugindo um pouco da base de ela se apaixonar pelo Coringa enquanto trabalhava como psicóloga dele, mas a Lee não disse a que veio. Eu alimentei boas esperanças depois daquela sequência em que ela começa um incêndio em Arkham, mas não senti muito a marca da Arlequina em quase nenhum momento do filme.
  • Vamos lá, eu entendi o que Todd Phillips quis fazer. Eu entendi que ele queria deixar bem claro que as ações do Coringa não devem ser glorificadas, e que a reação da população de Gotham quanto à figura do vilão espelha as nossas expectativas enquanto público. Sim, eu esperava que o filme apostasse mais no lado maníaco do Coringa, por razões óbvias. Se no longa anterior vimos a origem dele e a explicação por trás de seu sadismo, perder metade da sequência só com ele passando pelos mesmos dilemas me deixou meio desapontado. Coringa: Delírio a Dois é um filme sem ápice, que dá a impressão de que vai se tornar grandioso após a explosão no tribunal, mas isso não dura nem dez minutos antes de ele ser preso novamente.
  • Sim, eu pensava que aquela vizinha do Coringa tinha sido assassinada por ele, mas não. Pelo menos solucionou esse mistério relativo a Coringa, embora eu tivesse gostado da margem pra interpretação.
  • É uma pena que Coringa: Delírio a Dois tenha tantos momentos que poderiam ser poéticos, mas não são. O assassino do Arthur Fleck, por exemplo, parece ter sido o mesmo dos pais do Bruce Wayne, certo? Por causa da frase que ele disse, “você recebe o que merece”, assim como no primeiro filme. É mais um paralelo interessante entre Batman e Coringa, mas o próprio filme não aproveita isso tão bem.

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).