• As primeiras maldições
Eu não costumo fazer isso aqui no blog. Prezo sempre pela ordem de lançamento das coisas, independentemente da ordem cronológica dos acontecimentos. Desta vez, porém, por sugestão da minha noiva, decidimos assistir aos filmes de Invocação do Mal, na preparação para o último capítulo da saga dos Warren, seguindo a cronologia dos eventos. Em cada uma das três postagens, falarei sobre três filmes, fazendo uma breve sinopse e contextualizando data e local pra depois fazer as minhas humildes críticas, sem spoilers. Bora comigo pra mais uma análise de franquia!
A Freira (2018) – Local sagrado
Em 1952, na Romênia, uma freira tira a própria vida em um convento e motiva o Vaticano a mandar um padre especializado em casos incomuns e uma noviça que ainda não tinha feito seus votos para investigar o que de fato aconteceu no lugar.
A Freira pega todos os clichês e elementos batidos de filmes de terror, mistura em um caldeirão e o resultado é um longa sem inspiração. Os poucos sustos são meros sobressaltos e a construção do medo é pra lá de preguiçosa. Em toda cena, um personagem fica sozinho, a câmera gira sobre ele e uma figura misteriosa aparece em algum ponto do campo de visão. A personagem então olha pra outro lado e, quando volta os olhos pro lugar original, a figura sumiu. Aí, de repente, aparece um monstrengo rugindo pra tentar pegar a gente de surpresa. Pronto, resumi as partes de “horror” pra vocês.
Os personagens, inclusive, não são lá essas coisas. Eu gostei do Frenchie pela sua praticidade e a Irmã Irene é ok, mas o Padre Burke é completamente inútil. A única coisa relevante que ele faz no filme é ser salvo pela protagonista. A história também é meio bagunçada e cheia de facilitações e pontas soltas. A narrativa é confusa e, nos momentos de maior obviedade da trama, o roteiro julga que não somos inteligentes o bastante e abusa da exposição. O longa chega ao fim sem mais nem menos e dá a impressão de algo inacabado.
A Freira até tenta, mas não é capaz de passar do medíocre. Ainda bem que o universo de Invocação do Mal não começou aqui quanto à ordem de lançamento, porque possivelmente não teria decolado e alcançado o patamar que alcançou.

Annabelle 2: A Criação do Mal (2017) – Mal enclausurado
Em 1955, nos EUA, uma freira e seis garotas adolescentes são acolhidas por uma família que perdeu a filha pequena pouco mais de uma década antes. O que parecia um ótimo lar, apesar do clima pesado, gradualmente se transforma em um pesadelo.
Eu não sabia muita coisa do passado da Annabelle e dificilmente essas histórias de origem de personagens consolidados rendem alguma coisa interessante. Isso fez com que Annabelle 2 me pegasse de surpresa. Ao contrário de A Freira, que tem um roteiro preguiçoso e uma ambientação bem qualquer coisa, este segundo capítulo da cronologia da franquia faz tudo certinho. A direção sabe como conduzir o clima de estranhamento, não repete as mesmas estratégias pra assustar o público e desenvolve personagens que despertam sentimentos na gente, em vez de estarem simplesmente ali.
Tudo que Annabelle 2 faz já foi feito antes, mas é tudo tão certinho que o transforma em um bom filme. Ele vai colocando alguns elementos e deixa claro que vão ser utilizados em algum ponto, como a cadeira na escada, um elevador de carga entre os quartos, um celeiro, um espantalho, um quarto trancado… nada é colocado por acaso, tudo é aproveitado. O cenário da casa em que a trama se desenrola ganha identidade, ao contrário da genérica abadia de A Freira em que cada cômodo era praticamente a mesma coisa.
Annabelle 2: A Criação do Mal é um filme de terror pra lá de decente que consegue justificar a própria existência ao contar uma história que vale a pena ser vista e ouvida. De vez em quando ele força a barra na tentativa de assustar, acabando com o elemento de mistério, não explica por que a polícia não entrou na jogada em determinado momento e poderia ter sido mais ousado, mas é altamente funcional.

A Freira 2 (2023) – Os olhos de Santa Luzia
Em 1956, na França, a Irmã Irene tenta se recuperar dos eventos ocorridos quatro anos antes. Contudo, quando o demônio Valak volta a mostrar sinais de violência em diferentes países da Europa, ela é impelida a visitar um internato em que a vida de dezenas de crianças está em risco.
A Freira 2 é notadamente melhor do que A Freira. Isso significa que ele é um filme bom? Mais ou menos. Na comparação entre os dois, dá pra ver uma clara evolução. Os cenários são construídos de maneira melhor e o internato de A Freira 2 tem seus aposentos apresentados de forma satisfatória, dando pistas de onde a ação vai se desenrolar. O trabalho de câmera também é mais autêntico, e temos uma ou outra cena (como a da banca de jornal) em que dá pra ver que o diretor tentou fazer algo de diferente. Além disso, temos aqui um estilo muito mais slasher do que terror oculto, algo que poderia ser um diferencial. Mesmo assim, é um longa com vários problemas.
Em um filme como esse, não acho que o slasher seja a melhor escolha – pra isso, seria necessário um refino muito maior da direção e do roteiro. Da forma como a freira Valak foi apresentada, ela funciona melhor nas sombras do que atacando as pessoas de maneira gráfica. Metade do medo que ela conseguiu gerar em Invocação do Mal 2, por exemplo, se esvai. Da metade pro fim, o filme também fica meio repetitivo e previsível, e a conclusão me causou insatisfação por deixar diversas pontas soltas. Eu não vou classificar isso como um defeito ainda, pois pode ser que eu não esteja me lembrando de que essas perguntas são respondidas em outros capítulos da franquia. Porém, fiquei meio confuso a respeito do possível parentesco de Irene com Lorraine Warren e também sobre como o Frenchie foi parar nas mãos dos Warren. Se isso não for respondido em nenhum momento da saga, este filme sobre o qual estou escrevendo é ainda mais inútil.
A Freira 2 consegue, a princípio, dar a impressão de que aprendeu com todos os erros de seu antecessor. De fato ele aprendeu com alguns, mas repete várias fórmulas de terror que já ficaram enjoativas há anos. Não é um filme ruim, inclusive tem bons momentos e é capaz de prender a atenção, mas com certeza não vai ficar na memória.

CURIOSIDADES
- A equipe de marketing de A Freira precisou remover um anúncio de 5 segundos do YouTube por ser muito assustador e por supostamente ter feito algumas pessoas passarem mal.
- O diretor de Annabelle 2 estava relutante em comandar o projeto porque não costuma gostar de sequências de terror, mas mudou de ideia ao ser informado de que seria uma prequela independente.
- O diretor de A Freira 2 estava animado pra fazer a sequência na banca de jornal, porque sabia que os fãs adorariam. Porém, ele revelou que, se soubesse o quanto a cena seria difícil, talvez tivesse desistido.
FICHA TÉCNICA
Nome original: The Nun
Duração: 1h36
País: EUA
Direção: Corin Hardy
Elenco principal: Taissa Farmiga, Demián Bichir, Jonas Bloquet, Bonnie Aarons, Ingrid Bisu, Charlotte Hope, Sandra Teles, Maria Obretin, Lynette Gaza
FICHA TÉCNICA
Nome original: Annabelle: Creation
Duração: 1h49
País: EUA
Direção: David F. Sandberg
Elenco principal: Talitha Eliana Bateman, Lulu Wilson, Anthony LaPaglia, Samara Lee, Miranda Otto, Stephanie Sigman, Grace Caroline Currey
FICHA TÉCNICA
Nome original: The Nun II
Duração: 1h50
País: EUA
Direção: Michael Chaves
Elenco principal: Taissa Farmiga, Jonas Bloquet, Storm Reid, Anna Popplewell, Bonnie Aarons, Katelyn Rose Downey, Suzanne Bertish, Léontine d’Oncieu
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Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?