• Condutoras malignas

Depois que eu parei pra pensar, fazia mais sentido eu colocar o “Universo Invocação” no quadro Terror do Leleco, onde eu já escrevi sobre Jogos Mortais, Pânico, Uma Noite de Crime e Premonição, em vez de inseri-lo na categoria de Franquias. Porém, como são 9 filmes desta saga aqui, acho que ficaria um texto muito grande se eu colocasse todas as críticas em uma só postagem (lembrando que, no caso de Jogos Mortais, o formato era diferente). Mas isso é só divagação minha. Vamos falar sobre os três capítulos seguintes do Universo Invocação, seguindo a cronologia dos eventos e evitando o terreno de spoilers. Vem comigo!

Annabelle (2014) – Em busca de uma alma

Em 1967, nos EUA, um jovem casal está à espera de um bebê. Porém, quando o pai da criança compra uma boneca para dar à filha quando nascer, um evento traumático acontece e desencadeia uma série de episódios medonhos.

Pelo tanto que as pessoas falam mal deste filme, eu esperava por uma tragédia cinematográfica. Mesmo assim, acreditava que seria superior a A Freira e A Freira 2. E eu estava certo. Annabelle é muito mais tradicional do que esses dois citados e pega a boa e velha fórmula de algo não corpóreo fazendo coisas mexerem aleatoriamente em uma casa, aparecendo de vez em quando pra assustar os moradores. É uma estrutura nada original, mas eu estaria mentindo se dissesse que não me manteve entretido, tenso e assustado.

A sequência do elevador é excelente, e a química entre o casal principal é muito boa, fazendo com que eu me importasse com eles e com a criança. É verdade que, em determinado ponto do filme, a mãe começa a tomar decisões idiotas uma atrás da outra, até atingir a nossa suspensão de descrença. Isso realmente poderia ter sido melhor trabalhado, assim como o final, que chega até a ser meio anticlimático pela maneira como tudo é resolvido.

Annabelle é um spin-off melhor do que os dois filmes da Freira porque consegue desenvolver melhor os seus personagens e construir com mais eficácia os elementos de terror, mas fica atrás de Annabelle 2: A Criação do Mal ao cometer deslizes nos detalhes, deixando alguns momentos meio confusos – como a transição de tempo entre a cena da pipoca estourando, a parte no hospital e as sequências seguintes em uma nova residência.

Invocação do Mal (2013) – Casa mal-assombrada

Em 1971, nos EUA, uma família formada por um casal e cinco filhas se muda para uma casa distante da civilização urbana, em busca de paz e tranquilidade. Infelizmente, algo parece não gostar da presença deles e torna os dias um inferno atrás do outro. E é aí que entram Ed e Lorraine Warren, responsáveis por resolver casos envolvendo espíritos, demônios e outras coisinhas singelas.

O gênero de terror é o que mais exige um diretor competente. Nos demais gêneros cinematográficos, eu acho possível um diretor mediano desenvolver um filme bom. Nesse caso, outros aspectos como roteiro e atuações podem se sobressair o suficiente pra mascarar a direção pouco inspirada. No terror, é quase impossível isso acontecer; na verdade, o inverso é muito mais tangível. Até mesmo uma história batida e sem nada de especial pode render um bom filme nas mãos de um diretor competente. É mais ou menos o caso de Invocação do Mal, dirigido pelo ótimo James Wan.

O enredo não é nada revolucionário. Temos uma família em perigo em uma casa mal-assombrada. Quantas vezes já não vimos essa mesma premissa? A diferença é que James Wan tem o molho. Ele sabe muito bem como carregar a atmosfera, dando espaço pra nossa imaginação. Terror que mostra demais não gera terror, é o que eu sempre penso. Invocação do Mal possui diversas cenas em que a direção instiga a gente a pensar que há algo nas sombras, mesmo quando não há. A parte em que a personagem da atriz Joey King aponta para uma suposta silhueta atrás da porta é aterrorizante, justamente porque guarda as suas cartas pra si. A quantidade de espelhos espalhados pela casa também captura a atenção – em vários momentos eu me vi na expectativa de ver algo nos reflexos.

Invocação do Mal ditou o ritmo do terror contemporâneo e gera repercussões até hoje. A direção é a principal qualidade responsável por fazer o filme dar certo, mas o carisma entregue por Patrick Wilson e Vera Farmiga também é essencial pra proposta funcionar. Não é um longa perfeito e recorre a facilitações narrativas (os Warren não terem desconfiado da situação com a mãe não tem sentido algum, por exemplo), mas é muito eficiente.

Annabelle 3: De Volta Para Casa (2019) – Fanfic dos Warren

Em 1972, nos EUA, Ed e Lorraine Warren decidem fazer uma viagem de casal e deixam a filha, Judy, sob a responsabilidade da babá Mary Ellen. Tudo ia bem, até que a amiga de Mary Ellen, Daniela, se convida a passar a noite e invade o quarto proibido da casa.

Quando eu assisti a Annabelle 3 no cinema, dei nota 3,5 no aplicativo Letterboxd. Eu sabia que não era tão bom quanto Invocação do Mal e Invocação do Mal 2, os únicos que eu tinha assistido até então, mas ele me divertiu e eu saí da sessão satisfeito. Eu não sei bem o que rolou de lá pra cá. Não tenho certeza se é porque o meu gosto mudou muito em seis anos e eu fiquei mais exigente, se assistir este filme em sequência na franquia piora a experiência ou se o fato de eu ter visto no cinema, e não em casa, mascarou os defeitos. Provavelmente é tudo isso junto que me fez detestar Annabelle 3 na segunda assistida, a ponto de considerá-lo o pior da saga até aqui.

O filme começa bem, pois foca nos Warren. A partir do momento em que os abandona, Annabelle 3 vai caindo de nível gradualmente até ficar ruim em todos os sentidos. Um terror que não consegue provocar medo e nem assustar (eu acho que eu tive um único sobressalto) não tem como ser considerado bom. A personagem da Daniela é muito irritante – o que é uma pena, pois a sua história de luto poderia ter rendido algo interessante. Pra falar a verdade, o filme inteiro é um aglomerado de coisas mal aproveitadas. O roteiro tinha em mãos o potencial de todas as assombrações dos Warren de uma só vez. Em vez de aproveitá-las e construir algo original, ele se limita a fazer os espíritos andarem monotonamente em segundo plano. Todas as tentativas de criar tensão são meras reciclagens de cenas já feitas antes na saga.

Annabelle 3: De Volta Para Casa é mais fraco do que os demais pois tinha um material bom em mãos e conseguiu a façanha de espalhar a farofa; ao contrário de A Freira, por exemplo, cujo conceito tinha tudo pra dar errado porque era meramente um produto. Mas, por mais que os filmes da Valak sejam ruins, eles pelo menos têm identidade. Este aqui só importa características que já vimos antes, falha miseravelmente como terror e é frustrante em sua essência. É quase como se alguém tivesse escrito uma fanfic dos Warren, em vez de aproveitar uma brecha que poderia ter rendido algo legal.

>> Universo Invocação #01 a #03 – A Freira, Annabelle 2: A Criação do Mal e A Freira 2 (2018/17/23)

CURIOSIDADES

• O diretor de Annabelle é John R. Leonetti. No entanto, a sequência do elevador deste filme foi dirigida por James Wan, que comandou Invocação do Mal e Invocação do Mal 2.
• Quando Invocação do Mal estreou nas Filipinas, alguns cinemas contrataram padres pra abençoar os espectadores antes das sessões, porque alguns tinham sentido uma presença negativa após assistir.
• Annabelle 3 foi o filme que alçou Invocação do Mal ao posto de franquia de terror mais lucrativa de todos os tempos no cinema, superando Alien. O universo de Resident Evil completa o top 3.

FICHA TÉCNICA

Nome original: The Nun
Duração: 1h36
País: EUA
Direção: Corin Hardy
Elenco principal: Taissa Farmiga, Demián Bichir, Jonas Bloquet, Bonnie Aarons, Ingrid Bisu, Charlotte Hope, Sandra Teles, Maria Obretin, Lynette Gaza

FICHA TÉCNICA

Nome original: The Conjuring
Duração: 1h52
País: EUA
Direção: James Wan
Elenco principal: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Ron Livingston, Lili Taylor, Shanley Caswell, Hayley McFarland, Joey King, Mackenzie Foy, Kyla Deaver

FICHA TÉCNICA

Nome original: Annabelle Comes Home
Duração: 1h46
País: EUA
Direção: Gary Dauberman
Elenco principal: Mckenna Grace, Madison Iseman, Katie Sarife, Michael Cimino, Patrick Wilson, Vera Farmiga, Samara Lee, Steve Coulter, Luca Luhan

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Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?