Alien, Ficção científica

Quadrilogia Alien #01 a #04 – Osso Duro de Roer (1979/86/92/97)

alien quadrilogia

• O organismo perfeito

Eu nem estava planejando assistir a essa quadrilogia. O meu plano original era maratonar todos os filmes do diretor David Fincher. Porém, como o primeiro trabalho dele em um longa-metragem foi Alien 3, teria de ver os outros dois da franquia pra poder entender melhor a história. E, já que eu assistiria os três, era mais fácil ver logo o quarto e finalizar a quadrilogia original, não é mesmo? Eu já tinha visto o primeiro filme há alguns anos, mas resolvi assisti-lo de novo pra poder pegar o embalo. A estratégia funcionou e aqui estou eu pra escrever sobre uma das mais influentes sagas de ficção científica da história do cinema. Eu vou tentar não soltar grandes spoilers ao longo do texto, mas as sinopses dos últimos filmes podem inevitavelmente trazer revelações dos capítulos anteriores. Então, leia por sua conta e risco!

 

Alien, o Oitavo Passageiro – Falta de protocolo

O primeiro filme da franquia Alien é um dos maiores clássicos da história não só da ficção científica, mas do cinema como um todo. O grande papel da carreira de Sigourney Weaver é justamente de Ellen Ripley, que também surge como uma das mais importantes personagens femininas do gênero. Não há como tirar os méritos deste longa, mas não posso mentir pra mim mesmo e pra vocês: eu não gosto tanto dele assim.

No primeiro capítulo da saga, sete tripulantes estão voltando pra Terra quando se deparam com um sinal de transmissão desconhecido. Eles vão atrás da origem dessa frequência, e um dos militares é surpreendido por uma criatura hostil. Eles levam o bicho pra dentro da nave, e mal sabiam que estavam levando o diabo pra dentro de casa.

Eu sou plenamente capaz de analisar um filme pelas lentes de sua época. Não dá pra cobrar que um filme de 40 anos atrás tenha a mesma qualidade de computação gráfica da atualidade. As minhas críticas a O Oitavo Passageiro não têm nada a ver com isso. Mesmo com as limitações do passado, a parte artística fez um ótimo trabalho com a concepção do alienígena ameaçador, e aquela cena do monstro saindo pela barriga de uma pessoa é memorável. Há uma boa construção de tensão, sem dúvidas, e os personagens têm personalidade definida. Então por que eu não consigo gostar plenamente deste clássico?

Quando eu assisti pela primeira vez, eu gostei da experiência, mas fiquei com uma pontinha de decepção lá no fundo da minha mente. Quando fui ler comentários sobre o filme, todo mundo falava tão bem que eu pensei que o errado fosse eu. Por isso, resolvi assistir de novo, pra ver se eu mudava de opinião. Isso não aconteceu. O meu maior problema com O Oitavo Passageiro está no ritmo da narrativa e na caracterização dos cenários. A trama anda tão devagar que a minha mente tende a divagar. É normal que haja um ritmo mais cadenciado pra construir aquela sensação de que algo vai aparecer nas sombras a qualquer momento, mas o filme perde muito tempo com coisas desnecessárias.

Faço aqui também uma comparação com Star Wars IV: Uma Nova Esperança. Eu sei que a abordagem é totalmente diferente, mas aquele filme é muito mais bonito e bem dirigido por George Lucas do que O Oitavo Passageiro de Ridley Scott, mesmo sendo mais antigo e ambos tendo o mesmo orçamento. A nave aqui é genérica e os ambientes parecem todos iguais, causando um desinteresse ainda maior pelo andamento do enredo. Eu sei que isso tudo que eu falei pode ser considerado heresia, mas tenho de ser condizente com a minha própria opinião. Alien é um filme importantíssimo pra história do cinema, é uma pena que tenha funcionado apenas parcialmente comigo.

Nesta foto, vemos alguém com o papel de protagonista e herói do filme. A outra personagem é só a Ripley

Aliens, o Resgate – Uma sequência especial

Sinto muito por escrever isso, mas Aliens – O Resgate não é melhor do que Alien, O Oitavo Passageiro. Na verdade, ele é MUITO melhor. Como o primeiro filme da franquia é bastante aclamado, a minha conclusão natural era de que seria o melhor deles. Por isso, não estava particularmente empolgado pra sequência. Quando vi o nome de James Cameron na função de diretor, aquilo aumentou a minha expectativa, e ainda bem que ela foi atendida.

Depois de dormir por um longo período de tempo, Ripley acorda e tem dificuldades em fazer os militares acreditarem em tudo que aconteceu com ela e a sua tripulação. Após descobrir que a Companhia enviou famílias, sem avisá-las, para colonizar o planeta contendo ovos dos alienígenas, Ripley decide embarcar em uma missão com militares pra poder resgatar os colonos.

Com todo respeito à história de Ridley Scott, mas a direção de James Cameron é amplamente superior. Aliens – O Resgate consegue pegar as maiores qualidades de seu antecessor, corrigir os erros e ainda adicionar bons elementos. Não temos mais longas cenas contemplativas em um cenário que não tem nada demais pra mostrar. As ambientações deste segundo filme são bem mais ricas, criando um senso de identidade consideravelmente maior. O nível dos personagens está equiparado com o primeiro filme, mas o roteiro cria novas dinâmicas que não deixam a experiência cair na mesmice, inclusive uma relação entre mãe e filha.

A construção de tensão é melhor, as cenas de ação são mais empolgantes e a atenção aos detalhes é mais valorizada. Eu não me distraí da trama em nenhum momento, e a Ripley ganhou muito mais camadas, que a tornaram uma personagem ainda mais interessante. Não à toa, foi a primeira vez que uma atriz (Sigourney Weaver, é claro) foi indicada ao Oscar por um trabalho em ficção científica.

Outra coisa que eu também gostei em Aliens – O Resgate foi a expansão do universo, dando novas características aos xenomorfos, tornando-os mais ameaçadores do que nunca. O fato de ter uma criança no filme, fazendo com que a gente imediatamente sinta um laço que não houve em O Oitavo Passageiro, também ajuda a potencializar a ameaça e deixar-nos na ponta da cadeira, torcendo pra que as coisas deem certo no final.

Se houvesse uma série só focada nessas duas, eu assistiria com tranquilidade

Alien 3 – Descartando um legado

Peço desculpas, mas eu vou ter que soltar spoilers do filme inteiro pra escrever sobre ele aqui. Portanto, se você chegou até aqui sem ter assistido à saga e não gostaria de tomar uma grande revelação na fuça, sugiro que passe pro quarto filme, onde vou tentar pegar mais leve nesse sentido.

Alien 3 consegue estragar tudo que Aliens – O Resgate fez em poucos minutos. Que bosta foi aquela de matar o Hicks, a Newt e o Bishop sem eles sequer aparecerem, sem um pingo de consideração e até um bocado de desrespeito com as coisas que James Cameron estabeleceu? Não faz sentido algum, narrativamente falando, você aniquilar um final pra construir um início. Matar um dos três logo no primeiro ato eu até consigo entender, pra poder captar a atenção. Droga, dois até “poderiam” ter morrido, mas essa decisão foi claramente o estúdio querendo se livrar daqueles personagens por algum motivo qualquer.

O restante de Alien 3 não é melhor. E é aí que está mais uma péssima tomada de decisão do roteiro: depois de um início revoltante, o enredo até consegue se recuperar ao desenvolver a relação de Ripley com Clemens, uma interação romântica que ainda não havia sido abordada dessa maneira até então. Em vez de seguirem com essa ideia, o que é que eles fazem? Matam o Clemens, sem mais nem menos! Com isso, o filme volta a ficar ruim e vai ficando cada vez pior até uma conclusão sem graça e preguiçosa.

Tecnicamente, poucas coisas se salvam. A direção de David Fincher é dispersa (embora eu o exima totalmente da culpa porque o estúdio ficava interferindo toda hora no roteiro, prejudicando o trabalho dele), a trama é qualquer coisa, os cenários são feios e nada criativos, os efeitos visuais do xenomorfo são esquisitos e os personagens possuem tanto carisma quanto uma pedra.

Se algum dia eu resolver fazer uma nova maratona da quadrilogia de Alien, vou considerar seriamente deixar de assistir este aqui. A única outra possibilidade é ver a “Assembly Cut”, uma versão com edição mais próxima à ideia original da equipe liderada por David Fincher, mas que o diretor ainda assim não quis assinar, pois não quer ser vinculado ao produto de maneira alguma. O problema de Alien 3 não é só ele ser ruim, mas sim ser tão mais ou menos que surge como um balde de água fria depois de um filme tão bom.

Que direção de arte tenebrosa

Alien: A Ressurreição – Os caras não desistem

Depois de um terceiro capítulo decepcionante, as minhas expectativas não estavam muito altas pro encerramento da quadrilogia. Talvez por isso ele não tenha me incomodado tanto quanto o antecessor, mas isso não significa que é um grande filme. Naturalmente, pra falar de Alien: A Ressurreição, eu preciso soltar spoilers sobre os outros três filmes.

Dando continuidade ao rodízio de diretores, o responsável por comandar as ações desta vez foi Jean-Pierre Jeunet, cujo maior sucesso é o charmoso O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. A ideia original do roteiro de Joss Whedon (ele mesmo, diretor de Os Vingadores) era colocar um clone da jovem Newt como protagonista. Porém, após Sigourney Weaver concordar em retornar à franquia, a outra proposta acabou sendo descartada.

Sim, Ellen Ripley morreu no final de Alien 3, mas arranjaram um jeito de trazerem-na de volta no corpo de um clone, conseguindo assim reviver o xenomorfo que estava na barriga da nossa heroína. Concordo, a premissa é extremamente absurda, e teria funcionado melhor se o filme não se levasse tanto a sério.

Alien: A Ressurreição não é ruim por si só. Como ficção científica isolada, ele é até um bom entretenimento. Tem boas e empolgantes sequências de ação e a dobradinha entre Sigourney Weaver e Winona Ryder se encaixa muito bem na história. Os coadjuvantes são melhores do que aqueles de Alien 3, embora sejam inferiores aos outros dois filmes. Além disso, a trama ainda se arrisca por alguns campos não explorados até ali, como uma criatura híbrida criada a partir do xenomorfo e uma Ripley mais despreocupada, dando nova faceta à personagem.

Porém, como um encerramento de franquia, Alien: A Ressurreição é dispensável. Sendo bem sincero, na minha cabeça eu vou tratar apenas os dois primeiros filmes como eventos canônicos, pelo bem da minha sanidade mental. Em meio a isso, o quarto capítulo da saga é um filme médio, que não é lá grandes coisas, mas pelo menos não estraga tudo que havia sido construído até então – até porque não havia muito mais pra se estragar.

Sons of Anarchy e Stranger Things entraram no chat

+ Veredito
Alien é uma franquia importantíssima na história do cinema, e precisa ser sempre lembrada quando o assunto é ficção científica. O primeiro filme pode não ter me agradado pessoalmente, mas há de se reconhecer a relevância do que Ridley Scott e Sigourney Weaver realizaram na época, algo que reverbera até os dias de hoje. O segundo filme é incrível, uma grata surpresa e uma das melhores obras de sci-fi que eu já assisti. Os dois últimos são apenas uma sombra de todas as qualidades cuidadosamente trabalhadas até aquele ponto, e infelizmente acaba abaixando o nível geral da saga. Portanto, pra ser feliz, basta ignorar a existência deles e curtir os dois primeiros!

Como será que ele enxerga, hein?

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).