Terror, Terror do Leleco

TerrordoLeleco #01 – Jogos Mortais (2004 a 2010)

• O quebra-cabeças

Esta postagem será diferente do habitual. Não se trata de uma crítica comum, com sinopse, veredito e Observações Spoilentas. Ao longo deste texto, farei uma análise totalmente aleatória da franquia Jogos Mortais, com exceção dos mais novos Jigsaw e Espiral: O Legado de Jogos Mortais. Portanto, isso aqui vai ter spoilers o tempo todo, porque meu objetivo não é somente dizer se vale ou não a pena ver. O pitaco da vez será mais semelhante a um artigo. Sem mais delongas, vamos mergulhar de cabeça no assassino dos quebra-cabeças!

 

Começou bem, mas precisava ter continuado?

Jogos Mortais, de 2004, é um dos filmes de terror mais icônicos de todos os tempos. Quer saber qual é a fonte dessa minha afirmação? Eu mesmo. O estilo que o reizinho James Wan colocou em sua obra funcionou bastante na época do lançamento, e a história não era apenas um amontoado de torturas e assassinatos sem propósito. Os personagens eram genuinamente interessantes, e a reviravolta do Jigsaw estar o tempo todo deitado no chão é uma das melhores que eu já vi no cinema.

Interrompendo um pouco o fluxo, eu sempre fui fascinado pelas capas dos filmes da franquia. Na longínqua época das locadoras, sempre ia em uma aqui perto de casa com meu pai e meus irmãos. Passávamos vários minutos analisando as opções do que assistir, e eu gostava de ficar olhando a parte de terror. Não, eu não via nenhum filme do tipo porque, quando criança, sempre fui cagão pra esse gênero. Eu só fui ver o meu primeiro filme de terror, Atividade Paranormal, com mais de 15 anos de idade. De qualquer forma, eu me amarrava em observar as capas de Jogos Mortais.

Eu sempre imaginei que a saga se apoiava só no gore, ou seja, na violência extrema. Quando vi o primeiro filme, me surpreendi com a qualidade do enredo. Assisti duas vezes, mas nunca fiquei muito empolgado pra ver os outros. O consenso entre as avaliações do público era de que o primeiro era ótimo, o segundo bom e o restante meio bosta. Contudo, no Dia dos Namorados deste ano, eu e minha namorada estávamos decidindo qual filme de terror assistir, uma tradição nossa. Jogos Mortais entrou na conversa, e no mesmo dia vimos o segundo, o terceiro e metade do quarto, terminando-o na manhã seguinte.

Como a sociedade atual se porta quando fica alguns minutos sem celular ~critiquei~

Um festival de retcons

No meu pitaco da sétima temporada de Arrow, eu expliquei um pouco sobre o conceito de “retcon” logo no início. Resumidamente, é quando uma história altera fatos previamente estabelecidos em prol de uma nova trama. Normalmente, isso acontece quando se decide fazer a continuação de algum filme ou série que já tinha fechado a sua própria história, como é caso de Jogos Mortais. Pra manter a franquia viva, os roteiristas se voltaram a esse artifício, e começaram a utilizá-lo exaustivamente.

Logo no segundo filme, a gente descobre que Amanda Young não era uma mera sobrevivente de um dos jogos de John Kramer. Com o tempo, ela se tornou assistente do serial killer, antes de enlouquecer e levar um tiro no pescoço de Jeff no terceiro filme. A cada novo capítulo da franquia, a trama se recusava a olhar pro futuro e ficava sempre vislumbrando o passado, em uma tentativa de manter a memória do Jigsaw viva, mesmo após a sua morte no terceiro filme. Como a saga optou por se manter em um ciclo vicioso, eram sempre os mesmos personagens aparecendo, até que foram morrendo um por um.

Entre os principais, apenas o Lawrence Gordon sobreviveu, e também foi alvo de um retcon. Até fez um certo sentido, levando em conta a precisão das suturas e armadilhas do Jigsaw, mas não deixou de ser um retcon. Sim, teve uma outra galera que sobreviveu, mas ninguém se lembra dos nomes deles, vamos ser sinceros. A morte é banal em Jogos Mortais, e não teria como ser diferente. A graça da franquia é essa, a partir do momento em que você se deixa levar pelos absurdos da história.

A gótica e o careca

Divertimento sem compromisso

Jogos Mortais chegou perto de alcançar um feito inédito na minha avaliação. O primeiro filme é melhor do que o segundo, que é melhor do que o terceiro, que é melhor do que o quarto, que é melhor do que o quinto, que é melhor do que o sexto. Se o sétimo fosse o pior da saga, seria uma perfeita ordem decrescente de qualidade. No entanto, ao contrário da opinião geral que acompanhei no letterboxd, eu até que gostei de Jogos Mortais – O Final por causa do ritmo acelerado e da criatividade nas torturas. Por outro lado, a trama é praticamente inexistente. A reviravolta final é legal e tudo mais, só que os plot twists meio que perderam a força lá no quarto filme. O detetive Hoffman ser um ajudante do Jigsaw, por exemplo, não foi lá muito impressionante.

Mesmo assim, falando do fundo do meu coração, eu não acho nenhum Jogos Mortais ruim. O primeiro é o único que realmente tá em outro nível, e o segundo de fato também é bom. A partir do terceiro, passa a ser simplesmente um entretenimento. Repetitivo, batido, clichê, frequentemente sem inspiração e carregado de incongruências narrativas? Sim! Divertido? Com certeza! Tem uma certa magia em ver todos os policiais dos Estados Unidos sendo extremamente burros e em ficar imaginando se nós sobreviveríamos aos desafios. Também é cômico pensar em como o Jigsaw escolhe suas vítimas. Assassinos, estupradores e ladrões? Que nada! Pessoas com depressão? Tortura nelas!

Sobre esse último ponto, depois que eu parei pra pensar, até faz sentido a maior parte das vítimas do Jigsaw serem pessoas praticamente inofensivas, que cometeram erros como qualquer outro ser humano. Se o Jigsaw matasse apenas pessoas horríveis, provavelmente o tratariam como um herói da cultura popular, mais ou menos igual fazem com o Justiceiro. Ainda assim, não deixa de ser engraçado quando o Jigsaw fala algo tipo “você jogou uma bituca de cigarro na rua, merece uma espada no crânio!”.

O Sucessor Nº2

Vida eterna ao Jigsaw?

Algumas franquias não precisam necessariamente de um encerramento. Sabem por quê? Porque certas histórias, quando ultrapassam a barreira do absurdo e investem apenas no entretenimento fácil, não precisam seguir as mesmas regras. É o caso de Velozes e Furiosos. Sim, o primeiro filme conclui bem o que quis mostrar, mas o segundo foi uma boa sequência. A partir do terceiro e, principalmente, o quarto, a saga abriu mão de sua ideia original e passou a ser só um amontoado de tiro, porrada e bomba. Tem algo de errado com isso? Absolutamente não. Diversão barata também é diversão, contanto que a sua mente esteja aberta o suficiente. De vez em quando, tudo o que a gente quer é acompanhar uma pataquada.

Assassin’s Creed: Kramer

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).