Drama, Séries

13 Reasons Why: 1ª Temporada (2017)

• Um pedido de socorro

“Hey, it’s Hannah. Hannah Baker. Don’t adjust your… whatever device you’re hearing this on. It’s me, live and in stereo. No return engagements, no encore, and this time, absolutely no requests”.
Desculpem-me, mas não tem como eu dar um tão pitaco bem-humorado quanto costumo fazer normalmente.
Como toda série da Netflix, 13 Reasons Why foi lançada com um burburinho impressionante, dando lugar a uma explosão semelhante à de Stranger Things ano passado. Todo mundo começou a comentar, discutir e ponderar sobre as questões retratadas na série, um assunto muito delicado atualmente.
13 Reasons Why, que conta com a cantora Selena Gomez como uma de suas produtoras, é derivada do livro de Jay Asher, traduzido no Brasil como “Os 13 Porquês”. Sua obra já era bastante conhecida antes mesmo da Netflix oficializar o desenvolvimento da série, mas claro que acabou ganhando proporções gigantescas posteriormente.
Caso você ainda não saiba, 13 Reasons Why conta a história de Hannah Baker, uma garota do ensino médio que se suicidou e acabou deixando 13 fitas gravadas por ela. Cada fita mostra a história de um “porquê”, ou seja, uma das razões que a fizeram se matar. Cada uma destas histórias conta com um indivíduo diferente, e é aqui que entra Clay Jensen, um dos protagonistas: Clay é um garoto antissocial e tímido ao extremo, até por sofrer de ansiedade.
A caixa com as 13 fitas deixadas por Hannah fora entregue a todas as pessoas que foram “porquês” no suicídio da jovem. Quando Clay recebe a caixa, fica intrigado justamente por não saber o que fez de tão ruim, e ao longo dos episódios vai ouvindo uma fita atrás da outra (lentamente, é verdade) para descobrir o que motivou Hannah a acabar com a própria vida.
Antes de sequer começar a assistir, fui acompanhar as repercussões de 13 Reasons Why. Como sempre, percebi duas divisões: a galera que tava idolatrando a série e a galera que tava dizendo que não é tudo isso. O negócio é o seguinte, claro que nem todo mundo vai ter a mesma opinião e não faz sentido aceitar qualquer bosta que as produtoras nos dão. Porém, deixar de gostar de algo só para ser diferente (não são todos os casos, só tô tocando neste ponto que já vi acontecer vááárias vezes) é bem babaquinha, né. Pior que isso ainda são aqueles que criticam os que passam a gostar de algo, principalmente se é algo que virou moda rapidamente. Deixa os cara curtirem, poxa.
Voltando à própria série, devo dizer que ela é muito viciante, bem padrão Netflix. Iniciei minha maratona numa quarta-feira com meu irmão e terminamos no sábado, isso porque não deu tempo de assistirmos na quinta. É incrível essa habilidade que algumas séries têm de prender a atenção mais do que o normal, fazendo-nos ignorar até mesmo alguns errinhos que normalmente chamariam nossa atenção.
Pronto. A partir daqui se você não assistiu ainda à série completa, recomendo que volte apenas quando terminar. Ainda pensei em fazer um pitaco padrão, só dizendo spoilers em uma sessão separada do final, mas infelizmente não tem jeito. Então se você não quer saber o que acontece sugiro que vá lá terminar tudo e depois retorne; o tio Leleco ficará muito feliz.
Por onde devo começar? Acho que pela ordem das fitas, né. Já tô até vendo que este pitaco ficará meio grandinho, mas vou fazer de tudo pra não ficar enjoativo. Então vamos lá.
Justin Foley. O caso do primeiro episódio é algo que lamentavelmente acontece com uma frequência muito grande, sobretudo no ensino médio americano. Cara, se aproveitar de qualquer pessoa daquela maneira só pra parecer fodão é de uma covardia que dá muita raiva na gente, este tipo de coisa marca um ser humano por anos e anos. Normalmente não sou da turma que gosta de ficar militando a cada palavra, mas realmente vivemos numa sociedade machista pra caralho.
Jessica Davis. Apesar de parecer ser uma situação “menos grave” do que a de Justin, nunca podemos dizer com certeza, sendo que a perda de uma amizade daquela maneira pode machucar demais. O pior é pensar em toda a trajetória de Hannah com ela, lembro de ter crushado bastante a Jessica, mas o que transcorreu depois disso me fez ficar meio com raivinha dela, apesar da reviravolta do final.
Alex Standall. Até pensei que o terceiro episódio fosse ser centrado em um problema semelhante ao de Jessica, mas foi bem mais cuzagem. O pior é que quando eu fazia o 5º ano, lembro que costumava fazer listas semelhantes à de Alex. É verdade que eu fazia aquele tipo de coisa pra ver se eu entrava na de mais bonitos, e só consegui entrar na de mais engraçados (não se pode ter tudo na vida, não é mesmo). Apesar de tudo o que Alex fez, no final, fiquei com pena dele justamente por soar extremamente arrependido, ainda que isto não apague o que fez.
Tyler Down. Que cara fdp, mano. Mesmo eu tendo ficado com um pouco de dó dele depois de tudo que aconteceu, stalkear uma pessoa daquela maneira é doentio. Deve ser desesperador você ter a sensação de que não tem mais privacidade, de que não está sozinho nem em seu próprio quarto. E fica a dúvida, será que foi ele que deu um tiro no Alex e que agora vai partir pra uma sessão Pumped Up Kicks?
Courtney Crimson. PUTA QUE PARIU QUE RAIVA DESSA OTÁRIA. Pra mim, que tô olhando do lado de fora, ela foi uma das que eu mais tive ódio. Sei que ela tem todo aquele problema de não querer se assumir por medo de que as pessoas concluam que casais homossexuais só terão filhos homossexuais, mas nada justifica ter feito aquilo tudo com a Hannah. E ainda mais sendo cínica daquele jeito depois, grrrrr.
Marcus Cooley. Outro que eu tive absoluto nojo, e meu irmão também. Nos primeiros episódios achei ele mó daora, mas as coisas foram acontecendo e achei ele tão ruim quanto a Courtney. Mais ou menos o que aconteceu comigo em relação ao Bryce, mas ainda vamos chegar lá.
Zach Dempsey. Talvez um dos que eu menos tive raiva. Pra falar a verdade, não tive nem um pingo de raiva dele. Realmente foi um pouco de cuzagem o que ele fez com a Hannah, mas assim como o Alex, a gente vê que se arrependeu e que a história tem dois lados, o que é provado na cena em que ele revela ao Clay que não jogou o bilhete de Hannah no chão. Ele também era um pouco como ela. Se não fosse da turma dos atletas, quem sabe se não teria se afundado em depressão também?
Ryan Shaver. Confesso que me surpreendi por ele aparecer nas fitas, não esperava por essa. Suas ações foram típicas de alguém orgulhoso, que só se importa com si mesmo. Vi muita gente o defendendo, alegando que ele fez o certo, foi o único a apoiar a Hannah. Mas sinceramente, cara, era uma coisa íntima e ela tinha falado pra ele não divulgar. Muita sacanagem.
Agora vou economizar linhas e dissertar sobre a festa da Jessica como um todo. Primeiramente palmas à Netflix pela sensibilidade de colocar aqueles avisos antes dos episódios. Abusos sexuais e estupro são dois assuntos muito delicados, e é preciso muito jogo de cintura para abordá-los de maneira com que as pessoas não fiquem ofendidas, pra dizer o mínimo. Acho que não tem muito o que falar do personagem de Bryce Walker, tanto no estupro de Jessica quanto no de Hannah. Este tipo de pessoa existe em uma perigosa quantidade, e devido à diversas razões diferentes o agressor raramente se dá mal. Toda a questão do abuso sexual é um assunto que precisa ser discutido, e 13 Reasons Why foi muito realista em seus episódios.
O caso de Sheri Holland foi o que eu mais achei diferente de tudo aquilo que as fitas queriam retratar. Não foi algo direcionado exatamente à Hannah, mas sim algo no qual ela participou. De fato não dá pra saber nunca se a placa teria feito alguma diferença, se Jeff bateria o carro de qualquer jeito, mas o ato da fuga de Sheri e a decisão de permanecer calada foram determinantes para seu erro. O que eu me questionei durante a maratona e ainda mais depois foi o porquê daquilo ter sido essencialmente um porquê da Hannah. Sei lá, pareceu meio deslocado se comparado aos outros motivos.
Agora, o episódio do Clay me destruiu. Devo dizer que sou chorão pra caramba em filmes e séries, qualquer cena minimamente emocionante já me deixa com lágrimas nos olhos. O episódio 11 me deixou quase engasgando, ainda mais por eu ter me identificado muito com o personagem de Clay. Aquela cena da Hannah falando “por que você não me disse isso quando eu estava viva?” foi muito forte. É foda shippar um casal mesmo sabendo que um deles já não está mais ali na história.
O capítulo final também foi poderoso com a questão do Mr. Porter. Foi horrível o fato dele não ter dado muita importância a um abuso sexual, mas nós nunca sabemos pelo que ele estava passando também, sendo que fica implícito que tinha problemas relacionados ao filho. Sim, ele deveria ser capaz de separar as coisas, só que às vezes não é assim tão fácil.
Quanto à cena de suicídio da Hannah, devo dizer que foi uma puta cena forte. A falta de trilha sonora, a atuação da atriz, todo o nosso apego com a personagem e a realidade do sofrimento dos pais foram muito crus, dando uma força imensa ao momento. É aquela típica cena que você se sente até incomodado vendo, sem mencionar que mesmo sabendo o que vai acontecer, ainda assim torcemos pra que Hannah volte atrás e toda a história mude.
A conclusão de 13 Reasons Why é um pouquinho decepcionante. Sim, o arco de Hannah se encerrou e tudo mais, mas eu sinceramente espero que haja uma segunda temporada, caso contrário morrerei de curiosidade.
Antes de terminar este pitaco absurdamente grande, tenho que destacar dois personagens: Jeff e Tony. Acho que os dois foram anjos tanto na vida de Clay quanto na de Hannah. Saber da morte do Jeff realmente me deixou tristão, ele era gente boa demais. Quanto ao Tony, foi um dos mais interessantes durante toda a série. Temos também a Skye, a qual não foi muito trabalhada, mas caso a série seja mesmo renovada é uma personagem com potencial para ser desenvolvida.
Por último, queria encerrar falando do Clay. Ele era um covarde? Talvez. Ele deveria ter agido e não ter tido medo? Provavelmente. Entretanto, não vejo ninguém mencionando o fato dele ter ansiedade, o que torna muito difícil o ato de se expressar. Para algumas pessoas simples ações corriqueiras são naturais, para alguém como o Clay são desafios enormes. Então só acho que devemos analisar todos os lados antes de julgar alguém, algo que querendo ou não, Hannah deixou de fazer em diversas situações. Essa acaba sendo uma das maiores qualidades da série, as múltiplas camadas dos personagens mesmo se tratando de uma série adolescente.
Como já deve ter ficado óbvio, eu adorei 13 Reasons Why, de verdade. Me apeguei muito à trama, aprendi muito. As questões técnicas da série, como a diferença de cor nas cenas do passado (mais amareladas) e do presente (mais azuladas), o recurso do machucado do Clay para diferenciar as linhas do tempo, entre outros, também foram muito bem executadas pela equipe de direção e produção.
Não achei que o suicídio foi romantizado, repito, é um assunto que deve ser tratado da maneira certa. Claro que a série possui seus defeitos e minhas opiniões divergiram das da Hannah em alguns casos, mas nada me incomodou o bastante para dizer que a obra é ruim. Teve gente que não gostou, e obviamente todo mundo tem esse direito. No entanto, eu fiquei bastante satisfeito e como ainda estou com o hype lá em cima, realmente tenho que elogiar a série.
Ufa! Enfim cheguei ao fim deste pitaco; deu trabalho, me empolguei, espero que tenha valido a pena. Podem me dizer nos comentários o que acharam, se gostaram, amaram, odiaram, ficaram com preguiça, acharam excessivamente grande… Sei que é clichê, mas o importante é agradar vocês, seus lindos.
Câmbio e desligo.

 

+ Melhor personagem: Clay Jensen
Sei que eu deveria colocar a Hannah como melhor personagem, e de fato gostei bastante dela. Maaaaas escolhi o Clay porque me identifiquei mais com ele. Destaque também para Tony e a própria Hannah.

Que tipo de pen drive é esse

+ Melhor episódio: S01E11 (“Tape 6, Side A”)
Chorei horrores, nada mais a declarar. Destaque imenso também para o capítulo final.

Sei que esta cena nem é do episódio 11, mas a foto é tão fofinha, nha

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).