• Hallelujah
Se eu pudesse definir brevemente Justiça com certeza usaria a palavra “inovadora”.
Em um país onde a cultura das novelas ainda é a principal na tv aberta, uma minissérie como Justiça pode começar a mudar os rumos da programação brasileira. Exibida num espaço de 5 semanas e contando 4 casos diferentes, a primeira semana começa com tudo, chocando os telespectadores. Vou separar os enredos por tópicos, inevitavelmente contendo spoilers dos primeiros episódios de cada um:
– Eliza: a professora Eliza (Debora Bloch) é uma mulher forte e independente que ama sua filha Isabela (Marina Ruy Barbosa) mais do que tudo no mundo. Por sua vez, Isabela namora Vicente (Jesuíta Barbosa), o mimado filho de um influente empresário, que possui uma personalidade explosiva e ciumenta. Com o desenrolar do primeiro episódio e a falência da empresa do pai de Vicente, Isabela acaba traindo o namorado com o ex, e é pega no flagra pelo próprio Vicente, que atira nela, matando-a. Ele é preso, mas Eliza jura que se vingará no momento que ele sair da cadeia.
– Fátima: a humilde Fátima (Adriana Esteves) leva a vida com simplicidade junto de seu marido e seus dois filhos. Certo dia, o policial Douglas (Enrique Diaz) se muda para a casa ao lado da de Fátima com sua namorada Kellen (Leandra Leal), que se aproveita de tudo para se dar bem e tem prazer em provocar todo mundo. Douglas leva seu cachorro com ele, que acaba pulando o muro e invadindo o terreno de Fátima, levando ela e seu marido a conversarem com o policial para que aquilo não aconteça novamente. Porém, torna a acontecer e desta vez o cachorro ataca o filho de Fátima, por isto desencadeando um ataque de fúria por parte da mãe, que mata o cachorro. Douglas, por sugestão de Kellen, incrimina Fátima, que é também presa.
– Rose: a jovem Rose (Jéssica Ellen) também leva uma vida humilde junto de sua amiga Débora (Luisa Arraes). A história dela se desenvolve a partir de quando ela passa na faculdade e sai com Débora para comemorar na praia, no dia em que está completando 18 anos. Para celebrar, as duas compram maconha de Celso (Vladimir Brichta), que mantém uma relação amorosa com Rose. Contudo, o Proerd a polícia chega na praia e começa a revistar os participantes da festinha, liberando Débora imediatamente por ser branca e “moça de família” e não tendo a mesma atitude com Rose, simplesmente por ela ser negra. Eles a revistam e acabam achando a droga, prendendo-a como traficante, enquanto Débora abandona sua amiga sem ao menos tentar limpar sua barra. E aqui vemos um exemplo de amizade leal, não é mesmo Quando sai da prisão 7 anos depois, Rose descobre que Débora foi estuprada e jura ajudá-la a encontrar o bandido.
– Maurício: o contador Maurício (Cauã Reymond) nutre um amor intenso por sua esposa Beatriz (Marjorie Estiano), uma bailarina que tem na dança sua principal paixão. A trama mostra que a ligação entre os dois é realmente muito forte, e em um determinado dia Beatriz se apresenta em um teatro e Maurício comparece para prestigiá-la. Na saída do local, Beatriz é atropelada por um homem misterioso que não presta socorro, mas que Maurício reconhece como Antenor (Antonio Calloni), um empresário famoso e influente. Beatriz fica tetraplégica e pede para o marido executar a eutanásia, o que faz Maurício ser preso logo em seguida.
O diferencial de Justiça é que todas as histórias se cruzam a todo instante. Fátima é também a empregada de Eliza, Douglas é o policial que prendeu Rose, Antenor é o empresário que levou o pai de Vicente à falência, o playboy Teo (Pedro Nercessian) é filho de Antenor e namora por um tempo com Eliza e por aí vai. Celso é o principal ponto de ligação entre as tramas e sempre está ali presente, sobretudo no caso de Rose e de Maurício.
Todos os protagonistas foram presos na mesma noite, que é mostrada diversas vezes nos episódios sob diferentes pontos de vista. Por exemplo, se uma cena foi mostrada pela visão de Maurício, em outro episódio é exibida a mesma cena sob a visão de Rose, criando um efeito muito curioso e diferente na minissérie.
O núcleo de Eliza começa muito poderoso e levanta questões super atuais e que geram muita polêmica. Porém, infelizmente parece que os roteiristas foram perdendo a mão e em diversos pontos a história se mostra muito forçada e apressada, sem falar que algumas partes ficaram bem nada a ver.
O núcleo de Fátima, por outro lado, é o melhor desde o começo até o final. Adriana Esteves, como sempre, está fantástica no papel e dá uma consistência impressionante à personagem. Seu amor de mãe é evidente e até as subtramas com Firmino (Júlio Andrade) são interessantes, além de contar com a boa atuação de Julia Dalavia como sua filha Mayara e principalmente com a surpresa Tobias Carreres, interpretando o filho mais novo de Fátima, Jesus.
A história de Rose começa muito boa e vai se desenvolvendo bem, porém a atuação de Luisa Arraes é por vezes exagerada demais, e acho que ela deve ter falado aproximadamente 8943503485 vezes que “não é vingança, é justiça!“. O ator que faz o marido dela também é um pouco fraco, contrastando com a boa atuação de Jessica Ellen, a Rose. Se não fossem estes detalhes, talvez o arco poderia ter sido bem mais impactante.
Os episódios com Maurício são os mais fracos, com exceção dos últimos que melhoram consideravelmente, com a maior participação da esposa de Antenor, Vânia (Drica Moraes). Aqui também a história poderia ter sido melhor desenvolvida, sem contar na falta de lógica na situação da eutanásia, como minha cunhada apontou. Numa mesma noite sua esposa Beatriz foi atropelada, fez a cirurgia da coluna, decidiu que não iria querer mais viver e Maurício praticou a eutanásia. Meio corrido, né?
Em geral, Justiça é uma minissérie muito boa. Com uma originalidade difícil de se ver atualmente, ela se destaca apesar de algumas evidentes falhas no roteiro. 4 de 5 Lelecos.
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eliza e Vicente juntos?? Francamente né, bem nada a ver.
- Fiquei do lado da Regina, o Vicente tava muito grudado na Eliza.
- Um reitor chamado Heitor. Quanta coincidência.
- Aquela Sara tá sempre no lugar certo e na hora certa quando se trata de polêmicas, incrível haha
- Confesso que levei um susto no acidente do Vicente e da Eliza, não esperava por aquilo.
- Uma coisa legal que eu li em um comentário no app do TvShow Time: a Fátima e a Rose, as únicas que foram capazes de perdoar, foram as únicas que tiveram um final realmente feliz.
- Uma outra coisa interessante que li lá: todo mundo fala que a cadeia deve ter a capacidade de fazer os presos se arrependerem, mas quando o Vicente saiu renovado eu vi váááários comentários dizendo pra que a Eliza o matasse de qualquer jeito. Meio hipócrita, não?
- Coitada da Vânia :/
- Um final mais realista teria sido o Antenor se safar no final, embora tenha sido coerente o Teo ter se candidatado e delatado o pai.
- A questão que fica é: será que Maurício e Débora têm futuro?
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Fátima
Honesta e humilde, a personagem encanta justamente pela sua simplicidade e pela performance ótima de Adriana Esteves.
+ Melhor episódio: Episódio 2
O capítulo de introdução à história de Fátima me deixou bem revoltado com a situação e foi aqui que Justiça me fisgou de vez, apesar do primeiro episódio também ter sido espetacular.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?