• Delírio comprimido
Emma Stone + Jonah Hill. Parece o elenco de um filme de comédia leve datado de 2005 ou algo do tipo. Porém, a realidade não poderia ser mais diferente. Estrelando juntos novamente, após o sucesso de Superbad: É Hoje, os dois atores protagonizam uma história que envolve sonhos, sentimentos, loucura e paranoia. Maniac, uma nova minissérie da Netflix (devo dizer que tô curtindo bastante esse formato), chega com uma proposta ousada, misturando elementos de Black Mirror, Matrix, sem contar as referências a diversas obras ao longo dos dez episódios que compõem a única temporada.
A trama principal começa focando em Owen Milgram, um cara claramente perturbado mentalmente e que parece segurar todo o peso do mundo em seus ombros. Tímido e fechado, ele é a ovelha negra de sua família milionária, não se encaixando em nenhum lugar. Para piorar, ele ainda sofre alucinações constantemente e age como se estivesse destinado a salvar o mundo. A série também apresenta a jovem Annie Landsberg, uma mina revoltada com a vida, com uma típica atitude rebelde e meio foda-se pra tudo que vê pela frente. Porém, é claro que ela possui um passado sombrio que vai sendo revelado à medida que o enredo se desenrola. Os dois personagens principais se encontram quando ambos se “candidatam” para fazer parte de um estudo medicinal, no papel de cobaias humanas. Eles aceitam participar do programa por diferentes razões, as quais fazem sentido no universo de Maniac.
Quando eu vi o trailer da produção pela primeira vez, fiquei ao mesmo tempo empolgado e cauteloso. A obra parecia ter tudo que eu amo: o constante questionamento acerca do que é de fato real e o que é algo simulado, virtual. Como em Matrix. Contudo, alguma coisa parecia não me animar tanto, e eu não sabia bem dizer o que era. Fui assistir para ver. O primeiro episódio é uma loucura que só – a gente consegue entender alguns fragmentos, mas no geral a sensação de confusão impera. Enquanto tomava meu achocolatado de uma marca específica que não vou citar o nome porque não faço propaganda de graça, minha mente girava, mas de um jeito bom, que me instigava a continuar. Fui ver o capítulo seguinte apenas um dia depois, e as coisas foram ficando cada vez mais claras, bem desenvolvidas. A trama foi entrando na minha cabeça.
Sabe ali em cima quando mencionei que embora eu tivesse gostado da premissa, tinha algo que tava me segurando? Pois é, acabei descobrindo o que era. Infelizmente, Maniac acaba pecando pelo excesso de alegorias e a falta de foco. A questão é a seguinte: dentro do experimento farmacêutico, cada paciente precisa passar por três comprimidos diferentes e depois passar por um transe-sono recheado de sonhos. A pílula A é a primeira delas, a qual significa Agonia. Quando ingerida, ela faz com que a pessoa que a engoliu reviva o momento mais traumático de sua vida. A pílula B vem logo depois, o Behaviorismo. O bagulho começa a ficar realmente maluco a partir daí, como se antes já não estivesse o bastante. O segundo comprimido faz com que o subconsciente dos pacientes crie uma situação inventada em que precise testar seus mecanismos de defesa, colocando os indivíduos sob pressão. Por fim, a pílula C, o Confronto. Na verdade eu não lembro qual a tradução que a legenda da Netflix usa, se é Confronto, Confrontamento, Confrontação, Conforto, Confúcio, Confins, Contador, Comunismo. O que importa é que vocês entenderam. Nessa etapa, a cobaia precisa enfrentar de frente os seus maiores traumas, para enfim superá-los e concluir o objetivo do experimento.
E qual é o objetivo?
Aí é que tá. A lição que Maniac tenta voltar as atenções parece ser a de como o ser humano lida com a dor. Depois, passa a se tratar de uma trama envolvendo novas tecnologias, que por sinal são muito interessantes e merecem o devido destaque. Temos um robozinho que anda pela cidade recolhendo cocô de cachorro e transformando em água. O AdBuddy, que consiste em um serviço no qual uma pessoa contratada pela empresa responsável lê anúncios para você em troca do dinheiro deles. Por exemplo, se eu quero viajar pro Caribe, mas não tenho grana, eu tenho a opção de ouvir 9548954 anúncios de uma pessoa sem precisar pagar nada. Parece de boa, mas você não pode desviar a atenção dela. De qualquer forma, há também uma cápsula em que um dos personagens usa, a qual parece ser meio que uma incubadora ou algo do tipo. A mais importante, contudo, é a GRTA, um supercomputador que é muito mais inteligente do que deveria, o que passa a ser o ponto principal em certa parte da história. No final, a moral que fica é outra, mas claro que não vou falar aqui, né.
Pra esse pitaco não ficar ainda maior do que já tá, vamos direto ao ponto. Maniac vale a pena? Vale. Apesar de ter um enredo um pouco disperso, traz boas ideias, colocadas em prática pelo talentoso diretor Cary Joji Fukunaga, autor da primeira temporada de True Detective. As atuações também são muito boas, não só dos protagonistas, mas também de Justin Theroux (Dr. James Mantleray), Sally Field (Dr. Greta Mantleray) e Sonoya Mizuno (Azumi). A fotografia da minissérie é incrível, com cores bem fortes. Tudo que é vermelho é bem vermelho, tudo que é roxo é roxo pra caralho. Visualmente é uma produção excelente.
No fim das contas, Maniac fecha bem a sua trama, deixando um desfecho interpretativo. Inclusive, se quiserem discutir sobre ele, fiquem à vontade para fazê-lo nos comentários, porque eu tenho a minha conclusão e não mudo nem a pau. Beijos pra vocês.
{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}
{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}
{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Ministério da Saúde Adverte: fumar muitos cigarros pode te transformar num amorzinho igual à Azumi. Tome cuidado.
- Certo, o final. Eu tenho consciência de que faz total sentido aquilo tudo continuar sendo uma simulação, por causa do nome “Wendy Lemuria” (Wendy, The Lemure) no diário acima do nome de Annie, o fato deles terem saído de carro com a galera correndo atrás, exatamente como Owen descreveu uns episódios antes, a confusão de James quando viu o carro da Azumi, os animais na última cena… mas me recuso a aceitar que aquilo tudo não era real, grrr. Pra mim o bagulho da Wendy pode ter sido somente uma referência, a “visão” de Owen ter sido um foreshadowing, semelhante ao que aconteceu na segunda temporada de True Detective, os animais terem sido um puta simbolismo – o cachorro representando a Annie, o falcão sendo o Owen, e a vida fazendo que aqueles carinhas improváveis se tornassem amigos. Sobre o carro da Azumi, sei explicar não. Mas no final das contas, realmente importa se aquilo tudo era real?
- O irmão cuzão do Owen não lembra o Murphy de Narcos? Ah, e eu não tinha sacado que ele forçou aquela moça a mijar em cima dele. Só entendi isso lendo na internet depois, acho que lerdei.
- Quando o Muramoto morreu jurei que fosse pegadinha. Sei lá, aquela cena foi forçada demais. Sei que era a intenção, mas ficou parecendo filme da Marvel fazendo piadas deslocadas.
- Vamo combinar né gente, aquele arco da Annie com a irmã no universo de elfos tinha tudo pra ser foda, mas foi um cu. Aquela do lêmure e principalmente a deles fazendo o papel de mafiosos foi bem melhor. A última também foi muito boa, a dos alienígenas, mas a dos elfos foi bem nhé. A do Owen de trança foi legalzinha, melhorou no final.
- No final de tudo, a lição da série era sobre relacionamentos humanos? Que fofinho. Ainda bem que não pegaram o caminho blackmirroresco de fazer a GRTA ser a grande vilã e estender demais uma história batida dessas.
- Que sequência foda aquela da Annie atirando em seus demônios. E o Snorri foi um personagem muito divertido.
- Perguntinha top: vocês se arriscariam a tomar as pílulas? Fico pensando em quais seriam os meus universos imaginários. Se eu não caísse em uma trama grega envolvendo os deuses do Olimpo eu nem iria querer. E sabem qual seria o meu maior trauma? As pessoas nunca lerem as minhas críticas. Sad.
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
+ Melhor personagem: Owen Milgram
A outra protagonista, Annie, também é muito boa, mas Jonah Hill interpretou um personagem bem mais complexo, acabei me simpatizando mais com ele. Não me chamem de machista, por favor!!
+ Melhor episódio: E10 (“Option C”)
Tudo ficou frenético nessa porra. Meu voto vai na season finale, embora o penúltimo capítulo também tenha sido pika.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?