• Uma crônica sobre imigrantes
Em condições normais eu não escreveria este pitaco. Todos os filmes da Marvel eu assisti pelo menos duas vezes antes de fazer as postagens especiais sobre o MCU. Gosto de agir dessa maneira pra ter uma opinião mais bem construída, porque a gente acaba perdendo diversos elementos de uma trama quando assistimos a um longa apenas em uma oportunidade. Entretanto, acabei não tendo muita escolha. Só tive dinheiro suficiente pra ver Capitã Marvel uma vez nas telonas, e foi uma experiência horrível. Pela primeira vez na minha vida, eu presenciei um cinema com mixagem de som desregulada. Nas cenas de diálogo, o volume abaixava. Nas cenas de ação, o som voltava ao normal. Parece invenção minha, mas juro que não é. Infelizmente, isso acabou atrapalhando minha análise. De qualquer forma, se a vida nos dá maçãs, a gente precisa fazer limoeiro, então vamos nessa.
Sinopse
O produtor-chefe da Marvel, Kevin Feige, confirmou em entrevista que a Capitã Marvel é a super-heroína mais poderosa do MCU. Aquela velha estratégia de marketing pra aumentar a bilheteria, além de valorizar o primeiro filme do universo compartilhado a ter uma mulher como protagonista. Eu, pessoalmente, acho que ela não tava nos planos até estourar o sucesso da Mulher-Maravilha, mas beleza. Como eu não sou igual a 99,99% da comunidade nerd, achei louvável a Marvel seguir o exemplo da DC, porque chega a ser revoltante a falta de representantes femininas na cultura pop. Assim sendo, fui esperançoso para o cinema. Agora, vamo pra sinopse de vez.
Vers (Brie Larson) é uma kree, destinada a controlar um poder imenso dentro de sua raça. Treinada por Yon-Rogg (Jude Law), ela sofre pra aprimorar suas habilidades devido à sua personalidade forte e explosiva, fazendo com que perca o foco nos combates. Depois de uma série de eventos envolvendo lutas e mais lutas, Vers vai parar na Terra, um planeta até então desconhecido pela jovem. No entanto, ela passa a ter visões do passado, como se aquele local estivesse ligado à história de uma certa Carol Danvers. É aí que ela se depara com a figura de Nick Fury (Samuel L. Jackson). Os dois acabam se encontrando no meio de uma guerra intergaláctica entre os kree e os skrull, uma raça que consegue mudar de forma e se transformar em qualquer um que tenham visto pelo menos uma vez na vida. Liderados por Talos (Ben Mendelsohn), os troca-peles surgem como uma ameaça que Vers toma como missão destruir.
Crítica
A narrativa, ambientada nos anos 1990, chama a atenção nos detalhes. A caracterização das locações e dos vestuários dos habitantes é bem feita, o que deixa o filme visualmente interessante. Os trajes dos kree são as típicas roupas de alienígenas, então não há muita coisa pra mencionar aí. A história de Capitã Marvel lembra um pouco a jornada de Thor, pois ambos são seres de outros planetas que se veem na Terra e aprendem a se comportar naquele mundão. A diferença, no entanto, está na dinâmica que uma personagem feminina dá, além de que o capítulo inicial de Vers é bem mais cativante do que a estreia do Deus do Trovão.
O longa começa introduzindo os kree pra gente se situar. Por acaso tá se lembrando desse nome? Sim, os kree já haviam aparecido antes no MCU. O vilão de Guardiões da Galáxia – Ronan, o Acusador – era um membro dessa raça, então é por isso que a palavra soa familiar. Em seguida, os diretores Anna Boden e Ryan Fleck pavimentam o enredo pra convergir na Terra, trazendo o Nick Fury pra jogada, antes mesmo do cara virar pirata e usar tapa-olho. A química entre ele e Vers é uma das melhores coisas do filme. E por falar em bons elementos, um deles surge de onde menos se espera: o gato Goose rouba MUITO a cena. Não dá pra dizer o porquê sem revelar spoilers, mas ele é responsável por vários dos momentos legais da obra. Além disso, os skrulls são bem trabalhados e Talos foi um dos meus personagens favoritos de Capitã Marvel.
Agora é a hora de lavar roupa suja. Em primeiro lugar, deixo aqui minha decepção com Yan-Rogg, o mentor de Vers. Ele é mal escrito pelo roteiro e não brilha em momento algum. Nem o Jude Law consegue fazer milagre no papel. Além disso, a Capitã Marvel também acaba ficando um pouco abaixo, porque não parece ter um jeito muito bem definido. Em alguns momentos, ela é brincalhona. Em outros, séria. A única coisa que permanece coerente até o fim é sua impulsividade. O terceiro ato é um pouco esquecível, e as partes de pancadaria não me chamaram muito a atenção. A interação de Vers com a ex-piloto Maria Rambeau (Lashana Lynch) e sua filha Monica (Akira Akbar), por outro lado, é boa de se ver.
Veredito
Capitã Marvel não é uma decepção, tampouco uma obra espetacular. É melhor do que capítulos como Homem-Formiga e a Vespa, os dois primeiros Thor e todos os Homem de Ferro, mas ainda fica bem atrás das melhores histórias de origem, como Capitão América: O Primeiro Vingador, Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Pantera Negra. Assim que estiver disponível, vou assisti-lo de novo pra ter uma segunda opinião, mas a minha primeira impressão foi a de um bom filme, com os coadjuvantes como principal força e os protagonistas como maior fraqueza.
Aviso: Tem duas cenas pós-créditos.
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~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Pô, bom demais a motherfuckin’ Capitã ser uma humana, e não uma kree. E muito bem executada aquela sequência em que ela se levanta sempre depois das quedas. Colocou realismo na personagem.
- O melhor é lembrar da fala do Nick Fury em O Soldado Invernal: “na última vez em que confiei em alguém, eu perdi um olho”. Mal sabíamos nós que o agente mais foda do planeta perdeu o olho por causa de um gato. Desculpa, um flerken.
- Inteligente a maneira com que traçaram um paralelo da situação dos skrulls com a de imigrantes. Ah, e tenho quase certeza que alguém do MCU na verdade é um skrull disfarçado. A teoria que mais tá rolando nas redes sociais é de que o Nick Fury não é de fato ele, mas eu não acredito muito. Talvez seja outra pessoa.
- E eu pensando que o nome “Mar-Vell” fosse ter alguma coisa a ver com o Yon-Rogg, quando na verdade foi inspirado na Dra. Wendy Lawson (Annette Bening). Muito curioso também que a Capitã tenha inspirado o nome dos Vingadores mesmo sem saber. Que mulher.
- Bicho, eu achei que ficou artificial demais o rosto do Phil Coulson, cês não concordam? O Nick Fury, porém, ficou perfeito.
- Espetacular a cena em que a Capitã dá um berro igual ao do seu oponente. Só falando mesmo.
- De fato, meu irmão mais novo me trouxe uma pergunta intrigante. Se o poder da Carol Danvers é proveniente de uma Joia do Infinito, por que ele não é equivalente ao da Feiticeira Escarlate, que também teve uma origem parecida? Talvez tenha sido o nível de exposição de cada uma, não sei, ou talvez a Joia do Espaço seja mais poderosa que a Joia da Mente. Vai saber.
- E o prêmio de cena mais vergonhosa vai paraaaaa… a parte em que a Capitã se inspira na camiseta de Monica Rambeau pra colorir suas próprias roupas, em um ataque excessivo de patriotismo estadunidense! Ugh.
- #ApariçãodoStanLee: uma de suas participações mais emocionantes, feita de maneira singela. Em um dos vagões do trem em que a Capitã se encontra, ela checa pra ver se um senhor que está lendo jornal é algum skrull disfarçado. O homem sorri docemente pra ela, e ela retribui. Naquele momento, a super-heroína representa todos os fãs do falecido visionário, com um sorriso carregado de significado. E palmas pra equipe da Marvel pela homenagem no começo do filme, inclusive.
- Puta vida, a Capitã tá com Os Vingadores. O Thanos tá muito fodido, só o Thor e a Capitã sozinhos já vão acabar com aquela bunda roxa dele.
- Muito divertido o Goose vomitando o Tesseract, mas por que o Cubo não dissolveu a mesa?
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Nick Fury
Eu gostei da Capitã, de verdade, mas quem rouba a cena mesmo é o Samuel L. Jackson versão jovem. Eu iria na pré-estreia se a Marvel resolvesse fazer um filme solo dele.
+ Maior decepção: Yon-Rogg
Jude Law é Jude Law, o que significa que fui com muita expectativa pra conhecer o personagem interpretado por ele. Não dá pra defender, fraquinho demais.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?