• Contagem regressiva
Eu demorei bastante pra terminar essa temporada de Lost. Não porque ela é ruim, mas sim porque são muitos episódios e nunca dava certo de assistir eu, meu pai, minha namorada e meu irmão mais novo juntos ao mesmo tempo. Por isso, a minha experiência ficou meio afetada, e eu fiz o favor de não anotar as minhas próprias observações pra me guiar quando fosse escrever o pitaco. Então, tive de recorrer a resumos na Internet pra poder lembrar dos principais fatos que aconteceram. Agora que tô mais preparado, vamos falar sobre o segundo ano de uma das séries mais importantes dos anos 2000.
Sinopse
Depois dos habitantes da ilha encontrarem uma misteriosa escotilha, eles precisam arcar com todo o conhecimento proveniente dessa descoberta. Isto é, assumir a responsabilidade de apertar um botão, a cada 108 minutos, sem que a contagem de um relógio chegue a zero. Caso contrário, o mundo acaba. Pura e simplesmente, o mundo acaba. Seria isso uma experiência psicológica ou de fato algo que alteraria o destino do universo? Em meio a todo esse processo filosófico, os acidentados também devem ficar de olho na ameaça silenciosa dos Outros, junto aos intermináveis segredos da ilha.
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Crítica
Uma das coisas que eu mais gostei na segunda temporada de Lost foi justamente o que envolvia o bunker abaixo da escotilha. Durante todo o tempo, fiquei me questionando o que eu faria se estivesse na pele daquela galera. E se eu estiver apertando um botão pra absolutamente nada, e só desperdiçando o meu tempo? Por outro lado, e se eu NÃO apertar o botão e o mundo acabar? Cara, é um dilema moral muito grande. Eu sinceramente não sei como seria o meu posicionamento.
A série, inclusive, capricha nos dilemas morais. Cada personagem é levado ao limite e eu gosto de como são mostrados de forma crua, com todos os defeitos. Não existe um mocinho ali. Todo mundo tem qualidades, mas também apresenta defeitos. O Jack é corajoso e voluntarioso, mas é muito cabeça dura quando o assunto foge do campo terreno. Não julgo, porque eu provavelmente seria parecido com ele. O John é o contrário, sendo muito teimoso nas suas próprias perspectivas. Ele simplesmente não abre margem pra estar errado, age como o dono da verdade. O Jin é outro exemplo de como as pessoas são multidimensionais. Apesar de ter atitudes machistas e até opressivas, dá pra gente perceber que aquilo faz mais parte da sua construção social do que propriamente algo inerente a ele.
Além da qualidade dos personagens, não há como não citar a construção do mistério como um grande ponto positivo em Lost. A cada episódio, parece que uma pergunta é respondida e outras duas surgem no lugar. Tal característica contribui para que a história sempre permaneça fresca, ainda que frequentemente entre em conflito com o ritmo. Isso porque a série desenvolve tantos questionamentos, que coloca uma certa obrigatoriedade de que as respostas cheguem à altura das perguntas.
Os flashbacks seguem sendo parte do calcanhar de aquiles de Lost, mas não é tão simples assim. O problema nem sempre está nas tramas dos flashbacks, mas sim na maneira com que eles são inseridos de forma protocolar, fazendo com que o ritmo seja constantemente quebrado. Em cima disso, as cenas nos dão a sensação de que estão ali apenas pra encher linguiça, e a gente sabe que tem um pouco disso. Até porque, por melhor que seja uma história, quase sempre vai ser um exagero construir uma temporada com mais de 20 episódios.
A segunda temporada, porém, acaba sendo ligeiramente melhor do que a primeira. Por quê? Bom, embora ela teime em cometer os mesmos erros da antecessora, acaba também intensificando os acertos. Os personagens estão mais sólidos, a gente já se familiarizou mais com o contexto da ilha e os segredos vão ficando cada vez mais intrigantes e insinuantes. Volto a repetir que Lost sofre um pouco com o formato datado que se tornou padrão de tantas outras séries, no sistema de introduzir um mistério, cozinhá-lo em banho-maria e acelerá-lo no fim. Ainda assim, é difícil questionar a força de sua “lore”, ou seja, a construção do universo fictício em que a história se baseia.
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Veredito
Em seu segundo ano, Lost continua colocando em prática tudo de bom que conseguiu desenvolver na estreia, elevando o nível do suspense e dando mais camadas aos personagens. Continua errando na questão do ritmo (menos é mais!) e na história desnecessariamente esticada a ponto de deixar alguns momentos desinteressantes. Contudo, há aqui um charme inegável que carrega a obra nas costas e mantém a curiosidade acesa. Você pode até não gostar de alguns arcos, mas é bem difícil não ansiar pelas respostas das trocentas perguntas que a série faz questão de colocar em pauta. Nota final: 4,1/5.
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Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Certo, a temporada foi cheia de mortes inesperadas. Não que eu tenha sofrido intensamente com a morte da Shannon, mas realmente não esperava por aquilo, ainda mais depois que o Boone partiu dessa pra melhor. Fiquei com pena do Sayid e com raiva da Ana Lucia. Apesar de ter sido um acidente, ela é uma representação perfeita de como armas de fogo não são pra qualquer um.
- Ainda no assunto de mortes chocantes, o que foi a morte da própria Ana Lucia e também da Libby??? Ambas eram personagens que pareciam ter tanto a entregar ainda. Ana Lucia passava por um momento de redenção, com uma química junto ao Jack. Libby tava começando a despontar, ainda mais depois do episódio do Hurley em que ela apareceu no hospício. Será que saberemos algum dia detalhes sobre a sua história? Provavelmente não, né. E sobre o Michael, é difícil analisar a situação dele. Pô, se fosse o seu filho, o desespero não te levaria a fazer coisas desesperadas?
- Tenho uma opinião muito decidida sobre o triângulo amoroso de Jack, Kate e Sawyer. Sinto que o Jack seria o par “perfeito” pra Kate, no sentido de que ele a ajudaria a exprimir o melhor de si. Por outro lado, ela combina muuuito mais com o Sawyer, em todos os sentidos. Com quem será que ela vai ficar?
- Locke, eu gosto de você, mas tu é um egoísta do caramba. Tudo tem que ser do seu jeito. Quando o Jack queria deixar o cronômetro zerar, você insistiu pra que os botões fossem apertados. Quando o Mr. Eko queria apertar os botões, você foi lá e o contrariou, fazendo com que o cronômetro zerasse. Não que eu não quisesse ver o que acontecia, porque isso foi bem massa, mas foi muito paia da sua parte.
- O Henry Gale, ou melhor, Benjamin Linus, é um mala, né? Eu SABIA que o cara era do mal, não tinha jeito. Fazia sentido mantê-lo vivo pra fazer uma troca de reféns com o Walt, pena que deu tudo errado no final das contas.
- Acredito no potencial do Desmond. Quando o vi no primeiro episódio e depois o maluco desapareceu, fiquei pensando no porquê os fãs gostam tanto dele. No final da temporada, consegui enxergar, e achei legal os flashbacks dele com o Jack.
- Se você não se emocionou com o reencontro entre Rose e Bernard, definitivamente não tem coração.
- Podemos dizer que o Jin foi basicamente a versão atualizada de São José, da Bíblia, após sua esposa engravidar de forma milagrosa? Ok, eu sei que tem a PEQUENA diferença de que Jesus não era filho biológico de José, e sim filho de Deus, mas vocês entenderam, né? Isso faria da Sun a Virgem Maria? Ok, acho que tô viajando demais.
- Reservei este tópico pra escrever sobre Charlie e Claire, mas sinceramente? Não consigo pensar em muita coisa legal pra mencionar sobre eles. Tomara que melhorem na próxima temporada.
- Quem aqui acredita que vimos Michael e Walt pela última vez? Pois eu não.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Jack Shephard
Olha, talvez a maioria de vocês não concorde com a minha escolha, mas o Jack é um tipo de personagem que me pega muito. O líder que não escolheu ser líder, um dos únicos que se dispõe a tomar decisões, sejam elas fáceis ou difíceis, certas ou errads. A maioria se esconde quando há um momento de indefinição, e só aparecem pra julgar quando as coisas não dão certo. Não que o Jack não tenha defeitos, pois eles são muitos, mas eu gosto da maneira com que conduz a trama. Nesta temporada, ele começou melhor do que terminou, mas foi o meu preferido.
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+ Melhor episódio: S02E08 (“Collision”)
É difícil escolher um único capítulo porque raramente Lost faz um episódio regular do início ao fim, são sempre picos dentro da própria história. Com isso em mente, escolho o oitavo episódio pelas diferentes emoções contidas nele, mas ressalto aqui também os capítulos de número 3, 7 e 20 (e isso não é uma sequência proposital).
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+ Maior evolução: Sawyer
Ele era exageradamente caricato na primeira temporada, apesar de alguns pontos positivos. No segundo ano de Lost, Sawyer ganhou mais camadas e tornou-se um personagem interessante. O mesmo vale para Jin e Sun, que tiveram uma boa evolução.
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+ Maior surpresa: Henry Gale
Este cara veio totalmente do nada e protagonizou um dos maiores dilemas da temporada, sacramentando-se como um dos melhores personagens logo em sua estreia. Mr. Eko também foi uma boa adição, mas achei que perdeu força com o passar dos episódios.
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+ Mais subestimado: Sayid
Esse maluco é foda. Todo grupo de sobrevivência precisa de um cara assim, e às vezes sinto que os próprios personagens da série não lhe dão o valor devido.
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Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?