• Não-México-Padrinho
Em seu princípio, Narcos: México teria apenas uma temporada. Seria um simples spin-off da série principal situada em terras colombianas. Quer dizer, eu não sei exatamente qual era o planejamento da Netflix, mas eu lembro de ver no TV Time que já tava finalizada, não tinha renovação confirmada. Não faço ideia se essa era a vontade desde o início, só sei que a história de origem da guerra contra as drogas na América do Norte terá continuidade no futuro. Sabe por que essa é uma boa notícia? Porque a primeira temporada foi do caralho.
Sinopse
Esqueça Pablo Escobar e suas estripulias. A ascensão dos cartéis do México é totalmente diferente. Bom, como sempre, há violência, mortes e assassinatos envolvidos, mas a corrupção é singular. Achar alguém honesto é tipo achar um filme ruim do David Fincher. É tipo achar uma poesia acústica legal de se ouvir no tempo livre. É tipo achar um cinéfilo humilde.
Miguel Ángel Félix Gallardo decide transformar isso tudo em uma oportunidade. Antes policial, ele decide entrar no mundo das drogas com o auxílio de Rafa Quintero, um homem com uma receita perfeita de maconha sem sementes.
É claro que as coisas não são tão fáceis assim, mas Miguel Ángel não desiste e decide sonhar ainda maior, querendo desenvolver uma espécie de sindicato de traficantes, a fim de controlar a distribuição da forma mais organizada e lucrativa para todos os lados. Em outra frente, Henrique “Kiki” Camarena é um agente da DEA que se muda para Guadalajara após não ter conseguido se transferir pra um lugar melhor. Focado em seus objetivos, ele se vê impotente em um país que não respeita nada. Tudo fica ainda pior quando ele percebe o nascimento de um novo sistema no narcotráfico, mas se encontra preso nas amarras da burocracia.
Crítica
A temporada tem as mesmas qualidades da série original, e consequentemente os mesmos defeitos. A narrativa é gostosa de acompanhar e é amarrada com explicações dos acontecimentos reais. Porém, infelizmente a presença da fala do narrador é um pouco mais discreta, e isso acaba fazendo falta. O ritmo entre os episódios se mantém e em nenhum momento eu fiquei entediado com o que tava rolando, mas não posso dizer o mesmo no quesito frustração. Eu sei que as coisas ocorreram daquele jeito mesmo, mas a série poderia ter utilizado recursos diferentes. Em vários momentos, quando parece que os traficantes vão se dar mal, algo acontece nos 45′ do segundo tempo e eles se livram magicamente dos problemas. Sei que a intenção era deixar a gente se remoendo de raiva do que rolou na realidade, mas eu comecei a me sentir num limbo interminável.
Apesar disso, a temporada é uma aula de boa produção. Os personagens são bem construídos – é possível sentir os lentos amadurecimentos e decadências de cada um – e o roteiro é inspirado. As cenas de ação são frenéticas e a política é contextualizada de forma satisfatória. Tudo se amarra no final, mas eu talvez tenha me decepcionado um pouco com o fato de que a saga não é concluída por inteiro.
Veredito
A temporada de estreia de Narcos: México não é perfeita, mas é uma excelente pedida no catálogo da Netflix. E reforço: se você gostou de Narcos, a possibilidade desta nova obra te agradar é muito grande. Contudo, o mesmo vale para o contrário. O enredo é desenvolvido e contado de maneira didática, os personagens são ótimos, a fotografia espetacular e a cadência equilibrada, com a primeira metade focando mais nos “vilões” e a segunda nos “heróis”. Dá pra sentir a diferença entre esta série e uma qualquerzinha de meia tigela. Ela impõe sua identidade, e deixa claro que veremos mais dela em breve. Nota final: 4,5/5.
{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}
{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}
{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eu realmente não sabia que o Kiki iria morrer em algum ponto da história até visitar a seção de comentários do TV Time. Lá, a galera ficou falando sobre uma cena em Narcos em que eles mencionam o que aconteceu com o Camarena, chamando-o de “Jesus da DEA”. Naquele momento, ficou óbvio pra mim que não iria sobreviver. Mesmo assim, foi triste todo o caminho que ele cruzou até chegar neste ponto. Sentirei falta dele na próxima temporada.
- Cara, não é possível aquele final, aaaaaa. Quando parecia que o Miguel Ángel seria preso pelo paladino da justiça lá, o cara opta por ficar só com as fitas menos relevantes e simplesmente deixa o mexicano FUGIR. Pelos deuses de Sinaloa, como eu fiquei puto de ver o traficante se dando bem no final. Grrr.
- Em contrapartida, que delícia ter visto brevemente o Cartel de Cali e depois uma longa cena com ninguém menos que o motherfuckin’ Wagner Moura como Pablo Escobar. Meus olhos ficaram tão grudados na tela naquele diálogo que quase derreteram. Não me arrependo.
- Boa demais aquela sequência de tiroteio antes da polícia pegar aquele tanto de erva. Minha única ressalva fica pra fortíssima “plot armor” do Rafa, que parecia o Jon Snow na Batalha dos Bastardos.
- Aliás, que fazedor de merda é o Rafa, hein? O cara só fodeu com o bagulho. Pelo menos foi preso no final, mas com certeza não vai ficar lá por muito tempo. É uma pena, porque merecia. E aquela mina que ficava com ele precisava de uns puxão de oreia também.
- Sei lá, foi chegando no final e o Miguel Ángel foi perdendo um pouco da graça pra mim. Era claro que o poder subira à sua cabeça, como no seu desdém para com a esposa e no descaso com a Isabella, mas eu gostava mais quando ele tinha objetivos reais, não apenas ficar arrecadando cada vez mais dinheiro e influência. Espero que mostrem mais facetas dele como ser humano após a ascensão ao trono, não apenas como o “”””empresário”””” que chegou lá.
- Respeito ao Don Neto. O cara que sempre foi contra entrar no negócio da cocaína, mas que ficou do lado do chefe. O cara que duvidava de Miguel Ángel, mas acabou reconhecendo seu valor. O cara que foi preso ouvindo música da maneira mais fodástica possível, enquanto incontáveis pessoas morriam ao seu redor. Poucos são tão serenamente badass.
- Já prevejo o núcleo do Miguel sendo finalizado na segunda temporada e uma terceira voltando as atenções para o Chapo. Se bem que já tem uma outra série da Netflix do chefão mexicano, então pode ser que nem role.
- Os Estados Unidos adoram falar mal dos outros países, né? Criticar as ações deles mesmos eles não querem, como no pensamento de que são a Patrulha Imaculada do Mundo™. De qualquer forma, já quero ver mais sobre o cara dos minutos finais, que foi o narrador desde o começo. Eu jurava que fosse o Murphy, fui tapeado.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Miguel Ángel Félix Gallardo (menção honrosa a Kiki Camarena)
Na metade final, Enrique “Kiki” Camarena foi superior. Porém, quando a gente olha o panorama geral, o troféu fica com o protagonista do mal.
+ Melhor episódio: S01E05 (“The Colombian Connection”)
Eu poderia destacar muitos outros momentos mais empolgantes dentro do universo da série, só que este capítulo aqui transcende.Puta merda, soei como um frequentador de rave agora
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?