Coleção Tarantino, Crime

LelecoTarantino #02 – Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994)

• O caminho dos justos

A expectativa sempre foi um elemento que esteve no caminho das minhas análises. Em incontáveis situações, minhas opiniões acerca de algo foram divergentes da grande maioria. Quando muitos julgavam um filme como uma obra prima, eu achei apenas ok. Enquanto a crítica desenhava negativamente uma série, eu a considerei um belo entretenimento. É claro que poucas coisas na vida são unanimidade, mas Pulp Fiction: Tempo de Violência pode ser incluído nessa gama. Tido como um dos melhores longa-metragens da história, ele é amplamente bem avaliado pela crítica especializada e adorado pelos fãs de cinema. Tornou-se um clássico cult e um ícone de gerações. Desta vez, preciso concordar com sua alcunha.

 

Sinopse

Na moral, é difícil escrever uma sinopse de Pulp Fiction, mas vou tentar. Até porque é minha função, né. O filme é basicamente dividido em três etapas principais, numa montagem bem episódica e não-linear. Na história “Vincent Vega e a esposa de Marcellus Wallace”, um gângster chamando Vincent precisa levar para passear a esposa de seu chefe, um mafioso pika e perigoso. Não é um encontro romântico, obviamente, é apenas um pedido para que Mia Wallace se divirta numa noite em que seu marido não estará disponível. Já na trama “O Relógio Dourado”, conhecemos a fundo a figura de Butch Coolidge, um boxeador que se recusa a entregar uma luta na qual ele precisava ter perdido, dando um golpe financeiro num bando de gente que não tá pra brincadeira. Quando está prestes a fugir, ele descobre que o relógio dourado de sua família ficou em sua casa, e então decide voltar para buscá-lo. Por fim, em “A Situação Bonnie”, Vincent Vega e seu parceiro Jules Winnfield se veem em apuros quando acidentalmente um homem é morto dentro do carro dirigido por ambos. Com o tempo contra eles, os dois precisam resolver a situação o mais rápido possível.

Um casal saudável dentro de um relacionamento ideal

Crítica

Tudo parece desconexo pra caralho tomando como base a sinopse, né? Pois é. Pulp Fiction dá exatamente essa impressão em quem nunca assistiu. A gente sabe que tudo tá entrelaçado de alguma forma, até porque o Butch “trabalha” pro Marsellus Wallace, o mesmo chefe de Vincent e Jules. São crônicas distintas, mas que partilham coisas em comum. São raízes espalhadas de uma árvore particularmente grande. O fato de ficarmos um pouco perdidos quanto à linha do tempo da obra nos deixa com a cabeça girando ainda mais. O quebra-cabeça vai se completando aos poucos.
Novamente, eu me vejo obrigado a elogiar e admirar a capacidade do Tarantino de escrever diálogos. Assim como no começo de Cães de Aluguel, o início de Pulp Fiction traz conversas tão bobas e triviais, mas que de alguma forma prendem nossa atenção como se os personagens estivessem falando do segredo da vida. Os personagens, aliás, são todos carismáticos em suas próprias maneiras e construídos de tal forma que nos importemos com o que acontece em cada núcleo. O diretor ainda realiza mais uma façanha: na transição entre os capítulos do filme, o mesmo não perde qualidade. Quando a primeira história principal é encerrada, a segunda quebra um pouco o ritmo, mas logo se recupera e encanta. O mesmo acontece com os momentos seguintes, até culminar em um final que fecha o ciclo das primeira cenas, envolvendo um restaurante e um casal de assaltantes.
É difícil mensurar qual a maior qualidade de Pulp Fiction. Ele é original, audacioso, com ainda mais personalidade que Cães de Aluguel. Os diálogos são ricos, os personagens nascem clássicos e a montagem aparentemente caótica dá um toque charmoso ao filme. Mesmo com mais de 2h30 de duração, ele em nenhum momento me tirou do enredo, e olha que assisti agora pela quarta ou quinta vez. Na primeira vez que vi, eu ficava curioso a cada novo arco. Agora, fico ansioso pelas melhores partes, que não são poucas. Ao contrário de muitos longas que a crítica adora colocar em um pedestal, Pulp Fiction realmente faz jus à sua fama.

Incrível como esta película retrata o amor como o sentimento mais poderoso <3

Veredito

Até hoje, é um dos melhores filmes que já vi na vida e figura entre os meus favoritos. É quase impossível não decorar algumas falas e alguns acontecimentos. Tarantino não decepciona depois de ter estreado com dignidade e talento dois anos antes. Pelo contrário, o seu segundo trabalho como diretor é ainda melhor que o antecessor. Tenho consciência de que Pulp Fiction se tornou modinha, mas isso não apaga e não esconde o grande produto lançado na década de 90 e que tanto influenciou a arte audiovisual. Pra mim, é sua grande obra prima até agora.

Eu criança com vergonha de ligar pro médico e minha mãe me ajudando

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Na opinião de vocês, o que tinha dentro da maleta dourada? O Tarantino falou que não tem resposta certa, fica na interpretação de cada um, mas a minha teoria favorita é de que na verdade é a alma do Marsellus Wallace que tá lá. Isso porque existe um antigo ritual ou algo do tipo em que o Diabo retira a alma da pessoa pela nuca (e vale lembrar que o Marsellus tinha um machucado no mesmo lugar), o que explicaria o número da senha da própria maleta, 666. Vou tomar essa teoria como verdade e foda-se.
  • Eu lembro que na primeira vez que assisti, fiquei muito “QUE” quando o Butch atira no Vincent. Foi tão inesperado, demorou a cair a ficha. Ah, e minha namorada me disse algo que me intrigou: toda vez que o Vega foi num banheiro, alguma merda aconteceu. No restaurante, ocorreu um assalto. Na casa da Mia, ela teve overdose. Na casa do Butch, a morte enfim o encontrou. Acho que talvez ele não tivesse direito a uma vida privada! Hahahahahahaha
  • Toda aquela sequência do estupro do Marsellus é tão maluca. Começa com o Butch acidentalmente encontrando o mafioso no trânsito, o atropelando, brigando com ele numa loja de aparelhos antigos. Tudo culmina em um cenário contendo maníacos sexuais, uma maldita espada, um tiro de escopeta e a promessa de métodos medievais no policial fajuto.
  • Pra quem não sabe, aqui vai uma curiosidade: o Vincent é irmão do Vic Vega, de Cães de Aluguel. O Tarantino até pensou em fazer um filmes deles juntos, mas os atores acabaram ficando velhos pros papeis.
  • O capítulo da Mia Wallace continua sendo o meu favorito. Temos o meme do John Travolta confuso, a cena da dança no restaurante (que lugar legal, inclusive), uma overdose, injeção de adrenalina e uma piada sem graça. Bom demais.
  • Eu nunca mais vou olhar pra relógios de pulso da mesma maneira. Acho que nunca mais vou usar também, vai saber de onde (ou de quem) ele veio. Quarteirões com Queijo e massagens nos pés também ganharam um novo significado pra mim.
  • Meta de relacionamento: Pumpkin e Honey Bunny. Se não for pra namorar assim, nem quero.
  • Duas outras curiosidades: a pessoa que risca o carro do Vincent, como mencionado no momento em que ele tá comprando heroína do Lance, é na verdade o Butch. E outra, a última fala da história, cronologicamente falando, é “Zed’s dead” ou “Zed está morto”, quando Butch foge de moto com a esposa.
  • O Winston Lobo é um personagem tão foda que consegue ser foda com uns dez minutos de tela ou menos. Isso é que é presença. E legalzinha também a participação do Tarantino como o Jimmie.
  • Fiquem agora com uma passagem pacífica: “O caminho do homem justo está cercado por todos os lados pela iniquidade dos egoístas e a tirania dos maus. Bendito aquele que, em nome da caridade e boa vontade, guia os fracos através do vale das trevas, pois ele é verdadeiramente o guardião de seus irmãos e localizador de crianças perdidas. E eu vou derrubar sobre ti com grande vingança e raiva furiosa aqueles que tentam envenenar e destruir meus irmãos. E você saberá que meu nome é o Senhor, quando minha vingança cair em cima de você”. Poético e bonito.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Todo mundo Jules Winnfield
Este foi um dos páreos mais complicados que precisei fazer neste site. Eu poderia facilmente ter colocado o Vincent Vega, a Mia Wallace ou mesmo o Butch neste posto, não seria nenhuma loucura. Optei pelo Jules por algumas razões, como a maneira que ele abre e fecha o filme com o pé direito e uma chave de ouro, respectivamente, a interpretação de Samuel L. Jackson e a qualidade de seus diálogos, que podem ser citados pra qualquer amante de cinema e imediatamente reconhecido. É um tanto quanto injusto não colocar Vega, Mia ou Butch, mas eu precisava escolher um.

I dare you, I double dare you, motherfucker!

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).