Marvel (MCU)

MCULeleco #29 – Thor: Amor e Trovão (2022)

thor 4 amor e trovão

• Salada mista

As minhas expectativas estavam baixas para Thor: Amor e Trovão. Eu não gosto de assistir ou ler críticas de um filme que ainda não vi. No entanto, apesar de ter evitado ver opiniões muito aprofundadas, era quase inevitável viver nessa bolha cinematográfica da Internet e não saber que o quarto capítulo do Deus do Trovão estava sendo mal recebido pelo público em geral. Por isso, fui ao cinema sem esperar que fosse ver um filmaço, só esperava me divertir sem muitas pretensões. Infelizmente, mesmo sendo uma comédia com a proposta de ser escrachada, não consegui sequer me deleitar com uma experiência engraçada.

 

Sinopse

Depois de sofrer com depressão em decorrência do Estalo do Thanos, Thor voltou à ativa durante Vingadores: Ultimato e reencontrou a vontade de viver. Junto aos Guardiões da Galáxia, o Deus do Trovão passou a viajar por planetas diversos com a intenção de participar de batalhas e promover paz em diferentes regiões. Tudo está indo de acordo com o plano, até que um tal de Gorr, conhecido como Carniceiro dos Deuses, passa a assassinar entidades divinas e estabelece Thor como um dos seus próximos alvos. Com isso, Thor precisará da ajuda de Korg, Valquíria e de uma inesperada aliada, sua ex-namorada Jane Foster, para deter o mais novo vilão.

Se colocar uma fogueira ali no canto, fica parecendo uma festa junina

Crítica

Eu queria muito ter gostado de Thor: Amor e Trovão. Antes de mais nada, só queria fazer uma ressalva. Vi por alto alguns comentários dizendo que críticos de cinema estão ficando muito chatos no sentido de nunca julgarem o filme pelo que ele propõe, mas sim pelo que poderia ter sido. Concordo em partes. De fato, pra julgar qualquer obra de arte, precisamos levar em conta qual foi a intenção dos realizadores por trás. Portanto, não dá pra reclamar que Os Mercenários tem “ação demais”, ou que American Pie tem “besteirol demais”. Nisso, eu concordo. Entretanto, é preciso pontuar alguns elementos que fazem a diferença em Amor e Trovão.

Em Thor: Ragnarok, muita gente reclamou do tom jocoso de um filme que deveria ser sobre o fim do mundo, um tema obviamente dramático. Porém, foi o filme que revitalizou o Thor, transformando-o finalmente em um personagem interessante, além de ser uma jornada muito divertida de acompanhar.

Acima disso, Ragnarok também possui seus momentos de carga pesada, algo que eu achei meio tosco em Amor e Trovão. Acredito que, se a proposta do filme era de ser uma comédia besta, então ele precisava ter adaptado todas as partes que compuseram o roteiro, e não apenas algumas. Isto é, não dá pra fazer comédia com um vilão que passou a questionar a existência de deuses após ver a sua filha ser morta e ainda ridicularizada por uma entidade divina. Até dá pra fazer, né, mas aí você tira todo o peso do antagonista. Pra corrigir isso, seria melhor não ter utilizado Gorr como vilão. Pelo menos não neste filme, que exigia uma ameaça mais descompromissada.

O maior problema de Amor e Trovão é justamente esse. O filme não consegue encontrar o tom. A maioria das piadas é sem graça e dá pra contar nos dedos as vezes em que me diverti com elas. O humor não se encaixou, e eu tive a sensação de que o filme estava pedindo quase pelo amor de Zeus pra eu soltar uma risada. Em algumas cenas, senti até um pouco de vergonha alheia, tamanha a falta de inspiração do roteiro.

O pior é que o filme não se inicia assim. Ele começa com um clima pesado, mas subitamente vira de cabeça pra baixo e nos coloca do nada em um terreno desajeitadamente bem-humorado. No segundo ato, essa característica se mostrou ainda mais prejudicial. Eu não fazia ideia se o filme queria que eu risse ou que eu ficasse preocupado pelo destino dos personagens. Nesse meio-termo incessante, me senti totalmente desconectado da história.

Acho que foi a primeira vez que eu quis acelerar um filme da Marvel. A questão é que Amor e Trovão não é fraco da mesma maneira que O Incrível Hulk. Ele é fraco porque não consegue sequer ser ruim, somente… desinteressante. Pra um filme que deveria prender a minha atenção com o riso, não conseguiu me engajar de nenhuma maneira. Nem o carisma natural dos personagens foi capaz de me pegar.

Pra não dizer que Amor e Trovão é um desastre completo, ele tem os seus momentos. A introdução é muito forte, e eu imediatamente me senti interessado em conhecer mais sobre o Gorr. O terceiro ato também é bastante competente, e foi o momento em que o diretor Taika Waititi melhor conseguiu unir a ação e o humor. A conclusão ficou meio sem sal e súbita, não vou mentir, mas serviu pra estabelecer o momento exato em que o Deus do Trovão se encontrará nas próximas incursões do MCU. Além disso, a trama introduz alguns elementos cativantes que, embora tenham ficado meio diluídos em meio a tanta bagunça, elevaram um pouco o patamar geral.

Sobre a questão puramente audiovisual, infelizmente não poderei opinar com propriedade. Isso porque o cinema que fui estava com um vazamento de luz na tela e o som fazia parecer que todos os personagens estavam conversando com a boca grudada no microfone. Mesmo assim, algo me incomodou nos efeitos visuais, e olha que não é uma característica que costuma me chatear. De alguma forma, tudo pareceu mais artificial do que o normal, e eu pude jurar que dava pra ver uma tela verde em uma sequência específica.

Pra completar, as cenas pós-créditos me deixaram com uma expressão tipo “ok”. A segunda foi mais legal do que a primeira, mas nada que me deixasse com a cabeça explodindo e a mente ansiosa pelas próximas aventuras. Não tinha maneira mais condizente pra terminar Amor e Trovão do que essa.

Minhas exatas expressões em alguns momentos cômicos do filme

Veredito

Eu não vou usar meias palavras aqui, pois me decepcionei com Thor: Amor e Trovão. A comédia é deslocada e sem inspiração, as cenas de ação são genéricas e os personagens estão extremamente confusos, causando um rompimento constante na imersão. O enredo em si não entrega nada de novo, e apresenta certas conveniências e incongruências narrativas que me incomodaram. Em momentos isolados, liberei algumas risadas, mas na maioria do tempo apenas soltei ar pelo nariz; às vezes, nem isso. É um filme que ficou no meio do caminho entre o drama e a comédia, sem conseguir focar em um só por muito tempo. Parece uma salada mista, como se duzentas pessoas diferentes tivessem resolvido dar um pitaco no roteiro. Não é um desperdício total, pois filmes da Marvel sempre acabam causando entretenimento de uma forma ou de outra, mas é um dos mais fracos do MCU até então.

Eles derrotariam Thanos, Dormammu e os Celestiais sem dificuldades

 

Aviso: Tem duas cenas pós-créditos.

 

>> MCULeleco #04 – Thor

>> MCULeleco #08 – Thor: O Mundo Sombrio

>> MCULeleco #17 – Thor: Ragnarok

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • E eu pensando que seria um filme meio “Thor feat. Guardiões da Galáxia”, mas a galera só apareceu por uns dez minutos. Infelizmente, a cena que poderia ter sido a melhor (“dê uma olhada nos olhos das pessoas que você ama”) foi tão usada nos trailers que eu não consegui nem esboçar um sorriso. Inclusive, precisamos conversar sobre a forma apelativa de divulgação dos filmes da Marvel.
  • Tenho de admitir, a sequência do Thor destruindo geral naquele planeta e fazendo cosplay de Van Damme me pegou legal. Uma das únicas partes de ação realmente boas do filme.
  • O diretor Taika Waititi afirmou que, pra construir os personagens dos bodes, se inspirou no meme da música da Taylor Swift com aquele animal balindo no refrão. Não posso dizer que o meme é bom, mas os bodes foram, especialmente na hora em que o Thor fala que poderiam comê-los pra evitar mais bagunça. Aquela cena foi engraçada, não vou negar.
  • Então, sobre a Jane Foster, não consegui colocá-la em Maior Evolução, mesmo tendo tido um desenvolvimento considerável. Se tivessem investido mais na carga dramática proveniente do seu câncer, acho que a personagem teria funcionado mais. Do jeito que foi, pareceu que tinha algo deslocado, sei lá. Não consegui nem sentir o peso da morte dela, porque não me apeguei o suficiente pra isso. Mesmo assim, foi legal vê-la ganhando um pouco de destaque.
  • Sei que todo mundo pensou isso, então não posso deixar de citar. Por que diabos Thor e Valquíria não foram atrás dos deuses do universo pra lutar contra o Thanos? Não que fosse adiantar alguma coisa, mas valia a tentativa. Também não gostei do momento em que o Thor fura o Zeus e vem um monte de comparsa aleatório brigar com o grupo, mas nenhum deus se pronuncia. Até pode fazer sentido se considerarmos que aquelas entidades são meio covardes, mas eu esperava um pouco mais de revolta pela aparente morte do líder do bando. Ah, e uma última coisa: Zeus teria funcionado muito mais como o antagonista desse filme, no estilo do Ego em Guardiões da Galáxia Vol. 2. É uma pena que não tiveram esse insight. Além de tudo, teria criado uma simetria interessante com a ideia de desilusão com os deuses. Nesse cenário, Gorr até poderia ser utilizado como um vilão secundário.
  • Um dos momentos que me incomodaram: um monte de criança de Asgard correndo risco de vida, aprisionados por um cara amaldiçoado. Quando se depara com eles, o que Thor faz? Piadas! Não poderiam ter suprimido o humor pelo menos nessa parte?
  • Matt Damon novamente fazendo uma aparição importante, desta vez ao lado de Melissa McCarthy. Eu quase achei que aquele teatro durou um pouco mais do que deveria, mas confesso que foi divertido.
  • Eu mencionei no texto que o roteiro apostou em muitas repetições e conveniências narrativas. Querem um exemplo? As “mortes” de Korg e Valquíria. Em duas cenas distintas, o filme nos induziu a pensar que perderíamos esses personagens, apenas pra descartar tal possibilidade. Pra mim a regra é a seguinte: se você não quer matar um personagem, então nem tente, ou então faça isso sem tentar causar um momento de choque. Continuando, a resolução dos problemas também foi bem meh. Temos um indivíduo que está matando deuses? Poxa, é só irmos atrás de uma reunião secreta jamais mencionada que contém um monte de deuses. Eles não vão ajudar? Pô, pega aquele raio de Zeus ali pra reforçar o time, mesmo não tendo mostrado nenhum poder tão impressionante que transformasse o item em algo mais letal do que a Stormbreaker. Por fim, lembra do Heimdall? Então, sabia que ele tem um filho com as mesmas habilidades que pode convenientemente nos ajudar?
  • Cara, gostei do Thor recrutando as crianças pra derrotar o Gorr, foi algo bem original. Jamais esperaria que um urso de pelúcia seria utilizado como arma, foi uma coisa meio The Boys. Também gostei do Deus do Trovão assumindo um papel de pai, só achei que isso foi feito meio que de última hora e a justificativa pro nome do filme não colou. De qualquer forma, acho que pode ser legal ver Thor lutando ao lado de sua filha, ainda mais pelo fato da atriz ser realmente filha do Chris Hemsworth.
  • Sobre as cenas pós-créditos: eu sei lá quem é Hércules. Obviamente eu sei de quem se trata, sou super fã de mitologia grega. Porém, ele realmente seria uma ameaça tão grande assim pra fazer frente ao Thor? Na segunda cena, foi massa ver a Jane se reencontrando com o Heimdall em Valhalla. Só não entendi uma coisa, a batalha já não tinha acabado quando ela morreu? Não seria a mesma lógica da Sif não podendo ir pra Valhalla porque ela sobreviveu à batalha com o Gorr? Qual é a margem de tempo utilizada nessa equação? Acho que tô sendo chato demais, chega. Foi uma boa cena.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Gorr, o Carniceiro dos Deuses
Seu potencial foi desperdiçado? Sim! Este vilão teria brilhado em um filme mais redondinho? Sim! Contudo, eu gostei das suas motivações e da interpretação de Christian Bale. Basicamente, é o antagonista perfeito no filme errado.

Agora o Bruce Wayne ficou sombrio até demais

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).