• Sentimentos à flor da pele
Nesta introdução, eu gostaria de falar um pouco sobre os especiais de Euphoria. Pra quem não sabe, entre a primeira e a segunda temporadas, a HBO decidiu lançar dois capítulos separados. Um deles, focado na Rue, e o outro, focado na Jules. A produtora fez isso porque a distância entre o lançamento das temporadas foi de três anos, com tudo atrasando ainda mais por conta da pandemia. Inclusive, os episódios especiais são mais intimistas justamente porque não dava pra colocar muita gente em tela. Motivos à parte, são dois ótimos capítulos pra gente entender um pouco mais sobre o vício da Rue e também compreender o lado da Jules no romance com a protagonista. A história não anda tanto, mas eu considero essencial assistir para que se tenha perspectiva de algumas coisas que ficaram nebulosas na primeira temporada. Dito isso, vamos à crítica da segunda.
Sinopse
Rue descarrilou na estrada das drogas, e vive um momento de extrema fragilidade emocional após o aparente abandono de Jules. Maddy e Nate passam por (mais) problemas um com o outro. Já a tímida Cassie tenta encontrar o próprio espaço no mundo. E por falar nisso, sua irmã Lexi também quer amplificar a voz. Enquanto esses jovens exploram o cerne da juventude, Fezco e Ashtray lutam pra sobreviver em um mundo que nunca lhes deu oportunidades dignas. E a Kat e o McKay? Só Deus sabe.
Crítica
Vou reservar este parágrafo aqui só pra reforçar que eu gostei da primeira temporada de Euphoria. Pra quem não leu aquele pitaco, vou resumir dizendo que achei uma boa série, mas que de vez em quando faltava substância onde sobrava enfeitamento. Em outras palavras, a obra parecia se preocupar excessivamente com a estética em alguns momentos, deixando o enredo em segundo plano.
Na segunda temporada, eu tive a impressão contrária. A trilha sonora e os elementos com grande concentração de cores na fotografia persistem, é claro. Inclusive, é interessante notar que a paleta passou do roxo para o laranja. Na psicologia das cores, um dos significados da cor roxa é a transformação. Já o laranja simboliza a aventura. Devo dizer que isso combina com os temas das duas histórias. Na primeira temporada, tivemos diferentes ritos de passagem dos personagens na adolescência. Na segunda, eles deram um passo adiante, alcançando a etapa da criatividade e identificação.
Mesmo sem deixar de lado o seu estilo próprio e que lhe forneceu grande renome na indústria, Euphoria enfeita menos e estabelece um maior foco na história. A bem da verdade, alguns personagens saem prejudicados nesse balaio, principalmente Kat. Aparentemente, a atriz de cidadania brasileira Barbie Ferreira, que a interpretava, teve rupturas criativas com o chefão da série, Sam Levinson. Por conta disso, a personagem ganhou pouco tempo de tela e o seu arco perdeu totalmente o fôlego. Até mostrou sinais de que poderia render algo nos primeiros episódios, com uma crítica interessante à cultura de “se amar a todo custo” na Internet, mas tal dinâmica não se sustentou.
Por outro lado, outras pessoas ganharam força. Jules, Nate e Cal são alguns dos que já eram importantes na primeira temporada, mas são agraciados com novas camadas que dão mais peso a suas atitudes. Fezco, Cassie e Lexi já estavam na série antes, mas eram praticamente personagens de apoio. Na segunda temporada, isso muda, e eles tomam os holofotes pra si, inclusive sendo três dos destaques da vez. Quanto a Maddy e a Rue, elas mantiveram o nível, o que já é elogio o bastante.
O que eu mais gostei no segundo ano de Euphoria foi a praticidade do roteiro. Antes, o enredo dava muitas voltas e estava mais interessado em dar tapinhas nas próprias costas, investindo em cenas feitas claramente pra gerar clipes e momentos artificialmente icônicos, enquanto, através da superfície, a história nem era lá essas coisas. Agora, o roteiro se deu ao luxo de arriscar mais, andar por caminhos que antes não tinham sido trafegados direito.
Eu me surpreendi com um aparente consenso dos fãs de que a primeira temporada é superior à segunda. Talvez tenha sido só minha bolha pessoal, visto que meu irmão mais novo, que é fã da série, achou a segunda temporada bastante inferior à primeira. Segundo ele, a história é bem pior. Pra falar a verdade, nem tem história. Isso me deixou atônito, porque é justamente a trama que me pegou mais aqui do que acolá. Talvez seja um roteiro mais desequilibrado no sentido de que não há nivelamento da importância dos personagens, isso eu concordo. Porém, eliminar os excessos muitas vezes faz bem pro produto final.
No campo das atuações, não tenho do que reclamar. Zendaya brilha, é claro. A atriz mais talentosa do elenco rouba a cena e a série sabe bem como aproveitá-la, dedicando momentos especiais que dão uma carga dramática pulsante e de tremer o queixo. Sydney Sweeney, como Cassie, também desabrochou com mais presença cênica, e Jacob Elordi, que interpreta o Nate, voltou a mostrar que é muito mais do que um simples antagonista.
Por fim, o desfecho da segunda temporada soa muito mais como um final do que a conclusão da primeira. A série encaminha melhor os seus núcleos, deixando espaço mais do que suficiente pra se trabalhar no futuro, mas amarrando todos os nós que compuseram a temática central de aventuras emocionais e consolidação da autodescoberta.
Veredito
A segunda temporada de Euphoria é obviamente uma extensão da primeira, mas envereda por caminhos diferentes. Certas decisões artísticas e criativas mudam, personagens murcham para outros aflorarem, há de fato um certo desnível entre as histórias e algumas cenas são excessivamente longas. Se compararmos os acontecimentos da série com o mundo real, tudo pode parecer meio exagerado, mas é necessário enxergá-la como um contexto à parte, descolada do que caracteriza a adolescência habitual. E, utilizando com esperteza os recursos que tem em mãos, o roteiro é capaz de entregar uma aventura viciante. Nota final: 4,3/5.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- O primeiro episódio da temporada já nos deu um monte de tapa na cara, né: os flashbacks, a Cassie se escondendo da Maddy e levando uma toalhada de mijo na cara, o Nate ameaçando o McKay, a Rue se afundando nas drogas (de novo) e uma espécie de possível reconciliação com a Jules, a relação entre Fez e Lexi (eu jurava que ela era lésbica). Porém, a melhor parte foi o Fez ESPANCANDO o Nate, aquilo ali lavou a minha alma, mesmo eu ficando preocupado depois.
- Quando a série começou a desenvolver a relação entre Fez e Lexi, fiquei com medo de insistirem demais nesse negócio de ela ficar com “ciúmes” ou desmotivada porque a Faye tava morando temporariamente com o Fez. Se tivessem engatado um triângulo amoroso, eu teria ficado EXTREMAMENTE decepcionado. Ainda bem que não foi o caso.
- Olha, eu gostei do começo da trama da Kat, com as pressões estéticas de “você é bonita do jeito que é!”. Aquela foi uma cena ótima. No entanto, pelo que eu li na Internet (e se tá na Internet, é verdade), o Sam Levinson queria fazer um arco de compulsão alimentar ou algo assim, sei lá, e a Barbie Ferreira não queria. Enfim, o que sabemos é que ela não voltará para a terceira temporada, depois da personagem revelar que possui um tumor no cérebro e terminar com o Ethan. Ops.
- É sério que alguém ainda shippa o casal Rules? Galera, elas são claramente tóxicas uma pra outra. Melhor continuarem só como amigas mesmo.
- Os flashbacks do Cal, pai do Nate, foram muito bons, e a “conversa” dele com o Fez foi sensacional de ver. Melhor ainda foi assistir ao Ashtray batendo no Cal com a escopeta; maravilhoso. Por fim, Cal finalmente se assumiu, mijou no chão e deixou a casa, mas a figura do terceiro filho segue um mistério.
- Achei bem nada a ver Jules, Elliot e Rue saírem pra comprar bebida e depois ficando bravos que a Rue estava bebendo. Se eles tinham medo disso acontecer, era melhor não ter ido pegar bebida, né? E outra, o Elliot é muito manipulador, tudo que ele faz é com segundas intenções.
- Rue fugindo que nem um furacão e contando pra Maddy que a Cassie pegava o Nate, o caos acontecendo e ela conseguindo escapar da traficante. Pra mim, isso é cinema.
- Eu nem tinha reparado em um negócio que vi num comentário do TV Time: a Maddy tá sendo filmada naquela casa em que trabalha. O que será que isso significa? Aquela mulher tá apaixonada/obcecada nela?
- Cara, é uma pena que a própria série sabotou a Jules. Ela teve um excelente desenvolvimento nos especiais, mas nos últimos episódios ficou de lado. Eu entendo narrativamente que isso aconteceu porque a Rue, nossa narradora, não queria falar a respeito dela, mas será que era necessário deixar alguém com tanto potencial de fora?
- R.I.P. Ash. Fiquei realmente sentido quando ele foi alvejado, e temo pelo que o futuro reserva pro Fezco. Queria tanto que ele tivesse ido na peça da Lexi 🙁
- Certo, no final a gente teve a Rue chegando até o fundo do poço e conseguindo sair, pelo menos por enquanto; o Nate ficando cada vez mais inseguro e descontando em todo mundo; a Maddy começando a enxergar a vida sem o Nate; a Cassie despirocando legal e virando uma Maddy 2.0; o Cal sendo preso; e a Lexi causando uma guerra civil com uma peça de teatro inegavelmente de mau gosto (embora o musical zoando a masculinidade do Nate tenha sido perfeito).
- Uma última nota para os momentos mais lendários da temporada: a Maddy tá sempre envolvida, já repararam? Ela batendo na porta do banheiro nos primeiros episódios com os punhos daquele jeito, e posteriormente fazendo a clássica pergunta no teatrinho da Lexi: “wait is this fucking play about us?“.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Fezco
Veja bem, muita gente se destacou, a bem da verdade. Se você deseja colocar aqui Cassie, Lexi, Rue ou até mesmo o Nate, não te condeno. Pelo contrário, entendo perfeitamente. Por um critério puramente pessoal, consegui me conectar melhor com a jornada pessoal do Fez. Jules também foi um destaque positivo, que só não levou o prêmio porque perdeu espaço no final.
+ Melhor episódio: S02E05 (“Standing Still Like The Hummingbird”)
O primeiro episódio da temporada é um excelente cartão de visitas e poderia facilmente ter entrado como o melhor, mas o quinto capítulo conta com um domínio completo e absurdo de Zendaya como Rue, em um texto frenético e doloroso de assistir.
+ Maior evolução: Lexi Howard
Três personagens poderiam ter assumido esse posto: Lexi, Cassie e Cal, considerando que Fezco já entrou como melhor da temporada. Novamente, é uma decisão puramente pessoal. Contudo, ainda posso justificar com o fato de que Cassie e Cal eram coadjuvantes, mas eram coadjuvantes que apareciam com frequência. Lexi era a coadjuvante da coadjuvante, então sua evolução naturalmente foi a maior, ficando com um dos principais holofotes da temporada.
+ Maior surpresa: Faye
Do nada, veio uma personagem peculiarmente divertida, que deu tons de carisma únicos a uma série que frequentemente é muito pesada.
+ Mais subestimado: Ali Muhammad
Sério, eu amo esse cara. Sim, ele fez coisas horríveis no passado, mas qual o sentido da reabilitação se não superar os erros de outrora e transformar isso em algo concreto?
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?