Ação, Velozes e Furiosos

Velozes e Furiosos #04 a #07 – Tiro, Porrada e Bomba (2009/11/13/15)

• O cúmulo da mentirada

Eu não aguento mais ver críticos e cinéfilos falando mal de Velozes e Furiosos por ter mentirada demais. A partir do quarto filme e, principalmente, do quinto, a saga deixou bem claro que tinha deixado pra trás a época de carros tunados e corridas de rua ilegais. Na nova fase, o foco seria a ação mirabolante em tramas de fuga e roubo, com personagens cada vez mais descolados da nossa realidade. Não acho válido criticar a franquia por pegar esse gancho, sendo que é uma escolha narrativa consciente dos absurdos que propõe. Obviamente, isso não significa que você é obrigado a gostar dos filmes. Dizer que os roteiros são ruins, os personagens são entediantes caricaturas humanas e os enredos são frequentemente bregas são todas argumentações válidas, mas não dá pra criticar a saga por fazer aquilo que se dispõe a fazer. Seria como criticar Invocação do Mal por ser assustador demais ou La La Land por ter músicas demais. Não faz sentido, né? Ok, agora vamos pro pitaco.

 

Velozes e Furiosos 4 – Um momento de transição

Não dá pra negar que Velozes e Furiosos 4 é meio que o patinho feio da franquia. Já reparou que quase ninguém comenta sobre ele? Pra mim, é um dos filmes mais importantes pra história da franquia, pois é aqui que eu sinto o início da transição que transforma Velozes e Furiosos em Furiosos e Velozes. Os carros não são mais o ponto principal, e servem apenas como instrumentos narrativos que conduzem a trama. Ah, lembrando que vou soltar alguns spoilers aqui.

Velozes e Furiosos 4 é provavelmente o filme mais sóbrio da saga, ao lado do primeiro. É legal de ver o retorno de Toretto e a interação dele e da Mia com o policial-ex-policial-que-virou-policial-de-novo, Brian O’Conner. É palpável a tensão entre os três, mesmo a gente sabendo que eventualmente as coisas vão se resolver. A “morte” da Letty em um momento tão cedo do longa dá a carga dramática necessária pra deixar a obra ainda mais séria.

Não que Velozes e Furiosos 4 tenha um enredo digno de Oscar, até porque os absurdos começam a aparecer. Mas e daí? Vai falar que não é sensacional ver o Toretto acelerando debaixo de um caminhão capotando e escapando de uma explosão? Ou um monte de carros passeando por um túnel apertado, perseguindo uns aos outros? A reviravolta do Campos ser o Braga não é das mais impressionantes, mas funciona naquele contexto. E, novamente, as cenas de ação são pra lá de divertidas, mesmo que o filme não seja o mais memorável do conjunto. Melhor personagem: Brian O’Conner. Apesar de ser legal ver o retorno de Toretto, os dilemas morais de Brian são mais interessantes. Curiosamente, Brian ganha pela primeira vez o prêmio de Melhor Personagem em um filme no qual ele não está em seu auge. Pra mim, os melhores momentos dele foram no primeiro e no segundo.

O verdadeiro Quarteto Fantástico

Velozes e Furiosos 5: Operação Rio – Destruição total

Velozes e Furiosos 5: Operação Rio sempre foi um dos meus favoritos da saga. Eu tenho uma forte relação pessoal com ele, pois vi pela primeira vez na época em que saiu, nos cinemas, com um grande amigo meu do Ensino Médio, o Marcus Paulo. As nossas mentes de adolescentes ficaram malucas com todas aquelas explosões, um cofre passando pelo meio do Rio de Janeiro e peripécias tão deliciosamente improváveis que se tornavam irresistíveis.

Assistindo hoje em dia, eu já não sou mais capaz de ver da mesma forma. É claro que as partes de ação ainda são ótimas, mas eu não consigo mais engolir todas as referências incorretas ao Brasil. Não quero parecer um patriota 22 (Deus me livre), mas chega a ser ofensivo o jeito que o nosso país é representado aqui. Um deserto em pleno Rio de Janeiro, viaturas policiais vindas direto do jogo Need For Speed, bandidos operando em lugares decrépitos do LEBLON e sotaques e diálogos tão horripilantes que chegam a doer.

O que eu mais gosto em Velozes e Furiosos 5: Operação Rio é aquela sensação da galera se reunindo, como se fossem os Vingadores. Toda aquela sequência do cofre é sensacional, mas o meu elemento favorito do filme é o lado humano, por incrível que pareça. As amizades, os romances e as rivalidades são marcantes, e este é provavelmente o filme da franquia que mais vale a reassistida descompromissada, ao lado do segundo. Melhor personagem: Luke Hobbs. A adição de The Rock à franquia foi um dos melhores acertos dos filmes recentes. Operação Rio, por exemplo, não seria o mesmo sem ele.

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Velozes e Furiosos 6 – As diferentes pistas

Eu sei que essa saga desafia as leis da física, isso não é novidade. Mesmo assim, acho que Velozes e Furiosos 6 é o filme em que eu mais precisei respirar fundo pra relativizar algumas cenas. Em particular, a sequência no aeroporto. Eu não tenho problemas em personagens agindo como super-humanos e o Toretto agarrando a Letty no ar em meio a uma batalha envolvendo um tanque de guerra. Mas, por algum motivo, não me desce aquela pista infinita antes da decolagem.

Em termos gerais, Velozes e Furiosos 6 é um dos filmes mais esquecíveis da saga. Parece mais um spin-off do que qualquer outra coisa, com exceção das partes envolvendo a Letty e a sua volta dos mortos. A morte da Gisele também acaba sendo um evento canônico (pelo menos até arranjarem um jeito de ressuscitá-la, o que eu não duvido nada), assim como o fim de Owen Shaw, pois isso dá o gancho pra introdução do Deckard Shaw, o maior antagonista da franquia. Agora que tô refletindo, este filme tem sim vários momentos importantes pro contexto maior da saga, mas ele não dá essa impressão, sabe? Não sei se faz sentido o que eu tô falando.

Independentemente disso, Velozes e Furiosos 6 tem alguns momentos legais sim. Um dos aspectos positivos foi apostar em mais personagens femininas, passando por Letty, Gisele e até a Riley. Sobre o humor, às vezes o roteiro força um pouquinho a barra, mas eu genuinamente ri de algumas partes, como o The Rock improvisando a ofensa direcionada ao Roman e os vilões sendo “gêmeos do mal” dos mocinhos. Melhor personagem: Letty Ortiz. Depois de ser dada como morta, Letty se recoloca de vez na mitologia de Velozes e Furiosos e é nela que se concentram os principais esforços dramáticos.

Letty It Be, Letty It Beeee

Velozes e Furiosos 7 – Despedidas e bifurcações

Só quem viveu esse período sabe o quanto esse filme chegou ao cinema sob diferentes sentimentos. A direção é de James Wan, e tinha tudo pra ser um dos mais marcantes capítulos da franquia, com uma perspectiva de fim de ciclo. De fato foi tudo isso, mas por um motivo muito mais trágico: a morte de Paul Walker, intérprete de Brian O’Conner, simplesmente um dos protagonistas da saga. É igual eu falei no pitaco dos três primeiros filmes: se Vin Diesel é a alma de Velozes e Furiosos, Paul Walker sempre foi o coração.

Falando sobre o filme em si, Velozes e Furiosos 7 é sem dúvida alguma um dos melhores de toda a franquia. Além das empolgantes cenas de ação, como um carro sendo acelerado através de TRÊS ARRANHA-CÉUS no meio de Abu Dhabi, um monte de veículo PULANDO DE PARAQUEDAS em uma estrada montanhosa e o Brian saltando de um ônibus caindo em um PRECIPÍCIO, o longa introduz o melhor vilão até então: Deckard Shaw. Ele já tinha mostrado a que veio no final do filme anterior, mas a introdução deste consegue ser melhor ainda, deixando bem claro o potencial de destruição que o antagonista possui.

Como um filme de ação, Velozes e Furiosos 7 funciona. Como um fechamento e despedida, ele funciona. Até como drama e comédia, o bicho também funciona. O final é um dos mais memoráveis do século, e isso acho que não tem nem discussão. Devido ao contexto externo, além dos méritos do próprio filme, ele se transformou instantaneamente em um clássico, e não tem como não ter esse aqui como um dos favoritos. Melhor personagem: Deckard Shaw. O irmão mais velho de Owen Shaw é ameaçador do começo ao fim, e tem um estranho carisma que o torna magnético, com a interpretação de Jason Statham, conhecido como o careca mais mortífero de Hollywood.

Briga de gente grande

+ Veredito
Após três filmes focados em corridas de rua e pequenas empreitadas, os quatro capítulos seguintes desta loucura chamada Velozes e Furiosos adotam uma nova identidade, assumindo de vez a galhofa de personagens que se transformam essencialmente em super-heróis, em tramas absurdas e que exigem uma suspensão de realidade daquelas. E é por isso que eu gosto tanto. O quarto filme é o mais importante da franquia no sentido de transição, e o quinto é a consolidação do novo estilo. O sexto é o mais fraco desta nova leva, mas também ostenta o seu valor, para logo depois o sétimo concluir a etapa com chave de ouro.

O fim de uma era 🙁

 

>> Velozes e Furiosos #01, #02, #03 – Era dos Carros Tunados

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).