Fantasia, Jogos Vorazes

Jogos Vorazes #05 – Frio como a Neve (2023)

jogos vorazes a cantiga dos pássaros e das serpentes

• Um retorno às arenas

Eu sou muito enjoado quando o assunto é cinema. Detesto entrar na sala depois do filme começar, e qualquer condição externa tende a afetar minha experiência, como conversas insistentes de gente sem educação. Quando fui conferir Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, tudo deu errado. Pedi um McDonald’s pelo aplicativo, no caminho pro shopping, e ele demorou 40 minutos pra ficar pronto. Por causa da demora, quando entrei pra ver o filme com minha família, ele já tinha começado. Respirei fundo, impaciente. No momento em que sentei na poltrona, percebi que ela estava simplesmente QUEBRADA, e a sala, lotada. Acha que acabou? Nada disso, o ar condicionado também não estava funcionando! Foi uma sessão desconfortável, mas eu acabei conseguindo ver o filme. Mesmo assim, assisti de novo quatro dias depois, pra poder curtir melhor. E agora vamos falar desse novo capítulo do universo de Panem.

 

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes – O despontar de um ditador

No meu pitaco da saga original de Jogos Vorazes, eu citei que os produtores seguiram a mesma estratégia de Harry Potter, ao dividir o último filme em dois. Em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, a franquia volta a ecoar os passos de HP, que também havia voltado ao mundo de Hogwarts com Animais Fantásticos e Onde Habitam. Não estou dizendo que uma copiou a outra, mas é perfeitamente possível traçar paralelos entre elas. De qualquer forma, uma coisa é certa: a nova investida no cenário criado por Suzanne Collins é melhor do que aquela de J.K. Rowling.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes se passa durante a 10ª edição de Jogos Vorazes. Pra refrescar a memória dos mais desavisados, Jogos Vorazes acontece na 74ª edição do evento. Portanto, voltamos no tempo em 64 anos pra acompanharmos a ascensão do presidente Coriolanus Snow ao poder, em meio a um período em que o reality show mortífero da Capital estava perdendo forças com a queda de audiência e o desinteresse por parte do público.

O diretor Francis Lawrence, que comandou todos os filmes da franquia desde Em Chamas, retorna pra liderar A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes. Ele conhece muito bem o contexto daquilo que está sendo colocado em tela, e a execução do seu trabalho deixa isso bem claro. Dá pra perceber que o principal responsável pelo andamento da obra não caiu de paraquedas nos distritos, e o roteiro jamais perde de vista a mitologia daquela realidade. Essa característica possibilita a inserção de referências e nomes que remetem à saga original, como Flickerman, Heavensbee e Crane.

Algumas dessas referências são um tanto quanto exageradas. Em certo momento do filme, são colocadas três delas quase em sequência, o que me fez virar os olhos um pouquinho. Ok, ok, eu já sei que estamos no universo de Jogos Vorazes, eu quis dizer pra tela do cinema. Ainda assim, não chega a ser algo que incomode em excesso, só acho que a sutileza costuma ser muito mais elegante do que a necessidade de explicar demais certas coisas.

Na maior parte do tempo, a narrativa sustenta o controle sobre si. O filme é dividido em três grandes capítulos, cada um bem diferente do outro. O longa aproveita, inclusive, pra subverter algumas características. A maior parte da ação não se concentra no terceiro ato, e sim no segundo. Os minutos finais optam por abordar mais a tensão do que o frenesi das lutas. Por incrível que pareça, isso não torna o desfecho anticlimático, embora a sequência decisiva na floresta tenha sido um pouco mais arrastada do que o necessário.

Os personagens em geral são muito bem trabalhados, sobretudo os protagonistas Snow e Lucy Gray. Os atores Tom Blyth e Rachel Zegler possuem uma química inegável, que definitivamente não existe na saga original. Porém, isso não é um demérito da quadrilogia, pois Katniss Everdeen e Lucy Gray são tão diferentes na personalidade quanto iguais no senso de heroísmo. De um lado, Katniss é reservada e não nasceu pros holofotes, e ocupa tal espaço mais por obrigatoriedade do que por qualquer outro motivo. Do outro, Lucy gosta de chamar a atenção e a ânsia pela rebeldia lhe vem naturalmente.

Esse é um dos maiores méritos de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, quando o comparamos à quadrilogia original. O ponto em comum entre as obras é a existência de Coriolanus Snow, e as semelhanças (e diferenças) entre as jornadas de Katniss e Lucy fortalecem o desenvolvimento do mundo de Panem. Quanto aos outros personagens, eles cumprem o propósito básico de cada um, ainda que eu tenha achado o papel da Viola Davis teatral demais, ao mesmo tempo em que Peter Dinklage ficou apagado.

Game of Thrones + The Handmaid’s Tale

 

+ Veredito
A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é uma das melhores instalações de Jogos Vorazes, atrás apenas de Em Chamas. O retorno ao passado não é apenas uma desculpa pra ganhar dinheiro às custas de uma franquia conhecida no cinema, mas serve também pra adicionar camadas ao principal vilão da saga, entregando assim uma história que vale a pena acompanhar. A dupla principal de protagonistas é essencial pro funcionamento da proposta, e o filme consegue transitar muito bem entre canções, dramas, combates, romance, suspense e revolução. Acredito que a obra funcione pra quem não conhece a quadrilogia principal, mas é um presente ainda maior pros fãs e admiradores da franquia.

Apresentador, homem do tempo, mágico amador e muito mais!

 

>> Jogos Vorazes #01 a #04 – Pão e Circo

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

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Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).