Drama, Séries

House of Cards: 4ª Temporada (2016)

• Ninho de cobras

Alcançar o topo é difícil, mas manter-se nele é o verdadeiro desafio. Um dos problemas crônicos do mundo criativo audiovisual é desenvolver uma história que permaneça cativante até seu desfecho. Alguns não percebem a hora de parar e tentam estender tramas além do necessário, outros simplesmente ficam sem novas boas ideias. Não importa o motivo, quase tudo que a gente vê hoje em dia vai perdendo o pique ao longo do tempo. No mundo das séries, Breaking Bad talvez seja a única que tenha conseguido estabelecer um nível e seguir fielmente em seus princípios até o fim. Até Sons of Anarchy, possivelmente a minha favorita, passou por problemas em sua trajetória. House of Cards, por sua vez, tá conseguindo continuar com uma qualidade semelhante à de seu início até agora. Não sei até quando isso vai durar, então é melhor aproveitar.

 

Sinopse

Problemas na Câmara, problemas na vice-presidência, problemas na presidência, crises com China e Rússia e incontáveis conspirações governamentais. Essa tem sido a vida de Frank Underwood desde que House of Cards começou. Estressante, mas aqui vai o papo motivacional do dia: tudo sempre pode piorar. Como se já não bastassem as tretas políticas, o atual mandatário dos Estados Unidos passa por uma crise matrimonial com sua esposa, Claire.
Isso ganha contornos ainda mais trágicos quando lembramos que os dois não são “somente” marido e mulher. Eles são parceiros, aliados, simbióticos. Um não sobrevive sem o outro, e ai de quem pensar o contrário. Com a briga instalada entre o casal, as dificuldades começam a atingir também a vida profissional de ambos, os quais se recusam a ceder. A cereja desastrosa do amargo bolo é a iminência das Eleições, com Heather Dunbar no papel da forte adversária Democrata e Will Conway (Joel Kinnaman) como representante principal no lado dos Republicanos.

Política é política em qualquer lugar, né

Crítica

Vou começar pelos defeitos que é pra eu já me livrar das coisas ruins logo. Bom, as atuações continuam espetaculares como sempre. Kevin Spacey e Robin Wright dão gosto de ver na tela, eles encarnam seus personagens de tal maneira que a gente acaba se esquecendo de que aquelas não são pessoas reais. Olha lá, eu falei que ia começar com os defeitos e já fui pras qualidades. Bom, o ponto mais negativo da temporada está na deterioração de alguns aspectos da identidade e na falta de foco do enredo. No começo, parece que vai ser sobre o casamento de Claire e Frank. Depois, a gente tem a impressão de que as atenções vão ser todas concentradas nas Eleições. Então, um arco sobre terrorismo é introduzido. Todos eles são excelentes núcleos, mas achei que poderiam ter sido dosados de forma melhor. Além disso, House of Cards perde alguns detalhes que ajudaram a criar a marca da série, como o Frank batendo os dedos nas mesas antes de deixar um local. A quebra da quarta parede só é utilizada depois de vários capítulos, e eu acabei sentindo falta disso. Por fim, temos histórias envolvendo Claire e sua mãe, Elizabeth, que eu particularmente achei meio enjoadinhas.
Quanto às qualidades, ela são bem mais presentes que os defeitos. As atuações são sustentadas por diálogos muito bem escritos e uma ambientação extremamente real; a gente sente que aquele cenário poderia facilmente existir. O ritmo é acelerado, mas sem atropelar nada e sem ficar enjoativo, como ocorreu em alguns momentos da segunda temporada. O resgate de algumas histórias antigas funciona perfeitamente. Alguns personagens acabam perdendo um pouco de espaço, e destaco Doug entre eles. O cara tinha sido ponto-chave na terceira temporada, mas ele se vê reduzido agora. Ainda assim, a série não despreza ninguém e tentar dar um pouco de importância pra todos. As novas adições são bem trabalhadas e percebemos a consolidação de nomes já conhecidos. A conclusão nos deixa ansiosos para o futuro, com uma cena final de arrepiar.

Pela elegância exibida acima, dá pra deduzir de onde foi que a Claire puxou essa característica

Veredito

A primeira temporada é impecável, sobretudo no roteiro e nas atuações, as duas maiores qualidades da série. A segunda é um pouquiiiiiinho inferior, com um ritmo menos agradável em relação à sua antecessora. A terceira tá um degrau abaixo, mas esse degrau ainda tá acima de muita produção por aí, muita mesmo. A quarta é melhor que a terceira, sem dúvida alguma. Em um nível parecido com o da segunda, ela retomou o excelente nível do início.

O cara mais bananão de Washington D.C.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Não vou mentir, eu tava meio que cagando pra história envolvendo a Claire e a mãe dela. O único momento em que passei a me importar realmente foi mais pro final, quando o Tom entrou na jogada.
  • E por falar em Tom, o que foi aquilo dele ficar com a Claire e ambos tomarem café da manhã juntos com o Frank, hein? Engraçado que eu já tava sentindo aquela vibe há um tempo e não me surpreendeu tanto, mas fui ler os comentários no TVTime e tava todo mundo tipo “ainnnn, que coisa mais deturpada” ou “cara, isso é muito errado” e opiniões do tipo. Ok.
  • Curioso como a gente só percebe o peso de alguns personagens quando eles saem de cena. Com o Frank, não tinha me dado conta do tanto que a história se sustenta em sua figura. Com o Meechum, só me resta sofrer por sua morte nas mãos daquele cuzão do Lucas Goodwin. Aliás, eu poderia até torcer por ele se não tivesse chegado a esse ponto, diferentemente do Hammerschmidt – não hesito em dizer que esperei que sua reportagem desse certo desde o começo, pra ver o circo pegar fogo e pros Underwood sentirem um pouco de medo.
  • Freddy mandando o presidente ir se ferrar foi espetacular. Ai, se eu tivesse essa chance.
  • Seth Grayson botando o Doug no seu devido lugar foi impagável. Eu acho o Doug foda como personagem, mas ele é uma pessoa terrível e acha que é o único que pode ter a confiança do Frank. E isso porque nem mencionei aquela loucura envolvendo o transplante de fígado de seu chefe.
  • Mano, os discursos da Claire e os momentos em que ela e o Frank trabalham juntos me dão vontade de chorar de emoção quando noto o quão bem escrito eles são. É pedir demais, outras séries?
  • Jackie e Remy, cês são uns cuzões. Mas se eu estivesse na pele de vocês, faria o mesmo. E sabia que o Garrett apareceria novamente em algum momento, tava demorando até.
  • E o Raymond Tusk? Acham que a Claire agiu certo em trazer ele de volta pra apagar o incêndio causado pela crise econômica?
  • Bicho, a guerra contra aquele Estado Islâmico Cover poderia render facilmente uma temporada inteira. Acho que a quinta deve focar bastante nisso.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Frank Underwood
Depois de duas temporadas seguidas com Claire brilhando mais que o esposo, o protagonista retoma o posto principalmente pelo que fez na metade final do conjunto. Se sua esposa é o coração da série, ele é o cérebro.

Michel Temer who?

+ Melhor episódio: S04E10 (“Chapter 49”)
Este capítulo me fez ter certeza de que a temporada merecia 5 Lelecos.

Orgulho da minha profissão, na morales

+ Maior surpresa: Will Conway
O adversário de Frank no outro lado da corrida presidencial entrega tons interessantes à trama, provando que pode dar ainda mais trabalho que Raymond Tusk. A consultora política LeAnn Harvey também é uma boa adição, mas não chega a valer uma menção honrosa.

Frank e Claire de um universo paralelo

+ Mais subestimado: Edward Meechum
Ele sempre tá lá apoiando os personagens principais, e às vezes não recebe o crédito que merece. Ponto também pra Cathy Durant, uma voz essencial dos bastidores.

Melhor guarda-costas da Casa Branca

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).