Drama

Ted Lasso: 3ª Temporada (2023)

ted lasso 3

• Perdoar e acreditar

E aí, vamos começar o ano de 2024 com o pé direito? Recentemente, eu fiz uma listinha com os seguintes critérios: eu só poderia colocar séries já finalizadas com pelo menos três temporadas, que tiveram alto nível do início ao fim e não se perderam dentro de sua própria proposta em algum momento. A lista não foi lá muito grande. Apenas Sons of AnarchyBreaking Bad, Demolidor, NarcosOrange is the New BlackBroadchurchThe Good PlaceFriends e Brooklyn Nine-Nine cumpriram todos os requisitos. Isso me fez refletir sobre o quanto as séries costumam se perder quando passam a estender o número de temporadas. Por isso, quando aparece uma que se mantém sólida do início ao fim, acaba surpreendendo. E, com muita felicidade, anuncio que Ted Lasso é a 10ª produção a se qualificar.

 

Sinopse

O AFC Richmond está de volta à Premier League. Boas notícias, não é mesmo? Sim, exceto pelo fato de que todas as projeções esportivas preveem que o time terminará em último lugar e será novamente rebaixado. Toda essa negatividade acaba afetando a equipe, que se mostra incapaz de conseguir bons resultados. O West Ham, por outro lado, sob o comando do treinador Nate Shelley, chega muito forte, com um dos maiores investimentos e altas expectativas para a temporada. Em meio a isso tudo, personagens como Roy, Keeley, Jamie, Rebecca, Nate e o próprio Ted Lasso passam por intercorrências românticas que transcendem a esfera pessoal.

Eu vendo a Seleção Brasileira com a vantagem indo pra cima da Croácia a quatro minutos do fim de uma prorrogação em Copa do Mundo

Crítica

Uma das coisas que eu mais gosto em Ted Lasso é a capacidade de misturar esporte e drama, sem tirar completamente o foco do outro. A primeira temporada enveredou um pouco mais pelo caminho do futebol, enquanto a segunda deixou as quatro linhas meio de lado pra focar nas particularidades de cada personagem. A terceira consegue executar a melhor mistura, dando um espaço praticamente igual às duas temáticas.

O mais legal tanto da parte esportiva quanto da parte dramática é que a série não costuma tomar decisões previsíveis. Em outras produções, certas relações com certeza culminariam em romance, mas Ted Lasso não é assim tão básico. Na verdade, ele até brinca com isso. Eu tô percebendo que, cada vez mais, as histórias ficcionais estão investindo em interações de amizade e companheirismo, evitando relacionamentos amorosos “obrigatórios”. Não é porque um homem e uma mulher heterossexuais possuem fortes sentimentos um pelo outro que esses sentimentos necessariamente precisam ser de paixão.

Em sua terceira e última temporada, a série consolida o pensamento central de que a bondade demanda mais valorização, sobretudo em um mundo em que personagens de moral dúbia estão dominando a cena. De certo modo, é refrescante acompanhar pessoas que se comprometem a promover a gentileza e o perdão, sem transformar a experiência em um compilado tedioso de lições de moral. O protagonista Ted Lasso, por exemplo, tenta a todo custo sustentar esses valores, e consegue. No entanto, isso não significa que ele não tenha dias ruins, ou que não sofra com atitudes alheias. Pra completar, a bondade nesta história não é representada como ingenuidade, ao contrário do que costuma acontecer.

Assim como nas duas outras temporadas, a terceira apresenta diferentes arcos com temas distintos. Sexualidade, masculinidade tóxica, superação, abuso de autoridade e conflitos éticos são alguns dos assuntos explorados com primazia. A série não tem medo de se arriscar, mas sabe reconhecer quando algum elemento ou outro simplesmente não funcionam. Com isso, certos tópicos que surgiram na segunda temporada são abandonados aqui, mas não sem antes dar satisfações ao espectador. É quase como se a série estivesse falando pra gente: eu sei, eu sei, aquilo lá não deu muito certo. Bora seguir em frente?

A conclusão de Ted Lasso é bonita, fechando todas as pontas soltas e dando aquela sensação nostálgica de encerramento. A melhor parte, no entanto, é a coerência de uma série que tem consciência de como deve acabar, sem fugir demais das ideias principais. A mensagem positiva é transmitida com sucesso, e é impossível não terminar o último episódio com um sorriso no rosto e eventuais lágrimas nos olhos.

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Veredito

Depois de duas temporadas coesas com muitos altos e poucos baixos, Ted Lasso finaliza sua epopeia futebolística com notável competência, aprendendo com os próprios erros e investindo naquilo que sabe fazer com primor. A série mantém o mesmo clima de otimismo ao longo dos episódios, mas não é inocente ao ponto de representar a positividade em uma luz de utopia, colocando assim os pés no chão e fortalecendo o recado que deseja passar. É uma produção que merece o seu tempo, caso ainda não tenha assistido, oferecendo um desfecho satisfatório e condizente com o conjunto geral de ideias. Nota final: 4,6/5.

Acho incrível como a estética do West Ham de Rupert Mannion e Nathan Shelley parece o Império de Star Wars

 

>> 1ª Temporada de Ted Lasso

>> 2ª Temporada de Ted Lasso

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Cara, eu achei sensacional o personagem do Zava, sério. O maluco entrou no time, marcou vários golaços e foi responsável pela ascensão meteórica do Richmond, e simplesmente decidiu se aposentar depois. Isso é que é personalidade!
  • Por outro lado, que personagem insuportável a Shandy, na moral. Não fui com a cara desde o início. A Keeley ter dado um emprego pra ela foi o mais puro exemplo de que comumente o mercado de trabalho é mais sobre quem você conhece do que sobre a sua capacidade. Uma coisa é a Keeley oferecer um estágio ou algo do tipo, mas ela deu poder demais pra alguém que não tinha demonstrado praticamente nenhuma habilidade. Shandy demorou a ser demitida, e ainda merecia ter levado um processinho.
  • Acho que, se houvesse uma quarta temporada de Ted Lasso, a Keeley se envolveria em mais um relacionamento, pra seguir o padrão. A bola da vez foi Jack. Não tive muitos problemas com o namoro entre elas, mas algo não parecia condizente com a série. Tipo, tivemos duas temporadas de triângulo amoroso com Roy e Jamie, e de repente o destino amoroso final de Keeley seria uma personagem recém-apresentada? Acabou que ela era só mais uma riquinha egoísta. E com quem será que a Keeley ficou, no final das contas? Um trisal com Roy e Jamie, os dois melhores amigos?
  • Gostei pra caramba do par entre Rebecca e o Homem Careca de Amsterdã™. A química entre ambos foi inquestionável, e fiquei feliz por ele ter encontrado a Rebecca no final, dando a entender que ela poderia ocupar o papel de mãe daquela criança. E graças a Deus o romance com o Sam não foi pra frente.
  • Eu tenho a impressão de que a série não gosta muito de psicólogos. A Sharon quase não apareceu nesta temporada. Além disso, o novo namorado da Michelle era ninguém menos do que Jacob, o terapeuta de casal que foi pivô da separação entre ela e Ted. Ética ali passou longe, hein.
  • Os meus dois centavos sobre o Nate: eu passei a temporada inteira torcendo por sua queda, que ele pagasse pelas coisas horríveis que fez, mas a série me deu um tapa na cara com a sua jornada de redenção e a relação com a Jade. E, por falar nisso, é interessante pensar que os únicos personagens que não protagonizaram essa volta por cima foram os milionários Rupert Mannion, Edwin Akufo e Jack Danvers. Diz muito…
  • Sei que é meio besta, mas eu achei simplesmente genial que o Zoreuax tenha se tornado Zorro no final. Me deu uma sensação de círculo completo.
  • Uma das minhas tramas favoritas da temporada foi o segredo de Colin, e como Trent o ajudou a encontrar sua voz. Jurei que o Isaac seria homofóbico, mas no final das contas não era bem isso. É bom que a série tenha dado tantos bons exemplos em tela, eliminando prováveis masculinidades tóxicas em um contexto de vestiário.
  • Obviamente, eu torci para que o AFC Richmond ficasse com o título da Premier League, mas sinceramente? Fez muito mais sentido com o propósito do roteiro eles terem ficado em 2º lugar. História não se faz apenas com títulos, e o mais importante foi que o time alcançou o seu máximo, mesmo não conquistando a taça. Ah, e adorei a participação especial do Pep Guardiola.
  • Pra completar, o Ted pedindo demissão a fim de voltar para sua terra natal e ficar com a família também foi o encerramento perfeito. Londres já não estava mais fazendo bem a ele. E, sei lá, até uma reconciliação com a Michelle se mostrou possível ao final da série. Mas isso fica pra nossa imaginação.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Jamie Tartt
No pitaco da primeira temporada, eu tive dificuldades de imaginar uma jornada de redenção de Jamie Tartt, porque a sua canastrice parecia ser irremediável. Porém, ele fez por onde e foi o grande pilar do AFC Richmond no campeonato, além dos bons arcos narrativos que o envolveram.

Atenção, Jamie Tartt, você está preso por transgredir a Lei Maria da Moda

+ Melhor episódio: S03E12 (“So Long, Farewell”)
Eu gostei muito dos episódios 6 e 11, mas vou escolher o 12 por uma simples razão. Hoje em dia, tá ficando raro uma série conseguir concluir tão bem a sua história. Ted Lasso executa isso com maestria, e por isso optei por destacar o capítulo final.

Indo na contramão de Jamie Tartt, temos que admitir: Isaac McAdoo tem o molho

+ Maior evolução: Trent Crimm
Eu sempre gostei deste jornalista do Independent que se tornou independente, desde a primeira temporada. Dar mais tempo de tela a ele, de um jeito diferente do que havia sido mostrado antes, foi um dos grandes acertos do ano de encerramento da série.

Quando eu ficar mais velho, esse será meu corte de cabelo (faltam só os cachos)

+ Maior surpresa: Zava
Claramente inspirado no ex-jogador Zlatan Ibrahimovic, Zava é uma divertida adição que causou um impacto breve, mas marcante, na trama.

Zava não canta o Hino Nacional, o Hino Nacional inicia automaticamente quando Zava coloca a mão sobre o peito

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).