Drama

Skins: 1ª Temporada (2007)

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• O ápice dos hormônios

Eu confesso que por muitos anos tive um pouco de birra de Skins. Quando o Facebook estava em seu auge, era bastante comum as páginas de séries fazerem postagens com ~ cenas quentes ~ ou frases de efeito de Skins, então sempre achei que seria algo meio superficial. Eu também já estava cansado de ver os rostos de certos personagens, e acabei pegando um pouco de ranço. Uma década depois, decidi dar uma chance por sugestão da minha namorada. Confesso que me surpreendi e a série me fisgou mais rápido do que eu imaginava. O fato da primeira temporada ter apenas nove episódios deixou tudo ainda melhor.

 

Sinopse

Em Bristol, na Inglaterra, nove adolescentes têm vidas e personalidades pra lá de diferentes umas das outras. Tony é o mais inteligente, mas é praticamente um sociopata. Cassie é gentil, mas sofre com problemas relacionados à alimentação. Jal é a mais reservada, e dedica a maior parte da sua vida à música. Chris é engraçado e divertido, só que esconde diversos traumas. Sid transita perigosamente entre o garoto legal e o incel. Maxxie e Anwar formam uma dupla contrastante entre um jovem gay e um muçulmano. Michelle tem confiança e insegurança quase na mesma medida, e Effy não se dá bem com palavras. O que une todos eles, além dos laços familiares e de amizade?

O primo distante de Paul Dano e o Fera de X-Men

Crítica

Eu nunca vi uma série representar tão bem a sujeira quanto Skins. Considero a mim mesmo uma pessoa asseada e higiênica, e ver algumas cenas desta primeira temporada foi um tanto quanto desesperador. A série não tenta minimizar a despreocupação dos personagens quanto à limpeza. Tem comida esparramada pelas paredes, quartos extremamente desarrumados, aversão completa a banhos e hábitos tão nojentos que deixariam até o Cascão de nariz franzido. Essa característica tende a incomodar, mas definitivamente fornece uma identidade forte à obra.

Podemos falar muita coisa de Skins, mas não há como negar que ela sabe muito bem quem é. Obviamente, é um produto de sua época; a série praticamente respira o final da década de 2000. A fotografia meio leitosa (perdão, não sei muito bem como definir), dando a impressão de estar representando um conjunto de memórias, é um complemento bem condizente ao texto. O tema principal é a juventude à flor da pele, e inclusive essa é a tradução oficial do título da série. Todos os elementos técnicos, como a já mencionada fotografia, a trilha sonora, a direção de arte e o figurino, combinam com o que está sendo transmitido pelo roteiro.

A escolha criativa de dedicar um episódio pra cada personagem tem como propósito impedir que alguém fique raso demais. No entanto, como era de se esperar, alguns deles fogem dos holofotes. A parte mais central do enredo gira principalmente em torno de Tony, Sid, Michelle e talvez a Cassie. Chris, Jal e Anwar estão ali no meio, enquanto Maxxie e principalmente a Effy não ganham tanto destaque assim. O que eu quero dizer com isso é que, embora a trama seja conduzida por personagens individuais, a dosagem não é tão equilibrada. Isso por si só não é necessariamente uma qualidade ou um defeito. Em Skins, é um pouco dos dois. É bom porque dá pra gente conhecer gradativamente um pouco de cada um, mas é ruim pois deixa a narrativa às vezes um pouco empacada.

Apesar de abordar tópicos sensíveis, como drogas, transtornos mentais e violência, Skins em nenhum momento é maçante. Não que trabalhe os seus tópicos de maneira leve ou algo do tipo, mas a condução é tão natural que quase não parece que estamos vendo uma ficção. Em determinados momentos, não parece nem mesmo um documentário, mas sim como se estivéssemos ali, juntos com os personagens, acompanhando cada movimento deles. Isso faz com que haja uma certa intimidade entre as partes, o que é um pouco incomum.

O desfecho da primeira temporada é tão surpreendentemente aleatório que dá vazão a diferentes sensações, desde o choque a uma risada desconfortável e incerta. E, como o último episódio termina em uma nota alta, é praticamente impossível não ficar com vontade de assistir às sequências.

Preparando-se para a batalha de clarinete contra o Lula Molusco

Veredito

A primeira temporada de Skins constitui um drama britânico adolescente bem construído e viciante. A partir do momento em que a história engata, fica difícil largar. E, pra conseguir esse feito, a série não insere tantos acontecimentos memoráveis com frequência, mas o ritmo caótico da narrativa é charmoso e convidativo, com um personagem pior que o outro – no bom sentido. Não sei se é uma série que funciona pra todos os públicos, mas até quem já passou da idade-alvo pode se sentir fisgado por aquele cenário.

*Brasil mencionado*

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Tony: podemos analisar esse personagem de duas maneiras diferentes. Como pessoa, é um baita de um fdp. O cara manipula todo mundo, e eu não fiquei com um pingo de pena quando todos começaram a abandoná-lo. Como personagem, ele foi um dos melhores da temporada, sendo aquele típico vilão que a gente adora odiar. Mesmo assim, eu me vi pegando uma certa afeição por ele na altura do último episódio, até que de repente o maluco foi ATROPELADO POR UM ÔNIBUS. Que merda foi aquela, bicho??? E, do nada, todo mundo começando a cantar. Pelo jeito que foi o atropelamento, o ônibus quase estraçalhou o Tony, mas ele tava até que normal depois. Vamo ver se isso vai ter consequências.
  • Cassie: tadinha da bichinha, foi se apaixonar logo pelo cara mais lerdão de todos. Parece que toda vez em que ela aparecia em cena, eu sabia que algo de errado aconteceria. Pelo menos o último episódio deu a impressão de que algo pode sair do relacionamento entre ela e o Sid, e tomara que ele não vacile de novo.
  • Jal: ela é provavelmente a mais pé no chão e com a cabeça centrada de todo o grupo. Como personagem, é uma das mais desinteressantes, não vou negar. O episódio dela não me impressionou muito. Ainda assim, é interessante ver a lealdade dela para com os amigos.
  • Chris: fazia tempo que eu não via um cara tão nojento em uma série. Pô, a parte em que ele acorda, vai ao banheiro, joga sem querer xixi na própria cara e depois limpa o rosto com uma toalha me quebrou. Porém, dá pra ver que aqueles hábitos dele são meio que criados a partir do trauma, ao contrário do que acontece com o Sid. Quanto ao namoro dele com a Angie, eu fiquei o tempo todo com a certeza de que eventualmente daria errado. E fiquei meio com preguiça de alguns comentários do TV Time, dizendo que a série representar aquele “relacionamento” era algo muito errado. Não é esse meio que o ponto de Skins?
  • Sid: durante a maior parte da temporada, o Sid foi o que mais me deu nos nervos. Sim, o Tony era o mais maldoso de todos, mas ele pelo menos nunca negou e sempre foi honesto em relação ao próprio egoísmo. O Sid, por sua vez, ficava toda hora agindo como o “cara legal”, mas tratou a Cassie que nem lixo, via a Michelle mais como um objeto de desejo do que como uma pessoa real, e tinha um desleixo que me irritava, sobretudo porque o ambiente familiar dele é possivelmente o mais estável de todos. Não é perfeito, mas o dos outros é bem pior.
  • Maxxie e Anwar: sinceramente, não consegui criar uma opinião tão grande sobre o Maxxie, mas ele parece ser um cara gente boa. Já o Anwar é meio chatinho, mas eu gostei do seu desenvolvimento de personagem principalmente na reta final da temporada, e foi divertido a sua saga com aquela garota russa.
  • Michelle: também não tenho muito a dizer sobre ela. Eu não parava de falar pra TV que a Michelle precisava esquecer logo o Tony e partir pra outra, mas claramente ela estava dependente emocionalmente dele, naquele estilo “I can fix him”.
  • Effy: achei legal essa dinâmica da Effy não falar praticamente nada, mas demonstrar sua personalidade através de olhares, gestos e atitudes. Ainda assim, deu pra conhecê-la apenas na superfície, e acho que tem muito mais que a gente ainda não viu. E ah, que sorte ela deu em não ter acontecido nada pior naquela festa. Novamente, por culpa do Tony.
  • Uma observação que não é spoiler, mas não coube a menção lá em cima. Ver os atores Peter Capaldi e Daniel Kaluuya aqui me surpreendeu bastante, de forma positiva. Adoro os dois.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Cassie
O jeito único de Cassie em se expressar fica na cabeça, com suas pequenas frases como “lovely” e “oh, wow”. Ela não é a personagem com mais tempo de tela na temporada, mas deixa sempre a sua marca.

Um sorriso para Samwell Tarly, de Game of Thrones

+ Melhor episódio: S01E06 (“Maxxie and Anwar”)
Eu fiquei em dúvida entre três episódios. Os dois últimos são muito bons. O 8 é talvez o mais dramático, enquanto o 9 fecha muito bem a temporada, deixando um ótimo gancho para a segunda. O 6, no entanto, é o mais diferente e fora da caixinha, e por isso eu optei por ele. Mas pode ser que amanhã eu tenha mudado de ideia.

Um dos meus sonhos era saber desenhar assim

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).