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AnáliseRicardo #15 – O Reinado abre novas portas no Planeta dos Macacos

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• As indefinições que atrapalham

Okay, eu tava indo para esse filme com o sentimento de que poderia dar muito ruim ou muito bom. Eu já fui vacinado com alguns filmes bem ruins pela franquia, mas eu tinha ganhado um hype muito grande por reassistir à nova trilogia.

É, eu só tinha me esquecido que o filme poderia ser simplesmente “bom”. Eu vou falar um pouco melhor disso agora nesse comentário sobre Planeta dos Macacos: O Reinado.

A verdade é que seria muito difícil montar uma nova base e manter a qualidade dos últimos dois longas. A questão é que para o Planeta dos Macacos não é tão complicado assim, pelo menos não criar essa base.

O primeiro longa, por não conseguir adaptar o livro da mesma forma narrativa, consegue passar a sua mensagem de uma forma memorável. Não à toa, o primeiro longa é cultuado até hoje.

Em 2001, por sua vez, o filme de Tim Burton não consegue explorar a história que serviu de base para o primeiro longa da saga, não com uma potência que nos chame a atenção como foi feito lá atrás.

Já em Planeta dos Macacos: A Origem, por mais que não seja uma adaptação de um texto literário, o filme traz novas perspectivas e possibilidades. Conversando com a atualidade para dar ao seu argumento principal mais força, o longa começa a exploração de uma nova trilogia de forma exemplar, eu acredito.

Aqui em Planeta dos Macacos: O Reinado, essa exploração de uma nova trilogia parece ser muito bem organizada.

Existem várias portas que foram abertas e outras que foram apenas apresentadas, mas como um todo, o filme traz um argumento bem forte e que eu acho que pode e deve ganhar força com o tempo, principalmente se uma trilogia resolver abordar a temática. Mas para falar sobre, eu vou esperar um pouquinho e me dedicar à parte técnica.

O diretor do longa é o Wes Ball. O trabalho mais conhecido dele está na trilogia de Maze Runner. Eu acredito que alguns “problemas” de Maze Runner acompanham o diretor até o filme de hoje.

O primeiro ponto negativo está na indefinição, tanto para dar um tom mais dramático quanto para deixar a aventura de forma mais épica.

Eu entendo, o filme decide transitar sobre o épico de um Reinado feito pelos macacos e uma história mais intimista do Noa. A questão é que ele começa nessa jornada do Noa e traz uma história secundária do Proximus e da Mae.

Os três macacos

Com isso, a jornada do que seria o protagonista, Noa vai perdendo espaço quando o conflito está entre os três. A questão do Proximus parece interessante, a Mae também, já a do Noa parece batida. Com isso, fica a sensação de que o filme é só mais um filme que a gente já sabe muito bem como vai acabar. Isso é inegável.

A questão é que essa aventura que tem sua jornada telegrafada tá apenas na primeira camada do longa e, para mim, o cinema ganha quando resolve explorar mais do que a superficialidade.

E em outras camadas nós temos muita história a ser dita.

Noa e sua jornada daria quase um filme de “coming of age”, apresentando para nós a descoberta e o amadurecimento que o protagonista teria de passar. É muito bom, eu curto demais esse tipo de filme, mas eu preciso admitir que não é tão interessante quanto a de Proximus e Mae, para mim.

Proximus entra na nossa equação como um líder religioso praticamente, distorcendo a “palavra” de Cesar para que quem conheça a história entenda suas motivações. Proximus admira tanto a raça humana que tá em busca do que pode ter dado poder o suficiente para o ser humano existir.

E isso vem com uma contradição gigantesca, não só porque esse líder quer acabar com a humanidade que o ameaça, mas nas próprias palavras dele, como o poder que ele estava atrás era capaz de ajudar a raça deles como ajudou a dos humanos, só que ele esquece que naquele planeta os humanos estão quase extintos.

Já a jornada da Mae é mais complexa ainda, mas o que me chamou mais atenção está no fato de ela buscar ainda mais do passado do que os mais antigos.

E isso não vem como uma busca pelo conhecimento, como tem na jornada do Noa, vem com uma busca de conservar o passado da forma que ele era. É uma forma bizarra, pelo menos no meu ponto de vista, de se viver, olhando para o passado como se ele fosse a solução. Olhar para o passado como se alguém falasse “naquele tempo era bom”, “tinha que voltar tal regime”.

E para mim, a mensagem final é bem simples, o que pode deixar em muitos a sensação de que o filme também é, mas o fato da Mae ter a chance de expandir o alcance de sua raça e decidir enviar uma mensagem para que os que estão nesse trabalho voltem, essa imagem contrasta com a do Noa que só buscava expandir os conhecimentos com que tinha entrado em contato, mas ele não tinha como fazer isso porque seus iguais não entendiam.

Por isso, enquanto os dois olham por um telescópio, ambos têm a mesma sensação de pequenez, de serem um pequeno ponto na vastidão do universo. Mas tem duas formas de ver isso, né? A de que isso é único e deve ser conservado ou a de que temos muitas coisas que podem ser exploradas.

É forte, é poderoso e, se não fossem as indecisões do longa, teríamos um dos melhores filmes da franquia aqui.

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).