Coleção Fincher, Crime, Drama, Ficção científica, Suspense/Thriller

LelecoFincher #01 a #04 – Os primeiros trabalhos de David Fincher (1992-1999)

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• Um currículo invejável

Desde que eu comecei a me apaixonar cada vez mais pelo cinema, passei a refletir sobre uma dúvida que tinha a respeito da minha própria opinião: quem é meu diretor favorito? Durante muitos anos, eu nem prestava atenção em quem dirigia, eu escolhia os filmes mais pelo elenco ou pela sinopse. Nos últimos meses, venho me interessando em conhecer os trabalhos de diretores famosos, e até fiz uma lista no meu caderninho contendo nomes como Martin Scorsese, Steven Spielberg e Stanley Kubrick. Entre os meus favoritos, três se destacam: Christopher Nolan, David Fincher e Quentin Tarantino. O Tarantino já ganhou uma Coleção aqui no blog com críticas de todos os filmes dele, e eu também já escrevi sobre a Trilogia do Batman e Oppenheimer, dirigidos pelo Nolan. Agora, é hora de analisar a filmografia completa do Fincher. Como são 12 filmes até hoje, vou dividir esse especial em três publicações diferentes. E podem ficar tranquilos, não vou escrever spoilers aqui, então quem quiser pode utilizar isso como um guia de recomendações.

 

Alien 3 – Começando com o pé esquerdo

É engraçado escrever sobre esse filme, sabem por quê? Porque, no momento em que comecei a redigir essa crítica, eu havia acabado de terminar uma outra resenha sobre o mesmo filme, que eu publiquei primeiro na postagem da Quadrilogia Alien. De qualquer forma, como esse é o primeiro longa-metragem de David Fincher, obviamente eu teria de falar dele, então vamos lá.

É injusto colocar esse peso de primeiro filme de David Fincher em Alien 3. Pra quem não conhece os bastidores dessa bomba, a produção foi cercada de polêmicas, controvérsias, roteiro sendo reescritos dezenas de vezes e atores gravando cenas e descobrindo no dia seguinte que elas tinham sido cortadas. Em resumo, a 20th Century Fox interferiu constantemente na produção, achando que o diretor novato aceitaria todas as demandas. Porém, já naquela época, Fincher demonstrou ser um cara que acreditava na importância da própria visão em um trabalho, e as exigências do estúdio se chocaram com a personalidade intrépida do diretor.

O resultado é um filme confuso e dispensável. Como base de comparação, Alien – O Oitavo Passageiro é um verdadeiro clássico, e Aliens – O Resgate consegue ter uma base ainda melhor. Aliens 3 estraga tudo que havia sido construído até então, aparecendo como um patinho feio em uma saga que tinha tido dois capítulos de estreia muito bons. Se analisarmos o filme apenas como filme, desvinculando-o da franquia, ainda assim a direção de arte possui inspiração mínima, a trama é genérica, os personagens são sem graça e até as cenas de ação são esquecíveis.

David Fincher considerou a ideia de desistir de ser diretor por causa desse desastre, que tinha tudo pra enterrar sua carreira. A sorte dele – e de todos nós – é que ele recebeu uma nova proposta de trabalhar em um filme chamado Seven. E o resto é história.

Pelo menos o pôster é legal

Se7en – Os Sete Crimes Capitais – Dentro da caixa

Ao lado de Clube da LutaSeven é provavelmente o filme mais referenciado de David Fincher. O elenco capitaneado por Morgan Freeman e Brad Pitt já seria interessante por si só, mas a premissa consegue ser ainda mais impactante do que o elenco.

Em uma cidade grande dos EUA, provavelmente Nova York, um detetive está perto de se aposentar. Em paralelo, um outro detetive mais jovem e enérgico aparece para iniciar a carreira em uma metrópole, após deixar o interior do país. O que tinha tudo pra ser uma semana tranquila de transição ganha novos contornos quando surge a ameaça de um serial killer que mata as suas vítimas tendo como base os sete pecados capitais.

Eu gosto muito de Seven, mas acho que ele funciona bem mais na primeira assistida. Quando eu vi pela primeira vez, fiquei impressionado, principalmente por conta do memorável desfecho. Eu sigo concordando que o final deste filme é um dos mais icônicos de todo o cinema. Porém, como se trata de uma reviravolta, a história perde uma fração importante de seu poder em uma eventual revisita. Alguns filmes são tão bons na primeira quanto na vigésima sessão, como é o caso da trilogia De Volta Para o Futuro. Em Seven, é justamente o contrário.

Contudo, julgando a obra pelo que ela é, David Fincher deu uma baita de uma volta por cima após o desastre de Alien 3. Tudo funciona em seu segundo longa-metragem. Interpretações: check. Personagens bem construídos: check. Ambientação noir cuidadosa: check. Um enredo viciante e provocador: check. Ótimas sequências de ação e tensão: check. Resumindo, Seven é praticamente o manual de como fazer um bom filme de crime e mistério. Ele faz tudo certinho e está marcado pra sempre na cultura pop. Não acho que esteja no Top 3 do Fincher, mas aqui o diretor mostrou de vez o potencial que tinha pra mostrar.

O filme que é um pecado não assistir!

Vidas em Jogo – O jogo dentro do jogo dentro do jogo

Quando falamos de David Fincher, dificilmente Vidas em Jogo vai ser a primeira recomendação. Por isso, nunca dei muita bola pra este filme estrelado por Michael Douglas. Eu sequer sabia sobre o que se tratava, e nunca me importei o suficiente pra ir atrás.

Pois bem, a trama gira em torno de Nicholas Van Orton, um investidor milionário vivendo uma vida monótona até que seu irmão propõe que ele contrate uma empresa misteriosa, que promete criar jogos específicos, personalizados para cada pessoa e envolvendo a vida real delas. O que começa intrigante rapidamente passa a ficar perigoso.

Vidas em Jogo demora alguns minutos pra engatar. A princípio, a gente é colocado na pele do protagonista. Embora ele viva uma vida luxuosa em que pode ter praticamente tudo do mundo material, tal perspectiva o tornou alienado da sociedade, isolando-o em sua própria bolha e tratando a todos com indiferença. O primeiro ato é construído desta forma, fazendo-nos sentir essa indiferença e desinteresse pelo que está sendo retratado. Tal estratégia ajuda a deixar o restante da história mais poderoso, tendo em vista que, à medida que a vida de Nicholas começa a ficar mais agitada, vamos ficando agitados juntos.

O enredo muda tanto de direção que eu fiquei sem saber exatamente como o filme acabaria, embora tivesse palpites. Os desdobramentos, ainda que sejam grandes trunfos, acabam jogando contra a partir do momento em que o próprio filme começa a elevar as expectativas até demais. O roteiro parece fazer tanta força pra nos surpreender que o resultado final fica um pouco aquém, pois chega um ponto em que bate um certo cansaço. Ainda assim, é um ótimo filme que, pelo fato de ser pouco mencionado, talvez seja o mais subestimado de Fincher.

It: A Coisa (2017)

Clube da Luta – Capitalismo e masculinidade

Talvez Clube da Luta seja o filme mais icônico da carreira de David Fincher até hoje. Quem nunca ouviu a frase “a primeira regra do Clube da Luta é não falar sobre o Clube da Luta”? O diretor reedita a parceria que fez com Brad Pitt em Seven, colocando Edward Norton no papel do protagonista e Helena Bonham Carter completando o trio principal.

Um homem que sofre de insônia e não aguenta mais a sua rotina de trabalho faz de tudo pra conseguir dormir e dar um sentido à própria vida, até que vê a sua trajetória pessoal virar de cabeça pra baixo quando conhece Tyler Durden. Juntos, eles formam um clube que consiste em lutas clandestinas sem ter a vitória como o objetivo, e sim o processo de autodestruição. Porém, a proposta de Tyler começa a ficar maior e mais arriscada do que o esperado.

Clube da Luta é um clássico com C maiúsculo. Frases icônicas, personagens memoráveis, uma trilha sonora de respeito e um estilo característico que dão um senso de identidade indiscutível. Muitas vezes, o filme é definido principalmente por sua reviravolta – uma das mais icônicas da história da sétima arte, assim como o desfecho de Seven -, mas, além disso, ele trabalha muito bem suas tramas, desde as críticas ao capitalismo até a exposição da noção de masculinidade. É um filme que hoje pode não ser mais tão singular quanto na época em que foi lançado, mas dá pra entender perfeitamente por que caiu tanto no gosto do público e da crítica.

Quando eu assisti pela primeira vez, tive a certeza de que Clube da Luta era um dos melhores filmes já feitos pela humanidade. Vendo em 2024, pela segunda vez, aos 25 anos de idade, não senti o mesmo impacto. Sim, é um excelente filme, com boas atuações e um enredo bem amarradinho. Contudo, algumas das críticas me soaram genéricas demais, como se o roteiro quisesse ser mais inteligente do que realmente é, e o longa perde força quando se entrega de vez à anarquia em detrimento da jornada pessoal do protagonista. No final das contas, é um filme que justifica o seu hype e colocou David Fincher de vez no radar do cinema, mas envelheceu ligeiramente pior do que as suas outras duas obras antecessoras, Seven Vidas em Jogo.

fincher clube da luta
Um ex-membro da X-Force e um ex-membro dos Vingadores

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).