• Não me diga (quase) nada
De modo algum, a minha intenção neste texto é dizer o que você deve ou não fazer enquanto cinéfilo. Ninguém tem o direito de ditar comportamentos na arte. Estou escrevendo este artigo mais com a intenção de expor algo pessoal que vem acontecendo comigo em relação a filmes, assim como fiz no meu texto anterior em que falei sobre por que eu decidi parar de ir ao cinema, e levantar uma discussão que não vejo ser muito abordada por cinéfilos.
Expectativas são inimigas da apreciação
Ok, talvez você me ache um pouco fresco pelo que estou prestes a dizer, mas eu tenho plena consciência de que sou mesmo. Não gosto de absolutamente nada que possa interferir na minha experiência audiovisual. Não gosto de conversas durante o filme, telas diante do meu rosto ou assentos desconfortáveis, o que considero algo normal. Porém, as coisas vão um pouco mais além.
Pode ser que isso seja um tiro no pé, porque eu trabalho com críticas, mas não posso mentir pra vocês: não gosto de ler ou assistir a resenhas de filmes que eu ainda não vi, mesmo aquelas dos meus críticos favoritos. Não gosto de ouvir opiniões nem dos meus amigos sobre novos lançamentos antes de formular a minha própria opinião. No máximo, tolero escutar se um filme é bom ou não. Mais do que isso, já começo a ficar incomodado. Por quê? Bom, porque as expectativas são as maiores inimigas da apreciação.
Se eu vou assistir a um filme com a ideia na minha cabeça de que ele é um dos melhores do ano, não vou aceitar qualquer coisinha. Por isso, mesmo que ele seja bom, mas não tão bom quanto eu pensava, a minha opinião acerca dele talvez tenha um quê de negatividade que poderia ser evitado se eu estivesse com as expectativas mais baixas.
E o contrário? O contrário joga muito a favor. Se eu vou assistir a um filme sem nenhuma ideia concreta na cabeça, terei a certeza de que, caso eu não goste, será pura e simplesmente porque o filme não me agradou, e não por causa de aspectos externos. Em resumo, o melhor jeito de atender às expectativas é não ter expectativa alguma.
Sinopses e trailers fazem parte disso?
É óbvio que eu reconheço a importância das sinopses e trailers pra que o público tenha uma noção do que tá vindo pela frente. Marketing é a alma de todo negócio. Se você não vender o seu filme, ninguém comprará ingressos para assisti-lo. E, verdade seja dita, eu sempre gostei muito de trailers, mas tô deixando cada vez mais de vê-los porque estão ficando maiores e mais reveladores. É como se a gente visse um resumo do filme em questão, em vez de uma prévia.
Por isso, gosto de unir o melhor dos dois mundos. Quando eu tô no cinema, costumo ver os trailers e só desvio o olhar quando eles começam a ficar esticados demais. No dia a dia, só assisto aos trailers de filmes que são praticamente impossíveis de evitar, mas só até certo ponto.
O maior exemplo recente disso foi Deadpool & Wolverine. Eu vi o primeiro trailer porque estava todo mundo falando a respeito e também porque eu senti curiosidade. Depois disso, não consumi mais nenhum conteúdo de divulgação – não de propósito, pelo menos. Tem coisas que fogem ao nosso controle, principalmente se estamos em uma bolha muito específica de cinema.
E quanto às sinopses? A lógica é a mesma dos trailers. Em geral, parei de ler porque muitas tendem até a ser meio enganosas. Se for pra saber o que me espera em um filme antes de assisti-lo, prefiro ler sinopses curtas, diretas e um pouco vagas, pra dar espaço pra imaginação trabalhar. É isso que faço quando escrevo as minhas sinopses: tento sempre encontrar o equilíbrio entre chamar a atenção do leitor pro filme e não entregar demais a trama.
Mas então, como saber qual filme assistir?
Por incrível que pareça, sinopses e trailers não são as únicas maneiras de saber o que assistir. No meu caso, eu gosto de zapear por plataformas de streaming, me basear por indicações de conhecidos, ver as capas dos filmes, checar quem tá por trás da direção, quem faz parte do elenco, qual o gênero e também acho pertinente olhar avaliações em determinados sites de críticas. Se todos eles estão dizendo que não presta, eu dificilmente vou dar uma chance, a não ser em situações bem específicas. A vida é muito curta pra ficar gastando tempo com filmes ruins, embora isso seja bastante relativo.
Por exemplo, vamos supor que eu esteja com vontade de ver um filme de ação. A primeira coisa que faço, se já não estiver com algum título em mente, é abrir diferentes plataformas de streaming e ficar olhando as capas na seção de ação. Se eu vejo a cara do Jason Statham, já sei exatamente que tipo de filme será. Se for o rosto de Keanu Reeves, é outro estilo. Da mesma forma, se for dirigido pelo Michael Bay, é uma coisa. Se a direção for de George Miller, é outra bem diferente.
É claro que isso demanda um certo conhecimento de cinema, mas não digo isso de maneira pedante. Quanto mais filmes você assistir, é natural que comece a aprender os nomes de diretores e atores. E, quanto mais você consome de um gênero específico, saberá melhor captar essas nuances que eu mencionei.
Caso eu ainda assim esteja em dúvida se assisto algo, aí dá pra recorrer a sites como letterboxd e IMDb. Não gosto tanto assim do Rotten Tomatoes. Como eu pincelei no meu artigo O grande problema da avaliação por notas, as avaliações não são uma garantia de que algo vale a pena ou não, mas são uma ferramenta bacana se você souber onde procurar.
E você, o que acha disso tudo? Gosta de ver trailers e ler sinopses e avaliações antes de assistir a algum filme, e acha que eu tô louco por não fazer essas coisas? Ou você concorda com a minha linha de pensamento? Qualquer opinião é válida quando o assunto é arte, não se esqueçam disso!
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Luiz Felipe Mendes
Criador do Pitacos do Leleco e crítico de maior autoridade no mundo do cinema