Drama, Séries

Six Feet Under: 3ª Temporada (2003)

six feet under 3

• Todos os tipos de amor

Quem acompanha fielmente o magnífico site Pitacos do Leleco (ou seja, praticamente ninguém) sabe que nas minhas críticas eu normalmente faço um texto sem spoilers e reservo uma seção específica, lá embaixo, pra falar sobre o que aconteceu de maneira livre e desimpedida. Farei a mesma coisa neste pitaco da 3ª temporada de Six Feet Under, com uma única diferença: vou precisar abordar o que ocorre no primeiro episódio, porque senão vai ficar muito difícil de escrever a respeito de todo o conjunto. Portanto, estejam avisados!

 

Sinopse

A família Fisher passa por uma verdadeira provação após a cirurgia de Nate, mas as coisas dão certo. Com a saúde plenamente reestabelecida, Nate coloca a vida nos eixos e, alguns meses depois, está desempenhando as funções de pai e marido. Enquanto isso, Claire entra em uma escola de artes, David passa por problemas no relacionamento com Keith, Ruth segue buscando por alguma companhia definitiva e Rico, agora sócio da funerária, precisa lidar com os problemas emocionais da esposa, Vanessa.

Freud explica

Crítica

Depois de finalizar a temporada anterior com um dos cliffhangers mais provocativos que eu já vi, Six Feet Under brinca com seu espectador durante todo o primeiro episódio. Se você buscava por respostas rápidas logo nos minutos iniciais, pode ir tirando o cavalinho da chuva. A série resolve dar uma de Ronaldinho Gaúcho e sai driblando por todos os lados, deixando-nos com uma incerteza cada vez maior do que de fato aconteceu na cirurgia de Nate.

Antes de pensarmos nas respostas, o aspecto mais evidente da 3ª temporada de Six Feet Under é a mudança no formato da tela, saindo do 4:3 (quadrado) e partindo para o 16:9 (retangular), com o qual estamos mais acostumados. No começo, foi até engraçado ver a cara do pessoal com uma maior profundidade, mas logo isso se transforma em detalhe e os olhos se voltam pra narrativa. Apesar de continuar com os méritos de sempre, é neste ponto que a série escorrega.

Desde a 1ª temporada, Six Feet Under demonstrou ser uma série que não tem pressa de desenvolver as suas histórias. Embora alguns possam considerar o estilo meio lento demais, eu nunca me incomodei muito com isso e sempre gostei do comprometimento dos roteiristas em destrinchar os seus personagens sob todos os ângulos. O grande problema da 3ª temporada não é o ritmo. A questão é que algumas histórias não são tão boas assim e se esticam demais, tirando espaço de outras que tinham muito mais potencial.

Vamos começar pelo início. Acredito que não falo só por mim quando digo que os fãs gostariam de ter visto o que aconteceu com os Fisher logo após a cirurgia bem-sucedida de Nate. Como foram os primeiros dias? Como a família reagiu à notícia positiva? Como foi a aproximação de Nate com Lisa e a decisão de criar a pequena Maya junto a ela? Eu não sou contra saltos temporais, mas acho que poderiam ter pelo menos mostrado um pouco mais antes de avançar meses.

Ao contrário das duas primeiras temporadas, os personagens não se destacam tanto individualmente e se resumiram a propostas bem específicas, com algo em comum: todos eles estão mergulhados em relacionamentos. Nesta temporada, não há Nate sem Lisa e David sem Keith, o que diminui bastante a identidade própria de cada um. É claro que essas relações fazem parte deles, mas a série apostou quase a temporada inteira nessas dinâmicas, tornando as coisas um pouco enjoativas. Também considero que a Ruth foi meio sabotada a partir do momento em que um novo personagem, Arthur, entrou em cena. Não que ele seja chato, pelo contrário. Só acho que o arco deles foi chatinho pra caramba.

Apesar dos pesares, Six Feet Under ainda é recheada de genialidade em sua 3ª temporada. Os diálogos permanecem irretocáveis, as atuações estão na medida e eu acho impressionante como a série consegue passear por tantos temas diferentes com naturalidade e profundidade, entregando incontáveis momentos marcantes e cenas belíssimas.

Battlestar Galactica

Veredito

A pior temporada de Six Feet Under até agora é de alto nível, o que prova o quanto esta série é bem escrita, dirigida e atuada. As histórias oscilam de qualidade ao longo dos episódios e alguns personagens principais, sobretudo Nate e David, ficam resumidos aos seus respectivos cônjuges. Por outro lado, temos a temporada mais fúnebre de uma série sobre funerais, com tramas pesadas e maduras, um roteiro que mais acerta do que erra e atores que conhecem quem estão representando como a palma de suas mãos.

Crápula de marca maior

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

+ Melhor personagem: Claire Fisher (menção honrosa a Ruth)
Eu já falei durante o texto que David e Nate, os dois melhores personagens das temporadas anteriores, perderam um pouco de força aqui. O contrário aconteceu com as personagens femininas, principalmente Claire e Ruth. Se eu levasse em conta apenas o início e o final da temporada, a Ruth ficaria com o prêmio. Mas, no miolo, ela foi prejudicada por um arco desinteressante e considero que a Claire foi mais regular e quem mais me deu a impressão de que evoluiu ao longo dos capítulos.

As duas melhores da temporada

+ Melhor episódio: S03E04 (“Nobody Sleeps”)
Sim, eu sei que o primeiro e o último episódios da temporada são os mais impactantes e tal, mas eu gostei bastante do quarto por ter um clima muito diferente do que costumamos ver em Six Feet Under. É como respirar fundo depois de um longo mergulho.

E pensar que eles formavam meu prospecto favorito de casal na 1ª temporada…

+ Maior evolução: Brenda Chenowith
Você pode até odiar a Brenda, mas é inegável o quanto ela faz falta em Six Feet Under. A personagem demora a aparecer nesta 3ª temporada, e eu não conseguia afastar a sensação de que havia algo faltando. O seu retorno preencheu o vazio e gostei de como a história a desvinculou de Nate e lhe deu um novo propósito.

Será que o problema deles era só a Brenda?

+ Maior surpresa: Bettina
Cara, eu queria MUITO ter visto mais da Bettina. A relação dela com a Ruth vinha sendo uma das melhores coisas de toda a 3ª temporada, e fiquei muito triste quando a personagem sumiu da metade pra frente. Kathy Bates tá excelente no papel e, mesmo com pouco tempo de tela, causou um impacto absurdo (e ainda dirigiu alguns episódios).

No shopping com a amiga

 

>> 1ª Temporada de Six Feet Under

>> 2ª Temporada de Six Feet Under

 

OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO

 

  • Mano, eu realmente pensava que o Nate tinha morrido e passaria a ocupar o lugar do pai como a “voz do além”, com quem todos os personagens interagem. A cada minuto do primeiro episódio, eu tinha uma certeza maior de que aquilo tudo era uma versão alternativa dos fatos, mas eu estava errado.
  • Vamos aos arcos chatos da temporada: Lisa e sua chefe Carol (meu Deus, que tédio), romance da Ruth com o Arthur (não questiono a existência desse núcleo, mas demorou demais a acabar) e discussões entre David e Keith (no começo, eu gostei de como mostraram que as pessoas mudam quando estão dentro do relacionamento, e algumas dinâmicas foram engraçadas, como no episódio do paintball, mas eu não aguentava mais esse lenga-lenga lá pro final da temporada).
  • Só pra complementar a parte ali da Ruth com o Arthur. O que me deixou meio assim foi que a temporada focou nessa parte durante vários episódios, e a paixão dela pelo George, que culminou simplesmente em um casamento, foi porcamente desenvolvida. Ela de repente abraçou o cara logo após conhecê-lo e, no episódio seguinte, estava namorando e se declarando. Acho que poderiam ter balanceado isso melhor, nem deu tempo da gente se apegar ou pelo menos ter algum sentimento por ele, tanto positivo quanto negativo.
  • Ah, vou explicar um pouquinho sobre o título que dei pro pitaco. Como eu disse nas outras partes do texto, relacionamentos são o grande tema desta temporada. Mas o destaque foi pra como cada um deles tinha uma dinâmica distinta. Temos o relacionamento por conveniência (Nate e Lisa), relacionamento por conformismo (David e Keith), relacionamento por carência (Ruth e Arthur), relacionamento abusivo (Olivier e qualquer um), relacionamento por identificação (Claire e Russell) e ainda temos o relacionamento entre Rico e Vanessa, que eu não sei bem como catalogar. E isso só pra falar dos relacionamentos amorosos. Também tivemos vários outros tipos de amor, como a amizade de Ruth e Bettina, além do sentimento direcionado a Maya pela Lisa e por toda a família Fisher.
  • É uma pena que reduziram o casal Rico e Vanessa a mais uma história de traição, porque estava bem interessante ver como o marido lidava com a depressão da esposa. Acho que ele estava tendo uma curva de crescimento interessante, mas aí entrou a cunhada na jogada e o arco ficou bem menos original. Eu gostava do fato de que o Rico era otário em vários sentidos, mas sempre havia sido fiel à Vanessa. Acho que isso adicionou uma camada desnecessária ao personagem. E bicho, quem nunca traiu nesta série foi só a Claire, pelo visto, né?
  • Eu adoro quando a série dá um “bait” nas mortes dos começos dos episódios, como naquele em que tem um cara com um fósforo diante do fogão, todo desatento, e na verdade quem morre é um monte de gente metralhada no trabalho por um atirador. E aquela do último episódio, com o efeito borboleta, me deu um baita susto.
  • Acredito que a melhor coisa pra Claire seria ficar solteira por um tempo, sinceramente. Vai ter dedo podre assim lá longe. E mano, que raiva daquele professor pretensioso. Deu vontade de entrar na televisão e dar um soco nele e naquele sorriso zombeteiro e com ar de superioridade.
  • Billy confessou estar apaixonado pela Brenda, o que surpreendeu um total de zero pessoas. Quem não esperava por aquela, hein? E bicho, que família esquisita a deles. Brenda tem mais é que se distanciar mesmo, quem sabe consegue se libertar de agora pra frente. O problema é que o Nate foi lá bater à porta dela após a morte da Lisa. Não sei se seria uma boa ideia eles voltarem.
  • Que loucura essa morte da Lisa, inclusive, realmente não esperava por aquilo. Eu não era o maior fã da personagem, que eu achava meio sem graça e ainda peguei ranço depois de ela falar que não queria vacinar a Maya. Ainda assim, foi triste tudo que aconteceu. Como será que ela morreu, no final das contas?

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).