• Envelheceu como leite
Todo mundo sabe que Gladiador é um clássico que moldou uma geração e, convenhamos, é o tipo de filme que nunca desaparece das listas de favoritos. Mas, será que, vinte e tantos anos depois, ele realmente sobreviveu ao tempo? É isso que a gente vai descobrir agora, e vou te falar, a resposta não é tão simples quanto parece.
Olha, eu tenho um problema com histórias que exageram no melodrama, que tentam forçar emoção, mas, ao mesmo tempo, eu adoro esses épicos de época. São filmes que me transportam para mundos grandiosos, cheios de glória, batalhas e vingança. E Gladiador entregou isso de um jeito marcante quando estreou lá no início dos anos 2000.
Eu confesso, demorei pra revisitar Gladiador, principalmente depois de ver O Último Duelo, do mesmo Ridley Scott. Em O Último Duelo, as cenas de ação são memoráveis, tudo parece muito mais… polido. Então, quando voltei a Gladiador, tava pronto pra sentir aquele baque da nostalgia meio azeda.
Logo de cara, o problema com Gladiador é que ele brinca demais com a história. A jornada do Maximus é moldada com todos os clichês possíveis do herói norte-americano: o cara humilde, com uma fazenda e uma família, que perde tudo e precisa buscar vingança.
Quer um exemplo disso? Eu te trago essa fala:
“Meu nome é Maximo Decimo Meridio, comandante dos exércitos do norte, general das Legiões Félix… servo leal do verdadeiro Imperador, Marcus Aurelius. Pai de um filho assassinado, marido de uma esposa assassinada. E terei minha vingança, nesta vida ou na próxima.”
A gente tá falando de uma história ambientada na Itália, na origem do gênero peplum, mas que abraça uma jornada do herói com uma pitada de faroeste moderno. Isso até me lembra o que Scott tentou fazer em Napoleão, que também tem sua cota de liberdades criativas, só que lá ele ainda tentou se vender como um retrato fiel da história. Em Gladiador, essa parte ficcional é escancarada.
Falando da direção, Ridley Scott soube usar algumas técnicas pra mascarar as falhas do roteiro. A direção de arte e a escala das cenas de batalha ainda impressionam. Mas, com o tempo, o estilo visual perdeu o frescor. O uso da câmera lenta com um frame rate mais baixo, que antes soava inovador, agora me parece mais um truque.
É como se Scott estivesse mais focado no efeito visual do que na fluidez da ação. Em cenas de combate, o uso da câmera tremida em frame baixo até chega a cansar. Hoje em dia, com toda a tecnologia e fluidez que temos, esses momentos realmente acabam datando o filme.
Mas, olha, não tô dizendo que Gladiador não tenha seus pontos fortes. O carisma de Russell Crowe é um desses pontos. Ele enche a tela, tem uma presença tão magnética que a gente compra fácil a jornada do Maximus, mesmo quando o roteiro enfraquece. É aquela força bruta de atuação que segura a gente na poltrona.
Agora, o vilão. Joaquin Phoenix é um grande ator, mas aqui, como Cômodo, ele não parece ter a intensidade insana que o personagem exigia. Um cara que mudou o nome de Roma pra Colônia Commodiana merecia uma representação mais… potente. Phoenix cumpre o papel, mas nunca chega a ser uma ameaça à altura de Maximus, o que diminui o impacto da vingança.
No entanto, eu não apontaria só para a atuação do Joaquin Phoenix. O roteiro, que se inicia muito bem, não consegue manter o bom nível no decorrer do longa. A vingança é sempre uma boa motivação para esses filmes épicos, principalmente para personagens que estão prestes a fazer uma revolução. O problema é que não se faz uma revolução sozinho, o que implica em ter seus personagens secundários relevantes. Aqui, isso é um problema.
Proximus, Juba e Hagen sofrem com suas jornadas, parecendo um NPC que quando não chegamos perto dele, eles ficaram parados sem fazer nada. O único que ainda faz algo é Cícero, vivido pelo Tommy Flanagan, dos que estariam para servir a jornada de Maximus.
Por outro lado, a parte técnica merece aplausos. A trilha sonora de Hans Zimmer continua icônica, aquele leitmotiv que inspiraria futuras trilhas de aventuras, como em Piratas do Caribe. Ela traz essa atmosfera épica, faz você entrar no clima das batalhas, enquanto a edição e mixagem de som realmente te transportam pra arena.
O som das espadas, o rugido da multidão… É um trabalho técnico que, mesmo depois de tantos anos, consegue te envolver.
No fim das contas, Gladiador é um bom filme, mas não chega a ser esse monumento cinematográfico que alguns consideram. Ridley Scott olhou pra trás, tentando homenagear os épicos de Hollywood, mas acabou tropeçando nos próprios clichês, que já estavam desgastados naquela época.
Ainda assim, ele marcou muita gente, e, apesar dos problemas, é um filme que sempre vai ter seu espaço na cultura pop. Mas, nessa minha última assistida, eu senti o peso dos anos. Gladiador me fez querer buscar um cinema que se preocupasse mais com a história, com os personagens e com uma narrativa que realmente me prendesse.
Bom, é isso. Gladiador marcou época, mas, pelo menos pra mim, envelheceu com algumas rugas.
Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema
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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e não necessariamente está alinhado às ideias dele.