• Investigação do medo
Eu acho muito legal a ideia de séries antológicas, que compartilham um único tema. American Horror Story e True Detective são os principais exemplos que me vêm à mente, mas agora posso adicionar Them a essa mesma lista. Depois de uma 1ª temporada muito interessante e recheada de bons elementos, a 2ª possui um rosto conhecido, um assunto em comum e a manutenção do gênero de terror. Fora isso, tudo é bastante diferente.
Sinopse
Los Angeles, 1991. Dawn Reeve é uma detetive que se depara com um homicídio bizarro. Enquanto investiga o caso, percebe que há muito mais ali do que aparenta – um serial killer pode estar nas redondezas. Em paralelo, Edmund Gaines trabalha como animador em uma loja de brinquedos, mas quer realizar o sonho de se tornar um ator profissional e bem-sucedido.
Crítica
Se você não sabe o que é uma série antológica, não tem muito segredo: é aquela que possui uma história diferente a cada temporada, e pode ser com o mesmo elenco ou não. Na 1ª temporada de Them, pra quem não se lembra, acompanhamos a adaptação da família Emory a uma nova vizinhança. Aqui, a pegada é diferente.
Na história anterior, o gênero de terror se manifestava a partir do racismo. Todos os personagens sofriam com essa questão, e o horror da série se sustentava a partir disso. Na 2ª temporada, a dinâmica muda. Em vez do racismo ser o fio condutor quase que exclusivo, ele surge mais como uma espécie de contexto. O roteiro opta por diversificar os seus assuntos, trabalhando temas como abuso infantil e experiências traumáticas – não que a temporada anterior não tivesse abordado assuntos distintos, mas nesta nem sempre o racismo é o principal motivador.
Outra diferença importante de uma temporada pra outra tá na narrativa. Em seu 2° ano, Them passa a pertencer tanto ao gênero de mistério quanto ao de terror. Nós somos convidados a investigar os crimes cometidos em Los Angeles ao lado de Dawn, com o suspense pairando no ar a todo momento. O drama também tá presente, é claro, mas eu não diria que é o estilo primário.
A 2ª temporada de Them é muito competente em sua proposta, e muito disso passa pela trilha sonora. Cara, a gente às vezes não percebe o quanto a música pode ser importante na construção de um clima. Sobretudo no terror, em que executar a sensação de medo é uma tarefa muito difícil. Aqui, temos uma direção que o tempo todo nos impele a imaginar que algo ruim tá prestes a acontecer. Além disso, poucas séries me deixaram tão desconfortável assim. Eu fico com uma sensação inquietante de agonia, é impressionante.
Na comparação com a 1ª temporada, a 2ª possivelmente tem um enredo melhor e mais bem contado. Por outro lado, há menos personagens memoráveis. Com exceção de Dawn e Edmund, os demais são pouco desenvolvidos. A série tinha em mãos a veterana atriz Pam Grier, de Jackie Brown, responsável por interpretar a mãe de Dawn, mas acredito que poderiam tê-la aproveitado melhor. Jeremy Bobb interpreta um vilão convincente, mas genérico, e Joshua J. Williams, que interpreta o filho de Dawn, apresenta um personagem de background interessante, mas que também não atinge todo o seu potencial.
Um outro fator que joga contra a 2ª temporada, pelo menos na minha experiência, tem a ver com a reta final. Não que ela seja ruim, longe disso. Mas eu me senti bem mais engajado quando o suspense ainda pairava no ar do que quando as respostas começaram a ser reveladas. Não sei se a falta de respostas teria funcionado melhor, mas fiquei com esse sentimento.
Veredito
Eu não costumo assistir a muitas séries de terror. Se eu ignorar as minisséries, acho que, deste gênero, só vi American Horror Story, Penny Dreadful, Scream e Diário de Horrores. Entre elas, definitivamente Them é a mais constante – pelo menos até agora. Em sua 2ª temporada, a série mantém a sua base, mas se reinventa através de um novo cenário, uma ambientação diferente e uma trama original. A temática racial permanece e serve como alicerce, mas o roteiro vai além e entrega uma história investigativa angustiante, bem estruturada e com narrativa bastante inspirada.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
+ Melhor personagem: Dawn Reeve
Assim como na 1ª temporada, Deborah Ayorinde dá vida à personagem de maior destaque. Dawn possui uma personalidade bem diferente de Livia Emory, mas a atriz volta a ocupar o principal espaço nos holofotes. Edmund Gaines, do ator Luke James, também tem os seus momentos.
+ Melhor episódio: S02E01 (“Are You Scared?”)
Eu gosto mais dos primeiros do que dos últimos episódios da 2ª temporada de Them, e grande parte disso tem a ver com a excelente construção inicial do panorama de terror.
OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO
- Eu já estava ficando louco de curiosidade pra descobrir como diabos o Edmund se encaixava na história da Dawn. Não demorei a perceber que eles não estavam na mesma época e até pensei que ele poderia ter algum laço familiar com ela, mas não cheguei a pensar na possibilidade de ser irmão. Se ele não tivesse matado uma pessoa inocente, eu teria sentido muita pena do cara. Eu senti um pouco, mas quando aquelas esquisitices de fingir ser um serial killer o transformaram em um de fato, meio que passou dos limites, né.
- Na minha crítica da 1ª temporada, eu falei um pouco da influência do diretor Jordan Peele, especialmente com Nós, em Them. Na 2ª, toca a música Fuck The Police, assim como naquele filme. Sei que não é uma canção desconhecida, mas não acho que tenha sido mera coincidência.
- Mano, que aflição daquela cena em que a Dawn segue o McKinney e um monte de caras estranhos começam a cercá-la. Eu jurei que daria uma merda federal naquela hora.
- Assim como na 1ª temporada, um dos únicos personagens não-negros em quem a protagonista pode confiar também pertence a uma minoria. Tô falando do policial Diaz, que vira parceiro da Dawn. Inclusive, imaginei que ele morreria nas mãos do McKinney, mas acabou que ele sobreviveu e a Dawn atirou no McKinney. Bem feito.
- No momento em que o Kel declarou que alguém iria morrer naquela noite, ficou bem óbvio que seria a Athena. Gostei de pelo menos ela dando um soco na cara do Homem Ruivo antes de partir desta pra melhor.
- Ok, vamos falar da grande reviravolta da temporada. Não é possível que alguém imaginava que a Dawn seria filha da Ruby e que o fato de ser a mesma atriz da Livia não era mera coincidência. Fiquei em choque quando isso foi revelado, e ainda mais quando aquele cara de blackface apareceu pra assombrá-la. Mas confesso que achei o finalzinho meio anticlimático. O que aconteceu com a Dawn depois daquilo? Será que teremos uma 3ª temporada?
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?