Coleção Tarantino, Crime

LelecoTarantino #03 – Jackie Brown (1997)

• Caloteira profissional

Até não muito tempo atrás, eu nem sabia da existência deste filme. Todo mundo sempre falou muito de Kill BillBastardos Inglórios Django Livre, mas ninguém mencionava Jackie Brown. Eu tava tão desacostumado com o título que fiz confusão na maratona e assisti antes de Pulp Fiction, jurando que era mais antigo e por isso não tão lembrado. Na hora de fazer a crítica, obviamente fiz na ordem certa pra cronologia ficar bonitinha, né. De qualquer forma, chega de papo furado e vamo mergulhar dentro do terceiro projeto dirigido por Quentin Tarantino.

 

Sinopse

Jackie Brown é uma aeromoça de índole duvidosa. Ordell Robbie é um bandido viciado em armas e prestes a pendurar as chuteiras. Louis Gara é outro criminoso, recém-saído da prisão e meio enferrujado. Melanie Ralston é a garota surfista, uma das tantas amantes de Ordell. Max Cherry é o dono de um escritório de fianças, se é que esse é o termo correto. Ray Nicolette e Mark Dargus são dois agentes da lei doidinhos pra botar Ordell atrás das grades. Todos esses sete personagens (principalmente os seis listados primeiro) encabeçam a trama, com as histórias entrelaçando entre si. O ponto principal do enredo circunda uma operação na qual Ordell busca receber 500 mil doletas de seus negócios no exterior. Porém, conseguir a grana pode não ser tão fácil, já que tem muita gente querendo ferrar de vez com o cara ou simplesmente pegar o dinheiro pra si.

Eu e meus amigos nas férias

Crítica

Jackie Brown é o mais deslocado de todos os filmes do Tarantino que vi até hoje. Em diversos momentos, eu realmente me esqueci de que se tratava de algo de sua autoria. O sangue e a violência estão discretos, sendo que ambos são uma marca do diretor, e a obra segue uma narrativa mais linear, embora se permita abrir alguns parênteses na linha do tempo. Comparado a outros longas da época e do gênero, ele não possui muita coisa de inovador e os diálogos não são uma obra prima, mas é um filme bastante competente no que propõe.
Os dois atores principais estão muito bem em seus respectivos papéis. Pam Grier e Samuel L. Jackson mostram todo o seu repertório sempre que exigidos. A protagonista, curiosamente, fica de lado durante praticamente todo o primeiro ato, o que dá espaço pra seu companheiro de elenco brilhar. Assim que começa a ganhar espaço, porém, ela rouba a cena. Bridget Fonda também entrega uma boa interpretação como Melanie, enquanto Robert De Niro carrega uma função discreta, o que não combina muito com o seu calibre. Robert Forster é uma surpresa agradável na pele de Max, pois começa sendo totalmente coadjuvante e então vai crescendo exponencialmente. Quanto a Michael Keaton e Michael Bowen – os policiais -, eles não são espetaculares, mas fazem o que lhes é pedido.
O meu maior problema com o longa metragem é sua longa duração. Hoje em dia, 2h40 pode não ser muita coisa. Contudo, Jackie Brown não é um filme frenético, que te prende a atenção em todo momento. Ele é arrastado, lento, demora a desenvolver a sua história central. Não há problema nisso por si só, mas ele poderia ter tido uns minutinhos a menos pra deixar as coisas um pouco mais diretas. Além disso, o fato de não refletir as loucuras do Tarantino com as quais estamos acostumados acaba sendo um ponto negativo.

Que manequim realista ali atrás dele

Veredito

Vocês estão diante do filme mais conservador da carreira do cineasta, pelo menos até aqui. Tarantino não toma decisões ousadas, ao invés disso opta por finalizar seu produto de maneira mais convencional. Pra quem se entedia facilmente com um enredo devagar, Jackie Brown pode não agradar tanto devido ao seu exagerado tempo de duração. Ainda assim, é um bom filme que cativa sobretudo em sua segunda metade, constrói seus personagens com paciência e apresenta algumas imprevisibilidades que aí sim remetem às inconfundíveis características do diretor.

Scully e Hitchcock

 

>> A Sessão LelecoTarantino começou com Cães de Aluguel…

>> …e logo passou pelo icônico Pulp Fiction!

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Ainda pensei que fosse dar merda no final. Sei lá, eu tinha praticamente certeza que o Ordell morreria, mas pensei que fosse cair atirando no sentido literal, provavelmente matando o Max Cherry no processo. Contudo, ele não teve esse gostinho, a Lei o derrubou!!
  • Ok, quem disser que esperava pela morte da Melanie daquela forma é um mentiroso deslavado. Na hora em que o Louis mandou ela calar a boca pela 938493434ª vez, se virou e meteu os tiro na mina, eu fiquei verdadeiramente chocado. E quando ele foi apagado por Ordell lá no furgão, não me entristeci. Teve o que merecia.
  • O beijo da Jackie e do Max no final foi tão esquisito. E olha que isso é um elogio.
  • Toda a sequência da loja foi muito boa. Eu tava jurando que algo no plano da Jackie daria errado, porque tinha tanto em jogo. Acabou que os policiais caíram iguais a uns patinhos (ou só tocaram o foda-se, né) e o Ordell foi “entregue” a eles com o dinheiro certinho que havia sido atribuído ao vilão. Isso é que é um golpe de mestre da aeromoça, alçou altos voos na malandragem.
  • Se eu tivesse o Winston como guarda-costas, não teria nem um pouco de medo de andar na rua à noite. O cara parece um armário, bicho.
  • O filme todo é é estranho, decadente e cru, pararam pra pensar? Além do beijo seco e desconfortável da Jackie e do Max, ainda tivemos aquela transa totalmente vazia (não tô falando como um adolescente, juro, só foi a impressão que eu tive) do Louis com a Melanie. Parecia que estavam fazendo aquilo mais pra passar o tempo do que por prazer genuíno. É, definitivamente Jackie Brown não é otimista, mas a protagonista se dá bem no fim. É uma série ambulante de contradições.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Jackie Brown (menção honrosa a Ordell Robbie)
Ela não começa sendo destaque, mas vai evoluindo à medida que a história vai avançando. Ordell, o antagonista, tem uma performance sólida e é o grande pilar da trama.

Não sabia que ela trabalhava na C&A

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).