• O tempo passa
O motivo pelo qual eu comecei a assistir Six Feet Under foi por causa de seu desfecho. Todo mundo na Internet diz que é o melhor final de todos os tempos quando o assunto é série. Fiquei ouvindo isso com tanta frequência que tomei a decisão de ver todas as cinco temporadas só pra checar se o último ato era realmente tudo isso. Já adianto uma coisa: é tudo isso, sim.
Sinopse
Nate e Brenda querem formalizar de vez a união através do casamento. David e Keith decidem ter um filho juntos e começam a pensar na melhor maneira de colocar a ideia em prática. Claire está em um relacionamento mais sério com Billy, irmão de Brenda, e trancou a faculdade por um semestre. Ruth descobre que George tem um histórico de doenças mentais e precisa encontrar uma maneira de lidar com isso. Por fim, Rico aceita a vida de divorciado e começa a ir em encontros pra achar um novo par.
Crítica
Fazia tempo que eu não via uma temporada de série tão próxima da perfeição. Eu jamais dei nota 5/5 pra uma temporada aqui no blog, porque sempre fui capaz de encontrar algo que me incomodasse – ou talvez seja só um ataque de estrelismo da minha parte. A despedida de Six Feet Under me fez repensar esse conceito, porque, por mais que algumas partes não sejam tão boas quanto as outras, a memória definitiva que fica é dos aspectos positivos.
Sim, tem coisas que a série executava melhor em suas duas primeiras temporadas, pois tudo era novidade. Na 5ª temporada, alguns arcos narrativos parecem andar em círculos, mas talvez seja exatamente essa a intenção. O ser humano tá fadado a cometer os mesmos erros, mesmo que consiga evoluir em termos gerais. E se tem uma série que sabe trabalhar a natureza humana, é Six Feet Under.
Se você é do tipo de pessoa que só enxerga preto e branco, no sentido de que existem somente dois lados em qualquer assunto, Six Feet Under tem potencial de te irritar. Todos os personagens são complexos. Todos eles têm seus lados bons e lados ruins. Nate, por exemplo, é gentil e compreensivo, mas incapaz de levar um relacionamento a sério. David é virtuoso e justo, mas tende a ser excessivamente turrão. Claire possui um coração gigante e se importa com as pessoas, mas se acha superior a todos os outros.
Six Feet Under não compactua com a ideia do bem e do mal existindo de forma separada. Todo mundo é capaz de se encaixar nos dois espectros. Essa é só uma das inúmeras discussões filosóficas que são feitas com maestria pelo roteiro. E nunca me cansarei de elogiar os diálogos e atuações desta série, porque pelo amor de Deus. O nível é muito alto e ridiculamente perto do impecável.
A 5ª temporada começa a passos lentos e vai melhorando gradativamente. Possivelmente, dois dos melhores episódios que eu já vi na vida estão aqui, e olha que eu assisti a séries como Breaking Bad, Sons of Anarchy e Game of Thrones, pra citar algumas, que são recheadas de capítulos magníficos. Na comparação com os anos anteriores de Six Feet Under, este é o mais equilibrado em relação às tramas. Praticamente todas se encontram no mesmo patamar.
Sobre o final, eu não sei nem o que dizer. Confesso que, quando eu olhei pro aplicativo da Max e percebi que faltavam só 15 minutos pra acabar o último episódio, fiquei pensando que eu poderia ter interpretado errado a ideia de “melhor final”. Talvez não fosse a última sequência, e sim toda a construção da conclusão. Uma parte de mim se decepcionou, enquanto a outra reconheceu que de fato o desenvolvimento do fim era sublime.
Eis que, de repente, a série resolve dar adeus de um modo que eu não sei bem como caracterizar. É doloroso, real, reflexivo e totalmente condizente com o espírito da série. A última vez que eu havia me sentido assim com um final havia sido com The Good Place, há alguns anos. Esse tá pelo menos na mesma prateleira, e possivelmente até supera.
Veredito
Não é exagero quando dizem que Six Feet Under termina a sua história de maneira perfeita. Não tem pra onde correr, é isso mesmo. A 5ª e última temporada pega tudo que já havia de bom na série e eleva à máxima potência. Ok, tem um ou outro núcleo narrativo que tá um pouco abaixo, mas tudo isso é apagado diante de um conjunto tão espetacular. Se você gosta de um enredo bem contado, interpretações convincentes e um texto capaz de atingir o seu âmago, não há como ser muito melhor do que isso.
+ Melhor personagem: Brenda Chenowith
É impressionante o giro de 360° que a Brenda deu ao longo da série. Na moral, compare a personagem da 1ª temporada com a última. Ela já vinha em ascensão há um tempo, mas aqui se credencia como a representação da complexidade humana em uma obra tão comprometida em abordar esse tema.
+ Melhor episódio: S05E12 (“Everyone’s Waiting”)
Na minha humilde opinião, o episódio 10 é ligeiramente melhor em sua totalidade. Eu não consegui parar de chorar durante toda a duração. Contudo, como estamos falando de um dos melhores finais de séries de todos os tempos, e todos sabemos que não é algo comum e fácil de se fazer, preciso valorizar o último capítulo como ele merece.
+ Maior evolução: George Sibley
Ele entrou de paraquedas na 3ª temporada e, na 4ª, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais de sua personalidade. Ainda assim, nunca foi um personagem que particularmente me agradou. Isso mudou na 5ª temporada, onde a força da sua presença é considerável.
>> 1ª Temporada de Six Feet Under
>> 2ª Temporada de Six Feet Under
>> 3ª Temporada de Six Feet Under
>> 4ª Temporada de Six Feet Under
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO
- Vou começar por algo mais brando. Como a Margaret é uma pessoa ruim, né? Diretamente responsável por traumatizar os dois filhos, ela ainda quer “roubar” da Ruth o posto de avó da Maya sem nunca ter estado presente de verdade. A personagem nunca me desceu como pessoa, mas sempre adorei as suas participações.
- Eu gostei muito da trama da busca de David e Keith por filhos. É uma pena que não tenha dado certo com aquela moça da barriga de aluguel, mas sinceramente ela não parecia ser uma pessoa particularmente centrada (pra dizer o mínimo). E foi muito bom a maneira como mostraram os traumas de Durrell e Anthony, deixando bem claro que o amor requer paciência.
- Ok, vamos falar sobre o Nate. Incrível como ele era um parceiro ruim. Não acho que Nate era alguém ruim ou maldoso, mas definitivamente não nasceu pra ter uma cônjuge. Trair a esposa grávida, independentemente do que a Brenda fez no passado, em meio a uma crise de relacionamento, é algo que não dá pra perdoar.
Foi muito Neymar da parte dele.Aquela sonsa da Maggie também nunca me desceu, sempre tive o pé atrás com ela. E achei cômico como o carma pegou o Nate logo após a traição. Eu gostava do personagem, mas a tristeza que eu senti pela sua morte foi muito mais pelas reações dos familiares e amigos do que pelo Nate em si. Diferente de quando ele quase morreu na 2ª temporada. Naquela época, ele parecia ser um homem bem mais decente, pelo menos na parte de relacionamentos. - Como a Ruth é uma pessoa complexa, né? Sim, ela tem umas cuzagens muito grandes, como ter consolado a Maggie e deixado a Brenda de lado durante o funeral do Nate. Por outro lado, temos que lembrar que Ruth era uma mulher que nunca encontrou a própria identidade e perdeu marido e primogênito em um espaço de tempo relativamente curto. E cara, como foi cruel o Nate ter morrido enquanto a Ruth não estava na cidade…
- Achei bem interessante o romance da Claire com o Ted, sobretudo pela parte política conflitante de ambos, que acabou não sendo um empecilho pro futuro casamento. E, de acordo com o obituário dos personagens elaborado pela HBO, ela nunca chegou a ter filhos. Mesmo assim, viveu de forma plena até os 102 anos de idade. Isso é que é um recado poderoso.
- Bicho, eu não conseguia parar de chorar quando a série começou a mostrar as mortes dos personagens principais. Muito triste o Keith ter morrido tão cedo, ainda mais naquelas circunstâncias. Fiquei imaginando também como morreram o George, o Billy, a Sarah e tantos outros grandes personagens que passaram por Six Feet Under.
- Eu poderia ficar aqui o dia todo escrevendo tópicos que me marcaram nesta última temporada, mas acho que é o bastante. Pra encerrar, só dizer que eu fiquei estranhamente contente que o casamento de Rico e Vanessa tenha entrado nos trilhos novamente, apesar de tudo. E aquela frase do Nate fantasma pra Claire, enquanto ela tirava uma foto de despedida, a respeito de como não adiantava registrar o momento pois ele já tinha acabado, me tocou mais do que eu gostaria de admitir.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?