• Ícone transgressor
Antes de assistir Homem com H, o meu conhecimento sobre Ney Matogrosso era bem superficial. Eu sabia algumas músicas, principalmente da época da banda Secos & Molhados, e tinha alguma noção do personagem folclórico criado pelo artista. Mas, fora essas coisas aleatórias aqui e ali, fui assistir com a expectativa de saber mais sobre a vida dessa grande figura da música brasileira. O filme não cumpre totalmente esse propósito, mas tem muita coisa boa nele.
Sinopse
Filho de um rígido militar, Ney é totalmente oposto ao pai. Sensível, espalhafatoso e descontraído, ele aposta na própria singularidade na tentativa de conquistar um público desacostumado a quebras de padrões, em meio ao tenebroso período da Ditadura Militar.

Crítica
O que há de melhor em Homem com H tem nome e sobrenome: Jesuíta Barbosa. É impressionante o que o ator faz aqui. Se Ney Matogrosso fosse estadunidense e se chamasse Neil Thickgrass, e Jesuíta Barbosa se chamasse Joshua Bourne, ele seria facilmente indicado ao Oscar. Brincadeiras à parte, o protagonista deste filme não deve nada pra Rami Malek, Taron Egerton, Austin Butler e Timothée Chalamet, que também interpretaram grandes artistas musicais no cinema. A atuação de Jesuíta é irretocável, tanto na hora de imitar os trejeitos de Ney Matogrosso (eu fiz questão de ver alguns vídeos do cantor depois) quanto na hora de deixar aflorar o seu talento natural diante das câmeras.
Sem a atuação primorosa de Jesuíta Barbosa, Homem com H talvez continuasse um bom filme, mas perderia a maior parte de seu impacto. Isso porque o recorte oferecido pelo roteiro me pareceu muito restrito. Foi interessante ver a vida de Ney Matogrosso antes de ele ganhar essa alcunha, e foi ainda mais legal acompanhar o início da carreira dele. Contudo, existe um vácuo muito grande entre o auge retratado em tela com o final do filme.
Nem toda cinebiografia precisa ter a mesma estrutura, é claro. A maioria delas investe naquele padrão de sonho-ascensão-ápice-decadência. Não que haja algo de errado com isso, mas Homem com H me deixou querendo saber mais. O filme não mostra mais de 40 anos da carreira do artista, e também senti falta de ver uma conclusão que valorizasse mais os feitos da pessoa retratada. O desfecho é bem bonito, mas pra mim veio um pouco antes da hora.
As partes mostrando a relação de Ney com o pai são boas, e me lembraram um pouco Better Man. Por outro lado, achei que o filme não desenvolveu tão bem as personagens secundárias femininas, e eu fiquei toda hora as confundindo umas com as outras. Apesar disso, eu gostei muito de Homem com H. A ideia de valorizar um artista enquanto ele tá vivo é uma decisão acertada demais, porque nós como sociedade tendemos a só exaltar aqueles que já se foram. Este filme vai no caminho contrário, pra que o homenageado consiga sentir diretamente o amor e o carinho direcionados a ele.

Veredito
Homem com H tem tudo que você poderia esperar de uma cinebiografia de Ney Matogrosso, sem economizar na retratação da vida de uma pessoa que jamais quis economizar em suas apresentações e convicções. Ele poderia ter mostrado mais da carreira do artista, em vez de um recorte tão pequeno, mas é um ótimo filme potencializado pela excelente interpretação de seu ator principal.

+ Melhor personagem: Ney Matogrosso
É engraçado dar um prêmio de Melhor Personagem pra uma pessoa real, mas como neste quadro de filmes nacionais eu fiz o mesmo pra todos os longas, não vou quebrar a tradição aqui, né.

CURIOSIDADES
- Apesar de arrecadar mais de R$ 13 milhões em bilheteria, Homem com H ficou só 30 dias no cinema. Isso abriu o debate sobre favorecimento de blockbusters em detrimento de filmes nacionais.
- “Homem com H” é o nome de uma canção de Ney Matogrosso, mas o título do filme em inglês é Latin Blood: The Ballad of Ney Matogrosso, fazendo referência a outra música do cantor, “Sangue Latino”.
- Na cena em que é cantada “Rosa de Hiroshima”, o filme utilizou a voz do ator Jesuíta Barbosa, ligeiramente mixada a fim de se parecer mais com a voz de Ney Matogrosso.
- Ney Matogrosso recebia todas as partes do roteiro durante a produção, mas fez poucas objeções pois acreditava ser mais importante representar um sentimento abrangente do que ser verossímil.
FICHA TÉCNICA
Nome original: Homem com H
Duração: 2h09
País: Brasil
Direção: Esmir Filho
Elenco principal: Jesuíta Barbosa, Rômulo Braga, Bruno Montaleone, Jullio Reis, Hermila Guedes, Lara Themoroux, Carol Abras, Davi Malizia
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Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
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OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO
- Não vou me estender aqui nesta seção porque se trata de uma biografia, mas pra não correr o risco de afetar a experiência de alguém, reservei essa parte só pra falar da aparição do verdadeiro Ney Matogrosso no final. Isso foi a personificação do que eu disse no final da minha crítica, do quanto é importante valorizar pessoas vivas, e não só as mortas. Ver o artista participar da obra que lhe presta homenagem foi muito bonito de ver.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?