• Entregue aos Ratos
Quando eu assisti às três primeiras temporadas de The Witcher, ainda não havia lido nenhum livro completo da saga. Agora que me reconectei com o hábito da leitura, já concluí os dois primeiros. Mesmo assim, ainda não alcancei a parte em que a série está no momento, e portanto novamente não poderei fazer comparações. Analisando a 4ª temporada sem vinculações com o universo dos livros, essa é indiscutivelmente a pior até agora – e não tem a ver com a mudança do protagonista.
Sinopse
Todo mundo tá atrás da Ciri. Geralt e Yennefer, separados, buscam protegê-la das garras de Ehmyr, que deseja utilizar a garota pra cumprir uma profecia. Em sua missão, o bruxo precisa viajar por milhares de quilômetros na companhia de uma improvável equipe, e a feiticeira tem de dar um jeito de eliminar a ameaça de Vilgefortz. Enquanto isso, Ciri tenta se adequar ao criminoso grupo dos Ratos.

Crítica
Pra quem não leu as minhas críticas anteriores de The Witcher, pra mim a 1ª temporada é de longe a melhor. A 2ª era a pior até então, com a 3ª entre elas, mas essas duas últimas não haviam sido propriamente ruins, apesar de algumas decisões criativas bem questionáveis. O principal receio de todo mundo em relação à 4ª tinha a ver com a saída de Henry Cavill do papel principal, e a chegada de Liam Hemsworth. A bem da verdade, eu me acostumei com o novo ator mais rápido do que eu imaginava.
Não que Hemsworth faça um trabalho espetacular – ele não tem a mesma carga dramática e o carisma de Cavill, mas possui uma fisicalidade imponente e faz o bastante pra que a gente se adapte sem tanta demora à mudança. Quando eu penso em todos os defeitos da 4ª temporada (e eles são muitos!), nenhum teria sido corrigido ou atenuado se o protagonista não tivesse sido alterado.
O maior problema da 4ª temporada de The Witcher se chama roteiro. Há algum tempo, surgiu a informação de que várias pessoas responsáveis por escrever a série não curtem tanto assim os livros, o que abriu margem pra que fossem tomadas certas liberdades criativas. Não há nada errado com isso ao adaptar uma obra, mas se você vai mudar algo, precisa ter uma boa justificativa pra isso ou então transformar essa mudança em algo que melhore a experiência. Eu sempre cito A Câmara Secreta, que pra mim é um caso raro em que o filme é melhor do que o livro ao aproveitar brechas que o conteúdo original não aproveitou. A questão é que The Witcher se desvia tanto de seu propósito que cria algo novo e sem lógica interna.
As cenas de luta são boas, só irrita um pouquinho o fato de que o Geralt quase sempre se esquece de que é capaz de usar sinais. Mas a pior coisa é a narrativa. Toda a 4ª temporada parece um aglomerado de missões paralelas em um jogo de RPG. Temos um episódio inteiro que consiste nos personagens contando histórias sobre si. E do jeito mais brega possível! Os diálogos são risíveis, a parte política é superficial e a série parece não saber trabalhar com o mapa daquele mundo. A impressão é de que os roteiristas não estão nem aí pra geografia, provavelmente porque julgam que o público também não se importará.
Sobre os diálogos, uma prova irrefutável de que um roteiro é mal escrito é o uso da palavra “escuridão”. Se essa palavra surge em um contexto no qual algum personagem está se corrompendo de alguma forma, pode saber que a série não é boa. Em alguns momentos, eu senti que estava vendo uma espécie de Arrow medieval. O companheirismo forçado dos grupos, tanto dos Ratos quanto do time de Geralt e até das feiticeiras de Yennefer, também me incomodaram. E, de novo, são inúmeros os detalhes que não fazem sentido dentro da trama, e eu até separei alguns deles nas Observações Spoilentas, que estarão no final deste texto.

Veredito
Eu sei que The Witcher nunca foi uma unanimidade entre os fãs dos livros e dos jogos. Antes mesmo do lançamento da 1ª temporada, a série já havia sofrido uma enxurrada de críticas do público – e eu tenho certeza que muitas dessas pessoas mudaram de ideia quando de fato viram os primeiros episódios. Embora a 2ª e a 3ª temporada tenham sido irregulares, mas que na minha opinião tiveram mais momentos bons do que ruins, apesar de tudo, a 4ª infelizmente não segue o mesmo caminho. Liam Hemsworth faz o que pode pra substituir Henry Cavill, e em geral desempenha bem a função. Ele só não contava que o problema estaria na sala de roteiristas, responsáveis por um texto preguiçoso, sem coesão e bagunçado.

+ Melhor personagem: Yennefer de Vengerberg
Nas três primeiras temporadas, foi difícil eleger o Melhor Personagem porque a concorrência era boa. Na 4ª, é difícil escolher um porque ninguém se destacou. Uma prova disso é que eu optei pela Yennefer, que talvez esteja em seu momento mais apagado na série, simplesmente porque os demais arcos são pra lá de medíocres.

+ Melhor episódio: S04E06 (“Twilight of The Wolf”)
Este tinha tudo pra ser um dos melhores episódios de toda a série, ainda mais pelo seu timing surpreendente; normalmente, batalhas épicas são reservadas pro final da temporada. E temos de fato uma batalha de ótimos momentos. Infelizmente, o episódio é afetado negativamente pelo roteiro ruim. Isso enfraquece o capítulo, mas não o suficiente pra tirá-lo do posto de melhor da temporada.

+ Maior evolução: Cahir
Quem não ama um arco de redenção? Só tenho isso a dizer.

+ Maior surpresa: Regis (menção honrosa a Leo Bonhart)
A interpretação de Laurence Fishburne como Regis é digna de nota. Se a série soubesse aproveitá-lo melhor, ele poderia até ter sido o Melhor Personagem. Também gostei muito do Leo Bonhart, um dos melhores vilões de The Witcher até agora.

+ Pior personagem: Ciri
Me dói escrever isso, porque a Ciri é uma das personagens mais importantes da saga. Contudo, até por causa disso, preciso colocá-la como a pior da temporada. A atuação de Freya Allan tá fraquinha, mas talvez isso tenha sido mais impulsionado pelo roteiro ruim do que pela atriz em si. E, pra piorar, o núcleo dos Ratos, no qual Ciri está inserida, é uma das coisas mais chatas da temporada.

FICHA TÉCNICA
Nome original: The Witcher
Duração: 8 episódios
Países: EUA, Polônia, Reino Unido
Showrunner: Lauren Schmidt Hissrich
Direção: Sergio Mimica-Gezzan, Tricia Brock, Alex García López, Jeremy Webb
Elenco principal: Liam Hemsworth, Anya Chalotra, Freya Allan, Joey Batey, Eamon Farren, Meng’er Zhang, Danny Wolfburn, Laurence Fishburne, Mahesh Jadu
>> Crítica da 1ª Temporada de The Witcher
>> Crítica da 2ª Temporada de The Witcher
>> Crítica da 3ª Temporada de The Witcher
>> Crítica de The Witcher: Lenda do Lobo
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO
- Quer exemplos de falta de lógica na 4ª temporada de The Witcher? Então vamos lá. Por que a Yennefer escolheu poupar o Vilgefortz para coletar informações sobre a Ciri, considerando que dificilmente ela teria a oportunidade de matar o feiticeiro novamente? Por que a Philippa foi enviada pra empurrar uma manivela emperrada, sem utilizar magia, sendo que algum dos bruxos poderia ter sido mais bem-sucedido no uso da força bruta? Por que o Geralt sequer ficou triste após a notícia da morte de sua figura paterna, Vesemir? Por que o Regis não se transformou em morcego e saiu matando geral à beira do rio pra salvar a galera no barco, em vez de só ficar lá o tempo todo como um inútil? Por que a Yennefer não utilizou um portal pra mandar o grupo do Geralt pra mais perto do objetivo, no final da temporada? Eu poderia continuar aqui o dia inteiro citando inconsistências do roteiro, mas acho que já deu pra entender, né.
- Que reencontro sem graça do Geralt e da Yennefer, hein? Eu sei que era uma situação diferente, mas observem a diferença desta cena com o encontro entre Geralt e Ciri no final da 1ª temporada. O que sobrou de tensão, emoção e carga dramática lá atrás faltou aqui. Não dá nem pra falar que não houve química entre Liam Hemsworth e Anya Chalotra, porque é possível que a própria série os tenha sabotado.
- Se você introduz um grupo de personagens pelas quais deveríamos torcer e a gente na verdade vibra com o vilão matando todo mundo, em vez de ficar triste pelo acontecido, alguma coisa tá errada. Foi isso o que aconteceu com os Ratos. Eles eram tão enjoados que, quando o Leo Bonhart assassinou todo mundo, eu quase soltei fogos. E não podemos deixar de mencionar que a Mistle abordou a Ciri sexualmente segundos depois de ela quase ter sido abusada pelo Kayleigh. Diz muito sobre o caráter dela.
- Ehmyr alcançou níveis de Targaryen jamais vistos ao procurar a filha pra que ela concebesse um filho seu e ele cumprisse a profecia.
- Que final anticlimático, bicho. Temos uma batalha aleatória em uma ponte qualquer, onde ninguém importante morre, com o Vilgefortz permanecendo vivo com o poder do plot armor e a Ciri perdendo tudo (de novo). Em resumo, parece que a temporada andou, andou, andou e não saiu do lugar. E não entendi por que o Geralt foi nomeado Sir Geralt de Rívia e não Sir Geralt de Lyria, já que a Meve era rainha dos dois lugares. Mas talvez eu esteja sendo exigente demais.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?