Ficção científica, Séries

Ruptura: 1ª Temporada (2022)

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• Escravos do trabalho

Cara, eu sinto muita pena de quem acompanhou esta série na época em que a 1ª temporada foi lançada. Ter que esperar dois anos e meio pela sequência de uma história que acabou no maior gancho imaginável é tortura, pura e simplesmente. De qualquer forma, a 2ª temporada está batendo à porta (o primeiro episódio chega em 17 de janeiro, na Apple TV+) e mesmo assim eu tô ansioso pelo quem vem por aí. Antes disso, porém, vamos falar um pouquinho sobre a 1ª temporada.

 

Sinopse

Mark Scout trabalha em uma indústria chamada Lumon, no departamento de Refinamento de Macrodados. O que diabos é isso? Nem os trabalhadores sabem. Na verdade, eles não sabem de quase nada. E fica pior: pra aceitarem o emprego, todos precisam passar pelo processo de Ruptura, um procedimento cirúrgico que altera a percepção de memória das pessoas. Quando estão na Lumon, não se lembram de nada da vida fora da empresa. Quando deixam o edifício, não se lembram de nada do que acontece na Lumon. O conflito surge a partir do momento que o melhor amigo de Mark, Petey, é demitido misteriosamente de seu cargo.

Funcionários exemplares

Crítica

Tudo na vida é uma questão de perspectiva. Na minha experiência pessoal com séries, às vezes eu não percebo que tô assistindo a algo medíocre até o momento em que começo a ver algo realmente bom. Foi isso que senti com Ruptura. Tudo aqui é muito bem feito: direção, roteiro e atuações. Dessas qualidades, pra mim a principal é a direção, que em seis dos nove episódios é comandada por Ben Stiller, ator principal do clássico Uma Noite no Museu. Os outros três capítulos, do 4 ao 6, são dirigidos por Aoife McArdle.

A ótima direção desses dois nomes citados é primordial pra que a história de Ruptura funcione. O roteiro é quase impecável, e não decepciona quando precisa pegar o potencial de uma premissa instigante e transformá-la em um enredo realmente sólido, que não se limita apenas a um bom ponto de partida. Mas, através da direção que sabe muito bem o que fazer, a série ganha brilho e se metamorfoseia em algo realmente especial.

A fotografia e direção de arte também não podem ser deixados de lado, pois traduzem de forma sublime o que os personagens, sobretudo o protagonista Mark Scout, estão passando em momentos específicos. Os cenários da Lumon são majoritariamente brancos, com um ambiente opressivo e que parece, ao mesmo tempo, um escritório e um hospital. Fora da empresa, a atmosfera é igualmente depressiva, mas de um jeito mais real, digamos assim. Além disso, a história se passa no tempo presente, mas dá a impressão de que está acontecendo algumas décadas no passado.

Assim como o próprio Mark Scout e seus colegas de profissão, a trama de Ruptura vai e volta constantemente. Essencialmente, são dois arcos distintos, e isso é bom e ruim. Quando o enredo está se desenvolvendo na Lumon e depois passa pro “mundo real”, dá uma certa preguiça de se reconectar com aquele lado da história. Quando as coisas começam a ficar interessantes do lado de fora da empresa, somos transportados de volta pra Lumon e a sensação é a mesma. Por um lado, isso faz sentido narrativamente e é uma prova de que os dois núcleos têm seus méritos. Porém, de vez em quando o ritmo fica um pouco empacado.

Essa abertura é boa demais, não pulei nenhuma vez

Veredito

Tá procurando por uma série original, com excelentes atuações, um roteiro inteligente e uma direção que potencializa todos esses fatores? Ruptura é uma pedida certa. A produção possui pitadas de Matrix em um cenário excêntrico de escritório, mas é difícil encontrar algum outro conteúdo que tenha semelhanças significativas. De qualquer forma, já te dou um aviso: você vai precisar se comprometer com pelo menos mais uma temporada, porque é impossível terminar essa e não querer saber o que acontece depois.

Impressionante como tem gente que tem cara de vilão, né

 

+ Melhor personagem: Mark Scout
A interpretação do ator Adam Scott é excelente, e o protagonista de Ruptura tem muita complexidade. É possível entender o seu ponto de vista, assim como os argumentos contra seu estilo de vida. Também gostei muito da Helly, do Milchick e da Cobel, cada um à sua própria maneira.

Saiu do inferno de The Good Place e foi parar no inferno de Ruptura

+ Melhor episódio: S01E09 (“The We We Are”)
A construção de tensão e a panela de pressão que domina esse capítulo faz com que a temporada termine em alta – ainda que o gancho que o episódio deixa pro futuro seja meio frustrante.

Incrível como ele não sorri com os olhos, só com a boca

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO

 

  • Cara, eu acho extremamente improvável, pra não dizer impossível, que alguém tenha previsto a reviravolta de que a Ms. Casey era a esposa presumidamente morta do Mark. Se fosse a Helly, eu acho que alguém poderia ter adivinhado, mas não a Ms. Casey. Fiquei em choque. E também achei interessante como o Mark, em sua versão da Lumon, não parece ter se atraído em nenhum momento pela própria esposa na “vida real”. Isso alugou um apartamento na minha cabeça, não vou negar.
  • Não sei vocês, mas eu não me interessei tanto assim pelo romance entre Irving e Burt. Eu achei divertidas as interações entre os departamentos, mas com o tempo fiquei um pouco entediado com esse arco, até mesmo quando eles “acordaram” com a ajuda do Dylan. Pelo menos agora acho que o Irving desencantou, após ver o Burt com outro cara.
  • Ok, a reviravolta da Helly ser secretamente um membro da família Eagan também me pegou de surpresa, apesar de eu ter imaginado que ela fosse alguém importante. Será que seu discurso contra a empresa vai ter levado a algum lugar?
  • Achei bizarro demais que aquela mulher grávida passou pelo processo de Ruptura pra não precisar cuidar das crianças. E o pior é pensar que isso provavelmente aconteceria no nosso mundo, caso houvesse a oportunidade.
  • Meu sangue gelou quando o Mark chamou a Cobel de Cobel no lançamento do livro do cunhado. Fiquei tenso do começo ao fim daquele episódio, que terminou com um alívio momentâneo na frase “she’s alive!!!“, até que de repente a temporada acabou. Que ódio.

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).