Fantasia, Séries

Game of Thrones: 8ª Temporada (2019)

• Fim da vigília

A decepção só surge a partir da expectativa. O mundo estava diante da maior série de televisão já feita na história – e note que eu disse “maior”, e não “melhor”. Muito estava em jogo, e a HBO tinha a chance de marcar seu nome pra sempre na memória dos ávidos telespectadores que acompanharam Game of Thrones por nove anos. Desde 2011, GoT foi uma produção que apresentou muita singularidade, sobretudo na qualidade do roteiro e na capacidade de se livrar de personagens principais sem nem um pingo de remorso. Ela passou por alguns percalços, mas sempre conseguiu manter seu excelente nível. A quinta e a sétima temporadas foram um pouco inferiores, por motivos diferentes: uma delas falhou em dosar bem os arcos e a outra pecou pela velocidade mal dividida. A oitava demorou dois anos pra ser desenvolvida, e todos os erros seriam perdoados se o final fosse bom. Infelizmente, não foi bem assim que aconteceu.

 

Sinopse

Batalha pelo reino, batalha pela vida. A temporada final de Game of Thrones se dividia em duas frentes: o combate à ameaça dos Caminhantes Brancos e o destino do Trono de Ferro. Frio e quente, noite e dia. A antítese dos dois arcos principais estava presente, com poucos personagens principais ainda vivos. No Norte, os três Stark e o bastardo de luxo metade lobo e metade dragão, Tyrion e Jaime Lannister, Brienne de Tarth, Daenerys Targaryen e seus dois dragões, Davos Seaworth, Samwell Tarly, Verme Cinzento, Missandei e mais algumas peças que se eu for ficar listando aqui o texto vai se tornar chatão. Em Porto Real, Cersei Lannister aproveita seu vinho ao lado de Euron Greyjoy, Grande Meistre Qyburn, Gregor Clegane, mais conhecido como Montanha, Bronn e uma Ellaria Sand esquecida no churrasco.
O enredo central é a conclusão desses dois núcleos, que podem ou não vir a se entrelaçar. Para os mocinhos, o objetivo é derrotar a ameaça do Rei da Noite e então libertar Westeros das mãos de uma tirana. Muita responsabilidade, com incontáveis elementos com potencial pra dar errado. E não tem nada mais GoT do que isso.

“Melhor casal!”, disse aproximadamente nenhuma pessoa

Crítica

A pressa é inimiga da perfeição. Os roteiristas Dan Weiss e David Benioff parecem ter tido amnésia e esquecido dessa máxima. Em termos de roteiro, a oitava temporada de Game of Thrones é uma bagunça total, com acontecimentos acelerados e caminhos adulterados. Personagens são desconstruídos subitamente de uma hora pra outra e histórias são encerradas sem o mínimo de cuidado. A série pega a maioria do seu legado, joga na privada e dá descarga sem dó nem piedade. Os diálogos são previsíveis e muitas vezes sofríveis, deixando a gente bastante decepcionado ao lembrar de conversas envolvendo o saudoso Mindinho. O caminho para o desfecho é desleixado, com um final satisfatório e até bom se levarmos em conta o tanto que poderia ter sido pior.
Com tantos defeitos, onde diabos tá a parte boa da temporada?
Se eu falasse aqui apenas dos aspectos negativos e desse uma nota mínima, eu estaria sendo muito clubista, na linguagem futebolística. A verdade é que se eu avaliasse as temporadas de Game of Thrones numa escala apenas da própria obra, a oitava temporada realmente mereceria no máximo 2 Lelecos. Porém, eu analiso tomando como base todas as produções que eu já vi, e eu não posso colocar o encerramento de GoT no mesmo patamar que as quartas temporadas de American Horror Story Arrow, por exemplo. Isso seria uma falta de consideração para com a cinematografia espetacular da série. Porra, a ambientação, os combates (ainda que tenham havido problemas na Batalha de Winterfell) e a fotografia são impecáveis, e vai demorar muito pra uma série de TV ser tão bonita visualmente quanto Game of Thrones. Preciso salientar também que os maiores pontos negativos da temporada foram nas cenas mais frenéticas, de maior importância. Nas partes em que a galera parava e pensava “ok, vamo organizar direitinho aqui”, os episódios davam um vislumbre do que a série já foi no passado. Infelizmente, a última lembrança de Game of Thrones será dos erros, e não dos acertos que proporcionalmente estiveram muito mais presentes. É realmente uma pena.

Batman, Superman e Mulher-Maravilha da deep web

Veredito

A oitava e última temporada de Game of Thrones não é totalmente ruim, vou deixar isso bem claro. Algumas decisões são acertadas, os efeitos visuais são de tirar o fôlego e parece que a gente tá vendo algo proveniente das telonas. Contudo, porém, entretanto, todavia, é uma conclusão desperdiçada, com muitas ocorrências que poderiam ter dado incrivelmente certo se os roteiristas tivessem tido mais paciência. Eu sou o maior defensor do ditado “menos é mais”, mas nesse caso mais teria sido mais. Uma reta final decepcionante e um desfecho ok pra uma série que até então tinha sido sensacional.

Professor Xavier em contemplação

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

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{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • É tanta coisa pra comentar que nem sei por onde começar. Bom, eu gostei dos dois primeiros episódios, construindo toda aquela tensão pra Batalha de Winterfell. Curti demais o Jaime “transformando” a Brienne numa cavaleira, achei legal pra caramba as conversas entre os personagens ainda vivos na sede dos Stark, a tensão entre Daenerys e Sansa e outros detalhes como o reencontro entre Bran e Jaime e os comentários de Tormund. O começo da oitava temporada foi bom como o começo de qualquer uma outra, então até ali não enxerguei tantos motivos para críticas.
  • A Batalha de Winterfell. Escura, sem graça e bagunçada. O que era pra ser a melhor batalha da história da televisão não chegou nem perto de ser a melhor da própria série. Batalha de Blackwater, Hardhome, Batalha dos Bastardos, todas elas foram consideravelmente mais épicas do que o confronto contra os Caminhantes Brancos. Eu particularmente gostei pra caralho do fato deles terem cortado o clima, fazendo com que o Rei da Noite não fosse a ameaça principal para os mocinhos, mas a maneira com que isso foi feito ficou aquém. Meu irmão mais novo fez um comentário, dizendo que a sétima temporada deveria ter tido dez episódios, encerrando a trama dos zumbis naquele momento, deixando a última temporada pra desenvolver a loucura da Daenerys, resolver os conflitos ainda existentes e deixar o final mais redondinho. Mas não vamos nos apressar ainda. Gostei da Arya no modo stealth dentro da biblioteca e depois destroçando o Rei da Noite e das mortes dignas de Edd, Jorah, Beric, Theon, Lyanna (afinal, ela matou um GIGANTE, que menina porreta) e Melisandre, mas faltou mais peso naquela batalha. Pelo menos mais uns três ou quatro personagens poderiam ter morrido, como o Sam ou a Gilly, o Gendry, a Brienne e um dos dragões, sei lá. Morreu quem todo mundo já sabia que iria morrer, tirando toda a característica que se tornou marca de GoT: a imprevisibilidade. Por isso, coloquei o Rei da Noite como Maior Decepção – não pelo personagem em si, que eu gostei muito, mas pela forma com que foi utilizado nessa temporada. Ele não matou ninguém importante de fato. Ah, e meu mais sincero “vai se foder” pra aquela luta escura da HBO e aquela tática sem noção dos dothraki atacando a galera sem ter nenhuma visão.
  • Certo, eu gostei do quarto episódio. Eu imaginava que nada de importante aconteceria nele, e me surpreendi com o Rhaegal e a Missandei morrendo. Porém, algumas coisas foram meio sem sentido. Primeiramente, foi muita ingenuidade da galera em achar que poderiam negociar com Cersei. Eles poderiam ter levado o exército inteiro pra lá e planejado alguma emboscada. Porra, o Tyrion conhecia a cidade de cabo a rabo, poderia ter pensado em algum plano de ataque. Não havia mais salvação pra Cersei. E muito me admira o Tyrion ficar todo misericordioso com ela e a cidade, sendo que ele já havia demonstrado que tava era muito puto com tudo aquilo.
  • O quinto episódio foi bonito pra caralho visualmente. Ele começou muito bem, com a Companhia Dourada sendo aniquilada pelo Drogon, mas vamos lá pra atitude polêmica da Danyela Targaryana. Eu sei que vocês já devem ter ouvido esse questionamento várias vezes, mas por que diabos ela queimou a cidade? Não tem nenhum sentido estratégico. Ela poderia ter ido lá com o dragãozinho dela e queimado a Fortaleza Vermelha, poucos teriam julgado e muitos teriam entendido. Ela teria preservado a vida dos habitantes de Porto Real, que poderiam enxergar nela uma verdadeira salvadora. O “Cleganebowl” foi legal, mas achei meio anti-climático eles ficaram cortando a luta toda hora pra mostrar os passos da imortal Arya. Aliás, que caralhos é aquele cavalo branco de Napoleão que apareceu lá? Se era pra ser um simbolismo, ficou muito mal feito. E pra fechar com chave de ouro, temos aquela morte ridícula da Cersei e do Jaime, que ficou ainda mais ridícula após a season finale.
  • O capítulo final foi melhor do que eu esperava. Sinceramente, poderia ter sido MUITO pior do que foi. O Jon matando a Dany foi meio brega, mas a personagem já tinha sido totalmente estragada, então nem me importei muito. Só não sei por que o Drogon queimou especificamente o Trono de Ferro, mas beleza. Espero que ele tenha levado a sua mãe pra Meereen pro Daario não ficar perdido sem saber o que rolou. Bom, o Jon preso depois disso fez sentido, assim como o Tyrion. Ah, pausa pra parabenizar a cena em que a Daenerys tá desfilando com as asas do dragão atrás e o diálogo do anão com o bastardo, que me lembrou um pouco a era de ouro da série. Continuando, a decisão de tornar o Bran rei foi boa pra caralho, mas a forma com que a obra desenvolveu isso foi bem bosta. A quebra de expectativa é algo que pode ser positivo, mas não foi o caso. Norte independente eu também gostei, Edmure Tully levando bronca também, e a Sansa como Rainha do Norte e a Arya Stark como América Vespúcio foram bons desfechos. Verme Cinzento vazando idem, mas a ida do Jon pra Patrulha da Noite ficou meio nada a ver pra mim. Eu realmente acho que ele deveria ter ido pra lá, mas pra mim a Patrulha tinha que ter sido extinta. Ele podia simplesmente ter ido viver com os selvagens, com a Muralha sem função prática. Ah, e senti falta de mostrarem o que rolou com a Meera e a identidade daquele príncipe de Dorne. E bem forçação de barra o Bronn vivo e ainda por cima Lorde da Campina e Mestre da Moeda, além do Sam como Grande Meistre. Preferia que aquele senhor lá de Vilavelha tivesse herdado o título, com o Sam ainda como seu aprendiz. O desfecho geral foi ok, mas faltou melancolia. Eu não senti peso nem de season finale, quem dirá series finale. O jeito agora é esperar pelo George R.R. Martin e reler os cinco livros disponíveis até então, porque lá o “roteiro” continua excelente.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Arya Stark
Olha, ninguém foi bom o suficiente pra levar esse prêmio, mas a Arya acabou sendo a melhorzinha.

Arya 51

+ Melhor episódio: S08E06 (“The Iron Throne”)
Em meio a capítulos desapontadores, a series finale foi a mais legal de assistir, o que por si só já diz muito sobre a temporada.

DISGRAAAAAAAAAÇA

+ Maior decepção: Roteiro Rei da Noite (menção desonrosa a Jon Snow)
Nossa, não dá nem pra falar o porquê da minha escolha sem entrar em spoilers pesados. Quanto ao Jon, ele passou a ser quase que completamente dispensável. É o tipo de personagem que só funciona quando não tá no centro total dos holofotes.

They see me rollin’, they hatin’

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).