Marvel (MCU)

MCULeleco #25 – Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021)

• Golpes estruturais

Como é que uma franquia consegue se manter em alto nível por tanto tempo? Às vezes eu me pergunto. Nas demais fases do Universo Cinematográfico da Marvel, podemos argumentar que tinha muita coisa sendo introduzida, várias novidades e um foco em comum: a futura ameaça de Thanos. Com o fim da Saga do Infinito, pra que lado o MCU ainda poderia ir? Já tivemos ameaças locais, nacionais, internacionais, intergalácticas, interplanetárias e interdimensionais. Qualquer vilão que aparecesse agora poderia parecer bobo. Afinal de contas, se temos heróis como Capitã Marvel ou Thor, não há muito com o que se preocupar. Ainda assim, a Marvel vai lá e acerta de novo com Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, conseguindo direcionar um diferencial dentro das suas próprias repetições.

 

Sinopse

Quem nunca precisou fugir de casa porque o pai era um assassino milenar dono de dez anéis místicos que o permitiam ostentar imortalidade? Acontece com todos nós, e também é o caso de Shang-Chi. Após viver uma infância perturbada, característica que parece ser uma tendência na Fase 4 do MCU (tô olhando pra você, Natasha), esse jovem chinês desaparece do mapa e decide morar em São Francisco, até porque os Estados Unidos são o único lugar da Terra em que alguém pode se sentir seguro. Depois de passar mais de dez anos longe dos problemas de sua família, o passado alcança Shang-Chi e ele precisa deixar pra trás o trabalho de manobrista a fim de proteger a irmã das garras de seu pai.

A dupla que derrotaria Brian e Toretto

Crítica

Apesar de eu gostar pra caramba de inimigos como Thanos e Loki, é refrescante assistir a um filme da Marvel com uma trama mais local. Ao estilo de Pantera NegraShang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis apresenta uma cultura ainda inexplorada naquele universo compartilhado. Da mesma forma que a obra de T’Challa foi importante para a representatividade negra, Shang-Chi é essencial para a representatividade asiática. É possível traçar muitos paralelos entre o mundo de Wakanda e as terras de Ta Lo, e a identidade marcante de um lugar único é o maior deles. Mas enquanto Pantera Negra tem como grande enfoque o próprio país africano, Shang-Chi oferece uma proposta um pouco mais abrangente, a começar pelo idioma.

Esse, inclusive, foi um dos elementos que mais me surpreenderam no longa. Grande parte do filme é falado em mandarim, o que acredito ter deixado milhões de estadunidenses confusos com a aparição súbita de legendas nos cinemas deles. Tal atributo faz com que fiquemos mais imersos na história, porque sentimos realmente que estamos acompanhando de perto aquele mundo. A maior incidência de um elenco majoritariamente de origem asiática contribui para que sejamos afastados de uma bolha e expande o universo cinematográfico da Marvel de maneira muito mais forte do que quando leva a trama para outro planeta.

Mas a representatividade está longe de ser a única coisa boa do filme. As coreografias são espetaculares, com golpes certeiros, artísticos e singulares, lutas apertadas dentro de veículos, como ônibus e carros, além de uma sequência incrível em um andaime no alto de um prédio. As atuações também são ótimas, e destaco três em especial: Simu Liu, que interpreta o protagonista; Tony Leung como o antagonista Wenwu; e Awkwafina, a qual dá vida à Katy, a divertida amiga de Shang-Chi que não serve apenas como mais um bobo alívio cômico da Marvel. Ela é uma grande personagem que acaba roubando a cena em incontáveis momentos com seu carisma e um timing para intervenções difícil de se encontrar. O restante do elenco também é competente, com nomes como os de Michelle Yeoh, que volta ao MCU após interpretar Aleta Ogord em Guardiões da Galáxia, Vol. 2, e Ben Kingsley.

A vilania, já que mencionei Wenwu ali em cima, também é muito bem construída. O inimigo principal não é apenas um malvadão com vontade de dominar o mundo. Ele possui motivações, camadas, e migra entre um anti-herói incompreendido e um genocida imparável. Já o herói começa muito bem a sua jornada, mas fica um pouco de lado em algumas partes específicas do segundo ato, quando outros personagens ganham mais tempo de tela. Eu cheguei até a pensar em por que Shang-Chi era o protagonista, sendo que a história poderia ter sido contada a partir da visão de Xialing, por exemplo, o que tornaria a experiência mais diferente. No terceiro ato, porém, dá pra entender o motivo do foco estar no herói, e então tudo faz sentido.

Certos flashbacks quebraram um pouco o ritmo do enredo pra mim, e eu desejei que algumas cenas passassem logo pra ver o que estava acontecendo no presente. Acredito que algumas dessas voltas ao passado poderiam ter sido feitas por meio de diálogos, tornando o conjunto mais tragável, principalmente quando alguns desses flashbacks dão as caras em partes importantes da história. O ritmo, aliás, nem sempre se encaixa perfeitamente, cometendo alguns deslizes perceptíveis dentro do filme. Por outro lado, Shang-Chi evita uma investida pendente demais para o humor, o que às vezes enfraquece a trajetória. Os breves alívios cômicos são colocados de maneira esperta, com uma única exceção que não afeta o conjunto.

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Veredito

Fazia tempo que eu não assistia a um longa assim. Entre os filmes solo do MCU, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis definitivamente está no Top 5. Entre as obras de apresentação de personagem, com certeza está no Top 3. O 25º capítulo do Universo Cinematográfico da Marvel possui uma identidade fora do comum, uma simplicidade latente que não é a mesma coisa de algo feito de qualquer jeito, mas sim algo que sabe do tamanho de sua proposta e não tenta exagerar. A trama é bem escrita, os personagens chamam a atenção, o vilão é ótimo, algo difícil de encontrarmos nesta nossa querida empresa, as coreografias de lutas são provavelmente as melhores de toda a franquia e a ambientação é perfeita. Eu não dava nada por Shang-Chi, e fui agradavelmente surpreendido.

Se estivéssemos em 2008, eu escreveria: “uma história de amor melhor que Crepúsculo“. Infelizmente, já estamos em 2021

 

Aviso: Tem duas cenas pós-créditos.

 

>> Crítica de Homem de Ferro 3

>> Crítica de Doutor Estranho

>> Crítica de Vingadores: Ultimato

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Ok, não vou mentir. Eu prendi a respiração quando a Katy começou a cair do andaime porque jurei que ela fosse morrer. Não era a cara da Marvel fazer algo do tipo, mas ainda assim eu gelei total. Ainda bem que não mataram o cristal do entretenimento.
  • Sobre a única cena de alívio cômico que eu senti não ter se encaixado: o momento em que o maluco sem braço pergunta por que deveriam ajudar o povo de Ta Lo, e aí logo depois os monstros atacam um homem aleatório. Aquela mesma piada já foi feita 5485983053 vezes na Marvel.
  • É possível que a Xialing fosse uma protagonista tão boa quanto Shang-Chi, se pararmos pra pensar. Uma garota que perdeu a mãe, foi abandonada pelo irmão, precisou viver por anos sob o domínio do pai e impossibilitada de se expressar devidamente, até que ergueu um império de lutas clandestinas. A dinâmica teria sido muito interessante de se ver, porque a sua perspectiva das coisas infelizmente não é muito abordada.
  • Fico pensando se ainda existem fãs que choram por causa do Mandarim de Homem de Ferro 3. Se existem, acho que devem ter sumido depois de Shang-Chi. O Trevor Slattery foi sensacional neste filme, ficando no limite entre engraçado e forçado, às vezes sendo um pouco dos dois. E aquele animalzinho sem rosto (não contem pra ele, é um assunto sensível) é muito massa. Aliás, já que toquei no assunto, os jardins de Ta Lo pareciam um aglomerado de pokémons.
  • Se tirarmos Thanos e Loki, que são vilões em mais de um filme, quais outros são melhores do que Wenwu? Killmonger, talvez o Abutre? Realmente são poucos. O fato de Wenwu ter uma motivação tecnicamente nobre pela falecida esposa, mas ser facilmente influenciável por essa exata razão, apesar de ter centenas de anos de idade, é um toque maravilhoso no antagonismo dele.
  • Wong aparecendo já fez todo o filme valer a pena, sejamos sinceros.
  • Lembrei de uma convenção que pensei que aconteceria: a morte de Ying Nan, tia de Shang-Chi e Xialing. Apostei total nisso, até porque é quase um costume filmes sacrificarem figuras familiares pra criar um laço maior com alguma causa. Achei legal terem fugido disso.
  • Um detalhe que eu também curti bastante foi a utilização das cores na briga entre Shang-Chi e Wenwu. Normalmente, o azul sempre simboliza o bem, enquanto o vermelho representa o mal. Com ambos, foi justamente o contrário. Uma observação besta, mas legal.
  • SILÊNCIO, BRUCE BANNER E CAROL DANVERS ESTÃO TRABALHANDO. Meu Deus do céu, querem aumentar meu hype mesmo pro futuro, né? Tantas perguntas que surgiram na minha cabeça agora. O Banner não estava como Professor Hulk? O que aconteceu depois de Ultimato?
  • A respeito da segunda cena pós-créditos, acho que foi mais pra dar um fechamento pra Xialing, porque sinceramente acho que o rolê de ela ser agora a líder dos Dez Anéis (que eu achei daora demais terem usado retroativamente em Homem de Ferro) não deve ser trazido muito à tona no futuro. Espero estar errado.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Shang-Chi (menção honrosa a Katy)
Cara, por pouco eu não dei esse prêmio pra Katy. Se não fosse pela explosão de qualidade do protagonista sobretudo no começo e no final do filme, com certeza ela teria vencido. De qualquer forma, Shang-Chi mostra que não é preciso ser branco excessivamente irreverente pra conseguir um bom protagonismo na Marvel.

Tudo o que Punho de Ferro gostaria de ter sido

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).