Animação, Disney Princesas

DisneyPrincesas #01 – 1937 a 1959

• Pássaros, príncipes e vestidos

O primeiro “filme de princesas” que eu vi na minha vida foi Frozen, há pouco mais de um ano. Sim, eu nunca tinha assistido nenhum antes disso. Pouco tempo depois, assisti a Frozen II no cinema com minha mãe e meus primos pequenos, na meta do Oscar 2020. E então… eu não vi mais nada do tipo. Pelo menos não por alguns meses, até que combinei com minha namorada de começar do começo. E quando eu falo de começo, é muito no começo. Isso mesmo, lá em 1937. A Segunda Guerra nem tinha começado ainda. A minha cidade possuía apenas quatro anos de vida. Os únicos campeões da Copa do Mundo eram o Uruguai e a Itália. Getúlio Vargas estava firme e forte em seu Estado Novo. Bom, acho que deu pra ter uma ideia do meu ponto. Precisei voltar a um longínquo passado para poder escrever este belo pitaco. Espero que gostem. Ah, um detalhe: eu coloquei “spoilers” a rodo nesta postagem em especial, por se tratarem de contos muito conhecidos do público. Portanto, se você por algum milagre não os conhece, esteja avisado sobre as revelações principais.

 

Branca de Neve e os Sete Anões (1937) – O pecado original

É difícil encontrar alguma pessoa no mundo que não conheça a jornada desta garota alemã de 14 anos. Mesmo se você não consegue se lembrar de todos os detalhes, você sabe que tem uma rainha má, uma maçã profana e um bando de anões exóticos, certo? Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu? Essa frase é clássica. A modesta história consiste em uma rainha sem nada pra fazer na vida, que resolve questionar o universo acerca da possibilidade de alguma mulher ser mais bonita do que ela. Ao descobrir que uma adolescente é mais bem agraciada do que si mesma, a rainha resolve mandar um caçador pra matar a Branca de Neve. Afinal de contas, este é, com certeza, o meio mais eficaz e saudável de eliminar a concorrência. Porém, a vilã não contava com a magnitude da beleza estonteante da princesa. O caçador simplesmente não conseguiu matar a dama, a qual conseguiu fugir para uma cabana no meio da floresta, onde passou a morar com sete pessoas tão diferentes umas das outras quanto as personalidades de Fragmentado. Tem um anão de bem com a vida, um ex-jogador da seleção brasileira, um putasso, um carente, um narcoléptico, um espirrador e um mandachuva. No final das contas, a rainha má consegue enganar a Branca de Neve ao fazê-la comer a Maçã do Éden, deixando a garota em um estado de sono profundo, quase morte. Porém, a vilã não contava com a magnitude da beleza estonteante da princesa. Um cavaleiro andava de boa por aquelas terras e por acaso viu que tinha uma menina deitada em um caixão de vidro. Em uma atitude completamente natural e elogiável, o príncipe beijou a garota desacordada e devolveu a vida à nossa heroína! Viva! Sobre a rainha má? Ah, ela foi perseguida por um monte de animais e pelos discípulos de Tyrion Lannister e caiu de um precipício. Carma é isso.

Passando para a parte séria da crítica, Branca de Neve e os Sete Anões é um filme impressionante. A animação é muito bem feita, e toda hora eu ficava boquiaberto com o fato de a obra ter sido lançada há mais de 80 anos. Os desenhos e cenários são bastante bonitos, ainda que fiquem um pouco opacos se comparados com os filmes mais recentes (uma comparação totalmente injusta, claro). Nos aspectos técnicos, Branca de Neve é o marco de todo um gênero cinematográfico, e o que foi feito nele jamais será apagado. Entretanto, não dá pra esperar que um filme quase centenário envelheça como vinho, né? A trama é bobinha, os personagens são majoritariamente unidimensionais e eu não conseguia entender absolutamente nenhuma palavra cantada durante as músicas. Sério, precisei colocar legenda pra compreender. E por falar em música, a quantidade de canções e a extensão exagerada de algumas deixa o filme um pouco empacado, ainda que não possua nem uma hora e meia de duração. No mais, Branca de Neve e os Sete Anões sempre será lembrado por seu pioneirismo, mas não é fácil apreciá-lo totalmente depois de tanta evolução nas animações. Melhor personagem: Dunga. O anão mais carismático, de longe. Só não deveria ter escalado o Felipe Melo contra a Holanda.

Esta maçã parece um tomate

Cinderela (1950) – Encaixe (im)perfeito

O que dizer de Cinderela? Aos 19 anos, a jovem francesa vive uma vida miserável. Dentro de uma mansão, atuando como serva de sua madrasta bondosa e duas irmãs pra lá de simpáticas, Cinderela não tem o direito de sonhar. Por acaso ela tem vontade de ir a um baile magnífico, com a magia palpável no ar e os sentimentos à flor da pele? Foda-se! Apesar de viver no mesmo ambiente que pessoas da sua idade, a sua realidade é totalmente distinta. Contudo, como é comum entre as princesas da Disney, Cinderela adquire uma relação singular com animais. Desta vez, são ratos. Super justo, né? A Branca de Neve fica com os passarinhos e raposinhas, enquanto a Cinderela fica com ratos desastrados. A garota branca desprivilegiada, no entanto, consegue a ajuda de uma fada voluntariosa, que projeta uma carruagem de abóbora para que Cinderela consiga ir ao baile. Mesmo sem a permissão de sua madrasta, a segunda princesa do Hall da Fama da Disney acaba indo à festança, com uma condição: ela precisava vazar antes da meia-noite. Depois daquilo, seu vestido, sua carruagem e toda a magia voltaria ao normal. Com isso, após curtir o máximo possível, ela sai correndo do baile e dá origem ao enigma que desafia cientistas até hoje: se o sapatinho de cristal da Cinderela se encaixava perfeitamente em seu pé, como é que ele escapuliu do pé dela enquanto a garota descia as escadas? O que importa é que o Sapato de Schrödinger ficou pra trás, e o príncipe ficou fissurado em saber de quem era aquele calçado, porque tinha dançado com a Cinderela naquela noite. Todas as mulheres das redondezas afirmaram ser donas do sapato, mas apenas uma pessoa calçava número 32 naquelas bandas. Enfim, Cinderela ficou com o príncipe e eles dançaram eternamente, dando voltas por um salão.

Em questão de importância cinematográfica, obviamente Branca de Neve e os Sete Anões tem uma larga vantagem. Mas em questão de qualidade, Cinderela pula na frente de sua antecessora. A protagonista demonstra um pouco mais de personalidade, embora de modo raso, e os coadjuvantes (e, com isso, estou me referindo aos ratos; pássaros e raposas são sem graça) entregam arcos divertidos. A animação surge bem mais brilhante e vibrante. As músicas, por outro lado, continuam a mesma coisa da Branca de Neve. Sinceramente, como eu não cresci assistindo a esses filmes, pra mim quase todas as canções são exatamente a mesma coisa. Isso sem falar do modo com que as músicas eram cantadas, parecendo que a pessoa que as interpretava estava sugando o ar para dentro da garganta enquanto performava. De qualquer forma, Cinderela é um longa mais leve e engraçado do que Branca de Neve, e, consequentemente, mais gostoso de assistir. Melhor personagem: Fada Madrinha. A Cinderela é uma protagonista bem melhor do que a Branca de Neve, mas quem brilha mesmo é a Fada Madrinha, com seu jeito fofo e aéreo.

Manda um beijo pra Branca :*

A Bela Adormecida (1959) – Aurora e o pôr do sol

Festas de aniversário são bem legais, principalmente quando se é criança ou adolescente. A gente se sente especial, maduro, experiente. Contudo, tem sempre aquele babaquinha que diz algo como “aniversários são horríveis. Você não está ganhando um ano de vida, mas sim perdendo”. No caso de Aurora, essa afirmação pessimista é mais do que verdadeira. Pouco depois de nascer, a compatriota da Branca de Neve foi amaldiçoada por Malévola, a Antagonista Feminina Número Três. Segundo a maldição, ao pôr do sol de seu aniversário de 16 anos, Aurora espetaria seu dedo em um tear e morreria (provavelmente por tétano ou algo do tipo). Entretanto, a fada Primavera conseguiu reverter o feitiço e substituiu a morte por um sono profundo. Aurora, então, só seria despertada com o beijo de seu amor verdadeiro (aqui percebemos a criatividade de quem elaborou os contos). Pensando nisso, as três fadas – Primavera, Fauna e Flora – convencem os pais de Aurora a criarem a garota escondida do mundo, até que completasse 16 anos e se livrasse da maldição, pra não dar chance ao azar. Com isso, elas cuidam de Aurora durante todo esse tempo. O problema é que as fadas eram muito boazinhas, mas não eram lá muito inteligentes. No dia do aniversário de 16 anos da Aurora, as fadas vacilaram em vez de esperarem o pôr de sol e a Malévola conseguiu encontrar sua algoz na mata, sacramentando o feitiço do tear e fazendo com que a princesa se tornasse a Bela Adormecida e cumprisse a profecia. O que Malévola não contava era com o Príncipe Felipe, que havia conhecido Aurora na floresta e imediatamente se apaixonado. O cara além de galante, também era corajoso e guerreiro, e, com a ajuda das fadas que providenciaram que o príncipe ganhasse a Espada da Verdade e o Escudo da Virtude, acabou com a raça da vilã (eu mencionei que a Malévola tinha se transformado em um dragão?). Finalmente, Aurora foi beijada por Felipe e todos viveram felizes para sempre.

A maior diferença de A Bela Adormecida em relação a suas predecessoras é o desenvolvimento das personagens. Aurora não é tão marcante, a exemplo da Branca de Neve e da Cinderela, mas a Malévola é uma excelente antagonista (eu inclusive torci por ela em alguns momentos, não minto) e o Príncipe Felipe é o primeiro interesse romântico a aparecer com mais contundência. Isso faz com que a história ganhe mais charme, e a trama fique mais profunda dentro de seus clichês. As fadas também são carismáticas, e a animação continua seu percurso de evolução, ainda que eu prefira o estilo de Cinderela. As músicas permanecem no mesmo padrão, mas a narrativa do filme é mais balanceada. Melhor personagem: Malévola. Chega a ser cômico que em nenhuma das vezes a melhor personagem foi a princesa que deu nome à sua obra. No caso de Malévola, entre os três (ou quatro, contando com o bônus) filmes listados, ela é a personagem que mais se destaca entre todas. Perdão, Aurora, mas sua inimiga rouba muito a cena.

Angry Birds (2016)

Bônus: Alice no País das Maravilhas (1951) – O corvo e a escrivaninha

Alice não é considerada uma princesa oficial da Disney, e por isso não foi listada na relação principal acima. Contudo, resolvi dar o presente de mais uma criticazinha a vocês (sei que era tudo o que desejavam). Na adaptação da famosa obra de Lewis Carroll, Alice é mostrada como uma menina curiosa e imaginativa. Certo dia, ela avista um coelho com um relógio de bolso andando pelos campos. Demonstrando ser uma pessoa cautelosa, Alice segue o estranho animal até um buraco e entra em um lugar esquisito, no qual uma porta começa a falar com ela. A nossa heroína de 12 anos toma poções pra ficar grande e depois pequena e imerge em um universo bastante excêntrico, psicodélico até. Alice conhece figuras tais como o Chapeleiro Maluco, a Lebre de Março, a Rainha de Copas, o Gato de Cheshire e os tagarelas Tweedledee e Tweedledum. No início, a única motivação de Alice é descobrir, por algum motivo, por que o coelho de relógio está tão apressado. Porém, depois de se meter em confusão, ela passa a querer apenas dar o fora dali. A garotinha entra em pânico quando está prestes a ser capturada, mas então consegue acordar. Ainda bem que era tudo um sonho!

Eu pensei que fosse gostar mais de Alice no País das Maravilhas. Eu conhecia a história, é claro, e assisti ao filme de 2010 com o Johnny Depp e a Helena Bonham Carter. Entretanto, a animação de 1951 não foi feita pra mim. As músicas são ainda menos memoráveis e a protagonista me deu preguiça. Sim, eu sei que era uma criança, mas não consegui me identificar e torcer pela personagem. O mundo fictício potencializado pela imaginação da Alice é recheado de elementos cativantes, mas eles me pareceram meio desconexos. Eu tenho consciência de que essa excentricidade faz parte da mitologia da história, mas eu não me senti engajado nos diferentes arcos. Quando tentei ver o filme pela primeira vez, não aguentei 10 minutos e fiquei com sono. Ao tentar pela segunda, novamente fiquei com sono, mas dessa vez consegui finalizar. Não é um título que eu assistiria de novo tão cedo, mas ele tem sua relevância sobretudo por causa da força de sua ambientação. Melhor personagem: Chapeleiro Maluco. Não tem jeito, ele e a Lebre fazem uma dupla maravilhosa. Se o filme tivesse sido só com eles, eu tenho certeza de que teria gostado mais. Curti muito o Gato também, é um personagem incrível.

Calvície no País das Maravilhas

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

 

+ Melhor filme: A Bela Adormecida
Branca de Neve e os Sete Anões 
é o filme mais importante e emblemático, mas é o mais fraquinho entre os três que fazem parte da lista principal (eu gostei menos de Alice no País das Maravilhas, se formos contar o bônus). Cinderela é mais legal e tem a animação mais bonita, mas A Bela Adormecida conta com a melhor personagem da Primeira Era das Princesas da Disney e potencializa algumas qualidades dos outros filmes, corrigindo certos erros.

Moisés minutos antes da travessia pelo Mar Vermelho

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).