• A década das indicações
Não demorou muito para David Fincher virar um fenômeno cinematográfico. Depois de quatro filmes na década de 90, o diretor entrou no século XXI e conseguiu as suas primeiras indicações a Melhor Direção no Oscar, com O Curioso Caso de Benjamin Button e A Rede Social. No BAFTA, ele triunfou por esse último filme. No ano passado, eu tinha começado a escrever sobre a filmografia do cineasta, que você pode conferir em LelecoFincher #01 a #04 – Os primeiros trabalhos de David Fincher (1992-1999). A ideia era assistir aos demais logo na sequência, mas perdi o ritmo e retomei somente neste ano. Como se trata de um quadro que eu iniciei antes das mudanças no site, não vou incluir Curiosidades e Ficha Técnica, como venho fazendo nos mais recentes filmes e séries. Vamos direto ao ponto.
O Quarto do Pânico (2002) – No lugar errado, na hora errada
Eu me lembro vagamente de assistir a esse filme na infância. Não tenho certeza se cheguei a assisti-lo no começo ao fim, até porque é bem provável que eu tenha visto na Tela Quente ou algo do tipo. Mesmo assim, algumas cenas me marcaram muito e eu lembrava até hoje, como uma garotinha tendo uma crise de diabetes e a mãe tendo que pedir a ajuda dos assaltantes pra salvar a vida dela. Anos mais tarde, descobri que essa garotinha era interpretada pela Kristen Stewart, nossa eterna Bella de Crepúsculo.
Meg e Sarah estão procurando por uma nova casa. Quando finalmente encontram o lugar, sofrem o azar de ter a residência invadida logo na primeira noite delas. Para evitar serem capturadas pelos assaltantes, as duas se escondem em um quarto secreto e começam a barganhar pela sobrevivência.
O Quarto do Pânico é um clássico suspense bem feito. David Fincher dá uma atenção redobrada à ambientação, mas de maneira diferente do que havia feito em Seven. Lá atrás, ele havia apostado nessa característica por meio da composição de cenários e do clima. Neste aqui, a ideia é mais literal: basicamente toda a história se passa dentro de uma única casa. Por isso, a direção passeia com muita calma por todos os cômodos daquele local, antecipando uma série de acontecimentos imprevisíveis através dos vilões Burnham (Forest Whitaker), Junior (Jared Leto) e Raoul (Dwight Yoakam). Todos eles desempenham bem as suas funções, mas Jodie Foster e Kristen Stewart são as atrizes que realmente roubam a cena.
Em seu quinto longa-metragem, David Fincher faz tudo certinho. O Quarto do Pânico é recheado de momentos inspirados e sequências pra lá de memoráveis, como a que eu mencionei no primeiro parágrafo. Não sei se eu gosto tanto do estilo da narrativa, porém. Eu reconheço que era importante a ambientação da casa, mas acho que a direção faz isso de maneira um pouco vagarosa demais, atrapalhando até a criação da tensão. Além disso, considero que o final é um tanto quanto abrupto e, embora tenha uma cena muito boa envolvendo Burnham, a conclusão não faz jus ao que o enredo desenvolveu até ali. Não é um dos meus filmes favoritos do diretor, mas tem seus méritos.

Zodíaco (2007) – O Z marca o tesouro
Quando eu assisti a esse filme pela primeira vez, dei cinco estrelas com muita facilidade. Ao ver pela segunda, achei que algumas coisas não eram tão boas quanto eu me lembrava e acabei abaixando minha própria avaliação pra 4,5/5. Em uma terceira assistida, voltei a emplacar a nota máxima na minha avaliação. Por que isso aconteceu, não sei bem, só sei que foi assim.
Nas décadas de 1960 e 1970, a costa oeste dos Estados Unidos é aterrorizada pelos assassinatos do serial killer conhecido como Zodíaco. Ao longo dos anos, a polícia sofre para identificar o criminoso, em uma trama que envolve diretamente a imprensa e a opinião pública.
O elenco capitaneado por Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo definitivamente não é pouca bosta. Os seus personagens são como fios condutores, assumindo o protagonismo quando assim o filme exige. Quando o foco está na parte jornalística, o repórter Paul Avery (Downey Jr.) toma conta dos holofotes. No campo policial, o detetive David Toschi (Ruffalo) entra em cena de vez. Na reta final, é o cartunista Robert Graysmith (Gyllenhaal) que se destaca. Com tanto talento no elenco, as quase três horas de duração passam voando e a obra nunca perde o seu dinamismo.
Pelo lado “negativo”, confesso que tive de voltar algumas cenas porque os diálogos eram muito rápidos – uma consequência da recusa de Fincher em cortar algo do roteiro, pedindo para os atores falarem mais rápido para que o filme não ficasse ainda maior. Sim, isso realmente aconteceu. De qualquer forma, isso é uma prova de que o conteúdo do filme é robusto e aprofundado, captando a nossa atenção do início ao fim. A composição das cenas é muito bem feita, há espaço pro suspense e até pro terror, e o filme a todo momento brinca com a nossa imaginação e capacidade de dedução. Zodíaco é, sem dúvida alguma, um filme Top 3 na filmografia de David Fincher até aqui. Talvez até Top 1.

O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) – No meio do caminho
Na época em que este filme foi lançado, preciso confessar que eu pensava que se tratava de uma história baseada em fatos. Eu tinha apenas 10 anos de idade, ok? Na minha cabeça, era perfeitamente possível algo assim acontecer, embora se tratasse de um caso raro. Demorou vários anos pra eu descobrir que era apenas uma ficção.
Benjamin nasce com todas as características de uma pessoa idosa. À medida que ele vai crescendo, fica nítido que o seu amadurecimento acontece ao contrário de todo mundo. Enquanto os demais nascem bebês e vão envelhecendo conforme o tempo passa, ele vai ficando cada vez mais jovem, em uma inversão bizarra do ciclo natural da vida. Até por isso, o romance com Daisy fica tão difícil.
O Curioso Caso de Benjamin Button é um filme de fases, pra combinar com o seu protagonista. Não tem como a premissa pelo menos não te deixar curioso. É verdade que os efeitos visuais do Brad Pitt velhinho, no olhar de hoje, são um tanto quanto bizarros e desncessários. Afinal, se a caracterização do personagem tivesse utilizado apenas maquiagem ou até mesmo outro ator, a distração teria sido menor. Até porque, quando Benjamin chega à infância, eles não transformam o Brad Pitt em uma criança, mas sim usam um artista mirim. Mesmo assim, a trama é tão única que isso acaba ficando em segundo plano. Infelizmente, a partir do momento em que o roteiro investe mais tempo na parte de romance, acredito que o filme perde boa parte de seu pique e se transforma em algo convencional demais, indo na contramão de sua proposta.
A duração de quase 3 horas também atrapalha um pouco. Não foi uma tortura chegar até o fim, mas acredito que dava pra tirar pelo menos uns 20 minutos sem perder qualidade – na verdade, até aumentaria. O Curioso Caso de Benjamin Button tinha bastante história pra ser contada nesse espaço de tempo, mas, ao abandonar arcos de originalidade maior pra voltar as atenções a um romance impossível, algo já feito milhares de vezes no cinema, o longa se torna meio moroso e a segunda metade é bem inferior à primeira. Não é o melhor trabalho do Fincher, mas é sim um bom conjunto.

A Rede Social (2010) – Línguas e mentes afiadas
Sem exagero nenhum, a cena de abertura de A Rede Social tá entre as melhores que eu já vi em um filme. Logo no primeiro segundo, uma música começa a tocar, nos colocando imediatamente na vibe que a história deseja passar. O cenário é um bar apinhado de gente, e duas pessoas se sentam em uma mesa. Com uma ambientação imersiva, dois excelentes atores e um diálogo afiado, acelerado e impecável, não tem como não se prender logo de cara.
Todo mundo conhece o nome de Mark Zuckerberg, criador do Facebook. Mas e a história por trás da criação da maior rede social do mundo? Com roteiro de Aaron Sorkin, A Rede Social traça uma linha do tempo desde os tempos do bilionário em Harvard, passando por seus relacionamentos pessoais e profissionais rumo ao topo do universo da tecnologia.
Em entrevistas, Zuckerberg fez questão de afirmar que A Rede Social é “ficção” e que a maioria dos acontecimentos retratados em tela não são reais. A sua esposa Priscilla Chan, por exemplo, sequer é mostrada no filme, sendo que os dois se conheceram justamente na época de faculdade. Eu pessoalmente acredito que grande parte do longa seja composta por liberdades criativas, e portanto é difícil analisá-lo como uma biografia. Independente disso, não há como negar que é um filme sensacional.
O elenco é de primeira. Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Rooney Mara e Justin Timberlake são apenas alguns dos nomes. A trilha sonora, como eu mencionei brevemente no primeiro parágrafo, é memorável, assim como a edição e o roteiro. Naturalmente, os três Oscars que o filme faturou foram justamente nessas três categorias, algo merecidíssimo. A Rede Social pode até não contar totalmente a história “real” por trás de Mark Zuckerberg, mas a trama é tão bem narrada que pouco importa. E, sinceramente, não é como se a vida do bilionário fosse acabar por causa de uma representação negativa, né? E querendo ou não, com certeza tem muita verdade ali também. Eu já assisti a esse filme umas três vezes, e nunca me canso. É possivelmente a obra de Fincher mais fácil e gostosa de revisitar.

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