• Andando em círculos
No meu pitaco da terceira temporada, eu falei sobre os medos que eu tinha em relação ao futuro de The Boys. Infelizmente, esses receios se confirmaram. Em seu quarto ano de existência, a série apresenta uma queda brusca de qualidade, principalmente no miolo da temporada, abusa de alguns recursos narrativos e fica sem saber o que fazer com certos personagens. A pior parte é que claramente a produção está enrolando alguns arcos pra dar espaço pra quinta e última temporada fechar tudo com chave de ouro. Por isso, acredito que este aqui é e será o ponto mais baixo da joia da Prime Video.
Sinopse
Os Estados Unidos estão divididos. De um lado, os apoiadores do Capitão Pátria querem direitos humanos para humanos direitos. Do outro, os apoiadores de Annie January lutam por uma maior regulamentação do poder. Qualquer semelhança com o mundo real é mera coincidência, ok? Diante da perspectiva de envelhecimento, Capitão Pátria prepara Ryan para herdar seu legado e convoca duas novas heroínas para manter os Sete no topo do mundo: Sábia, a mulher mais inteligente do planeta, e Espoleta, uma importante arma de disseminar desinformação. Enquanto isso, os “The Boys” correm contra o tempo pra impedir que Victoria Neuman chegue à cadeira de presidente.
Crítica
Nas outras três temporadas, eu assisti a um episódio por semana, pra acompanhar em tempo real o lançamento. Nesta quarta, optei por ver tudo de uma vez, sobretudo depois de não me impressionar muito com os três capítulos iniciais, que foram lançados simultaneamente. Esse pequeno desinteresse foi um dos motivos pelos quais eu demorei um pouco mais pra ver do que o normal. A questão é que, em muitos momentos, The Boys parece andar em círculos.
O roteiro da série sempre foi uma de suas principais qualidades, ao lado dos personagens. Esses dois elementos perderam parte do brilho aqui. Os núcleos do Francês e da Kimiko são pra lá de desnecessários, confusos e não levam a lugar algum, o arco do Billy teve um ar muito grande de repetitividade e a história em geral apresenta diversos furos. O maior deles é a recusa do Capitão Pátria em simplesmente matar os protagonistas da série. Nas demais temporadas, essa decisão de não aniquilá-los fazia sentido pois eles não eram grandes incômodos, por causa da relação entre Billy e Ryan ou porque o Capitão almejava ser amado pelo povo – e aniquilar os amigos da popular Luz-Estrela poderia ser um erro.
Na quarta temporada, essa desculpa não cola. Um dos principais pontos do enredo é a busca interna por um espião dentro da Vought, que vem passando informações aos mocinhos. O Capitão mata muita gente na busca por esse objetivo. Por que não cortar logo o mal pela raiz? Quando decide se livrar dos The Boys de uma vez por todas, o faz do jeito mais idiota possível.
Além disso, a história como um todo não anda quase nada. Se pegarmos a essência de como a temporada começou e comparar com a maneira que ela terminou, pouca coisa realmente se desenvolveu. Pra piorar, pela primeira vez The Boys abusou de sua característica de aplicar coisas bizarras que ninguém tem coragem de fazer. Isso acontece em excesso nesta temporada e dá até uma certa preguiça e sensação de que a violência e a bizarrice não servem mais pra um propósito narrativo.
Nossa, Leleco, do jeito que você tá falando, vai dar nota 0 pra essa temporada, né? Bom, não é assim também. The Boys não comete apenas erros. Eu os citei com mais contundência porque a série começou a errar onde mais se destacava positivamente. Mesmo com esses defeitos, há muito a se valorizar aqui. Hughie, Annie, Marvin, Trem-Bala e Capitão Pátria, como sempre, têm arcos bem construídos e que fornecem uum sentimento de progressão. Aquela ironia mordaz permanece sendo um deleite de se acompanhar, e eu não passei um episódio sequer sem soltar algumas risadas de deboche. Ainda, o encerramento da temporada é um dos melhores da série até agora, talvez atrás somente da segunda, tendo me surpreendido e me deixado empolgado pelo último ano, resgatando aquela paixão que eu nutro por esse universo ficcional.
Veredito
Vou direto ao ponto: a quarta temporada de The Boys é a mais fraca até aqui. A história possui pouca objetividade, alguns personagens estão perdidos e o roteiro parece não ter o mesmo cuidado aos detalhes de antes. Mesmo assim, a série continua apresentando um sarcasmo único e acerta em cheio quando aborda temas como redenção e identidade, brincando com assuntos do mundo real e mostrando que os humanos têm um potencial de grandeza na mesma medida em que sabem ser ridículos. O desfecho é excelente e, pelo menos na empolgação do momento, apaga um pouco a impressão negativa e deixa aquela expectativa positiva pela temporada de encerramento.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eu sinceramente não entendi por que não mataram o Profundo quando tiveram a oportunidade. Ele por acaso tem pele impenetrável ou algo do tipo? Eu realmente não lembro. Se a resposta for negativa, não há explicação pro Leitinho não ter metido cinco tiros nele ou alguém ter arrancado a cabeça do cara, logo depois da Annie deixá-lo inconsciente com aquele peso de academia. Eu sei que eles pensavam que o “Noir” retornaria a qualquer momento, mas não valia a pena arriscar? Poderia demorar só alguns segundos.
- Velho, que agonia gigantesca de toda aquela sequência do Hughie fingindo ser o Tece-Teia. Ainda bem que aquele Tek Knight foi de arrasta pra cima, era esquisito demais até pros padrões de The Boys. Por esse mesmo motivo, não fiquei triste (embora tenha sido chocante) pela morte do Tece-Teia, não aguentava mais vê-lo soltando teia por um buraco nas costas.
- Ok, eu não esperava que o Chuck de Supernatural seria um super que se duplica e brinca de Centopeia Humana nas horas vagas. Que doideira aquilo tudo, bicho.
- Não vou dar uma de sabichão aqui e dizer que eu adivinhei que o Joe Kessler era só uma manifestação da mente do Billy, mas confesso que fiquei um pouco entediado com alguns diálogos. Eu morro de preguiça desse recurso que filmes e séries usam de pegar um personagem que já morreu pra conversar com um personagem ainda vivo, pra mostrar os conflitos internos pelo qual ele tá passando. Acho tão clichê e saturado.
- Fiquei bem decepcionado com o que fizeram com todo aquele arco do vírus, tão importante em Gen V. Depois de todos aqueles perrengues, é sério que uns animaizinhos destruíram todo o laboratório e ficou somente uma dose sobrando, e que eles utilizaram-na pra infectar as ovelhas voadoras? Cadê a Neuman quando se precisa dela? Ela não poderia ter, sei lá, EXPLODIDO aquelas ovelhas? Que bagunça tudo aquilo, me deu a impressão de que os roteiristas se arrependeram de ter criado aquele vírus na série derivada.
- Que entediante aquele romance do Francês, hein? Qual foi o sentido daquilo? Além de tudo, ainda estragou um pouco da relação dele com a Kimiko. Eu sempre shippei os dois, mas, a partir do momento em que eles decidiram que aquela era uma relação fraternal e o Francês partiu pra outra, eu gostei de terem introduzido essa questão de amizade entre homem e mulher, algo tão escasso no cinema e na televisão. De repente, voltaram com o interesse romântico entre eles. Pra que serviu todo aquele arco com o Colin? Mostrar que o Francês se sente culpado pelo passado? A gente já não sabe disso? E o Colin nem foi mencionado direito mais depois do término com o Francês. Que desperdício de tempo.
- Sobre todo o rolê do Hughie ter ficado com o “clone” da Annie: primeiramente, eu achei meio paia a reação dela ao culpá-lo por ter sido enganado. Depois, conversando com a minha namorada, eu entendi mais o lado dela. Realmente, o Hughie deveria ter notado que algo estava errado, até porque dez dias haviam se passado. E, de fato, igual a Annie falou, o Hughie estava criando uma fantasia de quem ela era e não a estava olhando como uma pessoa real.
- Dois amigos meus fizeram alguns palpites de quem morreria nesta temporada. Ambos acertaram que o pai do Hughie passaria dessa pra melhor. Inclusive, gostei daquele arco. Porém, todo mundo achava (e eu também) que o presidente seria assassinado, o que não ocorreu. Eu jamais imaginava que a Victoria é quem morreria, ainda mais daquele jeito – nos tentáculos de Billy Butcher.
- R.I.P. Mallory. Será que o Ryan vai se transformar no Homelanderzinho?
- A minha namorada me falou algo que achei interessante: será que há a possibilidade da Sábia se aliar aos The Boys, por já ter cumprido o desafio de ajudar o Capitão Pátria e agora tentar fazer o contrário? Seria algo interessante de se ver. E quero até ver pra onde é que a galera toda foi levada e como o Soldier Boy vai se encaixar nesse quebra-cabeças.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Trem-Bala
Três personagens ficaram no páreo, depois de muita reflexão da minha parte: Hughie, Leitinho e Trem-Bala. O Hughie teve um desenvolvimento pessoal que achei muito bonito e uma participação direta em todos os eventos centrais. Leitinho assumiu um papel de liderança hesitante que me fez ter aquele sentimento de estabilidade que não existia com o Billy. No entanto, Trem-Bala chegou ao ápice da sua evolução em todos os sentidos, seja como pessoa ou como personagem, e por isso é o grande destaque da vez.
+ Melhor episódio: S04E08 (“Assassination Run”)
É possível que não tenha sido o melhor capítulo do início ao fim, mas os últimos minutos, ao som de Heart Shaped Box, são tão intensos que eu não poderia ter escolhido outro episódio.
+ Maior surpresa: Espoleta (menção honrosa à Sábia)
The Boys acertou em cheio em suas duas principais adições à quarta temporada. Eu adorei a participação da Espoleta. Perfeita representação da estúpida extrema-direita, as suas teorias da conspiração me divertiram bastante e ainda houve espaço pra outras camadas da personagem, mostrando que pode ser um perigo subestimá-la e que ela é mais esperta do que parece. Já a Sábia me deixou intrigado sempre que aparecia em tela, porque eu nunca sabia se as coisas estavam dando errado pra ela ou se tudo aquilo fazia tudo parte de um plano. Esse mistério foi um bom elemento pra história como um todo.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?