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Duro de Matar #01 a #05 – O imortal John McClane (1988-2013)

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• Pentalogia de ação

A minha memória pode estar me pregando peças, mas acredito que o primeiro filme da saga Duro de Matar que eu assisti foi o último, há cerca de dez anos. Depois daquilo, acho que vi o primeiro por sugestão do meu pai, que insistiu pra que assistíssemos aos demais. Por algum motivo, não demos continuidade, mas neste ano decidi corrigir este erro. A partir de agora, falarei sobre todos os cinco longas da franquia. Não planejo soltar spoilers muito explícitos, mas falarei mais abertamente sobre algumas coisas e não perderei tempo com sinopses. Por isso, eu recomendo que você tenha assistido a todos os filmes antes de ler esta postagem, mas não vou estragar sua experiência caso não tenha visto.

 

Duro de Matar (1988) – No topo do Nakatomi Plaza

A princípio, este parece ser apenas mais um filme de ação genérico. Temos um protagonista fodão e meio cafajeste com problemas no casamento, terroristas europeus, bombas, tiros, policiais idiotas, alívios cômicos e diferentes contagens regressivas pra apimentar a ameaça.

Duro de Matar pode até começar um pouco devagar e repleto de clichês do gênero, mas não se deixe enganar pelas aparências. Ao contrário do que parece nos primeiros minutos, o filme traça o caminho oposto. Ele utiliza arquétipos a seu favor e se recusa a cair em estereótipos que poderiam reduzir o poder de sua trama e seus personagens.

Não que a história seja magnífica, mas é extremamente funcional. John McClane, interpretado por Bruce Willis, é muito mais do que aparenta e logo se transforma em um herói por quem podemos torcer. Hans Gruber, na pele de Alan Rickman, é um vilão ameaçador sem precisar ser exagerado. Na verdade, os seus modos contidos e a maneira suave de falar são o que lhe dão o charme.

Também gosto muito dos personagens secundários e como o enredo os utiliza. Holly não é apenas o interesse romântico feminino do protagonista, que só tá ali pra ficar gritando e gerar um problema a mais pro herói. Holly tem personalidade e é importante pra narrativa. O mesmo vale pro sargento Al, que entra no filme como quem não quer nada e é responsável por uma parceria improvável e marcante com John McClane, uma relação que se inicia via rádio. Até o motorista Argyle tem a sua relevância.

Além disso tudo, já que estamos falando de um filme de ação, Duro de Matar nada de braçada na adrenalina. As coreografias são muito bem feitas e eu adoro como o longa frequentemente nos lembra de quantos terroristas ainda estão vivos. Ao contrário de vários outros títulos do gênero, os inimigos não são inesgotáveis e o herói não é alguém incapaz de ser ferido gravemente. Essa série de fatores contribui pra que o filme tenha uma certa autenticidade, mesmo se tratando de uma sequência de explosões em cima de um arranha-céu no Natal.

Severo Snape e sua mais nova vítima: uma aluna caloura da Grifinória

Duro de Matar 2 (1990) – O cúmulo do azar

Ok, a história do primeiro filme é melhor, o vilão é amplamente superior e é necessário ter uma suspensão de realidade muito maior pra poder curtir Duro de Matar 2. Mas independentemente disso, e peço perdão pelo palavrão, este filme aqui é do caralho.

John McClane está de volta pra mostrar que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar. Quem diria que ele novamente estaria em uma situação envolvendo terroristas e reféns, em pleno Natal, e que sua esposa estaria de novo em grave perigo? Além disso, quem poderia adivinhar que a equipe policial responsável por neutralizar os inimigos não passaria de um bando de incompetentes, com um jornalista antiético disposto a colocar lenha na fogueira? Isso tudo seria o cúmulo do azar, não é mesmo?

É indiscutível que este filme bebe da mesma fonte do seu antecessor, mas há uma grande e decisiva diferença: o cenário. No primeiro filme, a ameaça é mais contida e, por mais que envolva uma quantia significativa de dinheiro, a amplitude da trama do segundo é bem mais considerável. Pra começar, o aeroporto onde a história acontece é obviamente mais vasto, aumentando o raio de alcance das aventuras. Em Duro de Matar, o campo de batalha é vertical. Em Duro de Matar 2, ele é muito mais horizontal, alterando a dinâmica das cenas de ação.

E que cenas de ação! Assim como eu disse no primeiro parágrafo, Duro de Matar 2 peca bastante ao exagerar na incapacidade de resposta das autoridades dos EUA em pleno aeroporto de Washington, obrigando-nos a ignorar os fatores que não fazem sentido e dar mais atenção às sequências de luta. E nisso o filme é espetacular. Os tiroteios são empolgantes, temos várias cenas de brilhar os olhos e as coreografias são até melhores do que no predecessor em alguns momentos.

Duro de Matar 2 tem consciência de todas as coisas certas que o original fez e não perde de vista essas qualidades. A história se repete de várias maneiras diferentes, os vilões não têm tanta personalidade quanto Hans Gruber e as suas motivações são mais genéricas, sobretudo quando falamos de longas de ação. Mesmo assim, este filme explora bem o carisma de Bruce Willis, é mais engraçado do que o anterior e tem uma sequência final com tudo que um fã do gênero poderia pedir – e que deixa Velozes e Furiosos 6 no chinelo.

O Natal mais fraco da família McClane

Duro de Matar 3: A Vingança (1995) – Nem tudo que reluz é ouro

Como eu disse na introdução, eu fiz essa sessão especial de Duro de Matar junto com meu pai. Quando ele viu a capa do terceiro filme, disse logo de cara que o achava o melhor deles. Naturalmente, eu cheguei com as expectativas altas. No começo, essas expectativas foram mais do que atendidas.

A caça ao tesouro comandada por John McClane e o recém-introduzido Zeus é como uma injeção de adrenalina direto no peito. A sequência em que os dois personagens costuram por Nova York em alta velocidade me deixou praticamente sem respirar. O táxi passava por espaços tão apertados que eu fiquei constantemente pensando que ele iria colidir com algo, mesmo sabendo que provavelmente isso não aconteceria.

Além da ação, a premissa é muito bem construída. É legal ver a dupla interpretada por Bruce Willis e Samuel L. Jackson (ambos têm uma ótima química juntos, é importante dizer) buscando solucionar os enigmas, e é divertido tentar resolver junto com eles. Eu só fiquei absolutamente confuso com aquela dos galões de água por causa da legenda, que ficava convertendo em litros – e meu raciocínio não é rápido o suficiente pra pensar em inglês e português ao mesmo tempo.

Contudo, a partir do momento em que o vilão Simon entra em cena, o filme pra mim perde muito em ritmo. Não que a atuação de Jeremy Irons seja ruim, longe disso. Só acho que a dinâmica urgente de mistério sobre o antagonista era mais original do que a trama de roubo de barras de ouro no Banco Central envolvendo um membro da família de outro vilão da franquia. A partir dali, Duro de Matar 3: A Vingança perdeu um pouco da minha atenção e só foi recuperar uns bons minutos depois. O final voltou a demonstrar qualidade, ainda que não em um nível tão alto quanto no início.

Duro de Matar 3: A Vingança novamente entrega um cenário diferente e utiliza a paisagem urbana de Nova York a seu favor. A ação é indiscutivelmente inventiva e a dupla principal de personagens se encaixa muito bem. Infelizmente, ele segue por outra vertente não tão criativa e o roteiro apresenta diversas facilitações, como a dedução de John McClane a respeito do 21° presidente sem nenhuma pista concreta que levasse a isso. Outra coisa que eu também não gostei foi a separação entre John e Holly, que não serviu pra absolutamente nada e soou repetitiva. Talvez seja uma opinião impopular, mas acho os dois primeiros filmes ligeiramente melhores, cada um à sua maneira, embora o terceiro também seja incrível.

Pergunta: Quantos filmes o Samuel L. Jackson fez na carreira? Resposta: Sim

Duro de Matar 4.0 (2007) – Perigo digital

12 anos depois do lançamento de Duro de Matar 3: A Vingança, o quarto capítulo da pentalogia apresenta moldes bem diferentes, alguns deles por razões óbvias. Não há mais aquele clima noventista que perdurava nos anteriores e o filme parece muito mais familiar pra quem cresceu durante a primeira década deste milênio, como eu. O roteiro até tenta brincar com essa ideia de choque de gerações, mas não vai fundo o bastante.

No primeiro olhar, Duro de Matar 4.0 não parece pertencer à mesma franquia. A começar por Bruce Willis, que aqui já está com a identidade de Careca Mais Conhecido de Hollywood. Mas, brincadeiras à parte, diversas marcas registradas da saga não estão mais presentes e o roteiro não possui a mesma criatividade de outrora. O vilão interpretado por Timothy Onlyfans Olyphant é um grande exemplo disso. Ele é basicamente uma mistura dos antagonistas anteriores: um homem que deseja passar uma mensagem e visa o lucro, como os irmãos Gruber, e um antigo funcionário de alto escalão do governo que se revolta contra o sistema, como o Coronel Stuart.

A história de Duro de Matar 4.0 é disparadamente a pior até aqui. Mesmo sendo um filme mais recente, de alguma forma ele é muito mais datado do que os três anteriores. Acho que essa narrativa envolvendo hackers se tornou tão batida na década de 2000 que este filme parece mais um longa de ação genérico do que um capítulo de uma franquia tão criativa e inovadora. A química de Bruce Willis com Justin Long, que interpreta Matthew Farrell, é boa e gera momentos engraçados, mas fica bem atrás de suas dinâmicas com outros personagens da franquia.

As cenas de ação, pelo menos, seguem excelentes neste quarto filme. Eu consigo citar pelo menos três sequências que me deixaram com os olhos brilhando. Temos toda aquela parte do túnel, em que acontece uma colisão entre um carro e um helicóptero, as lutas no elevador e as perseguições automobilísticas que se destacam – e eu já falei aqui no blog que não curto muito esse tipo de cena, mas reconheço que essa saga sabe como executá-las. Já as participações das autoridades policiais são mais ridículas do que o habitual, porque, se pararmos um minutinho pra pensar, absolutamente nenhum agente da lei faz qualquer coisa de útil além de John McClane.

Duro de Matar 4.0 é um filme de ação legal, com explosões convincentes e cenas que pensam fora da caixa. Por outro lado, é abaixo da média quando comparado aos demais capítulos da franquia. O enredo é pouco inspirado e dá a impressão de que já vimos tudo aquilo antes, os fragmentos envolvendo a família de John McClane não engajam tanto quanto nos longas anteriores e o antagonista é o mais esquecível até então.

Scott Pilgrim ficará sabendo disso

Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer (2013) – De férias

Se eu pensava que Duro de Matar 4.0 era o ponto baixo da franquia, era porque não me lembrava muito bem de Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer. Na época em que assisti pela primeira vez, tinha uns 15 anos de idade. Praticamente a única coisa boa do filme é a presença carismática do Bruce Willis, e com grandes ressalvas.

No filme anterior, tivemos a oportunidade de ver como funcionaria uma dinâmica entre John McClane e sua filha, Lucy. Era um movimento natural que agora a saga voltasse os seus olhos para Jack, o outro filho do nosso herói. A história até tinha potencial, mas a relação entre eles é porcamente desenvolvida. A princípio, percebemos que há uma tensão no ar. Isso perdura por alguns minutos até que, de repente, após uma sequência de tiroteios e perseguições de carro genéricas e entediantes, pai e filho estão se entendendo muito bem, obrigado.

O primeiro Missão Impossível foi lançado em 1996, e o mais recente saiu em 2023. Portanto, 27 anos separam esses dois extremos. Em Duro de Matar, o primeiro foi lançado em 1988 e o último, em 2013, com 25 anos de diferença entre eles. Na saga de Tom Cruise, cada capítulo se adaptou à sua época de lançamento, acompanhando o avanço das gerações, mas sempre preservando uma identidade em comum. Na franquia de Bruce Willis, não acontece o mesmo. John McClane pode até ter a mesma personalidade em todos os longas, mas o quarto e o quinto filmes, principalmente esse último, não parecem pertencer à mesma família. Em outras palavras, Um Bom Dia Para Morrer não tem alma.

A trama não é só fraca, mas também confusa. Não vou nem me estender na escolha de mandar John McClane pra Moscou em mais um enredo-qualquer-coisa na Rússia. Ignorando esse detalhe, o roteiro não faz esforço algum pra realmente nos colocar a par da ameaça que precisa ser barrada. Estou escrevendo esta crítica cerca de 20 minutos depois de terminar o filme e não consigo me lembrar do nome de nenhum dos personagens russos. Daqui a algumas horas, eu provavelmente nem vou me recordar de seus rostos.

Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer foi uma tentativa falha de mostrar que o capítulo anterior havia sido um ponto fora da curva e tentar encerrar a franquia com chave de ouro. A história não tem um pingo de inspiração criativa, a premissa de pai e filho é boa, mas se desenvolve de maneira artificial, e nem as sequências de ação salvam – na verdade, tem ação até demais e isso me cansou. Pra piorar, o próprio John McClane tá meio chatinho aqui, com poucos momentos engraçados e um repetitivo bordão “estou de férias!” que começou a me dar nos nervos. Sinceramente, era melhor que a pentalogia tivesse sido uma trilogia.

O careca e o calvo

 

+ Veredito
A pentalogia Duro de Matar poderia ter sido uma trilogia definitiva de ação, com um início brilhante, uma continuação à altura e um terceiro filme recheado de bons momentos. Infelizmente, a franquia cai de nível nos dois últimos capítulos e termina de maneira quase melancólica. Porém, apesar da saga amargar um longa mediano e outro ruim, os méritos dos três primeiros sempre vão servir de alento como obras que marcaram a história do cinema. E, pra mim, há o significado especial de ter maratonado todos eles com o meu pai.

Rambo é pros fracos

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

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Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).