Ficção científica, Séries

Black Mirror: 1ª Temporada (2011)

• Coletânea de críticas

Meu irmão mais velho insistiu por dias para eu ver esta série.
Ele começou sozinho, em um dia que não havia mais ninguém em casa. Desde então, veio me falar toda hora: “cara, você tem que ver Black Mirror” ou “você tá fazendo alguma coisa agora? Que tal ver uma série?” e eu fui só adiando apesar de ter certeza de que eu gostaria da história. Chegou o dia em que finalmente arranjei tempo para assistir, e então percebi que meu irmão estava certo o tempo todo.
Black Mirror possui uma ideia totalmente inovadora em todos os sentidos. Em American Horror Story, por exemplo, temos a cada temporada uma história diferente, personagens diferentes mas com os mesmos atores. Em True Detective, a cada temporada temos enredos diferentes, personagens e também atores diferentes. Já aqui em Black Mirror temos a cada episódio tudo diferente, inclusive a realidade. Uns se passam no “presente”, enquanto outros abordam um futuro indeterminado.
O foco da série é criticar os avanços da tecnologia e suas consequências. Pode parecer batido, talvez até lembre aquela sua tia moralista que sempre fala que “esse zap zap aí é a maior besteira” ou que “vocês jovens parecem zumbis”, mas a crítica da série é muito mais intensa e forte.
Como cada episódio é totalmente independente do outro, o jeito é eu analisar cada um separadamente:

  • The National Anthem (Episódio 1): o episódio piloto se passa no presente de alguma realidade alternativa, que se centra no primeiro-ministro britânico Michael Callow. Certo dia, ele acorda assustado com a notícia de que a princesa havia sido raptada e as condições para que ela fosse solta eram terrivelmente bizarras: o primeiro-ministro deveria ir ao ar às 16h daquele mesmo dia e ser filmado enquanto mantinha relações sexuais com um porco. Isso mesmo que você leu, um porco.
    Pode parecer um absurdo completo, mas o conflito é tratado de maneira espetacular, nos colocando no lugar do primeiro-ministro. Você sacrificaria sua eterna vergonha pessoal em troca de uma vida? Certeza que você deve ter pensado “lógico que sim, é uma vida, mano”, mas pare um pouco e reflita sobre todas as consequências que isto geraria. Todos se lembrariam de seu vídeo para sempre, ainda mais nesta época em que a internet é imparável.
    Você possivelmente está pensando no que isto tem a ver com tecnologia. No final do episódio é que a crítica é mostrada, e se eu revelar aqui fica meio sem graça. Eu achei este capítulo simplesmente do caralho, e tive que parar por um tempo antes de começar o segundo. Um excelente começo que me deixou de boca aberta.
Eu definitivamente não gostaria de estar no lugar dele
Eu definitivamente não gostaria de estar no lugar dele
  • Fifteen Million Merits (Episódio 2): ambientado em um futuro distópico, o segundo capítulo relata a vida de Bing Madsen, um jovem que faz parte de um sistema insuportável de vida. Ele, junto de várias outras pessoas, têm o dever de pedalar todos os dias para sobreviver ou para poder buscar uma vida melhor com o dinheiro extra. O local em que vivem é extremamente tecnológico onde tudo envolve computadores e programas de televisão até que Bing conheceu uma menina e de todos seus pecados ele se arrependeu conhece uma garota que o faz se apaixonar e pela primeira vez sentir algo real. A premissa até parece um pouco clichê, mas a trama vai dando tantas reviravoltas até chegar no fim que a gente acaba até se sentindo mal quando termina. Isto acontece principalmente porque todos os episódios até aqui possuem finais melancólicos, que nos deixam refletindo que nem loucos quando terminamos.
Não posso deixar de mencionar que esta garota é uma gracinha, né
  • The Entire History of You (Episódio 3): imagine um mundo onde você poderia salvar todas as suas memórias e revisitá-las sempre que quiser, para analisar expressões, objetos, paisagens ou simplesmente para reviver um momento marcante. É disso que o terceiro capítulo se trata.
    O protagonista é Liam Foxwell, um advogado em busca de trabalho que no começo do episódio é mostrado em uma entrevista de emprego. Quando sai de lá, revisita sua memória e percebe com detalhes a expressão no rosto dos empregadores e chega a conclusão de que provavelmente não será contratado. Depois disso, viaja de volta ao encontro de sua esposa e começa a desconfiar de que a mesma o está traindo com um antigo amigo dela, e por isto Liam com o auxílio de suas memórias começa uma investigação.
Mano, esse cara me lembra muito o Felix de Orphan Black
Mano, esse cara me lembra o Felix de Orphan Black

Todos os três episódios são sensacionais à sua própria maneira – cada um tem o seu charme. O primeiro é mais político e mexe mais com a questão do sacrifício pessoal; o segundo é mais melancólico, mostrando o abismo entre as classes sociais e a alienação (odeio esta palavra pretensiosa) causada pela tecnologia; e o terceiro é mais paranoico, mostrando-nos até onde o ser humano pode chegar quando desconfia de alguma coisa.
Não dá para dizer com certeza qual é a melhor trama. Meu irmão, por exemplo, ficou fazendo propaganda um tempão do terceiro episódio, dizendo para eu começar por ele, que iria até virar filme… Eu gostei bastante dele, mas os dois primeiros chamaram mais a minha atenção, não sei porquê. Questão de gosto mesmo.
Antes da Netflix comprar os direitos da série, confesso que nunca havia ouvido falar de Black Mirror, e aí está mais uma prova de que tem muita produção de qualidade que não é devidamente reconhecida, o que é bastante triste, se pararmos pra pensar.
Dou nota máxima para esta curta temporada de estreia sem nem pensar duas vezes. Tenho plena confiança de que as temporadas seguintes manterão o nível, ainda mais com a recém-chegada mãozinha da Netflix.

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Cara, que bizarro o cara ter cortado o próprio dedo e se suicidado pela arte.
  • Sensacional o Chandler Bing ter feito todo aquele discurso contra o sistema para no final se tornar parte do mesmo. Faz a gente pensar.
  • Fiquei o terceiro episódio inteiro odiando o Liam e o achando escroto. No final, continuei um pouco com essa ideia, mas pelo fato de ele ter acertado na desconfiança me fez entender mais o lado dele.
  • Tenso pensar na situação da Abi Khan e de tantas garotas por aí :/
  • E pensar que o cara do primeiro episódio soltou a princesa meia hora antes do tempo previsto.
  • Que discurso foda do Bing no final, apesar de ele ter cedido.
  • Não tenho muito mais o que falar aqui. Ainda estou em estado de reflexão profunda.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Bingham “Bing” Madsen
Embora todos tenham sido muito bem construídos, achei que este aqui se destacou. Ponto também para Michael Callow.

O saldo de Bing é equivalente ao meu acúmulo total de decepções
O saldo de Bing é equivalente ao meu acúmulo total de decepções

+ Melhor episódio: S01E02 (“Fifteen Million Merits”)
Este aqui é totalmente questão de gosto. A maioria das pessoas que eu conheço e assistiram à temporada consideram este o mais fraco, mas como eu sou meio doido, curti mais este. Se você prefere o primeiro ou o terceiro, é totalmente compreensível – todos eles são fodas.

Cocoricó
Cocoricó

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).