• Mantendo o alto nível
A segunda temporada de uma série que está na moda já chega destruindo com suas Críticas Sociais Fodas.
Enquanto a primeira teve somente três episódios, a segunda contém três + um especial de Natal (uau, uma grande diferença na quantidade!). A série segue a mesma ideia e o mesmo ritmo, colocando situações em que a tecnologia escraviza o ser humano a ponto de gerar paranoia e descontrole emocional. E, é claro, os capítulos continuam tristes e deprimentes.
Como eu fiz em relação à primeira temporada, não há como analisar como um todo, mas sim episódio por episódio, sendo que cada um contém universos, histórias e personagens diferentes, com a pequena ressalva que agora, principalmente no Especial de Natal, várias referências aos outros capítulos passam a aparecer, gerando na gente aquele sentimento de “hehehe, eu vi o que você fez aí, Black Mirror”.
O primeiro episódio da nova temporada só pode ser definido como triste. Enquanto a série segue o padrão de apresentar uma trama meio melancólica com conflitos por vezes agitados, terminando com um desfecho normalmente depressivo, aqui já vemos um episódio inteiro angustiante.
A história é sobre um casal bonitinho, composto por Martha, interpretada por Hayley Atwell, a Agente Carter de Capitão América: O Primeiro Vingador e da própria série Agent Carter, e por Ash, representado por Domhnall Gleeson, um Weasley o carinha de Questão de Tempo, onde ele atuou ao lado da minha esposa Rachel McAdams.
Voltando ao que interessa, o episódio aborda um dispositivo que só funciona depois que uma determinada pessoa morreu. Por exemplo: imagine que uma pessoa X passou dessa pra melhor. Uma pessoa Y se cadastra no aplicativo e dá permissão para o servidor analisar toda a vida da pessoa X, suas redes sociais, e-mails, para “adquirir” a personalidade do falecido. Posteriormente, a pessoa Y é capaz de trocar mensagens com a pessoa X, que na verdade não é nada mais nada menos que um computador imitando os trejeitos de alguém que já não está mais naquele mundo.
Pode parecer loucura, eu sei. Contudo, imagine que você perdeu uma pessoa muito querida e simplesmente tem a necessidade de conversar com ela, mesmo sabendo que não é a pessoa propriamente. É um instinto básico do ser humano não saber lidar com a morte (putz, filosofei agora) e o primeiro episódio intitulado de “Be Right Back” trata exatamente desta questão.
Continuemos com o capítulo seguinte, “White Bear”. O decorrer da trama é completamente diferente do episódio anterior, possuindo um andamento alucinante. Se você é daqueles que tem preguicinha de ver algo com muito diálogo e pouca ação, provavelmente achará White Bear muito mais interessante que Be Right Back.
O ponto de partida da história é quando uma jovem acorda do nada em uma grande casa vazia. Aparentemente, ela havia se drogado, sendo que o chão estava cheio de comprimidos derramados, e então a moça sai andando por aí para descobrir o que está acontecendo.
No momento em que sai pela porta da casa, percebe que todas as pessoas estão alucinadas, a filmando e rindo por trás das câmeras; ela considera aquilo tudo estranho e assustador, logicamente, mas o pior é quando um homem surge de um carro e começa a correr atrás dela, com a intenção de matá-la. E o mais bizarro: as outras pessoas não faziam absolutamente nada, apenas filmavam com seus celulares, seguindo o conflito e não interferindo na situação.
A trama vai evoluindo, vários segredos são revelados, blá blá blá, e o desfecho é surpreendente e polêmico. Não dá nem pra expor direito aqui o que pensei sem dar spoiler, mas confesso que fiquei bem pensativo sobre a possibilidade real daquilo acontecer nos dias de hoje, guardadas as devidas proporções.
Eeeee seguindo. O terceiro episódio, “The Waldo Moment”, é considerado por muitos fãs o mais sem graça de toda a série. Muitos dizem que a história é mais fraca, não envolve tanto a tecnologia, a qual é o tema central de Black Mirror, sem contar que os personagens não são lá muito carismáticos. Como sou diferentão, não compartilho exatamente da mesma opinião.
Aqui em casa eu, meu pai e meu irmão mais velho assistimos à série. Enquanto na primeira temporada os dois acharam o segundo episódio o mais fraco, eu achei o mais foda; aqui aconteceu mais ou menos algo parecido. Tá parecendo que eu quero ser o diferentão, mas não é isso, juro. Não considero The Waldo Moment o melhor da temporada, nem de longe, mas não o achei fraco. Achei seu tema bastante pertinente e a forma como ele é ironizado é muito bem feita.
O episódio foca em Jamie Salter, um comediante fracassado que cria um personagem animado chamado Waldo, um ursinho caricato que abusa dos palavrões e do vocabulário deselegante (leia com a voz de Sandra Annenberg). O seu personagem começa a fazer um enorme sucesso, ainda mais quando Waldo começa a criticar em público os candidatos da eleição, ganhando a simpatia das pessoas em geral.
Mesmo com seu jeitão imoral, ele é convidado para debates, entrevistas, e a situação chega ao ponto em que as pessoas clamam por sua candidatura. Isso mesmo, clamam pela candidatura de um urso azul que fala palavrões e critica todo mundo e além de tudo não possui proposta nenhuma. Um paralelo muito bem feito com a sociedade de hoje.
A temporada se encerra com o que pra mim é o melhor episódio da série até agora: o especial “White Christmas”. Antes de eu assistir, já tinha ouvido de bastante gente que ele era bom demais, com mais ou menos 1h e 10min de episódio, e eu comecei a ver até meio empolgado. Não me decepcionei.
Contando com a presença de Jon Hamm, o Don Draper de Mad Men, grande parte do episódio é só diálogo. O personagem de Jon Hamm, Matt, é o dono de um estabelecimento aonde o outro personagem Joe Potter também trabalha. Num dia de Natal, Matt instiga um diálogo com seu empregado, dizendo que em 5 anos em que ele trabalha ali eles nunca conversaram direito. Com isso, os dois vão contando a história de suas vidas, cada uma mais interessante que a outra.
Porém, a coisa não para por aí. Vão-se criando elementos que enriquecem a trama, como o “bloqueio de pessoas”. Sabe quando você tá grilado com aquela pessoa e bloqueia ela no Zap Zap™? Pois é. Nesse caso você poderia bloquear alguém por completo, ou seja, ela só te veria como um borrão indistinto e vice-versa, até aquele que bloqueou desativar o recurso. Pode parecer legal, mas ao longo da história vemos o tanto que isto poderia ser difícil, sendo que o bloqueio se estende aos filhos da pessoa em questão.
Além disso, na tecnologia do episódio é possível “duplicar” a sua consciência e colocá-la em um dispositivo externo, fazendo com que esta cópia faça coisas remotamente pra você. Se eu fosse ficar falando tudo que está presente no episódio, este texto que já está gigante ficaria ainda maior, então é melhor parar por aqui mesmo.
Novamente vou de contramão à opinião geral do meu pai e do meu irmão. Enquanto eles consideram a segunda temporada superior à primeira, eu já penso diferente. Como um todo, a primeira me prendeu mais, mas ainda assim o segundo ano da série é espetacular. Não tenho medo de dizer que Black Mirror já é uma das melhores séries que já vi, o que me deixa ainda mais animado para começar a terceira temporada. Obrigado, Charlie Brooker!
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Primeiramente, vai se foder, Beth. Obrigado.
- Aff mano, que triste a Martha nunca ter superado a morte do marido treinador de Pokémon.
- Que perturbador aquelas pessoas filmando a Victoria, credo.
- Falando nela, com certeza deveria apodrecer na cadeia por ter sequestrado e sido cúmplice no assassinato de uma criança. Mas aquilo que as pessoas começaram a fazer com ela, aquilo ali nunca que é justiça. Arrisco dizer que chegaram em um nível muito abaixo do dela.
- Waldo, o Ted azul.
- Jon Hamm, que homenzarrão da porra.
- Não tem tortura pior do que ficar preso em um lugar mil anos por minuto, pqp.
- Devo dizer que a atriz que faz a Jem, a garota que “ajuda” a Victoria em White Bear e que além de tudo está em Sense8, é um amorzinho.
- Voltando à Beth, muita sacanagem ela ter bloqueado o cara e nem ter tido coragem de confessar o que fez, nem que fosse por carta. Que covarde.
- Fico imaginando a frustração do Jamie quando viu que sua criação havia sido roubada. E pensar que isto acontece todos os dias no mundo real.
- Nunca imaginei que a Ninfadora Tonks/Osha fosse suicida.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Matt Trent
Em uma série em que os episódios não estão conectados, fica difícil decidir qual o melhor personagem. Entretanto, devido ao carisma e à atuação do nosso querido Jon Hamm, Matt leva o troféu.
+ Melhor episódio: S02SP (“White Christmas”)
Como eu disse, o melhor da série até agora: o episódio consegue juntar diálogos interessantes, ação, bons personagens, reviravoltas, tecnologias inovadoras, tudo em um pacote só. Qualidade define.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?