Séries, Suspense/Terror

A Maldição da Residência Hill (2018)

• O clichê original

Todo mundo ama histórias de terror. Bem, talvez não o Leleco criança – como mencionei no pitaco da segunda temporada de Scream -, porque ele ficou traumatizado com o vídeo da Mona Lisa se transformando na moça de O Exorcista. Sério, foi a minha primeira experiência com coisas medonhas, e me deixou tão fodido da cabeça que só fui assistir o meu primeiro filme do gênero anos depois, na metade da minha adolescência. Não lembro se foi A Bruxa de Blair ou Atividade Paranormal, só sei que eu comecei a gostar bastante e ver um atrás do outro.
No mundo das séries, a minha experiência com o terror se limitava a American Horror Story e Scream. A primeira nem tem tanto elemento próprio do estilo, é mais um drama com alguns aspectos e características do terror em si. O segundo é uma trama adolescente, ainda menos horripilante que AHS. Por isso, eu sentia falta do medo ser bem representado em uma sequência de episódios, não só em filmes.
A Maldição da Residência Hill enfim me proporcionou isso.
No cinema, obras de terror seguem quase que uma cartilha obrigatória. Sempre tem um lugar amaldiçoado – uma casa, um alçapão, um poço, normalmente um lugar normal que, por causa desses caralho desses filmes, a gente começa a ver como assustador. Eu, por exemplo, se por acaso estiver andando à noite numa fazenda ou algo do tipo, e me deparar com um poço… bicho. Usain Bolt ficaria impressionado comigo. E aproveito pra falar sobre outra obrigatoriedade no gênero: personagens que simplesmente não fogem do perigo, correm pra dentro dele!! Ah, vai tomar no cu, se tem uma mansão com má reputação e sons estranhos emanando lá de dentro, eu não vou ser o retardado corajoso, eu vou correr mais rápido que o Relâmpago Marquinhos.
Embora seja um manual bem batido e clichê, ele funciona. A Maldição da Residência Hill é um belo exemplo disso. O universo da série possui uma casa aparentemente mal-assombrada e um passado sombrio por trás da mesma. Em relação aos personagens, temos todos aqueles que sempre marcam presença no terror. A família dos Crain consiste em um pai, uma mãe e cinco filhos leva a vida comprando moradias, reparando os locais e depois revendendo para outros indivíduos. A residência dos Hill era meio que a linha de chegada, o último investimento antes dos sete se firmarem em um único local. Tudo começa muito bem, até que coisas escrotas começam a acontecer.
Até aí, nada de muito original. Tudo fica ainda mais padrãozinho quando conhecemos melhor as pessoas criadas para a série. O pai precisa lidar com um mistério. A mãe esconde segredos. O filho mais velho é o escritor cético, aquele que não acredita em fantasmas nem se o Penadinho chegasse na frente dele e o cumprimentasse. A filha mais velha é a estressada, a certinha, algo bem comum também. Além disso, há a garota rebelde com habilidades sobrenaturais, a com distúrbios psicológicos e o garoto destroçado pela vida. É o típico arroz com feijão, igual pegar um filme de ação e colocar o Jason Statham. Porém, A Maldição da Residência Hill está longe de ser um mero arroz com feijão.

Vontade de guardar num pote

Apesar de todos esses pontos que são introduzidos sem muita novidade, a série tem uma das melhores histórias que eu já acompanhei até hoje. Com o foco bem longe de se limitar aos jump scares, aqueles sustos previsíveis que só servem pra você ter uma desculpa pra se agarrar com seu amado ou amada no cinema, a obra da Netflix, dirigida por Mike Flanagan e baseada no livro do mesmo nome, da autora Shirley Jackson, é muito mais do que isso. Com um enredo maduro e que vai tendo suas pontas amarradas ao longo dos capítulos, a série capricha nos diálogos, nos mistérios e no desenvolvimento dos personagens. Em pouco tempo, passamos a nos preocupar e importar com a galera representada na tela.
Com uma atmosfera tensa, o ritmo nos fisga com facilidade e raramente entra em colapso. A única vez que isso aconteceu foi no episódio final, quando as coisas ficaram um pouquinho mais lentas do que poderiam ter sido, culminando no único defeito que eu consegui notar com mais obviedade, com os outros aspectos negativos não interferindo tanto na experiência. As atuações são boas, principalmente a das crianças, nas constantes cenas que mostram os protagonistas na infância. Assim como A Coisa, em que a obra claramente se inspira, a série acontece em duas épocas diferentes, utilizando o artifício do flashback.

Iti malia

Não é loucura dizer que A Maldição da Residência Hill foi a melhor surpresa do ano até agora. Chegando sem muito alarde, ela impressionou pela qualidade inesperada e mostrou que é possível ser original no terror, mesmo não sendo. Se você tá querendo uma sugestão pra maratonar no fim de semana, ainda mais se tiver acompanhado com alguém, tá aí a minha dica. E certifique-se de assistir de madrugada com as luzes apagadas, tenho certeza que o resultado vai ser muito mais intenso.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Você vê que a série é boa quando na primeira vez que assiste cê vê cinco episódios logo de cara. Eu tava com meu irmão na casa de umas amigas e a gente simplesmente não conseguiu parar, só interrompemos por causa do sono. Fiquei com muito cagaço de ter pesadelo envolvendo a paralisia de sono da Nell (aliás, muito foda isso), ainda bem que não aconteceu. Acho que devo isso ao fato de eu ter assistido Friends antes de deitar.
  • O Luke é aquele personagem que antes de ter seu tempo de tela eu já sabia que ia gostar. Ainda assim, pensei que fosse gostar mais. Depois que foi mostrado o seu dilema pessoal com a heroína, seguido por aquele fantasma bizarro do chapéu, ele perdeu espaço demais, me deixando um pouco decepcionado. Merecia ter aparecido mais.
  • O Steven, vulgo Daario Naharis/Cal, é aquele que ninguém gosta muito, mas é necessário dentro de uma história de terror pra mostrar o lado de quem não acredita muito no sobrenatural.
  • Mano, e aqueles atores mirins, hein? A Mckenna Grace, que interpreta a Theo e viveu a Penny em Designated Survivor, atuou com uma naturalidade que me deixou de queixo caído. Não era só aquela criança revoltadinha com a vida, ela simplesmente era daquele jeito sem precisar inventar demais. Palmas também para Lulu Wilson, que atuou como gente grande e parece muito com a atriz da Shirley, e para os fofos Julian Hilliard e Violet McGraw, que vivem Luke e Nell, respectivamente. O do Steven, Paxton Singleton, não teve tantas camadas a serem exploradas, mas trabalhou bem.
  • Cara, xô ver se eu entendi. Ficou ou não uma dupla interpretação? A casa realmente sente fome de tempos e tempos e decide se alimentar de humanos ou tudo aquilo é fruto do psicológico das pessoas, sendo que o único real poder da casa é fazer com que os que morreram dentro dela vivam para sempre?
  • Normalmente eu fico triste quando matam personagens que eu gosto, mas acho que o Luke deveria ter morrido, teria sido bem poético e condizente com o restante da série. Por outro lado, foi legal ele ter sobrevivido e continuado em frente, mesmo sem sua irmã gêmea.
  • Ah, outra qualidade da série. Os plot twists são tão bons e feitos de uma maneira tão leve, como quando foi revelado que Luke e Nell eram gêmeos. Achei um pouquiiiinho forçado a cena da Liv dizendo que alguém iria se machucar com aquela corda no topo da escada, no entanto. Ficou na cara que era um foreshadowing.
  • E que fofinhos os Dudley, né? Fiquei jurando que eles tinham um bagulho sinistro, e no fim não tinha nada a ver.
  • Manoooo, não esperava nunca que a Abigail realmente existisse, foi uma reviravolta foda demais. E a Liv matando ela… pesado.
  • Quero saber o que vocês acharam das ações do Hugh. Ele fez o certo ou deveria ter falado a verdade desde o princípio? Digam-me nos comentários.
  • O que será que aconteceu com a amiga do Luke?
  • Vai tomar no cu, que susto da porra que eu levei naquela cena do carro, pqp. Tive cinco ataques cardíacos.
  • Sensacional o Quarto Vermelho ser o aposento favorito de cada um. Não sei como não pensei nisso, eram sempre os mesmos ângulos nas cenas.
  • Alguém aqui também acha a Theo criança muito mais legal que a Theo adulta?
  • Queria uma série spin-off sobre os primeiros habitantes da casa. Acho que seria legal uma segunda temporada baseada nisso ou sei lá.

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

+ Melhor personagem: Eleanor “Nell” Crain
Pensei demais nessa categoria porque fiquei MUITO na dúvida. Eu pensava que eu fosse achar o Luke o melhor, depois pensei em colocar a Nell. No frigir dos ovos, acho que uma das mais interessantes foi a mãe, Olivia. Entretanto, o meu favorito foi o Hugh. Confuso, né? Por fim, resolvi colocar a Nell pelo tamanho de seu impacto nos acontecimentos.

Tô Nell aí

+ Melhor episódio: E04 (“The Twin Thing”)
Achei a primeira metade da temporada um pouco superior à segunda, e este capítulo foi um dos destaques.

Jake Gyllenhall da Terra 2

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).