Ação/Policial, Séries

Narcos: 3ª Temporada (2017)

• O xadrez de Cali

Retirar alguém perverso de uma posição de poder não elimina os problemas, mas abre espaço para a criação de novos. Caçar e matar Pablo Escobar não deixou a Colômbia pacífica, e passou longe de acabar com a ameaça do tráfico de drogas no país. Isto porque o Cartel de Cali continuava firme e forte, com um modus operandi ainda mais engenhoso e perigoso do que o do narcotraficante mais famoso da história. Os “Cavalheiros de Cali”, constituídos pelos irmãos Gilberto (primeira foto) e Miguel Rodríguez (segunda foto), além de Pacho Herrera e Chepe Santacruz, não gostavam dos holofotes como Pablito, o que os tornou de certa forma mais temíveis ainda.
Em sua terceira temporada, Narcos ganha a missão de tentar fazer com que a série continue instigante e interessante, mesmo sem a presença de El Patrón, interpretado por nosso Capitão Nascimento Wagner Moura nos dois primeiros anos de produção. Com a morte do personagem ao fim da segunda temporada, a Netflix poderia ter encerrado as coisas ali, mas assumiu o arriscado objetivo de estender a trama para abordar os traficantes não de Medellín, mas de Cali. Isso se tornaria ainda mais difícil porque Steve Murphy, o agente da DEA que costumava ser um dos protagonistas, não iria participar da terceira temporada. O artifício que Narcos utilizou foi insistir na figura de Javier Peña, ainda que ele não tenha feito parte na vida real das ações que seriam retratadas na sequência, em outra cidade colombiana.

Pablo Escobar em um novo Cali-bre

Tinha tudo pra dar errado. Acabou dando tudo certo. No primeiro episódio, a gente inevitavelmente sente um pouco de falta de Escobar e Steve, mas não dura muito tempo não. O enredo mergulha fundo no círculo dos quatro comandantes do Cartel de Cali, com ênfase nos dois irmãos Rodríguez. Todoss já haviam aparecido nas duas primeiras temporadas, mas eram secundários. Agora, com as atenções voltadas para eles, conseguiram corresponder às expectativas e trouxeram arcos maravilhosos para Narcos. É como se fosse outra série, ao mesmo tempo que parecia a mesma, com as explicações de Murphy para contextualizar os momentos históricos sendo substituídas por monólogos de Peña. No final das contas, lá pra metade da temporada a falta que a gente sente do universo de Escobar é dissipada, transformada em uma nostalgia gostosa, mas que nos deixa com a sensação de ciclo encerrado. E isso é um ponto muito positivo.
O roteiro consiste em retratar a maneira com que o Cartel de Cali liderava as operações de narcotráfico na região, mostrando para a gente que, por baixo dos panos, seu poder era maior até que o do próprio Escobar. Enquanto este último sempre gostava de transformar tudo em um show, os quatro cavalheiros agiam no anonimato, não precisando se expor para conseguirem o que queriam. A história da temporada começa a partir do momento em que ficamos sabendo que Gilberto, o sócio com maior capacidade de liderança, está negociando com o governo uma espécie de rendição, a qual garantiria que em pouco tempo todos os quatro saíssem do mercado das drogas incólumes. Eu particularmente não conhecia nada da saga deles, o que tornou ainda mais legal a minha experiência. Até meu pai, que é fascinado na vida de Pablo Escobar, não sabia da dimensão das atitudes da galera de Cali.

Trote de novo, porra?

Com novos personagens, como os agentes Chris Feistl e Daniel Van Ness, quase uma dupla Murphy-Peña repaginada, além de Jorge Salcedo, um funcionário da segurança do cartel que deseja deixar o ramo, a temporada flui de maneira natural, não devendo nada para suas antecessoras. É claro que os eventos da terceira não são tão emblemáticos quanto os outros, até porque aborda um estilo diferente de vilões, se é que existem mocinhos. Porém, a série permanece com bons diálogos e cenas de ação, além de atuações de altíssimo nível.
O defeito maior que eu consegui enxergar é que, quando os episódios acabavam, eu não me sentia tão impelido a começar outro. Talvez isso se dê por causa da intensidade dos capítulos, o que não seria um aspecto negativo em si. Entretanto, não é aquela temporada que me fez querer assistir episódio atrás de episódio, ficar pensando no que vai acontecer em seguida quando precisava desligar, ela não foi tão viciante pra mim. Uma série sobre cocaína que não foi viciante, haha Vocês podem achar isso meio besteira, mas é algo que eu considero bastante nas minhas avaliações. Outra coisinha que poderia ter sido melhor explorada é a questão dos personagens com potencial para mais cenas, como Pacho, Chepe e os agentes da DEA. Em vez disso, a série preferiu focar mais em Peña, nos irmãos Rodríguez e em Jorge.
Com a confirmação de que a terceira foi a última temporada de Narcos, é possível dizer que a série em nenhum momento perdeu a qualidade. Manteve seu alto padrão do começo até o final, iniciando com o pé direito e fechando com chave de ouro. Palmas pro nosso tupiniquim José Padilha. Agora, fica a expectativa pela nova produção derivada da mesma, intitulada de Narcos: México. Embora muitos achem que é uma quarta temporada, na verdade não é. Trata-se de meio que um spin-off, com uma trama lá na América do Norte, e não aqui no sul do continente. Se a história conseguir ser tão bem desenvolvida quanto as da Colômbia, podem ter certeza que vem coisa boa por aí.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

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~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • O Jorge é um personagem tão bom, né? O cara fez o papel de agente duplo em duas das “profissões” mais perigosas do mundo, isso tudo precisando preocupar-se não só com sua vida, mas também a de sua família. Ainda bem que ele não saiu cedo da série, hehe.
  • Vamo recapitular então: os irmãos Rodríguez se foderam e vão apodrecer na cadeia, o Pacho foi assassinado dentro do pátio da prisão e o Chepe deu uma de louco e saiu do encarceramento só pra morrer metralhado. Não importa quem você é, se é criminoso dificilmente vai ter um final feliz.
  • Uma salva de palmas pro ator Arturo Castro, que viveu na pele o filho da puta do David Rodríguez. Sua interpretação foi tão boa que o personagem me lembrou traços do Joffrey de GoT, fazendo o público odiá-lo pelo que ele é, e não por causa de uma atuação ruim ou um roteiro fraco. Quando ele morreu deu uma felicidade, bicho.
  • Alguém tem o telefone da atriz Andrea Londo, a Maria Salazar? Um amigo meu tava pedindo.
  • Cá entre nós, o Peña não tem o carisma necessário pra sustentar uma trama sozinho, diferentemente do Murphy. Ainda assim, ele desempenhou bem a sua parte.
  • Imagina você ficar lutando por semanas, meses contra um inimigo apenas para descobrir que ele estava sendo apoiado pelo PRESIDENTE? Isso é que é desânimo.
  • Sinceramente, não consigo entender como que o Pallomari continuou vivo mesmo depois de tudo. E ainda tirou onda no julgamento, posando de fodão.
  • Tão legal acompanhar o nosso Lito, Miguel Ángel Silvestre, em outra série. Gostaria de ter visto qual foi o fim de seu personagem em Narcos, Franklin Jurado.
  • Modo do Gilberto de resolver os problemas: diplomacia e negociação. Modo do Miguel de resolver os problemas: cautela seguida de guerra. Modo de Pacho e Chepe de resolver os problemas: meter bala em quem estiver na frente, explodir carros em frente a igrejas, alvejar um cara num restaurante em plena Nova York e coisas do tipo.
  • Com aquele finalzinho, jurei que iriam dar um jeito de colocar o Peña no México. Mas acho que aí seria forçar demais com um personagem baseado em uma pessoa real, né? Colocar ele em Cali até tudo bem, liberdade criativa, mas no México já seriam outros quinhentos.

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

+ Melhor personagem: Jorge Salcedo
Foi a grande surpresa da temporada, crescendo exponencialmente, assumindo facilmente o posto de protagonista no quesito “qualidade”.

Calma, calma, o reizinho tá aqui

+ Melhor episódio: S03E07 (“Sin Salida”)
Tenso até o fim, típico capítulo que nos deixa sem fôlego.

Se um dia eu tiver metade do estilo destes caras, já tô feito

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).