• Lilás e groselha
Eu passei muito tempo com The Witcher inserido na minha vida. Muito antes da série estrear, fui incentivado por meu irmão e um de meus melhores amigos a jogar o terceiro capítulo da franquia no Xbox One. Demorei pra caramba até conseguir zerar a história principal, concluir todas as missões paralelas e finalizar as DLCs. Se vocês lerem alguns dos meus pitacos antigos, inclusive, menciono o game em diversas ocasiões. De qualquer forma, além de ficar muito tempo naquele universo, comecei a ler o primeiro livro e ele tava me prendendo, mas tô numa fase da minha vida em que preciso redescobrir a leitura, então acabei deixando O Último Desejo de lado um pouquinho. Assim que a série foi anunciada e os trailers foram aparecendo, fui ficando cada vez mais animado. Quando fui a São Paulo pra frequentar a CCXP, incontáveis pôsteres da nova obra preenchiam os metrôs, o que me empolgou ainda mais. A espera valeu a pena, graças a Melitele.
Sinopse
Geralt de Rívia é um bruxo. Não, não tem nada a ver com os bruxos de Harry Potter. Aqui, um bruxo é uma nomenclatura utilizada pra designar seres humanos que passaram por mutações extremas na época da infância que alteraram toda a sua constituição física e emocional. Por exemplo, os sentimentos de um bruxo são reprimidos, ele é capaz de conjurar algumas magias específicas e sua resistência e resiliência ficam consideravelmente maiores. Tô simplificando bastante pra não complicar a cabeça daqueles que estão sendo introduzidos pela primeira vez neste mundo, então vou tentar ser bem didático.
O caminho que um bruxo trilha envolve matar monstros em troca de recompensas em ouro. Os bruxos são temidos por praticamente todos os habitantes das mais diferentes cidades e vilas, e quando não inspiram medo pelo fato de serem tão singulares, geram pelo menos uma cautela silenciosa. Com Geralt não é diferente. Ele viaja pelas estradas em busca de contratos, e constantemente se depara com aventuras sangrentas e recheadas de reviravoltas. Porém, o “bruxeiro”, como muitos fãs gostam de chamá-lo, não é o único foco de The Witcher. Temos também Yennefer, uma jovem com inclinações para a feitiçaria e retraída por não se julgar nem um pouco atraente e desejável, e a princesa Cirilla, que passa por uma tragédia e precisa fugir para sobreviver de inimigos que desejam utilizar seus secretos dons místicos. Aos poucos, em linhas do tempo distintas, as jornadas dos três personagens principais começam a se entrelaçar.
Crítica
Muita coisa poderia dar errado nesta série da Netflix. A primeira desconfiança veio na escalação de Henry Cavill para o papel de protagonista, pois muitos não botavam fé de que um ator daquele calibre conseguiria dar vida ao Geraldão. Pra falar a verdade, esse “pé atrás” foi em relação a praticamente todo o elenco escolhido. Eu sou totalmente contra as enxurradas de críticas que surgem antes mesmo de um produto ser apresentado. É claro que de vez em quando a gente se decepciona previamente por ter imaginado alguém de uma maneira diferente, mas não custa nada esperar pra ver se vai ser tão ruim quanto a gente pensa.
The Witcher acertou em cheio nos seus personagens. Geralt e Yennefer roubam completamente a cena, Jaskier interpreta muito bem o seu papel de alívio cômico e companheiro contrastante do bruxo. Eles são os pilares. Como está se tornando comum nos tempos atuais, algumas etnias foram alteradas. Fringilla Vigo e Triss Merigold, pra citar algumas, foram representadas por atrizes negras, diferentemente da história original. Isso não me incomoda nem um pouco, sinceramente. Se as personalidades são mantidas e as atuações são boas, tô pouco me fodendo pro visual, a não ser que uma característica física seja essencial pra construção de algum personagem. Fazer a Lily Potter ter olhos castanhos em Relíquias da Morte, Parte 2 é uma das coisas que não são aceitáveis. Quanto às alterações de etnia em The Witcher, nenhuma me incomodou. Eu me decepcionei com a Triss porque achei a personagem sem graça, talvez por comparar com o carisma da mesma no jogo. Como a série é baseada no livro, não posso julgar com base em comparações, mas não posso evitar dizer que fiquei um pouco desapontado.
A narrativa da temporada foi o maior destaque pra mim. Uma galera ficou confusa com as linhas do tempo, mas se você prestar atenção nos detalhes, as coisas vão fazer sentido facilmente. E eu parabenizo a série por ter apostado nessa estratégia, porque só enriqueceu o enredo. Acompanhar os arcos se entrelaçando me deu uma grande satisfação. A trilha sonora também é algo espetacular, a direção de arte e os figurinos convencem demais. A temporada não tem um grande vilão, talvez apenas a figura de Cahir, a qual ainda está em desenvolvimento. Os efeitos visuais não são de tirar o fôlego e pode-se considerar até um pouco abaixo da média. Na minha opinião, efeitos visuais bons são apenas um bônus, não o que deveria ser o centro das atenções. Por fim, os maiores defeitos que enxerguei foram o mal aproveitamento de Ciri – convenhamos, o núcleo dela naquela floresta foi bem chatinho – e a escolha de fazer a reta final ter um caminho mais linear. Se eu fosse o roteirista, teria feito a temporada mais fragmentada e juntado tudo apenas quando o desfecho estivesse batendo na porta. Pra quem já terminou, explicarei melhor na parte de spoilers.
Veredito
The Witcher é a mais agradável surpresa de 2019. Chegou como quem não queria nada pra ocupar um posto que ficou vago desde o fim de Game of Thrones, apesar de conter gigantescas diferenças em relação à série da HBO. Os personagens são muito bem trabalhados, as histórias abusam da criatividade, a trilha sonora nos ambienta com perícia. As cenas de luta são ótimas, o primeiro episódio já nos joga na cara um duelo com espadas de tirar o fôlego. Os efeitos visuais podem incomodar os mais exigentes, mas não foi um problema pra mim. A maneira de contar as histórias é esperta e ousada, a introdução ao universo de monstros, elfos, anões e dragões é satisfatória se levarmos em conta a quantidade relativamente pequena de episódios, e a próxima temporada realmente promete. Se conseguirem melhorar alguns aspectos do ritmo e desenvolver personagens que ficaram um pouco à deriva, Geralt, Yennefer e Ciri vão carimbar de vez sua força no competitivo mundo da cultura pop. Nota final: 4,6/5.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Enfim pude entender a história por trás do Carniceiro de Blaviken. O entrosamento entre o Geralt e a Renfri foi tão bom que fiquei um pouco triste por ela ter morrido. E aquele Stregobor é um tremendo de um cuzão, fez o nosso bruxeiro soar como um vilão e ainda mandou matar uma galera só por causa de uma superstição. Putz, rimou tudo, juro que não foi de propósito. Mas enfim, não poderia esperar diferente do ator que viveu Putin em House of Cards.
- Confissão: achei os momentos da Yennefer com o Istredd um pouco chatinhos. Não consegui sentir uma conexão entre os dois. Porém, valeu a pena todo o caminho que a feiticeira percorreu desde quando era corcunda e com a mandíbula estranha. Daquela parte em Aretuza, só fiquei um pouco confuso com o bagulho da galera virando enguia, elas então morreram de vez? E por que aconteceu isso a elas, se eram tão talentosas? Sei que a Tissaia disse que às vezes a melhor coisa que uma flor pode fazer é morrer, mas sei lá, não saquei muito a lógica.
- Eu agora tenho certeza: tenho preguiça de histórias envolvendo povos misteriosos e etéreos de florestas. Quando aparecia a Ciri com aquela galera lá, dava vontade de pular logo pras partes do Geralt e da Yennefer. O Dara era legal, mas não o suficiente pra sustentar aquilo tudo.
- Eu só fui perceber que as linhas do tempo eram diferentes quando apareceu o Rei Foltest Lannister criança na época da Yennefer pós-cirurgia. Naquele momento, as peças passaram a se encaixar de maneira perfeita.
- Eu não fazia ideia de como pronunciar o nome Myszowór, porque o povo parecia falar uma coisa totalmente diferente. Só depois fui descobrir que eles diziam “Mousesack”, a tradução em inglês. Tipo o “Roach” pra “Plotka”, a égua do Geralt. Enfim, foi louco ele sendo “clonado” por aquele outro maluco que depois clonou também o Cahir e protagonizou a luta mais ~meme do Homem-Aranha apontando pro outro Homem-Aranha~ de todos os tempos. E vocês também acham o ator do Cahir parecido com o Castor de Orphan Black?
- Yennefer no final comeu o cu de geral, mas o que será que aconteceu com ela? Mal posso esperar pra ver sua reconciliação com o Geraldão.
- A história da estrige foi espetacular, a dos elfos foi meio paia. Aliás, na parte do Geralt, o segundo episódio só valeu por causa do
DandelionJaskier cantando Toss a Coin to Your Witcher, uma das músicas mais badaladas da série. Contudo, não posso deixar de mencionar a obra-prima “Her Sweet Kiss”, do episódio 6. - O capítulo do dragão foi bom, mas achei que poderiam ter explicado melhor o fato do cara ser de fato um dragão. Minha cabeça girou um pouquinho naquela parte, confesso. E coitados dos anões que perderam toda a luta, e coitado ainda mais do Jaskier que foi magoado pelo seu melhor amigo.
- A Ciri perguntando “quem é Yennefer?” no final foi pra fechar a temporada com chave de ouro. O abraço dela no Geralt foi surpreendentemente cheio de sentimento, pirei.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Yennefer de Vengerberg
Henry Cavill tá surreal na pele de Geralt de Rívia, mas Anya Chalotra impressiona em seu primeiro papel de destaque frente ao grande público. A sua interpretação da icônica Yennefer é de tirar o chapéu, desde as suas expressões corporais até a vitalidade que carrega consigo no contexto da feiticeira.
+ Melhor episódio: S01E03 (“Betrayer Moon”)
É o mais balanceado: todos os arcos são impressionantes, assim como os paralelos que a série traça. Destaco também os episódios 1, 4 e especialmente o 5.
+ Mais subestimada: Tissaia de Vries
Ela pode passar despercebida no meio de tanta gente interessante, mas preciso valorizar uma peça essencial em The Witcher que não vi muita gente comentando. Grande personagem.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?