Ação/Policial, Séries

Blindspot: 4ª Temporada (2018/19)

• Crise de identidade

Eu gosto de pensar que toda série possui seu próprio nível de realidade, isto é, o tamanho da possibilidade de que os eventos retratados poderiam acontecer na vida real. Algumas estão inseridas no primeiro nível, como Breaking Bad Sons of Anarchy: a história representada não teria muitos impedimentos de acontecer no nosso universo, apesar de ser uma ficção. No terceiro nível, estão aquelas com uma ideia inteiramente própria, uma dimensão com regras totalmente diferentes e conceitos independentes dos nossos. Game of Thrones é um exemplo, pois pega um reino criado do zero e que precisa obedecer somente àquilo que ele mesmo criou, desde que tenha sido devidamente abordado e sublinhado ao longo da trama. No segundo nível, estão a maioria das séries. A proposta é pegar o nosso mundo e moldá-lo à sua própria vontade, mas também obedecendo as regras desenvolvidas no processo. Blindspot, apesar de ter um enredo extremamente improvável, poderia fazer parte do primeiro nível, mas alguns exageros acabam colocando-na no segundo. Isso não quer dizer sempre que o roteiro é inconsistente, mas no caso da quarta temporada, acaba sendo.

 

Sinopse

Jane Doe, sem dúvida alguma, passou por poucas e boas. A mulher foi encontrada nua, coberta de tatuagens e sem memória alguma no meio da Times Square, com um nome escrito nas costas. Normalmente, a gente vê as pessoas tatuando “Mãe” ou o nome de algum namorado ou namorada que acaba culminando em um término, mas Jane Doe acordou com o nome de um agente do FBI. Ela foi investigada, descobriu-se que era sul-africana e depois adotada por uma terrorista. Alice Kruger, Remi ou Jane, como preferirem, acabou se tornando uma terrorista, mas foi convertida ao lado bom quando passou tempo com os mocinhos. Quando finalmente deu adeus ao seu passado, ele veio pra atormentá-la novamente e Jane Doe voltou a ser Remi. A quarta temporada começa a partir daí. Jane deixou de ser Remi, que por sua vez se vê confusa ao descobrir que a organização do mal da qual participava foi desmantelada, o irmão e os amigos mortos, e a mãe encarcerada. Como ela vai reagir neste novo e nada familiar mundo? No topo disso tudo, a fria Madeline Burke quer ocupar o vácuo de poder dentro da HCI Global e passa a ser uma ameaça à estabilidade norte-americana.

Algumas pessoas só querem ver o mundo pegar fogo

Crítica

Ainda que tenha uma das melhores premissas que eu vi nos últimos tempos, Blindspot demorou um pouquinho a decolar de vez. Como toda série de conspiração, ela teve um início impressionante e um desenvolvimento repetitivo, até que se encerrasse o ciclo da Sandstorm. A partir do momento em que a obra deixou isso de lado, ganhou um terreno infinito pra trabalhar e produziu uma terceira temporada excelente, sustentada por Roman Briggs e administrada pelo grupo do FBI. A conclusão deixou um cliffhanger cativante pros capítulos seguintes, misturando o passado de Jane com seu presente.
No primeiro momento, as atitudes da protagonista me deixaram um pouco perdido. Contudo, a face de Remi foi aparecendo e os episódios foram esquentando. Eu percebi de cara que aquele arco não teria fôlego pra uma temporada inteira, e fiquei feliz por estar certo. Blindspot faz isso mais de uma vez – enquanto algumas séries arrastariam certos núcleos por muito tempo, ela vai na contramão e os encerra quando tem de encerrar, sem ficar se estendendo em demasia. Isso foi um dos maiores pontos positivos da temporada, assim como a solidez dos personagens principais, sobretudo Rich, Jane, Weller e Patterson, e o “toque a mais” dos secundários, tais quais Weitz e Boston. Alguns deles ficam abaixo do esperado, no entanto: Reade permanece com seu tom constantemente monocórdio e sua falta de expressões, Zapata é desnecessariamente confusa e a grande vilã, Madeline, é mais sem sal do que comida fitness. A série não consegue acertar em seus antagonistas desde Shepherd, passando por Crawford, até chegar em Madeline. A empresária se impõe a princípio, mas seu único traço de personalidade é o desejo de domínio, o que reduz sua força. Nos últimos episódios, ela mostra uma faceta dissimulada que me agradou, mas não o suficiente pra torná-la mais carismática.
A quarta temporada de Blindspot aposta mais do que nunca na química entre os personagens, e, até certo ponto, isso funciona. O problema é que o roteiro escorrega mais do que deveria, alguns detalhes importantes da trama são simplesmente deixados de lado enquanto não se mostram úteis e os casos do FBI passam a ser previsíveis. Tem sempre um russo malvado, um terrorista explosivo ou um caso de corrupção, e a ausência de uma ameaça central suficientemente boa pra prender a atenção evidencia esse defeito. A história acaba exagerando no patriotismo estadunidense e me fez revirar os olhos em vários momentos.

FBI: Paintball Special Team

Veredito

Pode ficar tranquila, terceira temporada, você ainda não foi desbancada. A sua sucessora até tenta, mas desliza na construção de seus novos personagens e confia excessivamente na força daqueles já desenvolvidos. O enredo se mostra repetitivo e frágil, a série não consegue aproveitar alguns elementos e perde um pouco do seu charme original. Por outro lado, Blindspot tem méritos ao escrever diálogos que aproveitam bem os relacionamentos entre seus heróis, é um entretenimento pra lá de bem-sucedido, pois consegue manter uma ação frenética sem cansar o telespectador por 22 episódios, e uma série única quando consegue espremer todas as qualidades que a transformaram no que é hoje. A quarta temporada tá atrás de sua antecessora, mas consegue manter o nível até certo ponto e é uma ótima pedida pra quem gosta de eventos policiais e aquela sensação familiar que somente personagens com os quais nos importamos conseguem exprimir. Nota final: 4,0/5.

Duplas que precisam ser repetidas no futuro

 

>> Crítica da 1ª Temporada de Blindspot

>> Crítica da 2ª Temporada de Blindspot

>> Crítica da 3ª Temporada de Blindspot

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ NARRAÇÃO SPOILENTA: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Jane pelo jeito vai ser a vilã da temporada. Ou melhor, a Remi será. Em busca do retorno da Sandstorm, ela busca aliados pra se vingar das mortes de seus entes queridos.
  • Blake foi morta logo no primeiro episódio, vamos ver se a Michelle Pfeiffer Cover vai ser uma boa vilã. E qual é a da Zapata?
  • A cena da Remi em uma luta de espadas contra a moça em Tóquio foi basicamente um Kill Bill.
  • O Boston precisa aparecer mais vezes. Seu jeito arrogante e sua química de ex-namorado com o Rich são incríveis de se ver.
  • Terceiro episódio foi excelente. Patterson e Rich mostrando a importância do lado técnico nas missões enquanto o pessoal do campo impedia uma bomba de explodir num trem em movimento, os recrutas participando de tudo e a Patterson ficando com o sobrinho do diretor do FBI… e ainda teve ela topando ir atrás do Livro dos Segredos com o Rich, a Madeline se fazendo de vítima e o Kurt desconfiando da “Jane”. Só não entendi a Zapata abrindo sem luva uma porta numa casa em que ela tava fazendo de tudo pra ocultar um assassinato.
  • Agora teve uma crise biológica no FBI de dar inveja ao coronavírus. Deu tudo certo no final, mas a ex-esposa do Weller, Allie, o fez perceber que as atitudes da Jane não estão muito Jane. Ah, e a Zapata se reencontrou com o Reade.
  • No quinto episódio, Rich e Weller trabalharam juntos e derrotaram uns ambientalistas malucos. Zapata e a mina lá pegaram a senha do FBI que o Reade entregou, e depois a Zapata foi e matou a mina, que era uma agente do MI-6!
  • No sexto, Weitz teve seu espaço pra brilhar e ajudou a acabar com a liderança de um fundo partidário sombrio. Jane foi confrontada pelo Kurt, ele sabe que tem algo errado. Reade foi demitido, só que não. A série segue com frases de efeito de Weller e uma propaganda estadunidense discreta, mas perceptível.
  • A dinâmica entre o Kurt e a Remi, quando ele descobriu tudo, foi melhor do que a existente entre o Kurt e a Jane, se é que isso faz sentido. Em outra frente, a Madeline propôs ao Weitz uma ajuda pra ele se tornar presidente e Patterson e Rich estão mais perto de uma cura pra Jane, que na verdade é a Remi.
  • O oitavo episódio teve uma ameaça nuclear (nada novo em NY) e a Jane ficando biruta de vez e resgatando a Shepherd de sua prisão. Boston revelou seus sentimentos pro Rich, que zoou ele.
  • O nono episódio foi similar a um da terceira temporada, focado na Patterson, o qual até hoje é o meu favorito da série. Só que dessa vez o foco foi na Jane recuperando as memórias. Ah, eu nem lembrava que o nome dela era Alice Kruger. Mas enfim, Jane tá de volta e com as memórias da Remi ainda por cima! Fico agradecido por não terem enrolado muito com isso.
  • Esqueci de mencionar que a Zapata foi presa no México e depois interrogada pelo Reade, revelando que na verdade ela tava infiltrada pela CIA. A única parte chocante disso tudo foi que ela não matou a agente do MI-6, porque o restante foi bem previsível. Mas voltando ao plot do México, foi quando eu percebi que a Madeline é uma personagem bastante sem graça. E o líder do cartel mexicano ser tão passivo foi pra lá de esquisito, se fosse na realidade ele tinha cravado as duas de bala sem nem pensar. E que preguiça de sempre retratarem o México com um filtro amarelo, meu irmão que me apontou isso e realmente é verdade.
  • Capítulo divertido com o time solucionando um mistério à moda antiga, envolvendo o autor de um livro com eles mesmos nos papéis dos personagens. A parte importante pra história foi a Jane perdendo a visão e piorando sua condição.
  • Finalmente a Jane tá curada! Patterson e Rich foram até o Peru e encontraram o bendito Livro dos Segredos. Conseguiram também as células-tronco e agora a Jane tá novinha em folha; mais um arco que eu jurava que fosse ser estendido até o final da temporada. Obrigado, roteiristas. E ah, o Boston assumiu o papel do hacker Del Toro e vai ajudar a colocar o plano da Madeline em prática mais cedo do que pensava. Nota: a Zapata não é nem um pouco discreta.
  • Hackear o avião, que acabou sendo o Air Force One, não deu certo pra Madeline. Zapata e Boston salvaram o dia, apoiados pela equipe do FBI. Weitz conseguiu não ser demitido porque ajudou a meio que salvar o avião, Jane e Weller não conseguiram ter uma noite romântica na cabana, mas foi fofinho os dois juntos.
  • Achei esse episódio um pouquinho cansativo, não sei bem o porquê. Acho que foi desnecessário o Rich ter participado dos flashbacks, meio forçado ele participar das ações só por agora ser um personagem regular. O importante foi que descobrimos que o Weitz é corrupto de fato porque forjou provas; o Reade também não é santo na história. Ah, a Zapata tá voltando à equipe, a Patterson fez uma chave pra Jane a partir do testamento da Shepherd e o Weitz tá sendo chantageado pelo capanga da Madeline.
  • Jane, Kurt, Patterson e um carinha especialista em bombas nucleares se disfarçaram pra estragar a venda de uma bomba. Jane encontrou Cameron, uma pessoa do passado de Remi (ah, os dois atores namoram na vida real). A história acabou na morte de Cameron pelas mãos do Kurt. Rich fez um jogo de tabuleiro da equipe, que ficou bem engraçado.
  • Zapata cada vez mais integrada, Jane dopada pelo Dominic, capanga da vilã, pra que ele possa trocá-la por Madeline, a qual acabou de ser presa. Rich e Boston seguem fazendo joguinhos românticos. A Jane tá sendo perseguida pelo passado, ainda mais depois de recuperar as coisas da Remi com a chave da Shepherd. Só achei meio preguiçosa a desculpa de trazer o Borden de volta, pois qualquer bom terapeuta conseguiria aconselhar a Jane, pois a condição dela não foge muito de transtorno dissociativo de personalidade e transtorno pós-traumático. E vamo combinar, aquela segunda terapeuta que a atendeu foi ridícula.
  • Neste episódio, a Jane foi enterrada viva, o FBI quase deu mole e liberou a Madeline, mas a Zapata botou moral e ajudou a enganar a vilã. A Jane foi resgatada no último momento e o Dominic fugiu. Madeline segue presa.
  • Bill Nye voltou a aparecer, agora envolvendo uma trama com abelhas assassinas no melhor estilo Black Mirror, além de muitas piadas envolvendo as abelhas. Não teve muita coisa importante nesse episódio, só o desenvolvimento pessoal da Patterson, e Kurt descobrindo que sua própria mãe era informante da Shepherd.
  • Mais uma história com os russos malvados à la Guerra Fria. Não teve nada de muito interessante. Por outro lado, Kurt ajudou a mãe, Rich e Patterson reencontraram a Kathy do grupo hacker que participavam juntos, Os Três Ratos Cegos, e acabou que ela tá indo se casar com o Dominic, sendo que ele obviamente a está manipulando. Reade e Zapata estão se aproximando.
  • Aeeeee, finalmente o Weller lembrou que tem uma filha, a Bettany. Em geral, o antepenúltimo capítulo foi meio bobo. Banalizaram demais algumas mortes, como se as vítimas estivessem só dormindo ou algo do tipo, os agentes do FBI tomando decisões estúpidas e não atirando nos criminosos, a Briana cedendo à ameaça do carinha lá e demonstrando não ter um pingo de preparo. E quero até ver como a Patterson seria como mãe, pois ela mora sozinha e passa o dia inteiro fora. Vamo ver.
  • Os dois últimos episódios foram forçados demais. O Weller agindo como se fosse um pai super presente foi muito sem noção, e a Jane parece ter se esquecido totalmente de que tem uma filha. O ponto positivo vai pra equipe finalmente falhando em uma missão, porque sempre conseguem solucionar tudo no último instante.
  • Isso me ocorreu do nada enquanto assistia, mas pensem comigo: se Blindspot fizesse uma fusão com Arrow, Kurt Weller seria Oliver Queen, Jane Doe a Laurel Lance, Patterson a Felicity Smoak, Edgar Reade o John Diggle, Tasha Zapata a Lyla Michaels e o Rich Dotcom o Curtis Holt. Vai falar que não parece. Ok, não precisa falar
  • Resumo da ópera: Madeline armou pra cima dos nossos agentes favoritos, que brigaram entre si, mas logo viraram amiguinhos novamente. A casa em que estavam Reade, Zapata, Weller e Patterson foi explodida, mas obviamente a Briana os avisou antes, e fugiram pelos túneis que o amigo do Rich tinha mencionado. O Rich, aliás, foi levado pra algum barco. O Weitz tá lá perdidão porque o diretor da CIA agora trabalha na Casa Branca e é pau mandado da Madeline. Ah, e o capanga dela, Dominic Masters, foi morto pelo Weller no episódio anterior. A Kathy, hacker ex-amiga de Patterson e Rich, ajudou a Madeline e causar um blackout em NY e agora tá sumida. O mundo tá atrás da equipe do FBI. Falta uma temporada pro fim desta história.

 

~ FIM DA NARRAÇÃO SPOILENTA. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Rich Dotcom
Em algumas ocasiões, a série tende a exagerar um pouquinho na utilização deste alívio cômico, mas em geral as tiradas dele são tão boas e sua relação com os outros personagens é tão variável que credenciam este hacker ao topo da temporada.

If I was a Rich girl, nananananananana nanananananana

+ Melhor episódio: S04E09 (“Check Your Ed”)
O capítulo é focado em Jane – apesar da imagem abaixo -, e a valoriza e destaca o tamanho de sua importância, às vezes um pouco diminuída diante de tantos bons protagonistas e coadjuvantes.

Ô, tia, meu computador tá dando problema“, “Vou dar uma olhada, minha filha

+ Maior evolução: Matthew Weitz
Anteriormente, ele tinha a única função de irritar os protagonistas com seu jeito ardiloso, mas se transformou e virou um dos membros mais interessantes de Blindspot. Poderia ter sido ainda mais utilizado do que foi.

A figura do trabalhador honesto

+ Mais subestimado: Boston Arliss Crab
Ele lembra o próprio Rich quando este aparecia apenas esporadicamente. Porém, enquanto o seu ex-namorado é marcado por um senso de humor constante e sem muitos filtros, Boston tem o sarcasmo e a metidez como principais características, as quais funcionam demais no contexto da série.

Boston já tava em quarentena antes de virar tendência

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).