Animação, Disney Princesas

DisneyPrincesas #02 – 1989 a 1998

disney princesas 2

• A nova geração

Eu me considero uma pessoa eclética. Ao mesmo tempo em que assisto Velozes e Furiosos com paixão, posso topar também embarcar em uma maratona da Saga Crepúsculo. Depois de ter visto a versão estendida da trilogia do Senhor dos Anéis, não tenho problema nenhum em ver Hannah Montana: O Filme. Quanto mais variedade, melhor. Por esse motivo, depois de ter escrito bastante sobre produtos da Marvel e séries diversas como Orange Is The New BlackRound 6 Them, decidi voltar os meus olhos pra algo um pouco mais leve. Sim, estou falando de filmes de princesas. Após escrever a respeito das obras lançadas entre 1937 e 1959, chegou a hora de redigir sobre uma geração mais recente das animações. E não, não falarei sobre as sequências, somente os filmes originais, até porque, sinceramente, as continuações não passam de caça-níqueis. Com vocês, as princesas de 1989 a 1998!

 

A Pequena Sereia (1989) – O garfo e o tridente

Não sei vocês, mas eu sou fascinado pelo fundo do mar. As pessoas costumam pensar muito em explorações espaciais e no quanto conhecemos pouco do universo, mas gosto de dar um passo pra trás e pensar no quanto conhecemos pouco do nosso próprio planeta. Velho, a gente sabe mais ou menos 10% do que existe nas profundezas dos oceanos. Ou seja, tem 90% de território inexplorado. Pode ser que um dragão de oito cabeças viva no fundo do mar, a gente simplesmente não sabe.

A curiosidade de conhecer o fundo do mar acontece de forma oposta em A Pequena Sereia. Ariel é uma pequena sereia (grande constatação, eu sei) de apenas 16 anos e com um profundo interesse pela vida terrestre. Assim que passa a conhecer um pouco mais dos humanos, a garota logo se apaixona por Eric, um charmoso príncipe que faz com que Ariel abdique da própria voz para que assim seja transformada em humana. Tal atitude, no entanto, desemboca em consequências horríveis nas mãos de Úrsula, a vilã.

Eu não sou a maior autoridade do mundo pra separar as animações de princesas em gerações, mas pra mim a divisão que fiz aqui faz muito sentido. A Pequena Sereia é o primeiro filme do gênero desde A Bela Adormecida, e é possível observar uma estrutura totalmente distinta. A galera tem mais personalidade, a princesa não é apenas uma donzela em perigo, o príncipe não é só um bravo cavaleiro em busca de alguém pra resgatar, a antagonista não é uma invejosa simples e os coadjuvantes são mais engraçados e têm mais presença. Além disso, visualmente há uma questão totalmente diferente, e que salta aos olhos logo no primeiro momento. Eu gostei muito da jornada de Ariel, apresentando um universo colorido, divertido e inovador pra época. Melhor personagem: Úrsula. Embora eu goste muito dos heróis desse filme, ao contrário dos outros, a vilã tem uma personalidade tão marcante que é difícil não escolhê-la. Até hoje, é uma das antagonistas mais emblemáticas da Disney.

úrsula e ariel princesas
Para, assim faz cósga hihi

A Bela e a Fera (1991) – Os feios também amam

Todos os filmes da primeira geração das princesas deixam claro que o objetivo final é que as protagonistas consigam um amor eterno. A Pequena Sereia quebrou um pouco essa impressão ao explorar também a curiosidade da personagem principal, mas A Bela e a Fera foi além. Apesar de também desenvolver uma história óbvia de romance, o filme tem boa parte de seu enfoque na relação entre pai e filha.

Bela é uma jovem francesa de uns 17 anos que é tida como esquisita pelos habitantes da cidade em que ela mora, ainda mais quando ela ignora os constantes cortejos de Gaston, o bonitão do vilarejo. O seu pai, Maurice, é ainda mais excêntrico, responsável por vários invencionices malucas. Certo dia, Maurice se perde na floresta e procura abrigo em um castelo que abriga uma maldição. O seu residente, a Fera, costumava ser um príncipe, mas foi vítima de um feitiço que o transformou em um monstro e todos os demais moradores em objetos falantes. Maurice vira prisioneiro da Fera, mas Bela vai à sua procura e faz um acordo para ser prisioneira no lugar do pai. Aquilo acende uma chama de esperança em todo mundo no castelo, já que o feitiço poderia ser desfeito caso a Fera se apaixonasse por alguém que o amasse de volta.

Eu me surpreendi positivamente com este filme. Sempre que via coisas sobre A Bela e a Fera, eram em momentos nos quais os dois personagens principais estavam dançando juntos e blá blá blá. Pra mim, a moral da história parecia ser óbvia: é mais importante amar alguém pelo que é internamente do que por aquilo que apresenta externamente. Em outras palavras, a bondade seria mais importante do que a beleza. Porém, a obra possui muito mais do que isso. A trama é interessante e prende a atenção. A resolução não chega a ser surpreendente, mas todo o caminho até ela é bastante original, pelo menos pra época. Melhor personagem: Bela. Pela primeira vez em um filme de princesas, eu realmente achei a protagonista a melhor personagem, sobretudo por quebrar vários estereótipos do gênero.

bela e a fera princesas
A Fera é basicamente o Gaston com pelos, presas e coração

Aladdin (1992) – Desejo pelo poder

Cara, que filme legal. Ok, incontáveis elementos do enredo são racistas e xenofóbicos, disso não há nenhuma dúvida. Quando eu fui assistir no Disney+, a plataforma inclusive se desculpou por isso antes do longa começar. É importante fazer essas observações para que alguns erros não voltem a ser repetidos no futuro, porque é uma droga ser representado por outras pessoas de maneira estereotipada. Como goiano, morro de preguiça quando representam o meu estado em novelas e filmes como se fosse uma roça onde só vivem duplas sertanejas comedoras de pequi. Como brasileiro, odeio quando representam o meu país como a terra de samba, futebol e mulher pelada, reduzindo uma nação recheada de diversidade a características caricatas. Tendo isso em mente, não deve ser nada agradável ter nascido no Oriente Médio e ver a sua cultura resumida a tapetes voadores e danças do ventre.

Agora que deixei clara a minha opinião acerca do assunto, vamos voltar ao filme em si. Pela primeira vez, a princesa não é a protagonista do filme em que está inserida. Jasmine é uma das personagens principais, é claro, e boa parte da trama gira em torno dela. Afinal de contas, o maldoso Jafar quer se tornar sultão e para isso precisa se casar com a filha do atual governante. Quem seria? Justamente a Jasmine. Contudo, o protagonista é Aladdin, um jovem moldado na malandragem e que é agraciado com uma lâmpada mágica, a qual abriga um Gênio capaz de conceder três desejos. A partir daí, as coisas se desenrolam.

Entre todas as animações de princesas desta geração, Aladdin é a minha favorita. A ambientação é pulsante, as músicas são ótimas e os personagens, excelentes. A história contendo luta de classes em meio a um esperto senso de humor me conquistou rapidamente, e eu fico triste por não ter assistido a este filme antes. Melhor personagem: Gênio. Não tem jeito, o cara rouba a cena. Eu tinha medo de que fosse um personagem meio forçado ou exagerado, mas eu adorei os seus trejeitos, que dão um toque a mais de qualidade à obra.

Prince of Persia: Jasmine Edition

Pocahontas (1995) – Um romance improvável

É o meu filme menos favorito desta lista, um verdadeiro atestado do nível elevado das animações, porque Pocahontas é muito bom. A princípio, eu pensei que a história seria a respeito de uma funkeira que começou a fazer sucesso e chegou até a fazer parte do BBB, mas me deparei com uma trama totalmente diferente.

O enredo é sobre uma garota nativa dos Estados Unidos, filha do chefe de sua tribo. Contra todas as chances, ela se apaixona por John Smith, o dono do nome mais genérico possível e um explorador inglês que chegou à América do Norte pra dizimar todo mundo. Ah, como o amor é lindo! Contudo, mesmo sendo uma trama um tanto quanto problemática por criar a narrativa de que muitas mulheres nativas tiveram relações com colonizadores por livre e espontânea vontade, e não porque foram forçadas a isso, o filme consegue apresentar singeleza ao contar a sua narrativa.

Apesar de Pocahontas ter uma personalidade forte e a sua química com John Smith ser palpável, os personagens secundários não são tão memoráveis quanto nos outros filmes. Sem brincadeira, eu precisei pesquisar o elenco pra poder me lembrar mais sobre os coadjuvantes, porque assisti a esse filme há cerca de um ano. Entretanto, eu vi os demais há ainda mais tempo, mas as memórias estão mais vivas. De qualquer forma, é um filme legal que coloca nos holofotes uma das princesas mais fortes até o momento. Melhor personagem: Pocahontas. Assim como eu escrevi há literalmente uma frase, é uma das protagonistas mais fortes entre todas as princesas.

pocahontas princesas
Ninguém manda nessa remada

Mulan (1998) – Uma estranha no ninho

Assim como em Aladdin, tem um pequeno grande elemento aqui que torna a experiência meio problemática culturalmente falando. Um dos personagens mais notáveis de Mulan, o dragão Mushu, é considerado por algumas pessoas como um desrespeito contra a cultura chinesa. Isso porque o dragão é um símbolo de força e honra, e no filme ele é tratado como um alívio cômico. Esse foi um dos motivos pelos quais Mushu ficou de fora do live action lançado em 2020.

Mulan narra a história lendária de Mulan, uma garota que decide “se vestir como homem” para ir à guerra no lugar de seu pai, o qual foi convocado para lutar contra os hunos, mas claramente estava velho demais pra batalhar. Todavia, a honra o obrigava a servir a sua nação, a não ser que tivesse algum filho do sexo masculino. Como não era o caso, Mulan se disfarçou de macho e entrou no Exército Chinês para combater as novas ameaças e salvar o seu pai de um destino terrível. Novamente, algo parecido com A Bela e a Fera.

No meu ponto de vista, o verdadeiro vilão do filme é a necessidade bélica do ser humano de conquistar pedaços de terra alheios, mas isso não está em pauta aqui no pitaco. Mulan é uma das mais importantes animações de todos os tempos. Ao abordar uma realidade altamente machista e patriarcal, o filme rechaça toda essa noção ao colocar uma mulher como presença importante na guerra, provando o seu valor não apenas como potencial esposa. São tantas qualidades aqui nesse longa que é difícil saber por onde começar, mas o carisma dos personagens e a relevância social da temática com certeza estão nos lugares mais altos da lista. Melhor personagem: Mulan. Fala sério, uma mulher que se finge de homem pra arriscar a sua própria vida e salvar a do seu pai no caminho? Se essa não é a melhor entre todas as princesas, ninguém mais merece o prêmio.

mulan princesas
Arya Stark da Disney

 

>> DisneyPrincesas #01 – 1937 a 1959

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

 

+ Melhor filme: Aladdin
Eu sinceramente gostei de todas as cinco animações de princesas trabalhadas neste texto. Duas delas, Aladdin Mulan, se destacaram acima das demais, me deixando fascinado sem precisar de muito esforço. Porém, ainda considero a primeira melhor por opinião puramente pessoal. Se eu fosse fazer uma lista das minhas favoritas, a relação ficaria assim: AladdinMulanA Pequena SereiaA Bela e a Fera Pocahontas.

aladdin
Uma obra prima, simplesmente

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).