DC (Outros)

DCLelecoEspecial #02: Batman (2022)

The Batman 2022

• A máscara por trás do homem

Sinceramente, é difícil falar sobre o Batman. No século XXI, tá ficando cada vez mais complicado debater sobre coisas que geram sentimentos extremos nas pessoas. O Homem-Morcego é uma dessas coisas. Nos poucos comentários que eu vi sem querer sobre o filme, alguns estavam descrevendo como a melhor produção da história da sétima arte, e outros como uma representação ridícula do personagem. Não vi muito meio-termo. Mas, vocês sabem, eu tento não me deixar levar demais pelo hype, seja ele positivo ou negativo. Por esse motivo, estou escrevendo este pitaco sem ter visto nenhum vídeo dos meus críticos favoritos a respeito do tema. Quero que seja 100% minha opinião, pelo menos nesse primeiro momento. Então vamos lá.

 

Sinopse

Bruce Wayne está na pele do Morcegão há dois anos. Já deu tempo de aprender a falar grosso, aperfeiçoar as técnicas de deixar uma pessoa no vácuo enquanto ela fala, desenvolver o preparo físico e deixar para trás qualquer traço de um sorriso. A Vingança, como é chamado nas ruas, é uma figura infame em Gotham. Naquela cidade fictícia, assim como na vida real, ele é igualmente admirado e odiado. Em meio a todos os sentimentos conflitantes da sociedade e ao combate ao crime, o Batman está prestes a conhecer a maior ameaça da sua carreira como justiceiro. Um homem com o nome de Charada está assassinando cidadãos de alto escalão. Assim, o herói precisa destruir esse inimigo, enquanto se envolve em uma trama de máfia e mistério.

Um tratamento fitoterápico

Crítica

Por onde eu começo? Tem tanto pra ser discutido sobre esse filme que eu realmente não sei como iniciar esta crítica. Ok, vou escrever sobre a duração. Batman tem quase 3h de extensão, o que poderia ser uma tortura até mesmo se fosse bom. Liga da Justiça de Zack Snyder, por exemplo, é um ótimo filme, mas eu precisei pausar várias vezes pra conseguir tragar.

Com Batman, isso não acontece. A trama é tão envolvente que eu não senti nem um pouco o tempo passando. É muito difícil isso ocorrer comigo. Quando uma obra atinge a marca de duas horas, eu tendo a ficar um pouco angustiado, a não ser que seja um filme que estou vendo pela segunda ou terceira vez. Nesse caso, como eu sei exatamente quando vai acabar, consigo assistir sem problemas.

No momento em que eu percebi que Batman estava acabando, eu me dei conta de que queria mais. Isso me deixou ainda mais surpreso porque o filme utiliza um recurso que eu, na maioria das vezes, não curto. Quando um longa parece estar se direcionando para o fim e subitamente estabelece uma reviravolta, iniciando então o terceiro ato, eu normalmente sinto um cansaço e uma preguiça de seguir em frente. Aqui, eu veria mais meia hora com certa tranquilidade.

O enredo me impeliu tanto a desbravá-lo que eu não queria me desconectar daquele mundo. Ao meu lado, a minha namorada dormiu profundamente. De certa forma, eu consigo entendê-la porque Batman pode ser um negócio divisivo. O seu ritmo cadenciado, o desenvolvimento devagar e os tons melancólicos podem não ser bem absorvidos por alguns. Comigo, no entanto, funcionou bem demais.

A fotografia, que vi muitos dizendo ser excessivamente escura, não me incomodou. Pra falar a verdade, achei o tom perfeito pra me deixar enxergar e ainda assim causar a imersão necessária. Quanto à trilha sonora, tive um probleminha com ela. A música-tema é excelente, com uma proximidade óbvia em relação à Marcha Imperial de Star Wars. Something In The Way, do Nirvana, também transmite a atmosfera perfeita. Contudo, a trilha ficou um pouco invasiva pra mim. Se é que isso faz sentido, ela parecia querer me lembrar constantemente de que estava ali, presente. A repetição das músicas também me incomodou, e só não me irritou como o tema da Mulher-Maravilha no Snydercut porque o diretor Matt Reeves é mais sutil do que o Snyder.

De qualquer forma, essas questões técnicas com o áudio passaram longe de estragar o resultado final. Foram apenas detalhes que eu tomei nota enquanto assistia. O restante da experiência foi tão espetacular que, ao sair da sala de cinema, fui capaz de ignorar qualquer defeito.

E eles existem, ok? Pensando agora mais friamente, quase uma semana depois de ter visto, os pontos negativos saltam à memória. Eu não gostei muito do Pinguim, por exemplo. Achei um personagem descartável no contexto da história, e a sua sequência de ação na estrada com o Batman foi o único momento em que eu me desconectei do filme. Sou fã do Colin Farrell e a sua caracterização ficou sensacional, mas o personagem ficou meio aquém do que eu esperava e acabou tirando espaço de alguns que mereciam mais holofotes, como Carmine Falcone.

Tenho sentimentos bifurcados em relação ao protagonista também. Eu simplesmente amei o quanto a direção e o roteiro investiram no lado detetive do Batman, algo que os outros filmes do herói abdicaram em prol da ação e da pancadaria. Robert Pattinson interpretou de forma sublime a noção de que o Morcego flerta frequentemente com o posto de anti-herói. Ele não é carismático, não é amoroso, não é engraçado, não é reconfortante. Ele é amargo, cheio de cicatrizes emocionais, sério e intimidador.

Por um lado, isso funciona absurdamente. Contudo, confesso que senti falta de uma máscara por trás do homem. Sim, eu sei que o ditado certo é o contrário, mas quis dizer que a verdadeira identidade de Bruce é como Batman, não como Bruce. O Wayne de Christian Bale era um ricaço fanfarrão, exatamente para contrabalancear a sua personalidade enquanto Batman. Com o personagem de Robert Pattinson, não há essa diferenciação, e isso me deixou um pouco desapontado. A duplicidade não existe aqui, pois a personalidade de Bruce é tão reclusa quanto a de seu alter-ego.

No mais, os personagens coadjuvantes são excelentes. A Mulher-Gato, o Charada, Carmine Falcone e James Gordon foram destaques positivos. Alfred foi apenas ok; não comprometeu, mas também não brilhou. E, sobre o Pinguim, já falei sobre ele. Portanto, vamos pro veredito porque este texto tá ficando grande demais.

Definitivamente, ele não é da mesma família do Happy Feet

Veredito

Eu gostei muito de Batman, bem mais do que eu esperava. É um filme ousado, com grandes atuações e um estilo que fica claro desde o início. Como se tratam de leituras mais pé no chão de um mesmo universo, é inevitável a comparação com Coringa. Porém, são abordagens totalmente distintas. O longa de Todd Phillips faz um trabalho espetacular voltado ao drama e à construção de Gotham como cidade. A obra de Matt Reeves mergulha na investigação e foca nos habitantes daquela mesma cidade. A corrupção, as discussões morais e sociais e as hipocrisias corriqueiras tornam o conjunto extremamente humano. Possivelmente, o filme deste ano que eu mais gostei até o momento. E olha que não fiz parte de nenhum hype…

Eu, sendo atingido pelo sol de Goiânia, me sinto com calor só de olhar essa roupa

 

>> DCLelecoEspecial #01 – Coringa

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Assim, eu confesso que fiquei um pouco “hmmm” com o Batman deduzindo tão facilmente os enigmas do Charada. Tudo bem ele adivinhar, mas pô, tão rápido daquele jeito? Mas é um negócio que dá pra perdoar, até porque o cara não é o maior detetive do mundo à toa, né?
  • Então, sobre a cena de perseguição de carro com o Pinguim, fiquei totalmente aéreo na maior parte da sequência. Eu já sabia como ela acabaria: com o Pinguim capotando o carro e o Batman se aproximando lentamente. Os trailers fizeram questão de mostrar isso. Então, eu só queria que a cena acabasse logo. Pelo menos valeu a pena ver o Pinguim andando que nem pinguim, com as mãos e pés amarrados.
  • Certo, a tal amiga da Mulher-Gato não era bem uma amiga, certo? Ou eu entendi errado? De qualquer forma, gostei da sua interação com o Batman. Senti um pouco de falta do toque meio vilã da personagem, porque ela pareceu muito mais uma heroína do que qualquer outra coisa. Mas gostei.
  • Ao sair da sala de cinema, meu irmão me disse que não tinha entendido muito bem as histórias envolvendo Carmine Falcone e Salvatore Maroni. Os nomes italianos o confundiram totalmente. Eu, que estou mais habituado às histórias do Batman, não me senti tão perdido, mas dá pra entender o lado dele. Realmente aquela parte ficou um pouco mal explicada mesmo.
  • Eu queria tanto que o Gordon tivesse descoberto a identidade do Morcego, na moral. Talvez em uma sequência, que tal?
  • Ok, todos temos que admitir que a cena do Batman salvando geral no meio do estádio, andando pelas águas, foi sensacional. Abrindo caminho como Moisés.
  • Curti bastante o Charada. Algumas de suas tramoias foram um pouco exageradas. Como ele poderia ter calculado que mataria o Falcone com um tiro e o mafioso cairia logo abaixo de um poste de luz, pra simbolizar os holofotes, foi um pouco demais pra mim. Porém, gostei muito da atuação do Paul Dano e da imprevisibilidade do antagonista.
  • E que final caótico, hein? Na moral, ver um filme com Gotham em frangalhos e ainda mais sem leis do que o normal, é uma ideia que me empolga absurdamente. Seria algo meio similar aos jogos de videogame de Arkham.
  • Charada com Coringa, quem diria? Mas acho que, se for pra ter um segundo filme, os dois podiam ficar um pouco na geladeira. Seria legal dar espaço pra outros vilões do Morcegão, e são tantos. Chapeleiro Louco, Silêncio, Hera Venenosa, Homem-Calendário, Hugo Strange… a lista é longa.
  • <?>

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Batman
Embora eu tenha ressalvas quanto ao Bruce Wayne, a personificação do Homem-Morcego de Robert Pattinson é muito boa. A sua atmosfera pessimista e retraída combina com o tom do filme, e as cenas de investigação são tão interessantes quanto as de luta. Não sei se é o melhor Batman de todos os tempos, mas é um grande Batman.

Oi, eu sou o Bruce

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).