Mistério

Boneca Russa: 2ª Temporada (2022)

• Boneca russa, húngara e alemã

Se você, como eu, assistiu à primeira temporada de Boneca Russa no ano do lançamento, em 2019, não precisa se preocupar tanto com a sua memória. Os acontecimentos da série estavam bem opacos na minha mente, mas isso não foi nenhum tipo de obstáculo. É claro que, naturalmente, ver a segunda temporada logo após a primeira deve gerar uma melhor experiência. Porém, eu não me senti nem um pouco perdido com a história. A recapitulação da Netflix já foi o bastante pra me fazer lembrar das coisas mais importantes. Portanto, esta é a minha recomendação: veja pelo menos o recap da plataforma. Vai te ajudar muito.

 

Sinopse

O tempo passou. Nadia Vulvokov está perto de completar 40 anos, ou seja, quatro verões se passaram desde a primeira temporada. Compartilhando a mesma linha do tempo com Alan Zaveri, a vida de Nadia deixou de ser aquela loucura de loops temporais e repetições de sua festa de aniversário. Ela seguiu em frente, assim como Alan, mas ambos ainda mantêm contato caso algum outro fato estranho aconteça. Tiro e queda. Certo dia, enquanto andava de metrô, Nadia deixa a estação e percebe que está na década de 1980. No entanto, essa viagem no tempo é bem menos imprevisível, pois Nadia pode alternar entre as épocas sempre que quiser. O problema é: será que ela vai conseguir deixar pra trás o passado?

Essa é a mãe ou a Nora?

Crítica

Em determinado sentido, a segunda temporada é o oposto de sua antecessora. Enquanto eu me senti conquistado logo de cara na primeira, me cansando ligeiramente ao longo dos episódios, na segunda aconteceu o contrário. A trama não me pegou rapidamente. Eu demorei uns dois ou três capítulos pra realmente me sentir investido. Em compensação, quando isso ocorreu, foi praticamente impossível não dar o play seguidamente, ainda mais porque os episódios são mais curtos do que o padrão.

Fazer uma segunda temporada de Boneca Russa era arriscado. A primeira havia acabado de um jeito bastante conclusivo, sem a necessidade de uma continuação. Por isso, era inevitável o meu medo de que a Netflix estragasse a série. As chances não eram tão grandes quanto em produções de maior apelo do público, como La Casa de Papel, pois nesse contexto a empresa espremeu até a última gota em busca de engajamento a qualquer custo. Boneca Russa, por outro lado, parecia ter mais espaço pra ousadia por parte do roteiro, e foi exatamente isso que rolou.

O elenco está confortável com seus respectivos personagens, mesmo três anos depois do lançamento da primeira temporada. Natasha Lyonne novamente se destaca no papel da protagonista, com seu humor seco e ácido e um jeito espirituoso que nos impele a continuar assistindo. Charlie Barnett também está encaixado em seu cargo, mas Alan ficou muito pra escanteio. O pior de tudo é que o seu arco era interessante e eu queria saber mais a respeito, só que a série deu pouco espaço e acabou despediçando um núcleo com potencial.

Apesar disso, a história se destaca naquilo que propõe: a jornada de Nadia em relação ao seu passado. Os traumas de sua mãe se misturam em um enredo que envolve desde a Segunda Guerra Mundial até a deterioração psicológica de Nora. E, no meio disso tudo, a série ganha força com uma excelente trilha sonora. Talvez eu esteja sendo um pouco parcial nisso, porque a equipe responsável poderia facilmente ter utilizado o meu iTunes como base. A cada cinco músicas que tocavam, pelo menos quatro eu conhecia. Contudo, as trilhas que não são necessariamente canções também complementam muito bem a história, dando uma vibe de viagem no tempo.

A trama em si é pra lá de instigante. Apesar de começar um pouco lenta, a partir do momento em que pega no tranco as coisas mudam de figura. Boneca Russa deixa de abordar apenas o cenário de Nova York, despejando seu orçamento em viagens pra Budapeste e Berlim, investindo também em uma ótima direção de arte. Alguns arcos da primeira temporada são completamente abandonados, enquanto outros são retomados, sobretudo aqueles que envolvem Nora e Ruthie, a madrinha de Nadia.

Eu gosto pra caramba de enredos históricos, e Boneca Russa fez isso muito bem. Além do mais, a série esbanjou criatividade. O que faltou na primeira temporada eles compensaram aqui, entregando uma sequência de eventos imprevisível e fortalecendo detalhes que antes não passavam disso. É uma trama mais intimista. O mundo não está acabando, as frutas não estão apodrecendo. O fato de Nadia poder escolher se viaja no tempo ou não faz total diferença, e as suas motivações ajudam a manter a história viva.

A conclusão ficou praticamente perfeita. O último capítulo conseguiu encontrar o equilíbrio entre manter os pés no chão e viajar na maionese. A atmosfera proporcionada pelos acontecimentos que levaram ao episódio final é genuinamente divertida de ver, mesmo com o tom urgente. Novamente, Boneca Russa conclui a sua temporada sem deixar muitas pontas soltas. Desta vez, a série foi capaz de amarrar ainda mais os seus nós, culminando em um sentimento de completude. A tendência é que a obra chegue a três temporadas, como planejado desde o início. Entretanto, se decidirem encerrar por aqui, dá pra fazer isso tranquilamente.

A expressão de alguém que tentou pagar meia-entrada sem ter carteirinha de estudante e não colou

Veredito

Eu tinha certas preocupações quanto à segunda temporada de Boneca Russa. Amo loops temporais, mas não havia mais espaço pra trabalhar o mesmo conceito. Inteligentemente, a série mudou o seu foco e apostou em viagens do tempo, dando um fôlego impressionante pra história e aproveitando ganchos da primeira temporada, a fim de desenvolver uma trama inteiramente nova. Os personagens são bons, mas alguns ficam desperdiçados. O enredo demora um pouco a decolar, mas brilha quando o faz. A cereja do bolo é uma trilha sonora com Pink FloydDepeche ModeThe Velvet Underground e mais. A principal qualidade, porém, é a criatividade que conduz uma trama recheada de personalidade, superando com tranquilidade a sua predecessora. Nota final: 4,4/5.

Aquilo na blusa dele é o olho dos Illuminati?? A Globo tá envolvida, certeza

 

>> 1ª Temporada de Boneca Russa

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Obrigado, roteiristas, por não terem construído o Chez como pai da Nadia! Por isso, têm o meu eterno agradecimento.
  • Agora faz sentido a Nora quebrar todos os espelhos ao seu alcance. E cara, eu gostei demais do que a série fez. Se a Nadia não estivesse tão disposta a mudar o seu passado, ela não teria causado exatamente aquilo que tornou o seu passado tão complicado. Em resumo, de quem é a culpa pela criação da Nadia ter sido ruim? Da Nora ou da própria Nadia? Nesse caso, o futuro veio antes do passado? Será que a Nadia se deu conta de que mexeu com a mente da mãe e desencadeou sua esquizofrenia?
  • Beleza, no momento em que a Nora mostrou a sua gravidez e a Nadia ficou toda hora indo e voltando pro corpo da mãe, eu tinha certeza de que daria à luz a ela mesma. Estava escrito nas estrelas. Só não esperava que a Nadia fosse roubar a Nadia bebê e levar pro presente. Até agora não entendi o que passou na cabeça dela pra fazer isso. Qual era o plano a longo prazo? Cuidar da criança até um ponto específico e depois despejá-la de volta ao seu tempo original? Definitivamente, Nadia não estava pensando direito.
  • Mudando um pouco pro Alan, eu curti a história de sua antepassada em Berlim. Só queria que eles tivessem tido mais tempo de tela. No final das contas, ficou tudo muito na superfície. Basicamente, a sua avó criou um plano pra fugir da Alemanha Oriental com uma galera, Alan interveio e ela não viajou. Quando paramos pra pensar, não teve praticamente nada além disso. Faltou sustância.
  • Velho, eu soltei uma risada e um palavrão em alto e bom tom quando a Nadia descobriu que todo o rolê dela em Budapeste apenas desembocou naquilo que ela já conhecia. Na visão de Boneca Russa, aparentemente não há como mudar o passado. Qualquer coisa que alguém altera, é porque na verdade já foi alterado e as suas consequências estão fincadas no presente. A única exceção é o paradoxo, como aconteceu após a Nadia roubar a si mesma.
  • Bem pesado a Ruthie morrer e a Nadia não estar presente pra acompanhar a madrinha em seus últimos momentos. Fica uma lição bem clara pra gente: não adianta muito ficar remoendo o antes e não viver o agora.
  • Um pequeno parêntesis sobre a Ruthie. Vocês acham que ela nutria alguma espécie de sentimento romântico direcionado à Nora ou era apenas amizade? Sei lá, senti uma paixão reprimida no ar, mas posso estar redondamente enganado.
  • O Cavalo só teve uma função na temporada: conduzir Nadia e Alan através dos trilhos. Grande participação.
  • Se eu pudesse apostar sobre o que seria uma eventual terceira temporada, eu colocaria todas as minhas fichas em uma possível história relacionada ao pai da Nadia. Não há mais o que abordar naquilo que já foi exposto na série. Talvez essa seja uma boa saída.
  • No fim, Maxine não conseguiu gerar herdeiros húngaros. Uma pena pra ela. Ou não.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Nadia Vulvokov
Esta escolha foi extremamente fácil, vamos combinar. O protagonismo a auxilia nesse posto de destaque, mas isso nem sempre significa que o personagem principal é o melhor de uma série. No entanto, o estilo despojado e o bom timing cômico voltam a consolidar a nossa boneca russa.

Dormir é a resposta, galera

+ Melhor episódio: S02E06 (“Schrödinger’s Ruth”)
Eu gostei bastante do desfecho da temporada, mas o ápice está aqui. A história eleva a confusão mental ao máximo, homenageando os acontecimentos anteriores e preparando o terreno pra uma competente conclusão.

Bigodin finin, cabelin na régua

+ Maior evolução: Ruthie
Que eu me lembre, ela era apenas uma personagem da apoio na primeira temporada. Contudo, Ruthie ganha força no passado e no presente e é uma das maiores bases desta sequência.

Se eu ganhasse R$ 1 por cada cigarro que foi aceso nesta série, eu compraria o Twitter no lugar do Elon Musk

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).