Drama

The Last of Us: 1ª Temporada (2023)

the last of us

• A luz no fim do túnel

A minha conexão emocional com The Last of Us é muito forte. Em 2013, quando o jogo foi lançado, decidi começar a história por recomendação do meu irmão, sem saber muito bem sobre o que se tratava. Isso aconteceu em um período turbulento da minha vida, em meio a uma reforma da casa, pressão do Ensino Médio e coisas do tipo. No momento em que eu concluí o jogo, tive a certeza imediata de que era um dos meus favoritos de todos os tempos, ao lado de GTA: San Andreas. Só voltei a jogar TLOU quase dez anos depois, em preparação pro segundo capítulo da franquia. Mesmo com tanto tempo de hiato, o game nunca deixou a minha memória. Droga, tenho até uma tatuagem do jogo na minha perna, com a famosa cena da girafa. Por isso, escrever uma crítica sobre esta série é algo muito especial, mas que vou fazer com o máximo de imparcialidade possível.

 

Sinopse

E se o mundo acabasse? Histórias pós-apocalípticas estão na moda, todo mundo sabe disso. O diferencial de The Last of Us é que as ameaças são pessoas infectadas por fungos que dominam o cérebro da vítima, transformando a mesma em um verdadeiro monstro. Em meio a este cenário, temos a figura de Joel, um homem desiludido com a vida após sofrer uma perda irreparável. No entanto, uma importante missão cai no colo dele e de sua parceira Tess, quando ambos recebem a incumbência de transportar uma jovem garota chamada Ellie, a última esperança da humanidade, através de um país dilacerado por criaturas sanguinárias e humanos imprevisíveis.

Reações honestas da plateia do Leo Lins durante um stand-up

Crítica

Antes de seguir em frente com a crítica, preciso reforçar que talvez eu faça uma comparação ou outra com o jogo, mas o foco aqui é analisar a série como série, uma história independente em relação à base original. É importante esclarecer isso porque uma adaptação não precisa ser uma cópia da obra em questão, e sim manter a estrutura e contar a mesma história de um jeito diferente, em uma mídia diferente.

Começando pelo aspecto audiovisual. A HBO não costuma decepcionar nessa parte. Band of Brothers, Chernobyl, Game of Thrones… quando a empresa decide injetar dinheiro pra construir uma coisa bem feita, pode saber que não vai desapontar. The Last of Us não é diferente. O trabalho de maquiagem dos infectados, os cenários, a fotografia, a magistral trilha sonora de Gustavo Santaolalla beiram a perfeição. Porém, a gente sabe que “apenas” isso não é o suficiente.

Afinal de contas, The Last of Us faz jus ao legado do jogo?

Como um apaixonado fã dos games, é inegável que a série cumpre o seu propósito. Aqui, vemos uma aula de como deve ser uma adaptação. Os produtores e roteiristas RESPEITAM o jogo, o que faz total diferença. A identidade dos personagens está ali, e as excelentes atuações, sobretudo dos protagonistas Pedro Pascal e Bella Ramsey, conseguem remeter aos jogos ao mesmo tempo em que adicionam um ar de originalidade. A série é capaz de entregar um senso de novidade, adicionando camadas, mudando alguns rumos, mas sem perder a essência.

Essas pequenas mudanças, inclusive, quase sempre foram boas. A jornada de Bill e Frank é a principal delas, chegando a superar a história de ambos no jogo. Na verdade, não é questão de ser melhor ou pior, e sim diferente. A história dos dois no jogo funcionou pro jogo, assim como a história dos dois na série funcionou pra série. Cada mídia tem suas particularidades. A falta de esporos no universo de The Last of Us, sendo substituído por um sistema de rede compartilhada de infectados, no começo pode incomodar o fã mais purista, mas funciona muito melhor no contexto do live-action. Além disso, se eu quisesse ver uma cópia do jogo, era só jogá-lo, não é mesmo?

Do primeiro ao quinto episódios, The Last of Us é praticamente irretocável. Não posso dizer o mesmo dos outros quatro. Eles são ruins, Leleco? Não, não, bem longe disso. Contudo, é possível sentir uma ligeira queda no nível de qualidade. Uma delas passa pela falta de infectados, e pra isso preciso reservar dois parágrafos só pra tratar desse assunto.

Sim, eu sei que a série não é sobre os infectados. Eu sei que o foco são as relações humanas, o drama e o peso das ações em um cenário de puro pessimismo. Eu sei que ter cinco infectados em cada esquina não funciona pra uma série, pois banaliza as ameaças. No jogo, isso precisa acontecer por conta da diversão interativa. Na série, não é necessário. Ainda assim, a gente teve somente dois infectados nos últimos quatro episódios, ou algo assim. Em uma realidade em que a maior parte da população presumidamente se tornou infectada, as ruas em The Last of Us são excessivamente vazias.

Não, não precisava de hordas e hordas em todos os episódios, mas era perfeitamente possível que houvessem mais infectados porque a própria série construiu o panorama desta maneira. Na metade final da temporada, eles foram postos de lado até demais, acabando com o clima de suspense e terror que imperava nos primeiros capítulos. Desta forma, a trama perdeu ritmo e ficou ao mesmo tempo acelerada e arrastada demais, sem encontrar um equilíbrio.

Embora esse tenha sido o defeito mais pulsante, não chega nem perto de apagar tudo de bom que foi feito pela HBO. O desfecho da temporada de fato foi um pouco anti-climático e apressado, mas a sensação que fica é de que finalmente alguém soube colocar em prática o segredo de uma boa adaptação: manter a essência, mas inserir uma identidade própria por meio de pontuais exemplos de liberdade criativa.

Click (2006)

Veredito

The Last of Us é um presente para os fãs, mas não abdica de sobreviver por si só. A série funciona tanto pra quem gosta do jogo, quanto pra quem tá conhecendo a história pela primeira vez. É uma adaptação fiel, com alterações que enriquecem a mitologia da saga, sem desprezar os acontecimentos originais. É uma aula de produção por parte da HBO, mas vai precisar corrigir alguns problemas de ritmo pra que a segunda temporada seja uma obra prima, assim como o segundo jogo. Nota final: 4,6/5.

Mó vibe de The Walking Dead esses cenários

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ NARRAÇÃO SPOILENTA: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Ep 1: piloto quase perfeito. Gostei muito das referências em relação ao jogo, a Sarah ganhando mais espaço, a sequência de abertura falando sobre os fungos, a senhora se transformando atrás da Sarah, a cena da Sarah no carro e a câmera na perspectiva dela, os easter eggs da série, como o carro quase batendo no do Tommy e a poeira parecendo esporos. Gostei da introdução da Tess e da Ellie. A única coisa que não gostei muito foi a rapidez com que a Marlene deixou a Ellie com Joel e Tess, pareceu um pouco apressado e destoou do resto do capítulo, mas é só um porém mesmo. Fora isso, construção de mundo, trilha sonora, atuações e narrativa, tudo ótimo.
  • Ep 2: Cena de abertura novamente excelente, mostrando os pacientes zero na Indonésia. Gostei de terem trocado os esporos por aquelas partes conectadas entre os fungos, deu uma dinâmica diferente e se distanciou um pouco do jogo. A série tá fazendo certinho, mostrando que é fiel à história original, mas ao mesmo tempo mostrando também que é uma adaptação. Ellie tá crescendo na temporada, com o Joel é muito bom ver os detalhes, como ele olhando no relógio constantemente, em referência à filha perdida. Os estaladores ficaram ótimos, e as partes de terror também. A série parece que transformou as lutas em batalhas mais difíceis e intimistas, enquanto no jogo a gente ia simplesmente matando todo mundo com “facilidade”. Também gostei da morte da Tess, só achei nada a ver ela usar um isqueiro em vez de armas. Vi alguém falando que granada de fragmentação não gera chamas, mas pólvora sim, então a decisão criativa valeu pela tensão, mas ficou um pouco nada a ver. Ep 1 e 2 no mesmo nível, o primeiro foi melhor no sentido de introdução e andamento da história, o segundo foi melhor na parte de combate e tensão.
  • Ep 3: de fato foi o melhor até agora, com a história de Bill e Frank. Trilha sonora ótima, e as modificações em relação ao jogo só adicionam peso a tudo. O pessoal tem que entender que adaptação não é pegar uma história de uma mídia e passar pra outra, senão era só colocar as mesmas cenas. A definição de adaptação é adaptar, oras. E criticar mudanças como a relação entre Bill e Frank porque “no jogo era diferente” pode até ser uma quebra de expectativa pessoal, mas não deve jamais ser tratada como um defeito propriamente dito. E as pessoas precisam parar de falar que um episódio mais focado no drama é “arrastado” só porque estamos em uma geração extremamente ansiosa, que quer tudo acontecendo freneticamente ao mesmo tempo. Quem reclama por homofobia, não vale nem a pena discutir. E pra aqueles que falam que não adiantou nada a história pra Joel e Ellie, simplesmente ignoraram que Bill e Frank são um espelhamento da mesma história, de forma romântica, enquanto Joel e Ellie pega a questão paternal. É um aperitivo do que vem por aí, de como uma pessoa pode transformar a vida de outra que já perdeu seu caminho. Ah, adorei a cena final com o foco na janela, igual ao menu inicial do jogo. E só pra encerrar, sim, teria sido legal os conflitos entre Bill e Ellie, por exemplo, mas não é como se fosse algo essencial. Afinal de contas, o que eles adicionam no contexto do jogo, por exemplo, já que o argumento é esse?
  • Ep 4: um dos mais lentos da temporada, mas era estritamente necessário que existisse esse capítulo. Se não fosse por esse episódio, o peso do sacrifício de Joel lá na frente não seria o mesmo. É nesse episódio que vimos as primeiras interações naturais de Joel e Ellie, e o início do desenvolvimento deles pra além da missão. A atuação da Bella Ramsey tá fenomenal, com todas as suas microexpressões de medo, empolgação, troça e trauma, sem precisar dizer muita coisa. Só o olhar já basta. A cena da revista no carro foi sensacional (bizarro o tanto que é parecida com o jogo) e no primeiro momento eu gostei da líder dos Caçadores, mas não tanto quanto outros elementos da série. Vamos ver se vai vingar. E juro que na hora que ela falou de um tal de Henry, eu não me toquei de que seria AQUELE Henry.
  • Ep 5: o melhor, ao lado do terceiro. Infelizmente, a trama da Kathleen não me pegou muito. Não sei se porque eu fiquei enjoado daquele tipo de história por conta de The Walking Dead, mas pareceu meio deslocada do restante, como se estivesse “sobrando”. Não sei se foi a interpretação da Melanie Lynskey que também não me pegou tanto. Ainda assim, ver a personagem morrendo por uma clicker criança foi sensacional. Adorei o fato do Sam ser surdo, e toda a sua backstory com o Henry. Ficou melhor do que no jogo, inclusive. A sequência do Joel na sniper, o Baiacu aparecendo do nada e matando geral como no jogo, tudo foi um deleite pros fãs. A interpretação do Pedro Pascal tá sensacional, e a da Bella Ramsey nem se fala. Pô, naquele momento em que o Henry se mata depois de matar o Sam e ela meio que dá um pequeno grito de susto e choque, aquela ali pra mim foi a melhor atuação da série e a que mais pareceu real. No jogo, a morte deles é mais chocante do que triste. Na série, foi tão chocante quanto triste. Espero que o Ish apareça no futuro…
  • Ep 6: foi mais cadenciado, pra aliviar um pouco da loucura que foi o episódio anterior. Ao mesmo tempo em que o episódio foi muito parecido com TLOU, também importou muita coisa do TLOU 2 (será que era a Dina?!), como Jackson. Maria e Tommy muito bons, o toque do comunismo também, e toda a construção de Joel e Ellie chegando ao ápice. Esse é o episódio em que os dois se reconhecem como parceiros, e não mais como simples companheiros de viagem rumo a um objetivo específico. Eles se importam um com o outro agora, e não é pra menos. Ambos preencheram lacunas que faltavam um no outro. A única coisa no ep que eu gostei mais no jogo foi a forma como o Joel foi apunhalado, achei um pouco anti-climática na série. Acho que teria sido muito mais dramático ele caindo na barra de ferro, mas tudo bem também. De qualquer forma, rendeu o efeito desejado, já que meu pai (que nunca jogou o jogo) ficou encucado pensando que o Joel morreu. Ah, importante também o cuidado da história com a questão da menstruação.
  • Ep 7: não foi dos mais empolgantes, mas a própria história do Left Behind não é lá essas coisas. A atuação da Bella Ramsey tá excelente e acho que merece ser Melhor Personagem. Foi tudo bem parecido com o jogo, mas acho que teria sido legal uma dinâmica de perseguição maior, aquele único infectado pareceu meio broxante diante de toda a expectativa de tragédia que o episódio criou.
  • Ep 8: muito bom, toda a história do David foi perturbadora e ainda acrescentou coisas a quem também jogou os jogos. Ficou faltando mais infectados, e também não curti muito a decisão criativa do Joel amparar a Ellie do lado de fora do restaurante, sendo que uma das cenas mais poderosas do jogo é justamente ele a impedindo de continuar as trocentas facadas e a amparando ali mesmo. Ainda assim, o capítulo foi ótimo, com a aparição do Troy Baker (o Joel dos jogos).
  • Ep 9: teve seus momentos, como a Ashley Johnson (a Ellie dos jogos) aparecendo como a mãe da Ellie na série, Anna. Achei legal a possível justificativa da imunidade da Ellie, por conta do cordão umbilical. O resto do episódio pareceu meio apressado, achei totalmente sem sentido ser o mais curto da temporada, mas pelo menos teve a cena das girafas!!
  • Alguns defeitos ou considerações: poderia ter mais infectados na série, os personagens deveriam atirar mais na cabeça, deveriam usar mais armadura, principalmente no braço, pra se proteger das mordidas. Não faz sentido eles serem tão “vulneráveis” depois de 20 anos de experiência naquele cenário.

 

~ FIM DA NARRAÇÃO SPOILENTA. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Ellie
Até certo ponto, era difícil escolher quem foi meu personagem favorito: Joel ou Ellie. No entanto, quando veio o sétimo episódio, eu tive a certeza de quem seria. Pedro Pascal está incrível na pele de Joel? Sem dúvida alguma. Mas o que a Bella Ramsey fez aqui como Ellie beira o absurdo. Deu um verdadeiro show de interpretação, que não me surpreenderia se lhe rendesse alguns prêmios.

O mundo acabou?! Faz o Ellie agora

+ Melhor episódio: S01E05 (“Endure and Survive”)
Essa categoria aqui também foi muito difícil. Eu simplesmente amei o terceiro episódio e ele teve o melhor roteiro da temporada, disparadamente. Além disso, ganhou ainda mais poder comigo pelo fato de ser uma trama inédita, que não existe nos jogos (daquela maneira, pelo menos). Porém, não posso deixar de mencionar aqui também o quinto capítulo, que deixa a gente de coração apertado, lágrimas nos olhos e o sangue quente de tanta empolgação. Os dois estão tecnicamente empatados, na minha opinião. O que me fez escolher o quinto é um simples detalhe: a reassistibilidade (existe essa palavra?). Isto é, quando eu for rever The Last of Us algum dia, com certeza vou ficar mais ansioso pelo quinto capítulo do que pelo terceiro, devido às doses conjuntas de drama e ação. O terceiro é mais redondinho, mas o quinto é mais alucinante.

Sam e Henry da série >>>> Sam e Henry dos jogos

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).