• Futebol é vida!
A introdução deste pitaco pode parecer um pouco aleatória, mas juro que não é. Faz tempo que eu ouço falar de Ted Lasso, e eu tinha certeza de que gostaria dela. Futebol, comédia, um bom roteiro e elenco? Muito difícil não me agradar. Porém, eu tenho um pequeno problema chamado “inabilidade de iniciar coisas sem finalizar outras”. É um termo científico? Claro que não, acabei de inventar, mas isso não o torna menos real. Eu me sinto culpado quando vou iniciar novas séries, sendo que tenho várias outras inacabadas que teimo em não concluir. Eis que me veio de novo o pensamento: por que estou me torturando a fazer algo que deveria ser lazer? É um questionamento que constantemente esteve comigo, mas desta vez me acertou em cheio. Eu tenho Vikings: Valhalla, American Horror Story e Last Chance U pra acabar? Não importa, deu vontade de finalmente começar Ted Lasso! E digo isso pra vocês: foi algo libertador.
Sinopse
O AFC Richmond é um modesto time da Inglaterra, cuja mediocridade é o fator que mais define a trajetória da equipe. Em uma jogada ousada e nebulosa, a recém-promovida dona do clube decide demitir o atual treinador e contratar um técnico de futebol americano vindo diretamente dos EUA, que não conhece sequer as regras do futebol tradicional, mas é famoso por ser muito bom de grupo.
Crítica
Quando lemos a sinopse, Ted Lasso dá a impressão de se tratar de uma série motivacional. Não que ela não seja, mas é de uma forma totalmente diferente do que você espera. Esta aqui não é simplesmente uma história de como um treinador motivou um time rumo a espetaculares vitórias somente com discursos inspiradores. Pra falar a verdade, os resultados das partidas são meros detalhes que completam a trama.
Ted Lasso é, antes de mais nada, uma comédia. Não uma comédia estilo Adam Sandler, com piadas sobre sogras ou algo do tipo. É uma comédia contemporânea, que se mistura com o drama em uma receita híbrida que une dois gêneros que deveriam ser opostos, mas combinam perfeitamente. Sim, há espaço pra tiradas bobas, mas não de um jeito adolescente, mas sim de maneira genuinamente inocente.
O protagonista interpretado por Jason Sudeikis é a definição de um homem bom. Trabalhar com personagens assim pode ser uma baita de uma armadilha, mas os roteiristas sabem disso. Embora seja carinhoso, humilde, atencioso e pregue o respeito acima de tudo, Ted Lasso é um ser humano como qualquer um de nós. Ele se irrita, se entristece e se frustra. Porém, ao contrário da maioria, ele pede desculpas, não esconde os sentimentos e não transforma a dor em negatividade.
Em resumo, a ideologia de Ted Lasso é a utopia do espírito esportivo. No mundo real, é simplesmente impossível tal visão virar tendência, porque o esporte, sobretudo o futebol, mexe muito com a emoção das pessoas. E o melhor é que a série também sabe disso. Ainda que esse pareça ser o caminho durante quase toda a temporada, há um momento em que a positividade e a aparente despreocupação com derrotas não são o suficiente. Contudo, isso não significa que a vontade de vencer precise se transformar em obsessão.
A série é muito bem escrita e atuada e conta com um clima leve que facilita a maratona, até porque os episódios têm cerca de meia hora cada, e são apenas dez nesta primeira temporada. Eu, por exemplo, vi todos eles em dois dias. Mas, se eu puder dar uma recomendação, eu diria pra você parar por alguns minutos depois de cada capítulo pra absorver tudo que foi exposto em tela. Acredite, isso deixará a série ainda melhor.
Veredito
A primeira temporada de Ted Lasso constrói uma história rápida de se apegar, e que passa longe de limitar-se apenas ao espectro esportivo. Não gosta de futebol? Sem problemas. A série tem o futebol como plano de fundo, é claro, mas o que acontece em campo está longe de ser o alicerce. A trama não é sobre o jogo, e sim sobre os jogadores. Indo além, não é só sobre os jogadores, mas principalmente sobre as pessoas. Portanto, se você está procurando por algo leve, descompromissado e que ainda assim vai te fazer refletir e sentir diferentes emoções, fica aqui a recomendação. Nota final: 4,5/5.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eu poderia jurar que o personagem do Ted Lasso seria um tanto quanto insuportável, com aquele excesso de positividade que irrita. Mas cara, vê-lo gritando com o Nate, tendo um ataque de pânico e abdicando da própria filosofia ao torcer por um empate do time foi algo muito diferente de se ver, afastando aquele estilo meio Forrest Gump e culminando em um homem que pode sim existir no nosso mundo. Com certeza é meio raro, mas não impossível. Basta acreditar.
- A Rebecca me causou uma montanha-russa de emoções. Comecei respeitando a coragem dela de liderar em um contexto tão dominado por homens, depois senti uma certa raiva por tudo não passar de uma artimanha, então me senti compadecido por ela, e por aí vai. Gostei muito das voltas que o roteiro deu na personagem, rumo a um sólido arco de redenção. Fiquei com medo da discussão dela com o Ted e a Keeley, mas acabou que foi tudo de boa.
- O Roy foi um dos meus favoritos. Quem não ama um personagem turrão e que raramente sorri, mas que tem um dos corações mais gentis? Uma cena que me chamou muito a atenção foi quando a Rebecca cantava Let It Go no karaokê e ele dublava discretamente no fundo, pois provavelmente decorou a música por causa da sobrinha. Seria massa se ele ocupasse uma função na comissão técnica futuramente, porque não sei mais se vai dar pro cara como jogador.
- Já o Jamie Tartt me causou uma sensação diferente. Gostei muito do personagem como construção, mas não consegui me simpatizar totalmente com ele. Certo, eu entendo que o pai dele é um babaca e exerce uma pressão que deixa o filho também meio babaca, mas é aquele velho caso de “explica, mas não justifica”. Por melhor que ele seja em campo, o maluco enchia o saco de todo mundo e deixava o vestiário com um clima pesadíssimo. Mesmo assim, eu fiquei esperando pela sua volta por cima como pessoa, é uma pena que acabou sendo emprestado ao City e não pudemos ver isso totalmente.
- Nate não tenho muito o que falar, é o típico personagem fofo que não tem como não gostar. Eu admito que em alguns momentos ele apareceu um pouco demais, dando algumas quebras cômicas que não gostei muito, mas em geral não há como odiar. O mesmo vale pro Sam, que é ainda mais carismático. Aquela cena de ele recusando o soldado do Ted por causa do imperialismo foi boa demais.
- Keeley é mais ou menos a mesma coisa, com uma pequena diferença. No início da temporada, eu meio que não me importava muito com a personagem, mas ao longo dos episódios ela foi crescendo de produção e se tornando indispensável.
- Um dos meus favoritos também foi o treinador Beard, com aquele jeitão calado que é o complemento perfeito do técnico principal. O Higgins já não gostei tanto assim, é o único que pra mim passou um pouco do ponto da caricatura, mas não chegou a me incomodar totalmente e foi até legal em alguns momentos.
- Quanto aos outros, como Dani Rojas, Isaac e etc., espero que sejam mais explorados na sequência e encorpem ainda mais a história.
- Ok, talvez eu esteja triste por não ter aparecido nenhum jogador brasileiro, pelo menos até agora. A única referência ao nosso país foi a anedota do Nate a respeito de depilação, durante aquele “discurso de ódio” com os jogadores. Espero que surja algum Pedrinho, Felipinho ou Marcelinho na próxima temporada.
- Você pode até odiar o artilheiro, mas não tem como negar que a versão “Jamie Tartt” de “Baby Shark” gruda na cabeça igual chiclete debaixo da cadeira de um estudante.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
Melhor personagem: Ted Lasso
Temos vários excelentes personagens nesta temporada de estreia, mas a série não seria tão cativante sem o protagonista que dá nome a ela. De qualquer forma, tem gente pra todos os gostos, desde o experiente e mal-humorado Roy Kent ao jovem e arrogante Jamie Tartt, passando pela implacável diretora Rebecca e a simpática faz-tudo Keeley, isso pra citar só alguns.
Melhor episódio: S01E06 (“Two Aces”)
Todos os principais temas que a série busca abordar – companheirismo, alegria e humildade – estão bem expostos aqui neste episódio, pra quem quiser ver.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?